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17 junho 2008

A um Irmão em dificuldade

Um Irmão da minha Loja está muito preocupado. Eu e todos os demais obreiros da Loja partilhamos a sua preocupação.

Sua mulher, companheira de muitos anos, teve um súbito e agudo problema de saúde, que originou a necessidade de uma rápida intervenção cirúrgica. Quando, há pouco mais de uma semana, guiámos os nossos Irmãos da Fraternidade Atlântica no passeio pela Lisboa Pombalina que para eles organizámos, tínhamos a nuvem de preocupação sobre o estado de saúde da nossa cunhada pairando sobre nossas cabeças. Tal nuvem desvaneceu-se, estávamos nós em frente à casa onde nasceu Fernando Pessoa, quando recebemos mensagem de que a intervenção cirúrgica correra bem.

Ontem, soube que a convalescença não decorreu como o previsto e que nova intervenção cirúrgica foi necessária. Já sei que também correu bem e que se espera que, agora, tudo entre finalmente nos eixos e seja apenas questão de tempo e de algum desconforte até que a recuperação total advenha.

Assim o espero, assim o desejo, assim todos o desejamos.

À natural preocupação da afecção de saúde, junta-se o facto de a doença ter ocorrido estando a doente longe de casa. Ela e seu marido, nosso Irmão, suportam ainda o incómodo de estarem distantes de casa e do resto de sua família.

Meu Irmão: sabes que partilhamos a tua preocupação e a tua esperança no breve resolver da situação. Sabes que eu e qualquer de nós estamos à simples distância de um toque de telefone para fazermos tudo o que pudermos e que tu nos informes que necessitas. Sabes que esperamos poder ter-te connosco na nossa próxima reunião. Mas, se tal não for possível, estarás connosco em espírito e a ti e à tua mulher será dedicada a Cadeia de União.

Aqui, neste espaço que também é teu, te deixo uma palavra de conforto e encorajamento. Tudo há-de correr bem. E brevemente tudo estará passado e resolvido a contento.

Um abraço de todos os teus Irmãos. E, porque sou egoísta e aproveitador, um outro especialmente meu. E um beijo da tua cunhada, minha mulher, que junta os seus votos de rápida recuperação aos meus. Ela não me perdoaria se aqui não o referisse expressamente! Aliás, para ser justo, ela disse: "já que gostas tanto de escrever no teu blogue, vê lá se escreves uma mensagem de apoio ao teu amigo..." E eu, que até tinha pensado respeitar a tua privacidade e aqui nada dizer, vi que ela tinha razão: eu seria capaz de, sem beliscar a tua privacidade, aqui te mandar uma mensagem de incentivo. Em nome dela, em meu nome, em nome de todos os demais da Loja e respectivas famílias. Todos gostam de ti. Todos estão contigo!|

Sabemos que só desejarás regressar a tua casa acompanhado da tua mulher, já restabelecida. Portanto, do nosso brinde ritual, relembro e aqui te desejo: "que tenhas um rápido regresso a tua casa, se for esse o teu desejo".

Rui Bandeira

28 setembro 2006

Carta aberta às cunhadas - A resposta! E a réplica... E ainda a tréplica!



Meu querido cunhado,
Em meu nome (mas certamente as minhas queridas cunhadas subscrevem) agradeço as tuas doces palavras. Modéstia à parte, mas nós, vossas “musas inspiradoras” sabemos que tudo o que vocês, nossos inestimáveis maridos, fazem, é sempre, sempre por nós e para nós. Muito obrigado! Sei também, ó amores das nossas vidas, que se não conseguem ser tão pontuais aos compromissos familiares, como são às sessões, é apenas porque pretendem que nós, vossas dedicadas esposas, aperfeiçoemos à nossa capacidade de espera e a nossa tolerância... muito obrigado! Sabemos também, nossos amados esposos, que é para vós um tremendo sacrifício, abdicarem da nossa agradável companhia, para irem às sessões... é com certeza um fardo pesado de suportar! Sabemos que preferiam passar um agradável serão em casa a dar banho aos nossos rebentos...a dar-lhes jantar...a aturar as suas adoráveis birras...a ler a história antes de dormir...a arrumar o nosso doce lar...e a fazer todas aquelas tarefas tão agradáveis que tão carinhosamente nos deixam fazer sozinhas. Muito obrigado! Nossos queridos maridos, nós, vossas companheiras e “centro das vossas vidas” reconhecemos que vocês, nossos mais-que-tudo, não são perfeitos...mas para nós, que vos amamos com todo o nosso ser (e mais algum!!!), vemos apenas virtudes e...algumas (pequenas?!) imperfeições! Obviamente que vocês, ó cactos do nosso deserto, podem contar sempre com o nosso apoio e com toda a nossa compreensão...assim como nós, flores da vossa Primavera, estamos certas que podemos contar sempre, sempre convosco para tudo (?). Bem hajam nossos amados eternos! Um beijo grande para todos e um especial para ti Rui.



Na caixa de comentários ao texto "Carta aberta às cunhadas", a PatBR (ou, mais simplesmente, a Patrícia) colocou esta notável, inteligente e estimulante resposta.

Qualquer administrador de blogue que se preze só pode, pois, fazer o que aqui faço: colocar esta pérola de engenho, arte e ironia no corpo principal do blogue, para que não passe despercebido.

Posto isto, é tempo de replicar!

Patrícia, minha nunca suficientemente admirada cunhada:

Foi com indizível prazer que li a resposta que te dignaste dar ao pobre amontoado de palavras que, sem grande talento, mas com o propósito de as tornar minimamente dignas de vós, ínclitas cunhadas, consegui laboriosamente alinhavar.

E, antes do mais, tenho que cometer o puro acto de justiça de eu, Mestre Maçon, humildemente me inclinar perante ti, Mestra da Ironia!

Porém, algumas pequenas imprecisões, quais sinais de beauté, salpicam tua admirável prosa. Perdoa-me que tenha a ousadia de tas apontar.

Em primeiro lugar, tua inenarrável condescendência perante nós fez-te afirmar algo que, hélas, não corresponde à realidade dos factos: infelizmente, não é exacto que nós, simples maçons percorrendo humildemente a via da superação de nossos defeitos, tenhamos já logrado superar o nosso lusitano defeito da falta de pontualidade e que sejamos pontuais às sessões. Asseguro-te que a nossa falta de pontualidade é igual em todo o lado...

E se e quando, porventura, começares a notar uma melhoria da pontualidade do teu mais-que-tudo aos seus compromissos familiares, então aí está: começa a notar-se - finalmente!- um passo dado na dura vereda da busca da melhoria!

Em segundo lugar, equivocas-te quando duvidas do nosso apego a "um agradável serão em casa a dar banho aos nossos rebentos...a dar-lhes jantar...a aturar as suas adoráveis birras...a ler a história antes de dormir...a arrumar o nosso doce lar...e a fazer todas aquelas tarefas tão agradáveis que tão carinhosamente nos deixam fazer sozinhas". Tudo isso são actividades que cada vez mais apreciamos, símbolos da singela vida em família. E asseguro-te que, se muitas vezes as deixamos para vós, é apenas com o intuito de vos permitir o deleite de sua execução. (Não, por quem és, não agradeças, não é preciso, nós somos assim, amamo-vos...)

Em terceiro e último lugar, fiquei um pouco estupefacto com a bela imagem, a nós aplicada de "cactos do vosso deserto". Que quis tua nobre reflexão dizer com tão inesperada mensagem?

Será que pretendeste dizer que... picamos? Se assim for, garanto-te que vamos urgentemente providenciar para que o escanhoado de nossa barba seja mais perfeito, para evitar tão inditoso inconveniente!

Ou será que somos "cactos do vosso deserto" porque, no meio da desolação e do calor, saciais vossa sede em nós? Se assim for, é mui mais gentil essa ideia...

Enfim, pequenas correcções que espero que te não enfades que as tenha ousado fazer!


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Agora a sério, minha cara.

Concede-me o direito de exibir o defeito do meu autoritarismo e toma nota.

Com esta acutilante resposta taco a taco, a frescura de tua prosa e o brilho de tua ironia, não mais te é permitido que te limites a ler os textos que aqui colocamos.

ESTÁS INTIMADA A EXERCER A FUNÇÃO DE COMENTADORA OFICIAL DO BLOGUE!!!!

E não ouses deixar de comentar!

Um beijo!

Rui Bandeira

PatBR disse...

Querido cunhado,

Aceito com humildade as tuas correcções, mas julgo
serem necessárias algumas explicações...

Em primeiro lugar, e no que
respeita à pontualidade, devo então um pedido de desculpas - julguei-vos todos,
meus queridos cunhados, pelo comportamento do meu muito amado marido... pelo que
sei (ou julgo saber!!!) ele costuma ser pontual às sessões!

Feita a
primeira exlicação passo então à segunda...
Nada a comentar...tens razão!
Somos umas sortudas! Só não agradeço novamente porque disseste para não o
fazer!!!...

Terceira e última explicação... o cacto do nosso deserto...

Oh meu muito querido cunhado, devias envergonhar-te de, numa primeira
análise, teres interpretado tão injustamente as minhas palavras.
Senti-me
verdadeiramente aliviada, por perceber no parágrafo seguinte que tinhas
percebido, finalmente, o verdadeiro significado da imagem que quis transmitir.
Até porque nós, vossas dedicadas esposas, gostamos de tudo em vós, até do
“escanhoado” de vossa barba!!!

Por último, agradeço os teus rasgados
elogios e retribo em dose dobrada... óh Mestre dos Mestres da Ironia!

Beijos

27 setembro 2006

Carta aberta às cunhadas

(Os maçons tratam-se entre si por Irmãos; assim sendo, as mulheres dos maçons são por estes coloquialmente referidas por "cunhadas")

Queridas e nunca suficientemente exaltadas companheiras de nossas vidas:

Bem sabemos nós que vós, luzes de nossos olhos, apreciais a nossa companhia - quase tanto como nós apreciamos a vossa.

Bem sabemos nós que vós, calores de nossos corações, desejaríeis que nós não nos apartássemos de vosso regaço para participar nas nossas reuniões, para assegurar o cumprimento das tarefas que a Loja nos confia.

Asseguramo-vos que muitas vezes a nossa alma nos pesa pela necessidade daquele nosso apartamento de vós para o cumprimento de nossas obrigações maçónicas.

Perguntais então, certamente, vós, regaço de nosso contentamento: se assim é, porque vos apartais de nossa companhia?

A resposta, para além de nosso zelo no cumprimento de nossas obrigações, como Homens de Honra que nos prezamos de ser - uma das razões, aliás, porque merecemos a ventura do vosso afecto... -, é porque também vós, centro de nossas vidas, beneficiareis de nossos trabalhos maçónicos!

O propósito da Maçonaria é possibilitar, auxiliar, potenciar o aperfeiçoamento de seus cultores. Aperfeiçoamento espiritual, mas também social, pessoal e profissional.

Com a ajuda de seus Irmãos e com a prática de seus trabalhos, o Maçon busca ficar melhor marido, melhor pai, melhor filho, melhor profissional, enfim, melhor pessoa.

Dedicamo-nos com zelo a nossos trabalhos maçónicos, mesmo com sacrifício de algumas horas na vossa desejada companhia, porque desejamos, buscamos, atingir essa melhoria.

E dela também vós, criaturas de nossos sonhos realizados, consequentemente beneficiareis.

Ou seja, se, para realizar nossos trabalhos, nos apartamos de vós, enlevos de nossas almas, também é por vós e por Amor de vós, deleites de nossas existências, que o fazemos. Doce sacrifício que gostosamente vos dedicamos!

Porém, dirá talvez vosso espírito crítico, sempre tão acerado em relação a nós: se assim é, porque não sois então melhores, que os não vemos ser?

Se isto assim o disser, ó musas inspiradoras de nossa existência, vosso espírito demasiado crítico ferir-nos-á dolorosamente com a injustiça de tal afirmação! E o amargo fel de tal injustiça só é atenuado por nossa certeza de que tal aleivosia tem origem no Amor que vós, consolo de nossos trabalhos, nos dedicais, que vos fez idealizar nossa imagem ao ponto de crerem ser impossível que nós sejamos algum dia melhores do que vós, mel de nossa existência, nos julgásteis ser!

Porém, asseguramo-vos que é verdade que procuramos nosso aperfeiçoamento e que aspiramos a que, focada vossa atenção para este nosso propósito, vós, luar que ilumina nossas noites, consigais ver os porventura pequeninos, quiçá ínfimos, progressos que vamos conseguindo e que connosco compartilheis nossa esperança em, talvez após longo tempo - mais do que nosso voluntarismo gostaria, mas na medida que nossas fraquezas nos impõem -, seja visível e gratificante nossa melhoria.

Uma última objecção vosso amoroso espírito porventura fará: se é tão demorado o caminho, se tantos sacrifícios e durante tanto tempo o mesmo implica, para quê percorrê-lo, se vós, flores de nossa Primavera, nos amais com nossos defeitos?

A resposta a esta legítima pergunta é que o Homem, se não busca aperfeiçoar-se, se não luta para se sublimar a caminho do mais perto da Perfeição que suas capacidades lhe permitirem, infelizmente vê sua fraca natureza arrastá-lo em suave, mas sempre descendente, declínio. E, se as duras realidades da Vida nos mostram que o declínio físico é inevitável, o declínio moral e espiritual, esse, pode e deve e é evitado com nosso trabalho.

Tal como a criança que se diverte andando em sua bicicleta, se parar, cai, também nós, se cessássemos nossa jornada para melhorarmos, pioraríamos.

E, se tal ocorresse, desgraçadamente poderíamos sofrer a mais dura das punições: a perda de vosso Amor!

Portanto, ó Sóis de nossas vidas, ficai cientes que, se nos apartamos de vós para nossos trabalhos maçónicos, o fazemos também, mesmo principalmente, para continuar a merecer vossas graças e vosso Amor por nós!

E portanto, perdoai-nos estes momentos de necessário afastamento, apoiai-nos no cumprimento de nossos deveres e, muito justamente, beneficiai, ao longo do tempo, dos nossos esforços para sermos melhores, esforços que a vós, faróis de nossa jornada, dedicamos.

É isto que, em nome de todos os seus Irmãos da Loja Mestre Affonso Dominguas apeteceu escrever a

Rui Bandeira