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02 agosto 2025

Temos Tempo ou apenas Pressa?

Há dias em que sinto que o tempo já não é meu, desde que o teletrabalho se instalou como o "novo normal", no pós confinamento pandémico, o que era suposto trazer liberdade trouxe, afinal, uma aceleração quase silenciosa. Já não há separação entre o que é trabalho e o que é pausa, e mesmo quando há, é invadida por notificações, prazos, chamadas e a estranha urgência de responder a tudo.



Se me perguntarem quando foi a última vez que parei mesmo, sem telemóvel, sem tarefas, sem estímulos, talvez tenha de recuar até à última sessão de Loja e a todas as ultimas sessões. Isso, por si só, já diz muito.

Na vida profana, tudo parece correr, nas estradas, nos corredores dos supermercados, nos gabinetes e nas escolas., até os reformados. Aqueles que deveriam ter tempo para o “dolce far niente” ou descansar à sombra do chaparro, parecem sempre com algo urgente para fazer. 

O tempo tornou-se um luxo e a lentidão, um pecado.
Quem abranda é ultrapassado. Quem pára, fica para trás.

E, no entanto, o tempo continua a ser o mesmo. Não é o mundo que gira mais depressa, somos nós que deixámos de o escutar. O tempo não se mede apenas em minutos, mas em presença, talvez seja por isso que vivemos com tanta pressa, para não estarmos realmente onde estamos, para não sentir o peso de cada instante. 

A pressa não é apenas um vício, é uma forma de ausência, uma fuga bem disfarçada.

Em Loja, tudo muda, o tempo não acelera ou abranda, assume um ritmo próprio, cadenciado, harmonioso, quase litúrgico. O ritual não está feito à medida da pressa, mas da harmonia. Há pausas e há compassos. Há silêncio e nesse silêncio, não há vazio,  há sim construção.

Dizem que os antigos sabiam viver devagar. Os monges, os operários, os mestres de ofício, sabiam que ouvir o tempo era ouvir-se a si mesmos. Hoje já não o fazemos, corremos. Mas corremos para onde?

Gostava de mudar isso, de ter a capacidade para conseguir parar dez minutos por dia, só para refletir, para me ouvir. Não para produzir, não para responder a ninguém, apenas para reencontrar o compasso interior que o mundo me rouba.

Talvez um dia volte a conseguir, talvez seja esse o verdadeiro trabalho de uma vida, recuperar o tempo.

João B. M∴M