Não sei
dizer ao certo quando ouvi falar pela primeira vez da Maçonaria. Talvez tenha
sido numa reportagem de televisão, daquelas que falam mais do que explicam,
deixando no ar um certo mistério. Ficou a curiosidade e, com o tempo, nasceu
uma vontade mais séria de perceber o que estava por trás de tantos símbolos e
de tanta suspeita.
Mais tarde,
enquanto vivia em Inglaterra, comecei a ler com mais atenção. Havia polémicas,
é verdade, sobretudo em Portugal, mas também testemunhos de homens que falavam
de ética, de esforço pessoal, de um trabalho que era mais interior do que
exterior.
Em terras de sua Majestade, também via, como os maçons continuavam activos,
discretos, mas empenhados em fazer melhor pela comunidade, e isso despertou-me, não para uma aventura, mas para um caminho, um caminho que me pareceu ter
método, exigência e sentido.
Na altura
em que estava a viver na Colômbia, descobri este blog,
A Partir da Pedra.
Escrevi ao autor de um dos textos que mais me marcou, ainda não havia WhatsApp,
por isso começámos a trocar e-mails. Sempre que regressava a Portugal,
encontrávamo-nos na Mexicana, em Lisboa. Conversas longas, esclarecedoras.
Nunca houve promessas nem pressas, apenas escuta, partilha e confiança.
A minha situação profissional era itinerante, só me falta a Oceania para poder dizer que já trabalhei em todos os continentes, e
não facilitava, mas houve um dia, que me foi feita a pergunta e assim surgiu a hipótese de ser iniciado em Portugal e neste Respeitável Loja.
Sabia
algumas coisas, o suficiente para estar curioso, mas estava longe de imaginar o
que seria, realmente, viver essa experiência. No dia da Iniciação, estava
nervoso. As pernas tremiam. Não por medo, mas porque o desconhecido tem esse
peso. E no entanto, o que senti no final foi uma alegria serena e inesquecível. Houve até uma muito agradável surpresa, pois entre os
presentes, estava alguém que me conhecia desde o dia em que nasci, nunca
imaginei encontrar ali um rosto tão familiar, num momento tão simbólico. Senti,
nesse instante, que aquele caminho já vinha traçado de longe.
Recordo
também as palavras do meu padrinho: “É um caminho sozinho, mas acompanhado.”
Assim é. Cada um trilha o seu percurso à sua maneira, mas com o apoio invisível
e firme dos Irmãos que caminham ao nosso lado.
Desde
então, mudei. Não me tornei outro, tornei-me mais eu.
Passei a ouvir antes de falar, a pensar antes de reagir. Deixei de ser tão
impulsivo. A imagem da Pedra Bruta acompanha-me, tudo o que fazemos pode, e
deve, ser limado, ajustado,
aperfeiçoado. Essa ideia, simples, tornou-se uma exigência diária.
Ganhei
paciência, atenção, capacidade de escuta. Ganhei também irmãos e em alguns
casos, verdadeiros amigos. Com eles aprendi a debater temas importantes, com profundidade e respeito. E
cresci intelectualmente ao ouvir mentes verdadeiramente brilhantes, irmãos com uma visão do mundo que me obrigou
a repensar muita coisa.
Hoje
partilho este testemunho como gesto de gratidão e também de continuidade. Este
blog foi, em parte, o início do meu caminho. E continua a ser uma pedra viva,
onde muitos já escreveram, pensaram e partilharam. Não se trata de recomeçar,
mas de continuar a obra.
A Maçonaria
não é perfeita, nenhuma família o é. Mas é uma escola e um espaço de trabalho
interior, de crescimento pessoal e de escuta activa. Transforma, pouco a pouco,
com paciência, com método, com silêncio.
E se estás
à porta e hesitas, bate. Se vieres por bem, serás bem-vindo.
Olha com humildade para os Céus e se o teu coração for sincero, verás que o
Templo tem sempre lugar para mais um pedreiro livre.
João B. M∴M∴