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20 setembro 2025

O método iniciático

 Desde tempos imemoriais, o ser humano tenta aprender e ensinar sobre os mais variados temas. Essa postura tem sido crucial para a constante evolução das ciências, sejam elas naturais, humanas ou matemáticas.




Cada ciência tem os seus métodos de ensino, e cada tema pode ter o seu próprio. A maçonaria, não sendo uma ciência, também possui um método de aprendizagem para atingir um dos seus principais objetivos: o aperfeiçoamento dos II. Embora tenha pesquisado diversas fontes, nenhuma me convenceu plenamente de que aquele era o verdadeiro método de ensino maçónico. Talvez seja algo único ou, então, a minha pesquisa não foi suficientemente exaustiva para lhe dar um nome.


Assim, vou tentar explicar em que consiste o método e os papéis de cada um dos envolvidos. Para simplificar, o Ap é aquele que aprende, e o M é aquele que ensina. Na prática, todos somos aprendizes, independentemente do nosso grau, mas para este texto, partimos do princípio de que o Ap é o aluno.


O método é simples, mas trabalhoso, e pode ser dividido em três fases:

  1. Pesquisa e reflexão inicial (procurar): O Ap explora um tema que lhe desperta curiosidade. Pode ser um conceito de um livro ou um instrumento de cantaria. Ele aprofunda o seu conhecimento pesquisando em várias fontes. A internet e a IA podem ser boas aliadas, mas é preciso cautela, pois podem levar a enganos. No final, o Ap deve fazer uma primeira reflexão para iniciar a próxima fase.
  2. Trabalho escrito (interiorizar): As reflexões da pesquisa devem ser compiladas num texto a ser apresentado a todos os II. O texto deve ser objetivo e sucinto para que o tempo de apresentação seja breve e o tempo de discussão seja maior. Nesta fase, o I V ou o V podem orientar o Ap.
  3. Apresentação (aperfeiçoar): O trabalho é apresentado à loja. Após a apresentação, os II MM dão críticas construtivas para melhorar o que foi apresentado. Esta fase é essencial para aprimorar o trabalho e interiorizar os valores em todos os II.



Neste processo, cada um tem o seu papel e as suas motivações:

O Aprendiz:

  • Procura o tema de estudo (que também pode ser sugerido por um M);
  • Pesquisa usando várias fontes;
  • Elabora o trabalho;
  • Apresenta;
  • Escuta e interioriza as críticas construtivas;
  • Revê e amadurece os conceitos e valores trabalhados.

O Mestre:

  • Orienta o Ap;
  • Sugere fontes e explica o que sabe sem dogmatismos (conceitos incontestáveis);
  • Promove o pensamento autónomo no Ap;
  • Estimula o debate;
  • Avalia o processo de desbaste da pedra bruta do Ap.


Este método é valorizado nas L, mas nem sempre é seguido à risca. Muitas vezes, o debate prossegue no ágape, onde todos podem discutir à vontade. As regras de debate nas L não o reprimem, mas sim, promovem a ordem e o respeito entre II, permitindo que um I de cada vez fale.

De forma muito pessoal, penso que se o objetivo for cumprido e a pedra bruta ficar um pouco mais cúbica, qualquer método é válido.

É assim que se aprende e se ensina na RL Mestre Affonso Domingues e, até agora, tem corrido bem e concretiza que continuará a correr bem.


D∴ G∴ 

13 fevereiro 2017

A pedra bruta (republicação)...

Para a habitual publicação das "segundas-feiras" irá rever a luz um texto em forma de alegoria que o Paulo M. publicou aqui no  "A Partir Pedra", e que pode ser consultado no seu original aqui, que aborda a "Pedra Bruta", conceito maçónico este que os nossos habituais leitores já deverão ter depreendido que é um tema que me é muito caro. 

E como para o maçom o processo da sua transformação, inicialmente sendo ele uma simples "pedra bruta" ( o seu Eu, com os defeitos e vícios adquiridos ao longo da sua vida) para se tornar numa "pedra polida" (sendo este um estádio mais avançado, evoluído de si mesmo) ser deveras importante, dado que o aprimoramento moral - o seu auto-aperfeiçoamento ! - é necessário para uma conduta social, profissional, inclusive familiar(!) exemplar; já para não falar (passe o pleonasmo) de que essa evolução ser também  necessária também no seio da Maçonaria, porque apenas reconhecendo aqueles que são livres e mesmo de bons costumes, é possível também esta Augusta Ordem progredir...

Por isso é tão relevante este conceito tão singelo, e para alguns estranho, de "Pedra Bruta" e do trabalho que deve o maçom  fazer neste desbaste contínuo desta sua "pedra", e que me aprazeria dizer que é mesmo um trabalho  necessário ser efectuado quase que diariamente, senão o risco de estagnação e de pouca ou nenhuma evolução pessoal conseguirá ser concretizado, contrariando de certa forma, aquilo a que o maçom se propôs a fazer no dia em que sentiu a necessidade de dar um passo no sentido de evoluir e crescer...

Assim e depois deste pequeno "apontamento" inicial passarei à transcrição do texto que escolhi para esta semana:
"A pedra bruta

 O aprendiz tivera recentemente a sua primeira lição sobre a pedra bruta e a pedra polida. Foi-lhe explicada a base, o essencial, o ponto de partida do significado desses símbolos, que depois interiorizaria e desenvolveria por si mesmo. Aprendeu, então, que a pedra é cada um de nós; que o nosso trabalho consiste em "aparar" as nossas asperezas de modo a atingirmos um estado de maior perfeição - ou de polimento - para que, por fim, juntos, formemos essa sublime construção, esse supremo templo que o Homem edifica, a partir de si mesmo, à Glória do seu Criador.

Várias noites seguidas o aprendiz adormeceu sobre o assunto, e sonhou com pedras de todos os feitios. Sonhou com enormes e antigos rochedos cobertos de um musgo ancestral; sonhou com areia fina, outrora parte de imponentes escarpas e agora reduzida a pó; sonhou com mós de moinho, com as pedras dos muros das aldeias da sua infância, com a calçada da cidade, com esquinas de prédios, com gravilha, com os seixos rolados que lançava fora quando abria um buraco no quintal e cuja forma traía um longo percurso de leito de rio e de enxurradas de Outono.

Num dos seus sonhos, o seu olhar recaiu sobre um calhau quase em bruto, semi-enterrado, com um dos lados mais plano - o mais batido pela intempérie - e o resto, por ter passado a maior parte do tempo oculto debaixo da terra, ainda cheio de rugosidades e imperfeições. Algo de familiar lhe chamara a atenção para com aquela pedra, pelo que a fixou com atenção. Logo acordou, mas aquele calhau, mais áspero de uns lados, mais liso de outro, não lhe saía da cabeça.

Só dias depois, ao fazer uma introspeção sobre as suas fraquezas e as suas forças, se reconheceu, não sem algum embaraço, na pedra com que sonhara. O seu lado mais polido - aquele, afinal, em que mais tempo investira, e que era aquele que lhe punha o pão na mesa - estava, não obstante, rachado e eivado de sulcos aqui, mas ali ainda com sinais de pouco trabalho e pouca perseverança que traíam a rugosidade original. Do resto nem valia a pena falar; precisava de tudo.

Inspirou fundo e quase desistiu; a tarefa era árdua, e não sabia sequer por onde começá-la. Apercebeu-se, então, que nem sequer sabia onde queria chegar, pelo que não fazia sentido meter-se, antes disso, ao caminho. O que deveria fazer dessa pedra que era ele mesmo?

Inquieto, procurou junto de um dos seus Mestres orientações quanto ao que deveria fazer. Este, à guisa de resposta, mostrou-lhe dois muros, igualmente sólidos e compactos: um, formado por pedras de forma paralelepipédica, cada um com as suas 6 faces laboriosamente aparadas; outro, formado por pedras irregulares mas firmemente encaixadas umas nas outras, em que apenas uma ou duas faces - as exteriores - tinham sido polidas, mas essas, oh, como brilhavam!

Mais baralhado ainda, perguntou ao Mestre que pedra deveria ser, e o que deveria fazer para o atingir. Deveria ir aparando, nas várias faces, as rugosidades maiores, esperando que, ao fim de muitas passagens, a forma se fosse compondo? Ou deveria investir numa ou duas das faces e ignorar as restantes? Ou, pelo contrário, deveria trabalhar todas, mas dando forte preponderância a uma ou duas, e limitando-se a atingir os mínimos nas remanescentes?

Respondeu-lhe o Mestre que não tinha resposta para lhe dar. Que cada um deveria aparelhar a sua pedra da forma que entendesse ser a mais perfeita, e que o Grande Arquiteto saberia usá-la, como ficasse, na construção do Templo. Umas, mais toscas, seriam usadas como enchimento, sem o qual as paredes não teriam consistência para se suster; outras, mais ornamentadas, seriam colocadas em lugar de destaque, mas seriam eventualmente mais frágeis; outras ainda, robustas e fortes, aparadas de forma milimétrica mas sem quaisquer adornos, tornar-se-iam nas pedras que susteriam os vãos e as abóbadas. Algumas pedras, pela sua própria natureza, nunca poderiam servir para certos fins; mas todas conseguiriam tornar-se úteis para alguma coisa, e tanto mais úteis quanto mais trabalho tivesse sido despendido nas mesmas.

O Aprendiz olhou então, longamente, a sua pedra, inspecionou minuciosamente a face mais polida - mas imperfeita - bem como as outras, rugosas e ásperas, e lançou-se ao trabalho.

.·.

Anos mais tarde, já o Aprendiz chegara, por sua vez, a Mestre, tendo a oportunidade de ir apreciando os trabalhos dos Aprendizes e Companheiros da sua Loja, e o quanto eram diferentes uns dos outros. Enquanto uns se esforçavam mais por distribuir o seu esforço por várias faces - obtendo belas peças geométricas que formavam um todo harmonioso, em que nenhuma face sobressaía das demais - outros persistiam em trabalhar a mesma face até que esta brilhasse como um espelho, ofuscando as imperfeições que haviam ficado por trabalhar nas restantes, e que podiam, mesmo, ser vistas como uma promessa de aperfeiçoamento futuro. Em todas elas o Mestre teve oportunidade de aprender algo de novo. E apercebeu-se, então, de que o seu  Mestre tivera razão, pois que de nenhuma poderia dizer, com segurança, que fosse melhor do que as outras.

Paulo M. "

26 março 2014

O silêncio do Mestre


Depois de O silêncio do Aprendiz (um dos textos mais lidos do blogue A  Partir Pedra) e de O silêncio do Companheiro, é tempo agora de tratar do silêncio do Mestre.

À primeira vista, poder-se-á pensar que a expressão constitui um absurdo, pois o Mestre Maçom não só não está vinculado ao dever do silêncio como, pelo contrário, tem o dever de usar da palavra, designadamente para ilustração e formação de seus Irmãos e comparticipação na gestão e decisão dos assuntos da Loja. Mas assim não é. Já no final de  O silêncio do Companheiro se referiu que O silêncio do Companheiro é a sua preparação para a sua Elevação a Mestre. Para que, quando tiver direito a usar da palavra, já saiba quando se deve calar! Para que entenda perfeitamente o valor da Palavra e a valia do Silêncio. Então estará pronto! 

Uma das lições que o Mestre Maçom deve ter já interiorizado quando acede à Mestria é precisamente o valor e a oportunidade do silêncio. Que há momentos de falar e momentos de calar. Que, por vezes, a mais sonora declaração decorre do seu silêncio.Ou simplesmente que, quando não tem nada de útil a acrescentar, o melhor a fazer é estar calado...

O Mestre Maçom tem o direito ao uso da palavra em sessão de Loja. Mas esse direito não implica que tenha o dever de falar sempre nem que utilize essa faculdade para perorar sobre tudo e um par de botas, implicitamente desvalorizando o que transmite - pois ninguém sabe de tudo e o homem sábio conhece as suas limitações. Assim, o direito ao uso da palavra implica o dever de saber administrar o seu silêncio, dele só abdicando quando entender mais útil falar do que estar calado.

Como em quase tudo na vida, cada um é como cada qual - e todos evoluem ou podem fazê-lo. Há aqueles que praticamente não precisaram de aprender essa lição: por temperamento são pessoas caladas, reflexivas, ponderadas, que raramente falam - e, quando o fazem, são, precisamente pela raridade da situação, muito atentamente ouvidos. Esses quase nunca falam a despropósito - mas algumas vezes, precisamente pelo seu particular zelo na seleção de quando, como e o que dizer, deixaram de dar contributos que teriam sido preciosos, se partilhados no momento próprio. Há outros que, pelo contrário, são de natureza interventiva, não deixam de dar a sua opinião, não temem estar em minoria, entendem que participar implica opinar, contribuir, ainda que por vezes apenas marginalmente, para as deliberações coletivas. Esses correm o risco de errar algumas vezes, de opinar sem o conhecimento ou a ponderação adequados, de darem a impressão de que, sobretudo, gostam é de ouvir a própria voz - mas são frequentemente preciosos desbloqueadores de discussões, lançam os debates sobre os temas e acabam por auxiliar o grupo, quanto mais não seja porque catalisam acordos e desacordos, concordâncias e críticas, e assim acabam por contribuir para uma sadia discussão dos temas e uma participada deliberação. E há também os que só intervêm quando têm contributo válido para dar e permanecem silenciosos quando não sabem ou, sabendo, nada de especialmente útil têm para acrescentar, ou, simplesmente, porque, no seu entender,  a minudência do assunto não lhes suscita particular interesse - esses são os mais criteriosos, normalmente os mais influentes, os que mais frequentemente contribuem substancialmente para as deliberações.

Ninguém pertence obrigatória e definitivamente a um destes grupos. O avaro de palavras, se atento estiver, irá verificar que deixou passar ocasiões em que a sua intervenção teria sido útil e gradualmente evoluirá para o último grupo descrito. Por seu turno, o tagarela opinativo sobre quase tudo, sendo crítico de si mesmo, irá ter consciência das vezes em que perdeu boas ocasiões para estar calado e, vigiando-se, gradualmente se desencantará do som da sua voz e privilegiará a transmissão do que valha a pena transmitir, progressivamente ganhando o acesso ao conjunto dos realmente influentes nas deliberações do grupo. Mas também os normalmente equilibrados têm de permanentemente se vigiar, seja para não cair na tentação da intervenção a despropósito, seja para não insistir em demasiada introspeção silenciosa. Como em quase tudo na vida, o ponto de equilíbrio é instável e delicado. A gestão da palavra e do silêncio acaba por ser, ao longo do tempo, aperfeiçoada por quase todos. E quase todos acabam por aprender a falar quando é útil que falem e a guardar silêncio no resto do tempo. 

Três momentos, a meu ver, impõem o silêncio. O primeiro é quando, pura e simplesmente, nada ou muito pouco se sabe ou se pensou sobre o assunto em debate. Esse é claramente tempo de ouvir, não de falar, de aprender, não de partilhar. O segundo, mais delicado de identificar, ocorre quando se sabe algo sobre o assunto, mas ainda não se chegou a uma conclusão precisa. Em termos mais ligeiros, já se tem algumas luzes, mas ainda restam algumas apagadas... Aí ainda não é tempo de partilhar, a não ser que se partilhem dúvidas a serem esclarecidas ou hipóteses a serem trabalhadas. Sobretudo, não é altura de alardear certezas que não se têm, transmitindo meras hipóteses como conclusões. Quem o fizer, está a induzir em erro os demais e a enganar-se a si próprio. Trabalho quase concluído é, para todos os efeitos, trabalho não acabado! É preferível acabar primeiro o trabalho, chegar às conclusões e só depois partilhar o seu pensamento. Estar quase certo é como ser quase virgem: são estados que não existem! Ou se está ou não se está. Ou se é ou não se é... O terceiro momento que impõe silêncio é, creio, o mais difícil de lobrigar, aquele que requer a vivência de êxitos e fracassos, a que não se chega só por intuição ou estudo, decorre da experiência vivida e meditada e aproveitada. Esse momento existe quando, apesar de se saber do que está em discussão, apesar de se ter ideia feita sobre o tema, se tem a consciência de que será melhor para a deliberação, para o grupo, ou simplesmente para a evolução de um Irmão, que o que se tem para dizer seja dito por outro, que intuímos estar em condições de o fazer, e de o fazer tão bem quanto nós o faríamos - e renunciarmos a dizê-lo para que o outro o faça. Quando isso verificarmos, importa ter a noção de que ser um ou outro a dizer só aparentemente tem o mesmo resultado final. Porque renunciar à nossa palavra para que outro Irmão cresça, para que seja o contributo de outro Irmão, e não o nosso, a ser trazido para o grupo pode fazer muita diferença, não só para esse Irmão, mas para todo o grupo - porque ganhou mais um a contribuir, em vez de se bastar com o contributo dos mesmos...

O Aprendiz que faz bem o seu trabalho facilmente identifica o primeiro momento em que se impõe o silêncio. O Companheiro com o seu trabalho concluído reconhece o segundo momento. Mas o terceiro momento, que não é de mera renúncia, mas de colaboração, que não é simples altruísmo, mas de noção de que o fortalecimento do grupo depende do crescimento de todos, não só dos mesmos, e que esse fortalecimento se faz em benefício de todos, esse é apanágio do Mestre que aprendeu a sê-lo!

Pode demorar anos. Porventura será necessário que demore anos. Mas quando o Mestre Maçom descobre esse terceiro momento e age em conformidade com ele, então, sim, atingiu a mestria de si mesmo, aprendeu o significado de estar em Loja - não por si, mas pelos seus Irmãos e, assim, por todos e, logo, também por si. Então deparou com outra, e mais apurada, dimensão do silêncio, o Silêncio do Mestre!

Rui Bandeira

29 janeiro 2014

Oração de um Mestre a outros Mestres - II


Novos Mestres:

Eis-vos finalmente na Câmara do Meio. Eis-vos merecidamente revestidos da plenitude de todos os direitos de Mestres Maçons. Eis-vos igualmente onerados com a totalidade dos deveres de Mestres Maçons.

Estais na Câmara do Meio iguais entre iguais. Cada um de vós não é menos, não vale menos, do que eu ou qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam os ofícios por alguns exercidos, quaisquer que sejam as dignidades a alguns outorgadas. Cada um de vós não é mais do que eu ou qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam os vossos méritos, os vossos títulos académicos ou posições profanas. Cada um de vós é exatamente igual a mim e a qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – iguais entre iguais na nossa comum pequenez perante o Grande Arquiteto do Universo, perante a nossa comum ignorância do sentido da vida e da existência, perante o nosso comum desejo de ser melhor, saber mais, fazer bem, viver plenamente.

Tendes exatamente os mesmos direitos que cada um dos outros Mestres Maçons presentes nesta sala – e que, afinal, se resumem ao direito de transmitir aos demais as opiniões e os entendimentos de cada um, ao direito de cooperar na tomada das deliberações que hajam de ser tomadas e ao direito de participar organizadamente na administração da Loja.

Recaem sobre vós exatamente os mesmos deveres que recaem sobre cada um dos outros Mestres Maçons presentes nesta sala – todos os deveres inerentes a um homem de honra e de bons costumes, fiel à sua palavra e aos seus compromissos, mais os deveres resultantes do nosso comum compromisso de nos aperfeiçoarmos permanentemente, acrescidos da especial responsabilidade assumida pelos Mestres Maçons: a partir de agora, não sois responsáveis apenas por vós próprios e pela vossa própria melhoria; a partir de agora sois responsáveis também por todos os Aprendizes e Companheiros desta Loja. Responsáveis por os auxiliar na sua jornada, responsáveis pela preparação e evolução de cada um como todos nós nos responsabilizámos pela vossa preparação e evolução. Responsáveis por iguais que um dia também acederão a esta Câmara do Meio no exato mesmo estatuto de que agora vós, como todos os demais Mestres Maçons presentes nesta sala, dispondes.

Compreendeis agora, se não vos tínheis já apercebido antes, que a dureza dos Mestres na apreciação dos vossos trabalhos não era vã exigência, estulto apoucamento ou deslocada manifestação de inexistente superioridade. A nossa meticulosidade no apontar dos mais ínfimos detalhes negativos dos vossos trabalhos, tantas vezes mostrando-os piores e mais significativos do que realmente eram, o nosso hábito de temperar os quantas vezes parcos elogios ao resultado do vosso esforço com a referência ao que podia ser melhor, não se destinaram nunca a desmerecer do vosso trabalho ou alardear inexistentes superioridades. Foram, como tudo o que ritualmente em Loja se processou ao longo de todo o tempo da vossa formação, simples meios, ferramentas, de vos incutir algo que deveis considerar absolutamente inerente à condição de Mestre Maçom: uma absoluta e permanente exigência da melhor qualidade possível em tudo o que somos e fazemos, uma absoluta aspiração à maior aproximação que nos for possível da perfeição.

O vosso percurso teve de ser longo e duro, porque culmina na vossa presente situação de iguais entre iguais, com a inerente consequência de que o direito de vos julgar e de julgar as vossas ações passou a ser em primeiro lugar atribuído aos mais severos dos julgadores: vós próprios! A nossa aparente severidade nunca foi, pois, mais do que mera preparação para a mais rigorosa severidade na vossa apreciação e na apreciação dos vossos atos, a indeclinável e inabalável severidade que um homem de bem, livre e de bons costumes, devidamente preparado e completamente consciente de si próprio deve devotar à sua autoapreciação, como meio de ser e tornar-se sempre, dia a dia, momento a momento, melhor, cada vez melhor, cada vez um poucochinho menos longe da inatingível meta da perfeição.

De vós a Loja pede sempre o mesmo: aquilo que cada um de vós, em cada momento, puder dar. Cada um de vós retirará e receberá da Loja sempre o que lhe aprouver do que a Loja tem. E todos sabemos que a Loja só tem aquilo que nós lhe dermos, pelo que, quanto mais todos lhe dermos, mais poderemos tirar.

Meus Irmãos Mestres Maçons, hoje festejai. A partir de amanhã reiniciai o vosso trabalho, reempunhai as vossas ferramentas, senhores do vosso trabalho, do vosso caminho, da vossa criação. Confiamos todos em que, como até aqui, sereis dignos de vós próprios e das vossas ferramentas até ao momento em que finalmente vos autorizardes a vós mesmos a pousá-las, quando verificardes ter chegado a vossa meia-noite.

Meus Irmãos no vosso grau de Mestres Maçons e na vossa insuperável qualidade de homens livres e de bons costumes, bem-vindos ao vosso lugar, bem-vindos aonde sentíamos a vossa falta, bem-vindos a esta Câmara do Meio!

Rui Bandeira

19 junho 2013

Passagem, Elevação, Receção ou Colação? Elevação, Exaltação, Colação ou Receção?


Por vezes, a mesma situação ou ação é designada, entre os maçons, por termos diferentes, sem que muitos deles se apercebam da origem ou da razão de ser das diferentes designações.

Por exemplo, alguns maçons costumam designar o acesso ao grau de Companheiro e a respetiva cerimónia como a Passagem a Companheiro; outros designam essa mesma ocorrência de Elevação a Companheiro, outros referem tratar-se de uma Receção e outros ainda falam de uma Colação. Mas também é comum haver quem utilize a expressão Elevação para referir o acesso ao grau de Mestre Maçom e respetiva cerimónia. Mas, neste caso, também há quem utiliza e expressão Exaltação, quem use a palavra Receção e quem se sirva do termo Colação. Não é incomum, numa conversa entre maçons, por vezes até da mesma Loja, verificarmos a utilização em simultâneo de todas estas palavras, para referir estas duas ocorrências.

Mas, se passarmos da referência coloquial a uma análise mais aprofundada e perguntarmos a quem intervém na conversa qual o termo correto a utilizar, verificamos facilmente que as opiniões se dividem e não raro se estabelecem debates sobre a qual delas dar primazia. Se procurarmos aprofundar mais e perguntarmos a razão da existência dessas diversas denominações, raramente obteremos uma resposta satisfatória.

Pois bem, a resposta para esta diversidade de denominações dos mesmos atos é muito simples, tão simples que alguns, obcecados pela busca em lugares longínquos, documentos antigos ou razões esotéricas, se esquecem de olhar à sua volta: essa diversidade resulta apenas do facto de existirem diversos Ritos e diferentes rituais na Maçonaria e ainda de cada Obediência elaborar soberanamente os seus rituais, daí decorrendo, com alguma frequência, pequenas divergências - que, por vezes, decorrem de simples diferenças de tradução, outras de fixações de práticas em uso na respetiva Obediência, que constituem evoluções ou corruptelas de práticas mais antigas ou recolhidas em outros lugares, etc..

Se consultarmos os rituais do Rito Escocês Antigo e Aceite em uso na GLLP/GLRP, verificamos que o termo de Elevação é utilizado, quer para exprimir o acesso ao grau de Companheiro, quer ao grau de Mestre. Já os rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito (note-se a diferença na última palavra...) em uso no Grande Oriente do Brasil usam o termo Elevação para o acesso ao grau de Companheiro, reservando para o acesso ao grau de Mestre o termo Exaltação. Mas se consultarmos os rituais do Rito Brasileiro em uso no Grande Oriente do Brasil, verificamos que aí se reserva o termo Passagem para a transferência dos trabalhos do grau de Aprendiz para o grau de Companheiro e deste grau para o grau de Mestre e se utiliza o termo Colação para o acesso do obreiro Aprendiz ao grau de Companheiro e do obreiro deste grau ao grau de Mestre. Consultando os rituais do Rito de York em uso na GLLP/GLRP, verifica-se que o acesso do Aprendiz ao grau de Companheiro é designado pelo termo Passagem (em consonância com o original Rito Azul anglo-saxónico) enquanto que o acesso do Companheiro ao grau de Mestre é designado por Elevação. Finalmente - em relação aos rituais que possuo em meu poder e que pude, assim, consultar -, nos rituais do Rito Escocês Retificado em uso na GLLP/GLRP, o Aprendiz que está em condições de progredir é Recebido Companheiro e o Companheiro pronto para avançar para o grau seguinte é Recebido Mestre e, consequentemente, as respetivas cerimónias são designadas de Receção.

Por esta breve excursão por vários rituais, verificamos não haver, em bom rigor, que dar primazia a um termo sobre outros. Cada rito utiliza os seus termos, podendo haver variantes, mesmo dentro do mesmo rito, entre Obediências. Não há, assim, um termo "certo" para designar qualquer das duas ocorrências que aqui refiro. Obviamente que, dentro da mesma Loja, não faz muito sentido que se usem termos diferentes para designar a mesma realidade, devendo todos os obreiros dessa Loja ter em atenção que devem utilizar o termo em uso no respetivo ritual do seu Rito, por evidente questão de rigor. Em termos mais abrangentes, o que convém é que todos os maçons - pois convivem entre si maçons de todos os ritos e de todas as Obediências - conheçam as várias variantes existentes, para que saibam do que estão a ouvir falar, quando um destes termos vier à baila na conversa. E, quando porventura alguém não esteja familiarizado com algum termo, não hesite em perguntar... Entre Irmãos, perguntar algo não é nunca sinal de fraqueza ou menor capacidade. É para isso e por isso que todos os maçons se consideram mutuamente como Irmãos: para e por se auxiliarem mutuamente a suprir os desconhecimentos ou asperezas de cada um, assim ajudando a que todas as brutas pedras progressivamente ganhem forma e polimento... 

Rui Bandeira

22 maio 2013

O Mestre Maçom perante a Sociedade


A Maçonaria Regular é uma instituição destinada ao aperfeiçoamento moral, espiritual e intelectual dos seus elementos e também para que estes, através do seu exemplo e da prática dos seus princípios, por sua vez propiciem, influenciem, a melhoria, pouco a pouco, indivíduo a indivíduo, da sociedade em que a Instituição e os seus elementos se inserem.

A Maçonaria Regular não existe divorciada, separada, afastada, da sociedade em que se insere. Pelo contrário, é uma das instituições que unem, solidificam e contribuem para o progresso dessa mesma sociedade - à sua maneira, é certo, pelo seu específico jeito, obviamente; mas a sua riqueza está precisamente na sua diferença, na sua especificidade: para ser igual às outras, bastam as outras...

O Mestre Maçom que aprendeu o que é a Maçonaria Regular tem, assim, bem presente que, se é crucial conhecer-se a si mesmo, como meio de se melhorar, não é menos indispensável  reconhecer -se como animal social, isto é, que o que é, o que melhora, o que faz, em cada momento, se repercute no meio em que se insere e o influencia. 

O Mestre Maçom deve ter, consequentemente, a vívida noção de que todo o seu esforço de melhoria, toda a sua persistência no modelar de si próprio, só adquire pleno significado, integral valia, no confronto com todos com quem interage. Um eremita pode atingir o cúmulo da perfeição, ser o vero protótipo de um Santo, estar com dois pés e meio corpo no Nirvana - se for eremita e ninguém der por ele, pela sua perfeição, santidade e êxtase, em nada influencia, a ninguém mais aproveita, todo o seu esforço e trabalho e persistência apenas se refletem na ínfima partícula da volátil poeira do leve sopro da miúda insignificância que ele, como cada um de nós, na realidade, é, ao nível da imensidão cósmica.

Qualquer significado dos nossos atos, qualquer diferença que possamos fazer, qualquer valia que a nossa existência e a forma como a vivemos tenha só existem verdadeiramente no confronto com os outros.

Assim, no confronto do Mestre Maçom com a Sociedade, entendo que a palavra-chave é "coerência".

Coerência entre a sua atuação, em todos os momentos, em todas circunstâncias, em todos os ambientes, entre os princípios e os atos. Coerência entre os seus atos em Loja e fora de Loja. Entre as suas condutas perante Irmãos e perante profanos.

Coerência enquanto maçom e enquanto cidadão, quer a sua condição de maçom seja publicamente revelada ou se mantenha por si prudentemente reservada. Porque o que importa verdadeiramente é a contribuição que os maçons dão para a melhoria da Sociedade, não os créditos que estes porventura recebam por isso. Os maçons cumprem - sempre, em todo o lado e perante qualquer pessoa - os seus deveres de cidadãos e de maçons, aplicam os seus princípios de homens livres e de bons costumes em público como em privado, com ou sem benefício próprio, tão só porque moldaram a sua natureza para assim proceder, sabem que essa é a forma devida de ser e de agir, reconhecem que só assim são reconhecidos como tal pelos seus Irmãos.

O Mestre  Maçom é, assim, persistente, dá o exemplo, está disponível e é coerente. Consigo próprio, com seus Irmãos, com sua Oficina, com todos. Tudo isso em todas essas situações. Ou não é realmente Mestre ou Maçom.

Rui Bandeira 

15 maio 2013

O Mestre Maçom perante si próprio


Todo o maçom, desde o primeiro dia que adquiriu essa condição sabe que o seu maior inimigo é aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho. Mas também sabe que a melhor maneira de acabar com o inimigo não é prendê-lo (pode sempre libertar-se...), ou matá-lo (pode dele fazer um mártir ou herói para outros, e assim afinal multiplicar os seus inimigos...). A melhor maneira de acabar com o seu inimigo é fazer dele seu aliado, seu amigo. A amizade tem mais força que a força...

Todo o maçom sabe, desde o dia em que adquiriu essa condição, que dentro de si convive o que potencialmente o destrói, o desvaloriza, o apouca - os seus vícios, os seus defeitos - e o que o engrandece - as suas virtudes e capacidades. Por isso aprende que é crucial cavar masmorras aos seus vícios e cultivar suas virtudes. Só assim aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho deixará de ser o inimigo que arrasta para as sombras da depravação para passar a ser efetivamente o aliado amigo que acompanha no caminho para a Luz.

O Mestre Maçom, quando se coloca - o que deve fazer com frequência... - perante si próprio, deve sempre recordar-se que o esforço para ser melhor pode não necessitar de ser muito grande, mas inevitavelmente tem que ser contínuo. Tal como aquele que anda de bicicleta precisa de manter o movimento para não cair, assim aquele que cessa o esforço para melhorar verá degradar-se o que atingiu.

Assim, a palavra que, no meu entendimento, se deve utilizar para ilustrar o que se impõe ao Mestre Maçom perante si próprio é "persistência".

Persistência no contínuo esforço de melhoria. Persistência em aprender e ensinar e em aprender ensinando. Persistência no Estar como meio para o Ser. Persistência em fazer, dia após dia, mês após mês, ano após ano, mais do mesmo,  como forma de descobrir, afinal, que o mesmo continuamente se reinventa e, quando damos por ela, já é outro e melhor.   

Persistência no trabalho mais importante que existe, o trabalho em si próprio, o trabalho que lhe permite reconhecer-se e ser reconhecido como aquilo de que se apelida, Maçom. 

Persistência no lapidar da única obra que, apesar de todas as obras que construa ou que crie, afinal realiza durante o tempo que passa neste plano da existência, a sua verdadeira obra-prima, a sua vida e quem a vive.

Persistência na busca da forma de melhorar o que parece bem mas pode sempre ser um pouco melhor - para descobrir que, após a melhoria, o que é melhor, pode ainda ser melhorado mais um pouco, desde que... persista no trabalho.

Persistência na lapidação da sua Pedra Bruta até conseguir dar-lhe a desejada forma de Pedra Cúbica. Persistência para polir essa Pedra Cúbica, face a face, para  bolear bem as arestas, uma a uma, para que essa Pedra Cúbica seja capaz de ser encaixada onde deve, seja sólida para bem assegurar o seu papel, se enquadre harmoniosamente entre as demais, aumentando com o seu brilho o brilho das vizinhas.

Persistência para nunca se sentir satisfeito, para ter a noção de que é sempre possível fazer e ser um pouco melhor e para efetivamente agir para assim fazer e ser - e descobrir que continuar a lapidar uma Pedra Cúbica não a faz mais pequena,  paradoxalmente engrandece-a.

Persistência em ser realmente e completamente aquilo que se reclama ser: Mestre Maçom!

Rui Bandeira

08 maio 2013

O Mestre Maçom perante a Loja


No meu entendimento, o termo que mais bem ilustra o que deve ser o Mestre Maçom perante a Loja é "disponível".

Disponível para exercer os ofícios para que seja designado.  Previamente a isso, disponível para aprender os deveres dos ofícios que deve exercer. Durante esse exercício, disponível para detetar, preparar e executar a melhor forma de exercer o seu ofício. Sempre disponível para entender que o exercício de qualquer ofício em Loja - incluindo o de Venerável Mestre; particularmente o de Venerável Mestre - não constitui o exercício de um qualquer Poder, mas tão só um serviço, o cumprimento do dever de cooperar na administração da Oficina. Disponível para, cessado o período de exercício do ofício, deixar ao seu sucessor tudo o que a ele é inerente pelo menos em tão boas condições como as que recebeu - preferentemente, em melhores condições. 

Disponível para ensinar e aprender. Disponível para preparar e apresentar pranchas na Oficina. Não será pedir muito a um Mestre Maçom que, pelo menos de dois em dois anos, tenha uma prancha traçada pronta para ser exibida perante a sua Oficina - e se todos os Mestres da Loja assim procederem, seguramente em todas as sessões de Loja haverá trabalhos apresentados. Disponível para ouvir os trabalhos dos demais e sobre eles ponderar e deles aproveitar o que lhe seja útil. Disponível para debater, trocar opiniões, não para "ganhar discussões" mas para extrair de diferentes conceções os pontos de convergência, as pontes de ligação, os denominadores comuns, os patamares que permitam as evoluções das posições expostas, os consensos atingíveis.

Disponível para as tarefas e projetos e iniciativas que a Oficina leve a cabo. Para auxiliar na execução das muitas boas ideias que surgem, independentemente de quem as tem.

Sobretudo disponível para estar presente, não só fisicamente, mas com toda a sua diligência e atenção - porque só assim será verdadeiramente útil à Loja e verdadeiramente a Loja lhe será útil a ele.

Finalmente, também disponível para, estando presente e pronto para o que preciso for, nunca impor, nem a presença nem a disponibilidade, deixando que naturalmente todos contribuam para todos. O Mestre Maçom integra, faz parte de uma Loja, não é "dono" nem "mentor", nem colonizador da sua Loja. Tão importante como estar disponível para a sua Loja é ter a noção e o equilíbrio de que os demais também estão e que uma Loja saudável recebe os contributos de todos, não só de alguns mais assertivos em fazê-lo. Há um tempo para fazer e um tempo para descansar e deixar que os demais também façam. Numa Loja equilibrada, não há "estrelas" nem "seguidores", todos são "primas donas" e todos são "carregadores do piano" - a vez de ser uma ou outra coisa chega a todos e deve ser por todos bem acolhida. O Mestre Maçom que verdadeiramente o é tem a clara noção de que a Loja deve ter todos disponíveis, mas ninguém insubstituível - o cemitério, esse sim, é que está cheio de insubstituíveis... e a vida continua...

Em suma, disponível para entender e praticar que integrar uma Loja maçónica é dar e receber. E, portanto, que se impõe estar sempre disponível para dar ao grupo a colaboração, a atividade, a solidariedade, a atenção, o tempo, o esforço, que o grupo necessita e merece que se lhe dê, mas também saber estar disponível para receber do grupo e de todos os demais que o integram a ajuda, os ensinamentos, as críticas, as opiniões, as sugestões, os contributos que o ajudarão a conseguir ser um pouco melhor. Ao contribuir para a Loja, para o grupo, está a juntar-lhe algo que fará do todo um grupo melhor. Quanto melhor for o grupo, dele mais e com mais qualidade receberá e aproveitará. E indivíduo e grupo mutuamente se vão fortalecendo, vão progredindo, vão melhorando, num virtuoso ciclo que só depende de um pouco do esforço e da contribuição de cada um.   

Dar e receber. Estar disponível para ambas as ações. É, afinal, tão simples ser maçom...

Rui Bandeira

01 maio 2013

O Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro


Qual a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro?

Na minha opinião, não é "Mestre", nem "formador", nem "ensino". É certo que os Aprendizes e Companheiros estão em período de formação, de aprendizagem e prática sobre símbolos e simbologia, valores, propósitos e objetivos. É também certo que a formação de Aprendizes e Companheiros é enquadrada e proporcionada pelos Mestres da Loja. Aliás, no Rito Escocês Antigo e Aceite - e não só - existe um Mestre da Loja com a específica responsabilidade de coordenar a formação dos Companheiros - o Primeiro Vigilante - e um outro com idêntica responsabilidade em relação aos Aprendizes - o Segundo Vigilante. Também é comum, e certo, o entendimento de que o Padrinho (isto é, o proponente da admissão do então ainda profano na Loja) tem o especial dever de acompanhar e auxiliar o Aprendiz ou o Companheiro cuja entrada na Loja patrocinou, quer na sua integração no coletivo que é a Loja, quer na sua formação.

Mas, sendo tudo isto certo, sempre entendi e defendi que, em bom rigor, a Maçonaria não se ensina, aprende-se, isto é, os Mestres proporcionam os meios, propõem os conceitos, guiam os Aprendizes e Companheiros no seu trabalho, mas o essencial está no trabalho do próprio Aprendiz ou Companheiro, no seu esforço, no seu compromisso, perante si próprio, de ser e fazer melhor, sempre melhor. O trabalho do maçom é sempre e inapelavelmente individual, embora executado no seio e com o auxílio do grupo que é a Loja. Mas o determinante é o desbaste que o cinzel, sob a pancada do malho, ambos empunhados pelo maçom, efetua na pedra que está a ser desbastada, o próprio que maneja as ferramentas de desbaste. Esse é o trabalho essencial, o que tem vero significado, o que importa. Esse é o trabalho que mais ninguém executa, nem pode executar, senão o próprio em si mesmo. Tudo o resto é acessório. E, porque assim é, não é o que se ensina, ou quem ensina, ou como ensina, que releva. O que releva é tão só o que se aprende.

No meu entendimento, a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro é "exemplo".

Precisamente porque aquele que está a aprender a aprender é influenciado, formado, preparado, mais do que pelas palavras, mais do que por lições, mais do que por explicações ou exposições, pelos atos de quem vê como mais antigo, mais experiente, mais "sabedor", mais "qualificado". Em Maçonaria não vigora, não deve vigorar, seria inaceitável que vigorasse, o dito popular "Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz". A melhor pedagogia, a mais eficaz, a que realmente vale a pena, é a do exemplo.

Não nos esqueçamos que os Aprendizes e Companheiros, sendo jovens membros da Loja, não são, porém, imaturos infantes na vida... Pelo contrário, são pessoas desenvolvidas, com as suas competências sociais inteiramente adquiridas, com vida própria, princípios e valores de base adquiridos, com família, muitas vezes (seguramente na maioria dos casos) eles próprios educando os seus filhos. Não são bonitas palavras, elegantes conceitos, que marcam, convencem, ajudam a melhorar, adultos com vida e personalidade próprias e marcadas e, evidentemente, com o espírito crítico que desenvolveram ao longo da sua vida. Os Aprendizes e Companheiros são jovens na Loja, ainda apenas sabem soletrar a simbologia que lhes é presente, mas sabem muito bem, como adultos capazes e experientes que são, distinguir entre a parra e a uva e, sobretudo, discernir quando porventura alguém que lhes pretenda dar lições, afinal tenha muita parra e pouca uva e devesse, no fim de contas dedicar-se a realmente aprender e executar as lições que debita...

Só é verdadeiramente Mestre Maçom aquele que propicia a aprendizagem, a melhoria, o crescimento, dos Aprendizes e Companheiros, pelo seu EXEMPLO.

De muito pouco valem bonitas exortações, exuberantes conceitos, profundas lições, se tudo isso não passar de meras palavras facilmente levadas pelo vento dos factos, regularmente desmentidas pelos atos praticados. Se o Mestre Maçom, apesar de pregar o trabalho, o esforço, a qualidade, se mostra desinteressado, desleixado, impreparado, dificilmente inculcará no Aprendiz ou no Companheiro as virtudes que proclama da boca para fora e trai nos seus atos.

Por isso, a postura do Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro deve atender sempre a que tem de agir como o exemplo daquilo que proclama, sem contradição, sem facilitismo. Ou muito mau Mestre será...

Afinal de contas, se acho que a Maçonaria não se ensina, aprende-se, também acho que uma das melhores formas de aprender é diligenciar ensinar. E, tendo-se sempre presente que, em Maçonaria, a melhor forma de ensino é o exemplo, facilmente se adquire a noção de que, para se poder dar o exemplo, tem-se de, constantemente, dar o melhor de si mesmo, fazer melhor, trabalhar mais esforçadamente, procurar sempre ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor do que hoje.

Basta, simplesmente, fazer aquilo que se proclama. Chega, afinal, ser efetivamente maçom em todos os atos e momentos. E assim poder ser reconhecido pelos demais de que é realmente Mestre Maçom, capaz de dar o exemplo aos mais jovens de como se faz - sempre e até ao fim da vida!

Rui Bandeira

24 abril 2013

Ser Mestre Maçom é...



... mais do que uma chegada, uma nova partida, não um objetivo atingido mas um projeto sempre em execução. A Exaltação à Mestria possibilita que o Obreiro atento o entenda desde logo.

Simplesmente, enquanto até aí o maçom teve guias e apontadores de caminhos, quando a Loja concede a um maçom a sua “carta” de Mestre, este sente-se um pouco como aquele que, após as suas lições e o seu exame de condutor, recebe a sua carta de condução: está habilitado a conduzir (a conduzir-se...) mas... inevitavelmente que sente alguma ansiedade por estar por sua conta e risco, sem rede que ampare suas quedas em possíveis erros.

Assim, apesar de serem as mais visíveis manifestações da mudança de estado conferida pela Exaltação à Mestria, não são o seu direito à palavra e o seu direito ao voto que são importantes. Importante é a sua total capacidade de exercer o seu verdadeiro e pleno direito ao seu caminho. O direito a trilhar o seu caminho por si, só, se assim escolher ou assim tiver que ser, ou acompanhado por quem quiser que o acompanhe e que o queira acompanhar, se assim for de vontade dos interessados, pelo tempo que quiser, por onde quiser, como quiser, para o que quiser.

O direito ao seu caminho enquanto cidadão já o tinha desde que atingiu a idade adulta e como adulto foi pela lei do Estado considerado. O direito ao seu caminho enquanto maçom, ou seja, o caminho do aperfeiçoamento, da busca da excelência, da proximidade tão próxima quanto humanamente possível for, da Perfeição, a ser trilhado por si só, como quiser, quando quiser, pela forma que quiser, adquire-o o Maçom com a sua Exaltação à Mestria, após o tempo de preparação que necessário foi para que não seja em vão que esse direito lhe seja conferido, para que efetivamente o exerça. Porque é um direito que o Mestre Maçom deve exercer como um dever, com a diligência do cumprimento de uma obrigação.

Ser Mestre Maçom é, assim, essencialmente cumprir o dever de exercer o seu direito de escolher e percorrer o seu caminho para a excelência.

Para quem andou longo tempo a ser guiado, não é fácil ver-se, de um momento para o outro, responsável pelo seu caminho, sem ajuda, sem orientação, sem rede. Responsável, porque livre, porque pronto, porque assim é o destino do homem que busca o brilho da Luz, da sua Luz. Mas, após uma pausa para ganhar orientação e pesar as suas escolhas, todos os Mestres Maçons seguem o seu caminho – porque para isso foram preparados, por isso são Maçons, com isso são verdadeiramente Mestres.

O caminho que cada Mestre Maçom decide escolher tem em conta a primacial pergunta que faz a si mesmo: Que fazer, como fazer, para ser melhor? A essa pergunta cada Mestre Maçom vai obtendo a sua resposta, pessoal, íntima, tão diferente das respostas de outros quanto diferente dos demais ele é. E é na execução da resposta que vai obtendo, no traçar do trabalho que essa resposta propõe, que o Mestre Maçom constrói, porque construtor é, o seu percurso. E a cada estação conquistada, novamente a mesma pergunta de sempre se lhe coloca: que fazer, como fazer agora para ser de novo melhor? E nova resposta e novo percurso e nova paragem, com nova e sempre a mesma pergunta, com outra resposta e outro percurso, incessantemente se apresentam.

Mas o Mestre Maçom não sabe apenas buscar a resposta à sua pergunta. Sabe também que, embora cada um trilhe o seu solitário caminho, os caminhos dos maçons têm muito de comum e sobretudo são postos por eles muito em comum.

O Mestre Maçom sabe assim que o que adquire, o que ganha, o que aprende, o que consegue, não é para ser avaramente fruído apenas por si, antes é para ser posto em comum com a Loja, pois também é do comum da Loja que recolhe contributos, ajudas, meios, ferramentas, para melhor e mais frutuosamente obter respostas às suas perguntas.

Ser Mestre Maçom é, assim, sempre, dar o seu contributo à Loja, seja no que a Loja lhe pede e ele está em condições de dar, seja no que ele próprio considera poder tomar a iniciativa de proporcionar à Loja. Porque ser Mestre Maçom é também saber que, quanto mais der, mais receberá, que a sua parte contribui para o todo mas também aumenta em função do aumento desse todo e que, afinal, não é vão o dito de que “dar é receber”.

Ser Mestre Maçom é portanto saber que o seu percurso pessoal será mais bem e mais facilmente percorrido se o for com a Loja, pela Loja, a bem da Loja. Porque o bem da Loja se traduz em acrescido ganho para o maçom, que assim consegue realizar o paradoxo de ser um individualista gregário, porque integra e contribui para um grupo que é gregário porque preza e impulsiona a individualidade dos que o compõem.

Ser Mestre Maçom é descobrir que a melhor forma de aprender é ensinar e assim escrupulosamente executar o egoísmo de ensinar os mais novos, os que ainda estão a trilhar caminhos que já trilhou, dando-lhes o valor das suas lições e assim ganhando o valor acrescido do que aprende ensinando – e sempre o homem atento aprende mais um pouco de cada vez que ensina.

Ser Mestre Maçom é comparecer e trabalhar na Loja, mas sobretudo trabalhar muito mais fora da Loja. Porque o que se faz em Loja não passa de “serviços mínimos” que apenas permitem a sobrevivência da Loja e o nível mínimo de subsistência do maçom. O trabalho em Loja é apenas um princípio, uma partícula, uma gota, uma pequena parte do trabalho que o Mestre Maçom deve executar em cada um dos momentos da sua existência.

Ser Mestre Maçom é portanto mais do que aguardar que algo lhe seja pedido, antes tomar a iniciativa de fazer algo – não para ser reconhecido pela Loja, mas essencialmente por si, que é o que verdadeiramente interessa.

Ser Mestre Maçom não é necessariamente fazer grandes coisas, excelsos trabalhos, admiráveis construções. Mais válido e produtivo é o Mestre Maçom que dedica apenas cinco minutos do seu dia a fazer algo muito simples em prol da sua Loja, da Maçonaria, afinal de si próprio, desde que o faça efetivamente todos os dias, do que aqueloutro que uma vez na vida faz algo estentório, notado, em grande estilo, mas sem continuidade. Porque a vida não se esgota num momento, nem numa hora, nem num dia. A vida dura toda a vida e é para ser vivida todos os dias de toda a vida.

Ser Mestre Maçom não é necessariamente ser brilhante, mas é imprescindivelmente ser persistente E o Mestre Maçom que persistentemente realize dia a dia, pouco a pouco, o seu trabalho, pode porventura passar despercebido, não receber méritos nem medalhas nem honrarias, mas tem seguramente o maior mérito, a maior honra, a melhor medalha, o maior reconhecimento a que deve aspirar: o de ele próprio reconhecer que fez sempre o seu trabalho, deu o seu melhor, persistiu na sua tarefa e, de cada vez que olhou para si próprio, viu-se um pouco, um poucochinho que seja, melhor do que se vira da vez anterior. E assim sabe que, pouco a pouco, no íntimo do seu íntimo, sem necessidade que outros o honrem por tal, ganhou um pouco mais de brilho, está um passo mais próximo do seu objetivo, continua frutuosamente percorrendo o seu caminho para o que sabe ser inatingível e, no entanto, persiste em procurar estar tão próximo de atingir quanto possível: a Perfeição!

Em suma, ser Mestre Maçom define-se com o auxílio de uma frase que li há algum tempo e que foi dita por alguém que creio até que nem sequer foi maçom, Manuel António Pina, jornalista, escritor, poeta, laureado com o Prémio Camões em 2011, falecido em 19 de outubro de 2012: o Mestre Maçom é aquele que aprendeu e que pratica que o mínimo que nos é exigível é o máximo que podemos fazer.

Rui Bandeira