18 março 2009

Do valor da parábola

Quem acompanha este blogue sabe que, com exceção das "alegorias" de (algumas) sextas-feiras, privilegio a publicação de textos originais meus. A recente publicação de "Tive um sonho" e de "O último grau " é a exceção que conforma a regra. Estes dois textos - que, afinal, são apenas um, apenas dividido, por razões de extensão, em duas publicações no ótimo blogue The Beehive, do excelente sítio Freemason Information - impressionaram-me quando os li e decidi pedir autorização ao seu autor, Irmão Frederic L. Milliken, para os traduzir e publicar aqui no A Partir Pedra, autorização essa aliás pronta e simpaticamente concedida e que eu agradeço.

Duas razões me motivaram ao labor de traduzir e publicar trabalho alheio. A primeira, resultante de uma identificação com a mensagem constante da "palestra" do "último grau", explico-a neste texto. A segunda ficará para um outro.

Escrevi já várias vezes, a última das quais há não muito tempo (O segredo maçónico esotérico) que o único verdadeiro segredo maçónico, o que importa, o que releva, existe, não porque os maçons o queiram preservar, mas porque não o conseguem revelar. Porque é insuscetível de plena transmissão. Referi, também no mesmo texto, que, em bom rigor, duvido mesmo que haja apenas um verdadeiro segredo maçónico, um único segredo esotérico. Nesta altura do meu entendimento, propendo a considerar que cada maçon atinge a sua própria Luz - a deste com mais brilho, a daquele mais baça, a daqueloutro, qual bruxuleante chama de longínqua vela, mal se vendo -, cada maçon encontra e resgata a sua própria e individual Palavra Perdida - a de um bela e cristalina, a de outro sonora e estentória, a de um terceiro suave e quase inaudível murmúrio. Prossegui concluindo que nessa viagem, nesse trabalho, nessa busca, cada um procura coisa diversa. Eu só posso definir o que neste momento busco. Já me reconciliei - há muito! - com a finitude da vida neste plano de existência, já abandonei, por estulta e estéril, a busca do imenso porquê, a mim nunca me interessou particularmente interrogar-me sobre o cósmico como. Por agora, desde há muito e não sei até quando, concentro-me na busca do sentido da Vida e da Criação. Tenho uma ideia rude e imprecisa desse sentido. Busco o melhor ângulo para obter mais Luz. Espero que consiga obter o Brilho suficiente para, através do sentido da Criação, entrever o Criador... E tudo isto eu - neste momento - busco, em fantástica viagem, sem outro veículo que não eu próprio, não consumindo outro combustível senão tudo aquilo de que me interiormente despojo, sem outro destino e caminho senão o fundo de mim mesmo. Porque é o conhecimento de mim mesmo, em todas as complexas vertentes que condicionam o meu Eu, que me habilitará a conhecer o Outro, o Mundo e quem o criou e porquê e para quê e como. Eu sou a pergunta, a pergunta sem resposta, a pergunta buscando a resposta e, simultaneamente, a resposta contida na própria pergunta, que me levará a nova pergunta, que gerará nova resposta, em contínuo alargar de horizontes, que espero me permita entrever o que está para além do horizonte e contém todos os horizontes...

Percebe-se então facilmente porque me impressionou o trabalho do Irmão Milliken. Nessa busca interior que vou fazendo, a algumas conclusões próprias ia chegando e guardando no meu íntimo e aí as entesourando, por convencimento da minha incapacidade de adequadamente as transmitir. O texto da "palestra do último grau" assemelha-se muito ao meu pensamento e exprime-o muito melhor do que eu seria capaz:

"Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra se experimente a si próprio. Viver a "vida piedosa" é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos."

"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio."

"A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre "na unidade do Espírito Santo." SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento."

Realmente, há coisas que só as parábolas permitem transmitir!

Rui Bandeira

9 comentários:

Nuno Raimundo disse...

Boas...

esta parábola, no que pude perceber, encerra nela própria o conceito "Conhece-te a ti mesmo".

E somente depois de nos "conehcermos a nós proprios" poderemos realmente conhecer outrém...

abr...prof...

Diogo disse...

«"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS.”»

No entanto, todo o esoterismo, toda a mística, todo o oculto maçónico apontam na direcção oposta. Há os iluminados e há os outros, as pedras brutas.


«Já me reconciliei - há muito! - com a finitude da vida neste plano de existência, já abandonei, por estulta e estéril, a busca do imenso porquê, a mim nunca me interessou particularmente interrogar-me sobre o cósmico como.»

Que é feito, então, do Grande Arquitecto? Qual é o seu desígnio?

Rui Bandeira disse...

@ HuHo_R:

Esse é um princípio básico e essencial.

@ Diogo:

1) Está completamente errado. Cada maçon considera-se ele próprio uma pedra bruta, que ele procura aparelhar e polir. Iluminados é noutro departamento...

2) O Grande Arquiteto está logo nas frases seguintes: "Por agora,desde há muito e náo sei até quando, concentro-me na busca da Vida e da Criação. Tenho uma ideia rude e imprecusa desse sentido. Busco o melhor ângulo para obter mais Luz. Espero que consiga obter o Brilho suficiente para, através do sentido da Criação, entrever o Criador,"

Bastava-lhe, Diogo, não ter cortado - e assim truncado - a citação...

José Carlos Soares disse...

Rui este texto é intragável. Intragável porque sim, intragável porque me apetece, intragável porque fala de coisas que não entendo, pensava eu que uma parábola era quando os animais falavam como nas histórias do La Fontaine. Afinal essa coisa do La Fontaine deve ser o que aparece nos comentários... (o Rei ataca de novo)

Jose Ruah disse...

Espero que tenha sido só uma epifaniazita que te deu.

Ou será que foi mesmo uma epifania das sérias e vais mesmo mudar

Jose Ruah disse...

@ Diogo

Iluminados:
O melhor que encontrei para lhe explicar foi o texto de um jingle:

Candeeiros bem bonitos, modernos e originais
Compre-os na Rádio Vitória Não se preocupe mais !
Lá na rua da Vitória,46-48
Satisfaz-se plenamente
O cliente mais afoito.

Era ao tempo Iluminação garantida.

Unknown disse...

Parece-me que se o Diogo se for embora este blog deixa de ter piada... há pessoas assim.

Diogo disse...

“Masonry is regarded as the direct descendant, or as a survival of the mysteries... of Isis and Osiris in Egypt...”

- Robert Freke Gould, Past Senior Grand Deacon of England, Master of Quatuor Coronati Lodge No. 2076, Vol. 1, p. 13, History of Freemasonry; New York, 1884


Gostava que vissem este vídeo, legendado em português, que fala de Hórus, de Cristo e de outras coisas (que, julgo, bem mais interessantes que as alegorias do Rui Bandeira):

Zeitgeist

Jose Ruah disse...

Chama-se este texto
" Do valor da parábola"

O Rui Bandeira bastas vezes me chamou à atenção porque me esqueço dos acentos. Desta vez não me vou esquecer e por isso

PARABOLA : que é como quem diz para a bola!

@ Exmo. Senhor Diogo A. R. Sousa,

Pode V.Exa comentar e discutir o que aqui se escreve, mas solicito-lhe o respeito necessário ao espaço que o acolhe.

Por outro lado V.Exa. já demonstrou não debater mas tentar impor as suas verdades, minorando as dos demais (que ao caso não são verdades mas opiniões e formas de ver) e vir fazê-lo de forma provocatória.

Não se pretende neste espaço impor verdades, não queremos que no-las venham impor.

Nesse sentido sugiro a V.Exa. que crie um blog, se não souber como se faz diga porque o ajudaremos, para nele expor os seus pontos de vista absolutos sobre os assuntos que lhe interessem, nomeadamente Maçonaria.

Atrevo-me a sugerir que lhe chame:
leo-o-anti-maçon-taxil-vulgo-o-impostor.blogspot.com.

Desta forma poderá com a total liberdade escrever e citar, normalmente truncado e fora de contexto, aquilo que quiser e lhe apetecer a seu belo prazer, podendo assim dar maiores largas ao seu gozo intelectual.

Solicito-lhe o favor de quando tiver o blog criado de informar para que possamos ir la comentar e debater ideias, se esse for o nosso desejo e vontade.

Mais lhe refiro que a mensagem contida nesta missiva já lhe foi inúmeras vezes transmitida, eventualmente de forma um pouco menos directa, pelo que apenas reforço que outros , muitos deles apenas leitores e nem sequer maçons, incluído eu próprio já escreveram e disseram.

Ao seu dispor

Jose Ruah