19/21 de Setembro
19 de Setembro
21 de Setembro
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Talvez por esta aproximação Pessoana resolvi lembrar na data de hoje, 21 de Setembro, um dos momentos mais extraordinários da poesia, ela toda, universal, transportadora de sentimentos, panfletária de revoltas, o mais possível desassossegada, que Fernando Pessoa nos legou.
O Menino da Sua Mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Fernando Pessoa
Um belo Domingo para todos e preparem a semana que aí vem.
Que seja alegre de muito e bom trabalho.
NOTA EXTRA - Para os nossos visitantes que não conhecem Lisboa, ou conhecem mal, vale uma explicação extra sobre o Martinho da Arcada.
O “Martinho da Arcada” é actualmente um restaurante de Lisboa, situado no antigo “Terreiro do Paço”, hoje Praça do Comércio, a oriente da praça e sob as arcadas que a rodeiam. Bem junto ao Rio Tejo.
Inaugurado em 1782 e situado sob as arcadas da Praça do Comércio, foi um dos cafés mais emblemáticos de Lisboa. Um dos seus mais distintos clientes foi o poeta Fernando Pessoa, que aqui gostava de fazer as suas refeições ou passar longas horas escrevendo. As paredes encontram-se decoradas com fotografias do poeta, a par de bonitos azulejos antigos (transcrição de “lifecooler-Guia de Boa Vida”)
Paiva Setúbal