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25 setembro 2017

O ofício de Venerável Mestre


Em regra anualmente, as Lojas maçónicas elegem um dos Mestres do seu Quadro para assumir a função de Venerável Mestre. 

O Venerável Mestre tem a incumbência de dirigir administrativamente a Loja, com o auxílio, designadamente, do Secretário, do Tesoureiro, do Arquivista e do Orador (este com a expressa função de dirimir e/ou tentar fazer com que se ultrapassem eventuais litígios e de instruir qualquer procedimento disciplinar que porventura se mostre necessário). Deve também providenciar pela adequada instrução e formação dos Aprendizes e Companheiros da Loja, a daqueles sob a direção do Segundo Vigilante, a destes mediante a coordenação do Primeiro Vigilante. Deve ainda assegurar a adequada e correta execução do ritual praticado pela Loja, contando, para isso, com o especial contributo do Mestre de Cerimónias, do Experto e do Guarda Interno. Deve mais garantir que, quando se justifique, a solidariedade da Loja perante qualquer dos seus obreiros seja efetiva e atempadamente praticada e que o dever social da Loja de auxílio, na medida das suas possibilidades, a quem disso necessita, ou a instituições que o assegurem, não seja descurado, contando, para isso, com a indispensável colaboração do Hospitaleiro. Deve igualmente zelar pelo bom ambiente, paz, tranquilidade e concentração da Loja enquanto em sessão, em muito sendo, para tal, auxiliado nisso pelas oportunas intervenções da Coluna da Harmonia e pelas acertadas escolhas e seleções de trechos musicais efetuadas pelo Mestre da Harmonia, também designado por Organista. Deve, em acréscimo, assegurar as iniciativas especiais ou extraordinárias da Loja, podendo, para isso, contar com o auxílio de um Oficial encarregado de preparar cada uma dessas iniciativas, o Porta-Estandarte. Deve, finalmente, coordenar toda a atividade da Loja, e do seu Quadro de Oficiais, dirigir as sessões da Loja e representá-la na Grande Loja.

Para tudo isso, que não é pouco (e a dimensão do parágrafo anterior ilustra-o bem...), conta com o auxílio, o conselho e a experiência, recente, do Ex-Venerável e, principalmente, com a colaboração e o empenho de todos os obreiros da Loja. O sucesso de um Veneralato depende, claro, da capacidade de organização, gestão e coordenação do Venerável Mestre, mas essencial e inevitavelmente da resposta, da dedicação, do compromisso de cada um dos obreiros da Loja e do conjunto dela. Pode uma Loja suprir razoavelmente uma eventual menor qualidade de desempenho de um Venerável; mas o melhor, mais qualificado, mais empenhado, mais imaginativo, mais bem preparado, mais bem organizado Venerável do mundo nada conseguirá fazer de jeito sem o contributo, o respaldo, o empenhamento de toda a Loja.

A função de Venerável Mestre é complexa e exigente. Ele tem de, qual maestro, dirigir e coordenar toda uma equipa e motivar toda uma Oficina, para que seja possível ter um gratificante ano de trabalho. Mas há um aspeto dessa função em que o coletivo pouco releva: quando há que decidir! Decidir é responsabilidade exclusiva e solitária do Venerável Mestre. Para o bem e para o mal, é para isso também que os seus pares lhe confiaram o ofício. Na hora da decisão, não há democracia, não há maiorias. O Venerável Mestre tem o encargo de, sempre que for necessário decidir, tomar a melhor decisão possível, em face dos elementos de que dispõe. E a melhor decisão possível pode muito bem não ser a que teve a preferência expressa de uma conjuntural maioria. Por exemplo, não poucas vezes - arrisco dizê-lo - a melhor decisão possível é um misto da preferência da maioria com algo dos contributos de uma ou mais minorias...

Preparar, coordenar, decidir, motivar, fazer, propiciar que seja feito e tentar errar o menos possível: essas a tarefa e a função cometidas ao Venerável Mestre. É por isso que costumo dizer que ser Venerável Mestre equivale a ter duas alegrias: uma, de satisfação pela confiança em si depositada, quando é eleito para o ofício; a outra, de alívio, quando passa o malhete ao seu sucessor!

A responsabilidade do ofício de Venerável Mestre é evidentemente grande. Por isso mesmo, deve ser exercida por um período não muito longo (um ano é, para mim, o período ideal) e, sobretudo, deve a Loja estar organizada de forma a possibilitar que seja exercida, sucessivamente, pelo maior número possível de Mestres do seu Quadro. Porque a responsabilidade é grande, mas não é exclusiva de "iluminados". Porque o essencial princípio da Igualdade implica que todos os Mestres têm potencialmente capacidade para exercer tal ofício. Porque, sendo a responsabilidade grande, há muitas formas de a cumprir e cada Venerável Mestre inevitavelmente que a assegurará à sua maneira e deixando a sua pessoal marca. E, ao longo do tempo, a assunção da mesma grande responsabilidade com a diversidade resultante das diferentes caraterísticas pessoais dos sucessivos Veneráveis é uma rica lição para todos os obreiros da Loja.

O exercício do ofício de Venerável Mestre, pela sua complexidade e exigência, é fator de evolução, de crescimento, de melhoria, de quem o exerce. Por isso também deve o ofício ser exercido pela maior quantidade de obreiros possível. Afinal de contas, o principal objetivo da Maçonaria é o aperfeiçoamento dos seus obreiros... 

Rui Bandeira

06 junho 2016

O trabalho fora de Loja: Segundo Vigilante


Ao Segundo Vigilante de uma Loja maçónica compete, além do exercício das funções rituais, a coadjuvação do Venerável Mestre na administração da Loja, em conjunto com o Primeiro Vigilante, e, sobretudo, a superintendência no trabalho e na formação dos Aprendizes.

Quanto ao seu papel na administração da Loja, se nele falhar ou executar deficientemente, tal implicará uma sobrecarga do Venerável Mestre (que terá de suprir a falta ou a deficiência no auxílio) e, sobretudo uma quebra ou uma deficiência na planificação e execução de longo prazo da atividade da Loja. Não é por acaso que, pese embora a Loja delegue a responsabilidade e o poder de decisão no Venerável Mestre, se refira que a administração do grupo recai sobre as "Luzes da Loja", ou seja, no conjunto composto pelo Venerável Mestre e os dois Vigilantes. Porque tendencial - e desejavelmente - estes três Oficiais da Loja cumprem uma linha de sucessão na direção da mesma, a boa cooperação entre esta tríade, independentemente das alterações concretas dos elementos que nela se integram, permite um desenvolvimento harmonioso, a longo prazo, do trabalho da Loja. O Segundo Vigilante tem dois anos para se preparar para o exercício do ofício de Venerável Mestre. O Venerável Mestre pode iniciar ou prosseguir projetos de longo prazo, com o conhecimento e a participação dos seus Vigilantes, sabendo que eles estarão aptos a dar continuidade aos projetos e a inserir neles, se necessário, as modificações que se mostrem aconselháveis.

Mas o principal objetivo, a principal tarefa, do Segundo Vigilante é assegurar o acolhimento, a integração e a preparação dos Aprendizes. E essa tarefa, para ser bem executada, não pode ser deixada apenas para os dias de sessão. O Segundo Vigilante tem de ter disponibilidade, interesse e organização para acompanhar individualmente cada Aprendiz.

Quando é iniciado numa Loja maçónica, o novel Aprendiz, por regra, entra num grupo em que conhece muito poucos elementos (por vezes só um ou dois), com regras estabelecidas que inicialmente desconhece e cujo conhecimento tem de adquirir em simultâneo com o seu cumprimento, e com uma ligação forte entre os seus elementos. Sente-se um estranho, um peixe recém-entrado num aquário já bem povoado... Para que a sua integração no grupo ocorra rápida, fácil e harmoniosamente, é importante o apoio do Segundo Vigilante. É este quem deve dar as primeiras indicações, os primeiros esclarecimentos, ao novo elemento, quem deve zelar pela rápida e tranquilizadora integração do novo "peixe" na segurança do "cardume" dos Aprendizes, com ele e nele tomando conhecimento dos "meandros do aquário".

Paralelamente à integração dos novos elementos, compete ao Segundo Vigilante coordenar a sua formação. Afinal de contas, Aprendiz é para aprender... Esta tarefa é complexa a vários títulos. Desde logo, porque naturalmente haverá Aprendizes em vários estádios de integração e formação, havendo que corresponder às necessidades de cada um de forma individualizada. As necessidades de integração e de auxílio na formação de um Aprendiz recém-iniciado são, naturalmente, diversas de um outro que já leva alguns meses de integração ou de um terceiro que tem já a sua primeira fase de preparação quase terminada e que ultima a elaboração e apresentação da sua prancha de proficiência ou que, apresentada esta, aguarda a oportunidade para o seu aumento de salário.

Mas também há que ter noção que coordenar a formação de um grupo de Aprendizes maçons não tem rigorosamente nada a ver com lecionar uma turma de jovens estudantes. Os Aprendizes maçons serão Aprendizes, mas são homens ativos, alguns homens maduros, em pleno auge das suas carreiras profissionais ou já na fase mais avançada dela, com famílias constituídas, responsabilidades que asseguram, filhos que educam e guiam. São Aprendizes, mas não são - longe disso! - meninos! O tempo em que aprendiam ouvindo as preleções do "sôtor" já é para eles passado, para alguns já longínquo. 

O Segundo Vigilante tem de coordenar a formação do conjunto de Aprendizes, normalmente heterogéneo, em termos de idade, de experiências de vida, de formações académicas, profissionais e culturais e em diferentes estádios de desenvolvimento na aprendizagem da Arte Real. Mas, com todas estas diferenças, são, Aprendizes e Vigilante, essencialmente IGUAIS. Não há qualquer relação de superioridade, nem intelectual, nem académica, nem de responsabilidade. A única coisa que diferencia o Vigilante dos seus Aprendizes é tão só a experiência em Maçonaria que aquele adquiriu e que tem a obrigação de ajudar a que estes adquiram.

A tarefa de coordenar a formação dos Aprendizes não é, pois, fácil. Cada Vigilante terá de a desempenhar por si, em função das suas circunstâncias, das suas disponibilidades, das suas capacidades, das caraterísticas do grupo e dos indivíduos que lhe cabe coordenar. 

Não há, assim, um modelo único de formação que se possa aconselhar. Nem sequer um único método a seguir. No entanto, pode-se sugerir um plano e um método de formação que - sempre sujeito e aberto às adaptações e alterações que cada Vigilante entender necessárias e justificadas - se entende adequado para atender às diferenças do grupo de Aprendizes e apto a captar e manter o interesse de gente por vezes já altamente formada e especializada nos respetivos campos profissionais e que, assim, não está propriamente na disposição de regredir aos seus tempos de polidores dos bancos da escola.

Sugiro que, no início das suas funções, no dealbar do ano maçónico, o Segundo Vigilante selecione até sete temas, não mais, que constituirão a base da formação de Aprendizes nesse ano. Uma hipótese (entre muitas e variadas) pode ser, por exemplo:

1) HISTÓRIA DA MAÇONARIA
2) SÍMBOLOS DO GRAU
3) VALORES MAÇÓNICOS
4) RITUAL DE INICIAÇÃO
5) O MAÇOM PERANTE O CRIADOR
6) O MAÇOM PERANTE SI PRÓPRIO
79 O MAÇOM PERANTE A SOCIEDADE

Repare-se que cada um destes temas é suficientemente amplo e aberto para ser abordado, tratado, desenvolvido, de uma miríade de diferentes maneiras. É esse o objetivo! Não se vai ensinar nada a ninguém, muito menos um pensamento único ou uma visão "correta". Como homens livres e de bons costumes que são, com a maturidade que lhes foi reconhecida como apta a integrar a Loja, os Aprendizes não precisam de ser ensinados, de receber lições. Apreciarão, pelo contrário, enquadramento e meios para que cada um aprenda o que quiser, pelo ângulo que entender, com a perspetiva que achar melhor.

A cada tema corresponderá um ciclo de trabalho de duas sessões e um desenvolvimento.

Para a primeira sessão de cada ciclo, o SEGUNDO VIGILANTE deve ter identificada e preparada (desejavelmente em ficheiros informáticos para serem disponibilizados aos Aprendizes) bibliografia sobre o tema, nos vários aspetos e abrangências dele, tão variada quanto possível - cinco a dez obras ou trabalhos.

Na primeira sessão do ciclo, o Segundo Vigilante deve introduzir o tema, designadamente chamando a atenção para os aspetos mais importantes nele, os subtemas ou questões que acha que serão importantes que os Aprendizes sobre eles debrucem a sua atenção. Deve indicar a bibliografia, de preferência chamando a atenção para diferentes formas de tratar o tema ou os diferentes aspetos abrangidos pelos trabalhos disponibilizados. Deve designar um LÍDER DE DISCUSSÃO para a sessão seguinte sobre o tema. De preferência, os líderes de discussão devem ser designados por ordem de antiguidade dos Aprendizes. O LÍDER DE DISCUSSÃO fica com o encargo de preparar e dirigir a discussão sobre o tema na sessão de trabalho subsequente, escolhendo vários aspetos do tema a tratar para colocar em debate, competindo-lhe garantir que, na sessão seguinte, haja mesmo discussão, debate sobre o tema, sem tempos mortos. Finalmente, o Segundo Vigilante designa a data da sessão de trabalho subsequente, exorta os Aprendizes a prepará-la lendo a bibliografia fornecida e o mais que entenderem e acentua que a sessão subsequente consistirá num debate de todos sobre o tema, dirigido pelo LÍDER DE DISCUSSÃO, que só será proveitoso se todos e cada um, entre as duas sessões, lerem a bibliografia, aprenderem sobre o tema e se prepararem para, exopondo o que cada um aprendeu, ajudar à aprendizagem dos demais.

Na segunda sessão. processa-se a discussão do tema, sob a direção do LÍDER DE DISCUSSÃO. Esta será tanto mais proveitosa quanto melhor o LÍDER DE DISCUSSÃO e os demais Aprendizes se tiverem preparado entre as duas sessões. Se porventura ninguém se tiver preparado convenientemente, provavelmente a sessão será muito aborrecida, constrangedora e muito pouco proveitosa... Mas, pelo menos ensinará a todos que, em Maçonaria, não se ensina, aprende-se - e que a aprendizagem é um esforço individual de cada um, posto em comum com o grupo. Na discussão da segunda sessão, o Segundo Vigilante deve intervir o menos possível - apenas quando necessário para repor a conversa no tema, quando o grupo dele se afastar (as conversas são como as cerejas...).

Finalmente, após a segunda sessão, o LÍDER DE DISCUSSÃO fica encarregado de preparar e apresentar uma prancha sobre o tema - que poderá vir a ser a sua prancha de proficiência para aumento de salário.

Repete-se, ao longo do ano, este esquema, com os vários temas. Ao fim do ano, tem-se Aprendizes preparados, não por terem ouvido umas preleções, mas por se terem debruçado sobre vários temas, por si e para si e para todos. Tem-se trabalhos elaborados - e tendencialmente de boa qualidade, porque resultantes de discussão em grupo e elaborados por quem se preparou para dirigir essa discussão. Tem-se um conjunto de obreiros que criou naturalmente espírito de grupo. O Segundo Vigilante ainda tem o bónus de, no ano seguinte, ir ter, como Primeiro Vigilante, Companheiros que foram Aprendizes bem preparados e bem habituados a preparar-se.

Finalmente, este método permite que, com toda a naturalidade e sem custo, sem demasiado esforço nem dificuldade, os novos Aprendizes que sejam iniciados ao longo do ano se integrem no trabalho da Coluna de Aprendizes, No ano seguinte, o trabalho recomeça. com os mesmos ou outros temas, ou alguns destes e temas novos, consoante o entender o  Segundo Vigilante de então.

Não tenho dúvidas que uma Loja que siga consistentemente este método de formação de Aprendizes terá, mais cedo do que mais tarde, um escol,de obreiros da melhor qualidade, prosperará e cumprirá devidamente o seu papel de fazer, cada vez mais, de homens bons homens melhores!

Rui Bandeira    

21 março 2016

"Qualidades maçónicas"


Sempre que em maçonês se fala em "qualidades maçónicas", não se está a abordar nenhum adjetivo em concreto mas antes funções e cargos ocupados por membros dos quadros de obreiros das lojas maçónicas.

Para erigir e fazer funcionar uma Loja é necessária uma determinada quantidade Mestres, para fundar uma Loja são necessários 7 mestres e para o seu funcionamento pelo menos 5 mestres, sendo o ideal existir um mínimo de 7 mestres presentes numa sessão maçónica.
Estes mestres ocuparão cargos e funções necessárias ao normal e regular funcionamento de uma Loja. E dado que uma loja maçónica é uma estrutura similar a uma qualquer associação, necessita de ter quem a dirija e de quem se ocupe de outros cargos que são necessários existirem para que esta associação/"Loja" funcione em pleno; ou seja, de forma justa e perfeita.

Normalmente a quantidade  de cargos a serem preenchidos pelos obreiros de uma Loja (designados por Oficiais) depende quase sempre do tipo de Rito executado nas sessões dessa mesma Loja. E digo "quase sempre" porque a ocupação dos cargos de uma Loja devem ser efetuados por Mestres, mas tal nem sempre é possível por vários fatores, sejam o tamanho do "Quadro da Loja" (número de obreiros) seja pela assiduidade dos mesmos.

Existem funções que podem em caso de recurso extremo ser ocupadas e executadas por Companheiros e/ou Aprendizes. Estando vedado a estes membros qualquer cargo de "direção" de Loja ou de certa ritualidade que os impeça de tal fazer.

No caso em concreto da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, o Rito executado sempre nas suas sessões é o "Rito Escocês Antigo e Aceite", vulgo "REAA", e que conta com sete oficiais "principais"/"obrigatórios"; a saber:
  • Venerável Mestre: o Mestre que dirige a Loja.
  • 1ºVigilante: Auxilia na direção da Loja e é responsável pela formação de Companheiros e "Coluna do Sul".
  • 2ªVigilante: Auxilia na direção da Loja e é responsável pela formação dos Aprendizes e "Coluna do Norte".
  • Secretário: Ocupa-se dos habituais "trabalhos de secretaria" (correspondência, registo de presenças, elaboração de Atas...)
  • Orador: Certifica-se que os trabalhos de Loja decorrem de forma correta e regulamentar.
  • Tesoureiro: Gere as "economias & finanças" da Loja.
  • Mestre de Cerimónias: Cargo Ritual.
Os Ofícios acima designados são os que tornam uma Loja justa e perfeita e que são necessários ao normal funcionamento da Loja, mas existem outros que também têm a sua relevância na estrutura da Loja, a saber:
  • Experto: Cargo Ritual.
  • Hospitaleiro: Cargo Ritual e responsável pela gestão do Tronco da Viúva".
  • Organista: Responsável pelas sonoridades ambientes e rituais da Loja. É o chamado "DJ de serviço".
  • Guarda Interno: Certifica-se da cobertura da Loja; isto é, pela sua "segurança".
  • Arquivista: Responsável pela gestão do Arquivo da Loja.
  • Mestre Instalado: Mestres que ocuparam a direção de Loja no passado.  Pode-se considerar que são "conselheiros" do Venerável Mestre, por assim dizer.
Alguns destes últimos ofícios não são de execução obrigatória por Mestres apesar de preferencialmente serem efetuados por esses membros da Loja.
No entanto, é natural que existam outras "qualidades" na Maçonaria e que são referentes ao Grão-Mestrado (ocupadas pelo governo da Obediência Maçónica), sendo esta uma estrutura do tipo federativo, congregando o Grão-Mestre, os Grandes Oficiais e os seus respetivos Assistentes.

Contudo, algo que não pode nem deve ser confundido entre si são os "Graus" e as "Qualidades", uma vez que executar um cargo/ofício não é o mesmo que deter determinado grau.
Um "grau" é a posição/nível de conhecimento que um maçom tem e que ocupa na "hierarquia" da Maçonaria; a "qualidade" como referi anteriormente, são os cargos que se ocupam. E para ocupar determinados Ofícios é necessário ter sido atingido determinado grau, quase sempre o de Mestre Maçom ou inclusive o de "Venerável Mestre".
Já para obter um Grau, o cargo desempenhado na Loja pouco ou quase nada será relevante, pois o conhecimento ritual obtido e a boa assiduidade geralmente é que são determinantes para tal.


Espero que com esta pequena explicação, escrita de forma simples e ligeira, possa ter retirado algumas das dúvidas que alguns profanos têm acerca do funcionamento de uma Loja Maçónica no que a "qualidades" (cargos) diz respeito.

22 fevereiro 2016

O trabalho fora de Loja



Em Maçonaria, é essencial o trabalho realizado em Loja: a execução do ritual de abertura, através do qual todos os presentes se concentram no espaço, tempo, lugar e trabalho que vão efetuar, desligando-se das vicissitudes do mundo exterior (o mundo profano), o despachar de toda a parte burocrática e administrativa inerente ao funcionamento da Loja, a participação na ordem do dia e o ritual de encerramento, pelo qual os presentes se preparam para a saída do espaço, tempo, lugar e trabalho comuns e conjuntos e para o regresso ao mundo exterior (o mundo profano).

Mas mal andará qualquer Loja em que apenas se dê atenção ao trabalho em sessão! Este não é possível, ou, pelo menos, não é profícuo, nem sustentável, sem o trabalho que, desejavelmente, todos os maçons efetuam, em si e perante os que os rodeiam, no mundo e tempo profanos e particularmente sem o trabalho, o esforço e a dedicação dos Oficiais da Loja entre as sessões desta.

Para que os trabalhos de uma Loja decorram de forma harmoniosa e profícua, muito tem de ser preparado, estudado, trabalhado e concretizado fora de Loja. Desde as obrigações legais que a Loja tem de assegurar, ao enquadramento burocrático, passando pela aquisição, conservação e guarda dos bens e materiais da Loja, não esquecendo a execução do que se deliberou em sessão e a preparação dos assuntos a serem postos à discussão e deliberação nas sessões subsequentes, atendendo à deteção, prevenção e resolução de problemas, diferentes entendimentos ou divergentes interpretações e conflitos, reais ou potenciais, tudo tem de ser assegurado e trabalhado pelos Oficiais do Quadro da Loja entre as sessões desta. 

Sem esse trabalho de triagem e preparação, tudo viria a recair na Loja, transformando as sessões desta numa sucessão de resolução de problemas, sem dar tempo, espaço e lugar ao mais importante: a criação, fortalecimento e manutenção da Cadeia de União entre os obreiros da Loja, pela qual e com a qual cada um recolhe do grupo a energia, o incentivo, a experiência, os conselhos, a solidariedade e a cooperação que lhe são úteis para o seu próprio trabalho de aperfeiçoamento e, por sua vez, dá ao grupo e a cada um dos seus integrantes a sua contribuição.  

É por isso que a eleição ou designação para Oficial do Quadro de uma Loja maçónica deve ser por todos encarada antes do mais como um encargo e só depois como uma honra ou o reconhecimento de qualidades ou esforço do eleito ou designado. O Oficial de uma Loja maçónica não é um "graduado" que exerce autoridade sobre elementos de patente inferior, os soldados ou praças. O Oficial de uma Loja maçónica é assim designado porque lhe é confiado o exercício de um ofício, de uma tarefa. O Oficial do Quadro da Loja serve esta e os seus obreiros, através do cumprimento das obrigações do seu ofício.

Todos os maçons com um mínimo de assiduidade às sessões da sua Loja sabem quais são os deveres dos Oficiais durante as respetivas sessões - porque participam nelas e assistem ao respetivo exercício ou efetuam o exercício de um ofício. Mas o conhecimento das tarefas que os vários Oficiais do Quadro de uma Loja maçónica devem assegurar no intervalo das sessões não é tão evidente assim. No entanto, essas tarefas fora de sessão são indispensáveis para a administração da Loja, a preparação e decurso das sessões desta, o cumprimento dos objetivos de todos.

É, por isso indispensável que cada um, quando chegar a sua vez de assumir funções de Oficial do Quadro da sua Loja, tenha bem presente que as suas obrigações no exercício do seu ofício vão muito para além do desempenho ritual em Loja, pesam muitíssimo mais do que o o colar de função que cada Oficial coloca no início de cada sessão da Loja.

Basta que um ofício seja mal ou incompletamente exercido, fora de Loja, para que o equilíbrio de todo o Quadro de Oficiais seja afetado, para que a sessão da Loja seja menos produtiva ou menos agradável do que poderia e deveria ser. O desempenho do ofício fora de Loja é tão ou mais importante do que é executado em sessão. Este é só mais visível...

Rui Bandeira

18 maio 2015

"Os que ficam pelo caminho" (republicação)


Hoje republico um texto de um dos membros do painel de escritores deste blogue.

O texto em questão é da autoria do Paulo M. e para além de ser um texto que reflete um pouco sobre a caminhada  e a busca pessoal de cada um  pode fazer na Maçonaria. Para além disso suscitou um debate interessante na sua "caixa de comentários".

O texto pode ser lido no seu original aqui.

Agora faço a transcrição do respetivo texto:

""Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade!" Assim escreveu o Rui Bandeira num texto publicado em 2008, ainda não tinha eu recebido o meu avental branco. Na altura, quando o li, achei estranho o tom, a naturalidade, e o que tomei por critérios de seleção apertadíssimos. Recordo-me de ter pensado algo como "Estes tipos não brincam em serviço... Devem ser bestialmente exigentes, e só escolhem os melhores para progredir... Isto devem ser chumbos de três em pipa..."

Estava tão enganado!

Com o tempo vim a perceber que dificilmente a Loja "chumbava" fosse quem fosse, a não ser nas circunstâncias mais excecionais, mas que, não obstante, o Rui tinha razão: havia muitos que ficavam pelo caminho. Mas se a Loja não chumbava ou impedia a progressão, quem o fazia então? Ora... o próprio, quem mais?! Comecei a perceber que por detrás de cada nome que era chamado no início da sessão pelo Secretário e a que se seguia um silêncio em vez de ser anunciada a presença se encontrava um Irmão que não viera. E que os nomes que eu ouvia repetidamente e a que não associava uma cara eram de Irmãos que, de todo, não apareciam.

Uns - já Mestres - haviam-se desencantado, suponho, com a rotina da vida da Loja, e tinham agora outros entreténs - razão por que não punham os pés numa Sessão fazia tempo. Outros tinham, simplesmente, prioridades - frequentemente profissionais ou familiares - que se impunham sobre a presença em Loja, ou não tinham de todo disponibilidade para integrar a Linha de Sucessão assumindo um Ofício. Uns e outros lá iam aparecendo, uns mais e outros menos frequentemente, mas alguns desapareciam completamente de circulação.

A outros - ainda Companheiros - sucedia perderem o estímulo, ou não aguentarem tanto tempo sem poder falar e sem ser exaltados a Mestre. Ao fim de um tempo, também alguns destes começavam a faltar, a envolver-se pouco, e a certa altura eram, também eles, um desses nomes que se ouve e se associa a uma cara, mas que se tem uma certa nostalgia de não ver há meses...

Por fim, alguns Aprendizes eram iniciados, achavam graça à coisa, mas não tinham vida nem disponibilidade para pertencer a uma Loja que se reúne duas vezes por mês em dias e horas certos. Outros, quiçá mal conduzidos ou defeituosamente escrutinados, acabavam por se aperceber que a Maçonaria não lhes fazia vibrar corda nenhuma, e desapareciam.

Alguns interiorizavam que não queriam mais pertencer à Maçonaria, e pediam para sair. Outros, divididos entre o querer e o não poder, não assumiam a impossibilidade de permanecer, e iam ficando sem ficar. A certa altura, já nem as quotas pagavam, nem asseguravam os "mínimos olímpicos" da assiduidade - nós nem somos esquisitos: uma presença por ano basta-nos - e tinha que se lhes chamar a atenção para que cumprissem com os seus deveres.

E de facto confirmei ser precisamente assim, como o Rui tinha dito: há os que ficam pelo caminho, e os que vão progredindo de degrau em degrau, uns mais depressa e outros mais lentamente. Por vezes, alguns metem-se por becos sem saída e, ou adormecem, ou corrigem o percurso. Mas se é sempre triste vermos um irmão sentar-se na beira do caminho, descalçar as botas e adormecer encostado a uma árvore - pois sabemos que a maioria ficará ali para sempre - já nos enche de orgulho ver um irmão subir mais um degrau, assumir mais uma responsabilidade, receber mais um reconhecimento.

Os caminhos são muitos, e o destino é cada um que o escolhe. Não é, portanto, a Loja que é exigente e o "chumba" - pois para isso teria que ser a Loja a determinar os objetivos, e estes pertencem a cada um. É antes o Maçon que é muito ocupado, desiludido, ou simplesmente complacente, e se retira pelo seu pé. E assim deve ser. É que a Maçonaria não é para todos: é só para aqueles que de facto queiram - e façam por isso."

Autor: Paulo M.  


14 outubro 2014

O trabalho da Coluna da Harmonia...

(imagem proveniente de Google Images)
Durante o decorrer de uma sessão ritual maçónica existe o hábito generalizado de existir música ambiente. Música essa que deverá criar certos estados de espírito aos seus ouvintes para possibilitar uma certa harmonia entre todos os presentes na sessão.
A responsabilidade da condução musical numa loja maçónica é do Mestre da Harmonia, o qual também é designado por Coluna da Harmonia.
A seleção musical a ser utilizada deverá ser preferencialmente escrita e/ou musicada por autores maçónicos, nomeadamente Ludwig van Beethoven, Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus Mozart entre outros,  mas também pode ser utilizada música de qualquer tipo de autor sem prejuízo para os anteriormente citados. O género musical a ser utilizado também dependerá daquilo a que se proponha fazer o Mestre da Harmonia em consonância direta com o programa da respetiva sessão maçónica; sendo que ao conjunto de músicas que integram o seu trabalho se designar por Prancha Musical.
E para a elaboração desta prancha geralmente são utilizadas sonoridades mais clássicas na maioria das lojas, mas na Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, os gostos são muito ecléticos pelo que é habitual, dependendo de quem ocupe a Coluna da Harmonia, se ouvir desde música clássica, passando pelo Rock ao Ambient Lounge ou ChillOut e também às sonoridades new age. Daqui se poderá depreender que tal como ao nível da utilização das novas tecnologias, também ao nível da seleção musical, a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 é também uma loja que se poderá assumir como p’rá frentex
No entanto, e apesar da liberdade de escolha musical propiciada pela loja ao Mestre da Harmonia, a este apenas lhe é pedido ( aliás, exigido por assim dizer…) que com a sua música proporcione o ambiente ideal ao desenrolar dos trabalhos maçónicos a serem efetuados.
Mas apesar da vasta e ampla seleção musical que pode ser utilizada numa sessão maçónica, não pode a mesma ser usada de qualquer forma nem em qualquer tempo. Existe uma temporização adequada e um tipo de  sonoridade específica que se espera escutar  em determinados momentos da sessão maçónica, sejam eles a Abertura ou o Encerramento dos Trabalhos, seja no momento da execução da Cadeia de União ou na circulação do Tronco da Viúva; a música deverá criar uma sensação própria a cada um que a ouvir em relação ao momento maçónico em concreto. Não devendo o estado de espírito dos maçons se encontrar contrário ao disposto, senão resultaria numa possível quebra da egrégora criada pela harmonia experimentada pelo conjunto dos irmãos presentes na respetiva sessão.
E se no decorrer de uma sessão maçónica existir um momento ritual relevante para a vida de um maçom, tal como uma Iniciação ou um aumento de salário, a música a ser utilizada deverá ser alvo de uma especial atenção pelo Mestre da Harmonia para que esses momentos fiquem marcados na memória de quem por eles passa, pois mesmo aqueles que apenas assistem e não têm uma intervenção direta no cumprimento do ritual, também estes acabam por rever esta mesma situação que anteriormente vivenciaram. E isto também faz parte da formação maçónica, o rever e meditar sobre o que se já viveu e retirar de aí a devida reflexão.
Pelo que aqui expus, já deu para perceber que o trabalho efetuado pela Coluna da Harmonia não é de somenos importância, porque apesar de não ter um papel ritual importante durante a sessão, este é um dos cargos mais ativos da loja; é ele que tem o dever de criar os ambientes específicos e respetivos estados de alma e isso não é tão fácil como se poderia imaginar à primeira vista. E é mesmo um trabalho demorado que ocupa algum do tempo disponível que o Mestre da Harmonia tem na sua vida pessoal, pois ele terá de ouvir bastantes músicas para poder selecionar aquelas que considere como as mais apropriadas para serem utilizadas no decorrer de uma sessão maçónica. Se este mestre for um apaixonado pela música ou inclusivé um melómano até, a sua loja só terá a ganhar dada a riqueza dos conhecimentos que ele terá e que poderá propiciar aos seus irmãos.
Nem todos poderão gostar dos temas musicais que ouviram no decorrer da sessão, fruto das mais variadas preferências musicais de cada um, mas se a energia que brotou da sessão for a ideal, a melhor crítica que o Mestre da Harmonia poderá ouvir dos seus irmãos é que eles sairam contentes e satisfeitos da sessão e que o trabalho que ele desempenhou contribuiu para esse facto.
A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 sempre teve excelentes responsáveis por "darem música" aos seus irmãos, pelo que se espera que assim o continue a ser...


15 janeiro 2011

Os que ficam pelo caminho


"Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade!" Assim escreveu o Rui Bandeira num texto publicado em 2008, ainda não tinha eu recebido o meu avental branco. Na altura, quando o li, achei estranho o tom, a naturalidade, e o que tomei por critérios de seleção apertadíssimos. Recordo-me de ter pensado algo como "Estes tipos não brincam em serviço... Devem ser bestialmente exigentes, e só escolhem os melhores para progredir... Isto devem ser chumbos de três em pipa..."

Estava tão enganado!

Com o tempo vim a perceber que dificilmente a Loja "chumbava" fosse quem fosse, a não ser nas circunstâncias mais excecionais, mas que, não obstante, o Rui tinha razão: havia muitos que ficavam pelo caminho. Mas se a Loja não chumbava ou impedia a progressão, quem o fazia então? Ora... o próprio, quem mais?! Comecei a perceber que por detrás de cada nome que era chamado no início da sessão pelo Secretário e a que se seguia um silêncio em vez de ser anunciada a presença se encontrava um Irmão que não viera. E que os nomes que eu ouvia repetidamente e a que não associava uma cara eram de Irmãos que, de todo, não apareciam.

Uns - já Mestres - haviam-se desencantado, suponho, com a rotina da vida da Loja, e tinham agora outros entreténs - razão por que não punham os pés numa Sessão fazia tempo. Outros tinham, simplesmente, prioridades - frequentemente profissionais ou familiares - que se impunham sobre a presença em Loja, ou não tinham de todo disponibilidade para integrar a Linha de Sucessão assumindo um Ofício. Uns e outros lá iam aparecendo, uns mais e outros menos frequentemente, mas alguns desapareciam completamente de circulação.

A outros - ainda Companheiros - sucedia perderem o estímulo, ou não aguentarem tanto tempo sem poder falar e sem ser exaltados a Mestre. Ao fim de um tempo, também alguns destes começavam a faltar, a envolver-se pouco, e a certa altura eram, também eles, um desses nomes que se ouve e se associa a uma cara, mas que se tem uma certa nostalgia de não ver há meses...

Por fim, alguns Aprendizes eram iniciados, achavam graça à coisa, mas não tinham vida nem disponibilidade para pertencer a uma Loja que se reúne duas vezes por mês em dias e horas certos. Outros, quiçá mal conduzidos ou defeituosamente escrutinados, acabavam por se aperceber que a Maçonaria não lhes fazia vibrar corda nenhuma, e desapareciam.

Alguns interiorizavam que não queriam mais pertencer à Maçonaria, e pediam para sair. Outros, divididos entre o querer e o não poder, não assumiam a impossibilidade de permanecer, e iam ficando sem ficar. A certa altura, já nem as quotas pagavam, nem asseguravam os "mínimos olímpicos" da assiduidade - nós nem somos esquisitos: uma presença por ano basta-nos - e tinha que se lhes chamar a atenção para que cumprissem com os seus deveres.

E de facto confirmei ser precisamente assim, como o Rui tinha dito: há os que ficam pelo caminho, e os que vão progredindo de degrau em degrau, uns mais depressa e outros mais lentamente. Por vezes, alguns metem-se por becos sem saída e, ou adormecem, ou corrigem o percurso. Mas se é sempre triste vermos um irmão sentar-se na beira do caminho, descalçar as botas e adormecer encostado a uma árvore - pois sabemos que a maioria ficará ali para sempre - já nos enche de orgulho ver um irmão subir mais um degrau, assumir mais uma responsabilidade, receber mais um reconhecimento.

Os caminhos são muitos, e o destino é cada um que o escolhe. Não é, portanto, a Loja que é exigente e o "chumba" - pois para isso teria que ser a Loja a determinar os objetivos, e estes pertencem a cada um. É antes o Maçon que é muito ocupado, desiludido, ou simplesmente complacente, e se retira pelo seu pé. E assim deve ser. É que a Maçonaria não é para todos: é só para aqueles que de facto queiram - e façam por isso.

Paulo M.

24 novembro 2010

O Orador


O Orador é o guardião da Tradição Maçónica e zelador pelo cumprimento das leis e regulamentos em Loja, pela Loja e pelos obreiros da Loja. Integra, com o Venerável Mestre e o 1.º Vigilante, a Comissão de Justiça da Loja. É o único obreiro que pode interromper qualquer outro obreiro, incluindo o Venerável Mestre, quando se lhe afigure necessário para assegurar o cumprimento dos princípios, leis ou regulamentos maçónicos. Não admira, assim, que a medalha do Orador seja constituída por uma imagem das Tábuas da Lei.

O Orador é um ofício específico do Rito Escocês Antigo e Aceite, que não deve ser confundido, por exemplo, com o ofício de Capelão em outros ritos. Com efeito, o Orador é o oficial da Loja que tem, além da anteriormente referida, a função ritual de proferir Orações. Mas isso não quer dizer Preces... A Oração proferida por este Oficial da Loja é de outra natureza: o Orador tira, de cada debate, as suas conclusões e nisso deve consistir a Oração final (no sentido de "intervenção oral") que lhe compete produzir. Assim, compete ao Orador, no final de cada debate, resumir e organizar as várias posições que tenham sido expostas e, em função das mesmas dar o seu parecer ao Venerável Mestre sobre a decisão a tomar e a forma como deve ser tomada.

Recorde-se que o debate em Loja processa-se segundo regras rígidas, tendentes a possibilitar a livre expressão da opinião de cada um, sem constrangimentos nem perturbações. Importa a substância do que é transmitido, não a sua forma. Debate-se, no sentido de se analisar uma questão e tomar uma decisão; não se discute para procurar fazer valer a sua opinião, para levar de vencida opositores (pois em Loja não há opositores, apenas Irmãos que cooperam) ou rebater argumentos. Em Loja, o debate estabelece-se sempre relativamente a uma questão concreta, em relação à qual cada Mestre deve proceder à sua análise, dar a sua opinião, apresentar o seu entendimento da melhor forma de proceder. Cada Mestre intervém uma e só uma vez em cada debate. Não se interrompe ninguém (o único que pode fazê-lo, e unicamente para salvaguarda dos usos e costumes, leis e regulamentos maçónicos é precisamente o Orador - e esta situação só raramente ocorre). Cada Mestre só inicia a sua intervenção após estar terminada a intervenção anterior e depois de devidamente autorizado a fazê-lo pelo Venerável Mestre. Em caso algum se estabelece diálogo: cada Mestre fala para toda a Loja, não para uma pessoa em particular. Cada um dá a sua opinião sobre o tema, não gasta o seu latim e a paciência dos demais a refutar ou criticar outras opiniões anteriormente expressas: a assembleia é composta de homens inteligentes, que facilmente podem discernir que se A entende branco e B amarelo, B não concorda com A e tem uma opinião diversa dele - não vale a pena afirmá-lo expressamente. A mera expressão da fundamentação da sua opinião chega para mostrar a todos as concordâncias e discordâncias com intervenções anteriores. Em resumo, em Loja não se diz "não concordo com...", declara-se "o meu entendimento sobre o assunto em debate é este, por estas razões").

O Orador efetua o resumo do debate com o máximo de objetividade possível e coloca em relevo o sentir da Loja, o que resultou do debate. Ao fazer o resumo, o Orador evidencia se se verificou uma posição unânime, e em que sentido, se se manifestaram entendimentos diversos, mas um deles foi largamente maioritário, e qual, se há diversos entendimentos, sem que se tivesse destacado uma posição largamente maioritária, ou se o debate não foi conclusivo, por falta de elementos ou de opiniões consolidadas sobre a questão em análise.

Feito o resumo do debate, o Orador tira a sua conclusão, isto é, o parecer, a recomendação, que transmite ao Venerável Mestre sobre a decisão a tomar. A conclusão do debate tirada pelo Orador nada tem a ver com a posição pessoal que porventura tenha. Assinala se houve unanimidade ou, pelo menos, uma posição largamente maioritária - e, nesse caso, recomenda que o Venerável Mestre decida em conformidade com o sentido expresso pela Loja, sem necessidade de votação - ou indica as posições expressas que, não sendo evidente uma tendência largamente maioritária, devem ser colocadas à votação pela Loja. O enunciar dessas posições deve ser claro e inequívoco, para que a Loja, ao votar, saiba exatamente o que está em causa na escolha que vai fazer. Quando tal se justifique, seja por das intervenções ressaltar a falta de elementos suficientes para uma decisão devidamente fundamentada, seja por se notarem mais dúvidas do que certezas, o Orador deve recomendar o adiamento da decisão, sugerindo as diligências a efetuar para possibilitar, em devido tempo, uma decisão mais esclarecida.

Note-se que o Venerável Mestre não está obrigado a decidir em conformidade com as conclusões do Orador. Pode discordar e decidir em sentido diferente, formal ou substancialmente. É o Venerável Mestre aquele a quem a Loja delegou o exercício da autoridade. O Orador é - sempre - um colaborador, um auxiliar, do Venerável Mestre, nunca uma eminência parda que se lhe imponha. E isto mesmo até quando o Orador, no uso da sua competência de guardião da Tradição Maçónica e zelador pelo cumprimento das leis e regulamentos, porventura chame a atenção do Venerável Mestre para uma infração ou falha que se esteja em vias de cometer. Ainda assim, o poder de decisão final é do Venerável Mestre e só do Venerável Mestre. Se errar, é ele quem erra e é ele que assume a responsabilidade do erro. Ao Orador compete avisar, não pretender sobrepor uma sua inexistente autoridade à única que vigora em Loja.

No final da sessão, após ter sido concedida a palavra a bem da Ordem ou da Loja (o que, em reuniões profanas corresponde ao "período depois da Ordem do Dia"...), o Orador tira as suas conclusões sobre a reunião. Não se trata aqui de sumariar as intervenções a bem da Ordem ou da Loja, porque estas, ou são meramente informativas ou, se carecerem de deliberação, são apenas introdutórias de um debate a efetuar em sessão futura. Trata-se de sumariar o que foi feito e deliberado na sessão. Este breve sumário, para além de evidenciar o trabalho realizado, facilita a tarefa do Secretário de elaboração da ata da sessão, a ser aprovada na reunião seguinte.

É também frequente que o Orador, nas suas conclusões finais, apresente uma (breve, muito breve) Prancha Traçada sobre um tema maçónico, preferentemente relacionado com o que se tratou na sessão em causa. Porém, tal NUNCA sucede quando na sessão tiver sido apresentada uma outra Prancha Traçada por um Mestre. Em cada sessão de Loja deve haver formação dos obreiros, deve ser apresentado, em contribuição para o trabalho de aperfeiçoamento dos obreiros, um trabalho, uma exposição, um estudo - em resumo, uma Prancha Traçada. É incumbência, dever, dos Mestres da Loja garantirem-no. Se o não fizerem, estão a prejudicar a aprendizagem e a integração dos Aprendizes e Companheiros e a própria evolução pessoal dos Mestres. Mas apenas deve ser apresentada e colocada à meditação da Loja uma única Prancha Traçada de Mestre. Mais do que isso, seria estabelecer a confusão. Um tema para meditação e estudo por sessão é o necessário e o suficiente. Assim, se nessa sessão, tiver sido apresentada por um Mestre uma Prancha Traçada, a conclusão final do Irmão Orador resumir-se-á ao sumário dos trabalhos (incluindo a referência a essa Prancha Traçada, obviamente). Se tal não tiver sucedido, incumbe ao Orador, Mestre que efetua a última intervenção formal antes do encerramento dos trabalhos, garantir que a Loja não fique sem matéria para estudo e meditação, através então de uma brevíssima Prancha Traçada, em que, mais do que ensinamentos ou proposições, deve levantar pistas para reflexão. Assim, ficam os trabalhos justos e perfeitos!

Rui Bandeira


19 junho 2008

Guarda Externo / Guarda Interno

Nos Ritos de York e de Emulação, a privacidade da sessão de uma Loja Maçónica é assegurada por um Guarda Externo, isto é, um Oficial da Loja que, armado de uma espada, guarda, pelo lado de fora, a porta do local onde se processa a reunião. Em inglês, este Oficial é denominado Tyler. Daí a designação de Telhador que também em português foi atribuída a este ofício, em evidente corruptela da designação inglesa.

O Guarda Externo é o Oficial que deve aguardar a chegada do Venerável Mestre ao local onde vai decorrer a reunião da Loja e imediatamente iniciar as suas funções, só franqueando a entrada no local a quem se faça por ele reconhecer como maçon, e como maçon do grau (ou superior) em que a Loja vai nesse dia trabalhar. Esse reconhecimento é feito através dos sinais, toques e palavras passes adequados à circunstância. Designa-se esta actividade de efectuar o reconhecimento de um maçon, em ordem a franquear-lhe (ou recusar-lhe) a entrada no local onde vai reunir ou está reunida a Loja como o acto de telhar.

Esta designação, como disse, advém da corruptela da palavra inglesa tyler, mas acabou por, através de associação se confundir com outro termo maçónico. Telhar e telhador facilmente se associam a telha, material utilizado para cobertura de edifícios. Se uma reunião maçónica está telhada, então está coberta. Daí que facilmente se concluísse que, se uma reunião maçónica está coberta, isso equivale a dizer que está a coberto (da indiscrição dos profanos).

Esta associação, por sua vez, originou uma outra designação do Guarda Externo, ou Telhador: a de Cobridor, o Oficial que mantém a Loja a coberto. Esta designação, até pela susceptibilidade de confusão com um mais vernáculo significado da palavra cobridor (basta recordar que, nas pecuárias de criação de gado vacum costuma existir um touro cobridor...), determinou que esta última designação caísse em desuso. A Maçonaria preserva a Tradição. mas não exageremos...

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a função de guardar a privacidade da Loja é assegurada por um Guarda Interno, ou seja, o Oficial que assegura esse ofício, não se mantém, como nos Ritos de York e Emulação, do lado de fora da porta do local onde decorre a reunião, mas do lado de dentro, possibilitando-se-lhe, assim, que participe plenamente na reunião.

É errado (embora um erro a que tenho assistido com alguma frequência) denominar o Guarda Interno por Telhador, porque, ao contrário do Guarda Externo nos Ritos de York e de Emulação, não compete ao Guarda Interno, no Rito Escocês Antigo e Aceite, telhar, isto é, testar a condição e o grau de quem se apresenta como maçon, quem chega. No REAA, essa função é assegurada pelo Experto e também, no início da sessão, pelos Vigilantes, através de uma acção ritualmente prevista.

A razão porque a função de assegurar a privacidade da Loja é exercida, nos ritos de York e de Emulação, por um Guarda Externo, enquanto no REAA tal é efectuado por um Guarda Interno, radica em que, naqueles ritos, ao contrário deste, não são admitidas armas no interior do local onde decorre a reunião da Loja. É levado, naqueles ritos, ao limite da observância literal o princípio de que os maçons devem deixar os seus metais à porta do Templo. Este princípio (que tem simbolicamente um mais amplo significado - um dia escreverei sobre isso), literalmente observado, impede que o metal da espada seja admitido no interior da sala onde decorre a reunião da Loja. No REAA, um rito que foi, desde o seu início, adoptado por Lojas militares e Lojas, que o não sendo, acolhiam militares, este princípio não é tão literalmente observado e, não só são admitidas espadas em Loja, como o uso de espada faz parte do equipamento de alguns Oficiais de Loja e é requerido, em algumas circunstâncias, a todos os Obreiros presentes.

Não se faça, porém, qualquer confusão: o Rito Escocês Antigo e Aceite é um rito de Paz. E a admissão de armas no local onde decorre a reunião da Loja não o contradiz, antes o acentua: tem-se arma, mas nunca se usa contra um Irmão, e muito menos como reforço de qualquer argumento. A verdadeira Paz não resulta de não dispor de armas; advém de as ter, mas não as usar. No Rito Escocês Antigo e Aceite o uso de espadas é meramente cerimonial. E, para que não haja acidentes, que, nos dias de hoje já não se fazem espadachins como antigamente, por via das dúvidas as espadas utilizadas são rombas, isto é, não possuem lâminas afiadas...

Nos Ritos de York e de Emulação, o ofício de Guarda Externo é considerado de alguma importância e muita responsabilidade, como facilmente se deduz da tarefa de verificação das credenciais de quem se apresenta para entrar em Loja.

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a sua responsabilidade é manifestamente menor, quase se resumindo, na prática, ao exercício de funções de "Oficial Porteiro". É, na ordem hierárquica dos Ofícios, colocado em último lugar. Por isso mesmo, o seu titular é sempre um maçon experiente. Leram bem. E eu não me enganei na formulação da frase. Para não haver dúvidas, repito: por isso mesmo, o seu titular é sempre um maçon experiente. Passo a explicar.

Porque é o ofício considerado com menos dificuldade, com menor execução ritual, colocado em último lugar na hierarquia dos ofícios de Loja, no Rito Escocês Antigo e Aceite, o exercício do ofício de Guarda Interno é considerado uma prova de humildade. é, assim, prioritariamente, reservado, ao maçon que, dois anos antes, exerceu o ofício máximo na Loja, o de Venerável Mestre, e que no ano anterior, exerceu a função de Ex-Venerável, principal conselheiro do Venerável Mestre seu sucessor. Após ter exercido o principal ofício na Loja, ter manuseado os símbolos do Poder de uma Loja, o malhete de Venerável e a Espada Flamejante, após seguidamente ter aconselhado quem lhe sucede nesse mais importante ofício (e ser, assim, simbolicamente, o Poder por detrás do Poder...), o maçon vai exercer o mais humilde ofício na Loja, o de Guarda Interno. Demonstra assim, e aprende dessa forma, que o maçon deve exercer todas as funções, da mais importante à mais humilde, com igual interesse e empenhamento. Mostra assim que mereceu exercer o mais importante ofício em Loja e com ele aprendeu que tão necessário é o mais humilde dos ofícios como o mais importante deles e que, portanto, exerce este com a mesma naturalidade com que exerceu o outro. E, assim, com o exercício do mais humilde ofício, o maçon passa à honrosa categoria de Antigo Venerável. Findo ele, retomará, em princípio, o seu lugar nas Colunas da Loja, onde se manterá à disposição de seus Irmãos.

Rui Bandeira

28 maio 2008

Orador


Nos Ritos de York e de Emulação existe um ofício, designado por Capelão, cuja função é dirigir a Loja na invocação do Grande Arquitecto do Universo, em oração colectiva que realça a espiritualidade da Maçonaria e reforça os laços entre os seus membros.

No Rito Escocês Antigo e Aceite, o ofício de Orador é aquele cujo titular pode exercer a mesma função, mas que vai muito mais para além dela. O Orador não se limita à invocação do Grande Arquitecto do Universo. Aliás, em bom rigor, nem sequer é esse o principal escopo deste ofício. O Orador é o oficial da Loja encarregue de tirar as conclusões de qualquer debate. A discussão de qualquer assunto é levada a cabo segundo regras destinadas a permitir um debate sério, sereno e esclarecedor, em que cada um expõe a sua ideia e os motivos dela, mais do que rebater as ideias expressas pelos demais. Em reunião de Loja, procura-se que todos os membros se expressem pela positiva, isto é, afirmem as suas ideias, não pela negativa, limitando-se a criticar as opções dos demais. A forma como decorre o debate numa Loja maçónica já a mencionei no texto Decidir em Loja. E já aí referi que "No final, um oficial da Loja, o Orador, extrai as conclusões do debate, isto é, resume as posições expostas, os argumentos apresentados, podendo ou não opinar sobre se existiu consenso ou sobre a decisão que aconselha seja tomada.

A função do Orador, porém, vai muito mais longe do que a sua intervenção para tirar as conclusões do debate. O Orador é, no clássico esquema da separação de poderes que Montesquieu nos legou, o representante do Poder Judicial na Loja. É ele que deve especialmente zelar e velar pelo estrito cumprimento dos Landmarks, usos e costumes maçónicos e pelo cumprimento das normas regulamentares, seja emanadas da Grande Loja, seja da Loja. É a ele que cabe advertir os demais quando se lhe afigure que quaisquer destas normas está a ser incumprida ou em vias disso, em ordem a prevenir a indesejada violação. É a ele que, havendo infracção suficientemente grave para justificar punição, cabe instruir o respectivo processo. É o Orador o único Oficial da Loja que tem a prerrogativa de poder interromper o Venerável Mestre, que à sua opinião se deve submeter, quando emitida em relação à aplicação ou interpretação de normas maçónicas.

O Orador da Loja zela e vela, em resumo, pela Regularidade da prática maçónica da Loja e de todos os seus obreiros. É, por isso, um ofício particularmente importante, que deve ser exercido por um maçon experiente, se possível um antigo Venerável Mestre. Mas, reconhecendo-se embora a importância deste ofício, deve-se ter presente que o seu titular não deve interferir na gestão da Loja. Tal compete especificamente às Luzes da Loja e, em particular, ao seu Venerável Mestre. Daí o paralelo que acima efectuei com a doutrina da separação de poderes. Daí a conveniência de o ofício ser exercido por mão e mente experientes. Ao Orador cabe prevenir infracções e excessos de poder. Deve, por isso,saber reconhecer perfeitamente os limites da sua própria função, sem, no entanto, deixar de exercê-la. Como em tudo o mais em Maçonaria, equilíbrio é a palavra chave...

Rui Bandeira

26 maio 2008

Oficios da Loja

O Rui é como já o disse frequentemente um excelente causidico, e como tal apresenta sempre uma colecção de argumentos vasta e que sirvam os interesses da tese que está a defender.

Não temos, no que respeita a algumas particularidades , a mesma opinião. Não era sequer saudavel que tivessemos.

Temos sim os mesmos propósitos finais. Propósitos estes que estão, em linhas gerais, ligados à gestão sem sobressaltos da Loja e da sua continuidade. Continuidade numa linha de trabalho que vem a ser criada desde há muitos anos e que pensamos ser a correcta.

Gestão sem sobressaltos, porque mesmo se todos os assuntos devem ser debatidos, devem também ser burilados, ver mesmo bem lapidados, antes de aparecerem a debate. Não com a intençao de manipular ou de esconder, mas com o propósito de consolidar a Loja.

No caso vertente dos cargos de Loja, temos as nossas divergencias e elas assentam neste momento sobre os cargos do Experto e do Hospitaleiro.

Vejamos o Experto.

No seu ultimo texto Rui Bandeira cita o meu trabalho mas só nas partes que lhe convém. Nesse mesmo "escrito" está o seguinte paragrafo:

"Quanto ao Experto e ao Orador cargos fundamentais, deveriam ser a sequência lógica após o Guarda Interno, num novo percurso de Ocidente a Oriente, para finalmente terminar nas colunas.
E se este percurso não for seguido porque pode haver indisponibilidade falta de tempo, ou compromisso, pelo menos que o Orador seja um antigo Venerável pois os anos de trabalho permitirão que seja o repositório da experiência acumulada."

Ora com este paragrafo e com a referencia a " pelo menos o Orador" fica aberta a alternativa a que um Mestre mais jovem seja chamado a desempenhar este Oficio.
Ou seja, se no caso do Orador, e aqui o Rui também concorda comigo, o desempenho por um Antigo Veneravel é fundamental, já o Experto sendo aconselhavel não é taxativo.

Já quanto ao Hospitaleiro a coisa diverge. O facto de este ano o actual Veneravel Mestre ter escolhido um Antigo Veneravel para este Oficio, fê-lo em meu entender nao pela antiguidade da pessoa, mas pela pessoa em si.

Admito que a qualificaçao ritual obtida pelo desempenho de Hospitaleiro não é elevada e consequentemente admito que para este caso se pode considerar outras alternativas, mas elas não têm a ver com o facto de ser Antigo Veneravel ou não como o Rui nos seu texto ( aqui ). A minha evoluçao quanto a este cargo passa para outro nivel.

O do caracter, mentalidade, predisposiçao, capacidade e outros atributos intrinsecos ao Mestre como Pessoa. O Hospitaleiro precisa de ter isto tudo para poder desempenhar correctamente o seu cargo.

Ora como podemos ver no que respeita ao Experto a minha tese, mais abrangente que a do Rui engloba por consequencia a dele.

Já quanto ao Hospitaleiro a minha opinião mudou mas não no sentido que o Rui pensa, mas também para um nivel de abstraçao superior fazendo assim entrar mais factores na equação.

Fora isso na generalidade estamos de acordo.

Quanto ao Mestre da Harmonia de facto a experiencia tem dito que se trata de cargos tendencialmente vitalicios. Alexis B. o actual titular, e que o seja por muitos mais anos, tomou posse em 1996 no meu Veneralato e nestes 12 anos tem-nos deliciado com a sua Mestria.

Se no futuro, e chegada a hora de o substituir, a Loja ou melhor o Veneravel da altura quiserem que assuma o cargo, fá-lo-ei como sempre fiz.

José Ruah

O Experto e os jovens Mestres


No seu texto Percurso a Venerável, o José Ruah divulga um trabalho seu, intitulado Cargos de Oficial e Percursos de Progressão REAA - Lojas Azuis, no qual explana a sua concepção de cada um dos ofícios, da forma de organização da Loja, dos critérios de preenchimento dos ofícios pelos obreiros. Concordo em quase tudo com o que ele ali refere. Existem apenas dois aspectos em que divirjo um pouco do seu entendimento. Um deles, já o esclareci no texto Da linha e do percurso. O outro respeita à concepção que o José apresenta de que o ofício de Experto deve ser preferencialmente exercido por um antigo Venerável. Compreendendo embora o seu ponto de vista, o meu entendimento é exacta,mente o oposto, isto é, que tal ofício deve ser exercido preferencialmente por um jovem (em termos de antiguidade) Mestre.

Relembro então o que o Ruah escreveu, a este propósito:

Experto – A ele estão confiadas tarefas importantes de condução de cerimónias de Iniciação, Aumento de Salário e Exaltação. Estando ainda acometidas as tarefas de ensino no decurso destas cerimonias.

Tem em alguns casos a prerrogativa de se deslocar sem a necessidade do M. Cerimónias. Tem ainda como missão identificar irmãos de outras lojas ou obediências, prestando nisso auxílio ao Guarda Interno.

E, mais adiante:


Quanto ao Experto e ao Orador cargos fundamentais, deveriam ser a sequência lógica após o Guarda Interno, num novo percurso de Ocidente a Oriente, para finalmente terminar nas colunas.


A premissa é inquestionável. Mas certamente que o Ruah concordará comigo na afirmação de que a importância (e o grau de dificuldade no seu exercício) da tarefa é mais marcada na Cerimónia de Iniciação do que nas de Aumento de Salário e Exaltação. Nestas, ao contrário da Iniciação,não está em causa o efeito de surpresa para quem a elas é submetido. O Aumento de Salário é uma cerimónia incomparavelmente mais fácil de executar; a Exaltação, sendo também uma cerimónia complexa, a maior responsabilidade na sua execução assenta nas luzes da Loja e no Mestre de Cerimónias. É certo que a fase de instrução é sempre assegurada pelo Experto, mas para a executar tem o apoio da leitura, que em simultâneo é feita, do ritual.

Também a tarefa de auxílio na identificação de Irmãos de outras Lojas e Obediências, sabemo-lo, não é dotada, na prática, de grande transcendência. Ademais, e como muito bem o frisa o Ruah, aí a função do Experto é a de mero auxiliar do Guarda Interno, que deverá ser o antigo Venerável Mestre de dois anos antes.

É claro que é um ofício importante. Como o são todos! É justo afirmar-se que haverá garantias de melhor execução do ofício por um maçon experiente do que por um Mestre com menos experiência. Mas também assim é em relação aos demais!

A experiência só se adquire com a execução. Por muito que se veja fazer, nada substitui o fazer, directa e pessoalmente, no processo de aquisição de conhecimentos. Isso é válido para todos os ofícios. Não é por isso que reservamos todos os ofícios a antigos Veneráveis.

O José Ruah e eu, embora com diferentes nuances, concordamos em que há ofícios de preparação para o ofício de Venerável Mestre. Concordamos também que há ofícios que devem ser reservados a antigos Veneráveis (o de Guarda Interno, como exercício de humildade, o de Orador, pela sua particular importância de corresponder ao "poder judicial" da Loja e - acrescentei eu, admitindo que disso o José não discorde - o de Hospitaleiro, pela essencialidade da função de socorro e auxílio que lhe é cometida).

Por outro lado, quando atribuído, o ofício de Arquivista preferencialmente, e sempre que possível, deve ser exercido por um Mestre disponível para assegurar esse ofício durante um período de tempo tão longo quanto possível. Cabe ao Arquivista preservar a memória da Loja. Não é, manifestamente ofício para ser exercido apenas durante um ano nem para treinar os Mestres mais modernos...

Então que ofícios restam para que seja possível que os Mestres mais jovens se vão familiarizando com a responsabilidade de assegurar uma função na Loja, mas sem que tal signifique uma expectativa de progressão para a Cadeira de Salomão? Só restam três: Mestre da Harmonia, Porta-Estandarte e, na minha concepção, Experto.

Porém, a prática mostra-nos que o ofício de Mestre da Harmonia acaba por ser exercido a longo prazo por Mestre com especial apetência e gosto para tal. No caso da Loja Mestre Affonso Domingues, o Mestre da Harmonia Alexis sê-lo-á, estou certo, enquanto quiser e puder sê-lo. E, quando as circunstâncias e a inevitabilidade do decurso do tempo impuserem a sua substituição, já sabemos que existe um substituto com prazer em assegurar o ofício. Conhecem-no. É um tal de José Ruah...

O ofício de Porta-Estandarte é um ofício de preenchimento facultativo e que, na prática, não tem sido preenchido na nossa Loja - talvez seja tempo de se mudar isso...

Só resta então o Experto!

Por isso, entendo que, no critério de preenchimento de ofícios, deve reservar-se, sempre que possível, o ofício de Experto para ser preenchido por mais jovens (em antiguidade) Mestres, possibilitando, sem a expectativa de um percurso para o veneralato, que estes adquiram experiência no exercício de ofício em Loja - e também permitindo avaliar a capacidade, assiduidade e interesse do seu titular, na perspectiva de futura assunção de maiores responsabilidades.

É só um detalhe. Mas os detalhes ajudam na busca da perfeição!

Rui Bandeira

20 maio 2008

Transição

Os antigos Veneráveis Mestres, quando não tenham ofícios atribuídos, devem manter-se disponíveis para assegurar substituições de Oficiais do Quadro, sempre que tal se torne necessário, por impedimento de qualquer destes.

Durante parte deste ano maçónico, coube-me a responsabilidade de assegurar, em substituição do Oficial titular, o ofício de Mestre de Cerimónias. Com efeito, o Oficial titular, praticamente logo depois de ter sido investido nas suas funções, viu-se, por razões pessoais que entendeu ponderosas, na necessidade de comunicar ao Venerável Mestre que iria adormecer, isto é, suspender a sua actividade maçónica.


O adormecimento de um maçon é algo que, por razões pessoais, profissionais ou outras, pode sempre ocorrer e é visto e aceite com naturalidade pela Loja. Se as circunstâncias obrigam um Irmão a suspender a sua actividade maçónica, o que deve fazer é comunicar esse facto e informar da sua suspensão de actividade. Assim, não estando em falta e, pelo contrário, estando em dia com todas as suas obrigações, receberá o seu atestado de quite, isto é, o documento que comprova que suspendeu a sua actividade na Loja com todas as suas obrigações cumpridas, e, mais tarde, quando as circunstâncias o permitirem e o desejar, poderá, sem reservas ou problemas, retomar a sua actividade maçónica, na mesma ou em outra Loja.

Pese embora a naturalidade da situação, o adormecimento do Mestre de Cerimónias em exercício colocou um problema que, não sendo particularmente grave ou difícil, necessitava de ser resolvido com alguma ponderação e cuidado. É que, como mencionei em texto recente, o maçon que assegura o ofício de mestre de Cerimónias está, presentemente, a meio da “linha de sucessão” para o exercício do ofício de Venerável Mestre. Ainda por cima, foi no corrente ano maçónico que o actual Venerável Mestre assim o decidiu, na sequência de pareceres nesse sentido de vários antigos Veneráveis e com a consensual aceitação de toda a oficina. Ter de acorrer a um imponderável no primeiro ano de introdução de uma mudança é sempre delicado...

A solução encontrada foi, no meu entender feliz: foi escolhido para Mestre de Cerimónias um Mestre das Colunas, que exercerá o ofício não só durante a parte restante do presente ano maçónico como no próximo. Com isso, limitou-se o efeito de ultrapassagens indesejadas. É que, atrás do Mestre de Cerimónias, na “linha de sucessão”, estão o Secretário e o Tesoureiro. Sucede, porém que o actual Secretário é já um Mestre com alguma antiguidade, que já exerceu o ofício de Mestre de Cerimónias, quando o mesmo não estava integrado na “linha de sucessão. Em relação a ele, não há a necessidade de exercer um ofício que já exerceu e poderá assim passar adiante. Quanto ao Tesoureiro, é da mesma “colheita” do Mestre agora escolhido para Mestre de Cerimónias, pelo que seguir-se um ao outro ou o outro ao um no exercício dos ofícios é relativamente indiferente.

Em suma, rapidamente a solução foi encontrada. Mas, não sei se por aguardar ainda que o maçom que adormeceu pudesse ultrapassar a contento e com brevidade os motivos do seu adormecimento, se por querer dar tempo ao Irmão escolhido para o substituir para se ambientar à função, o Venerável Mestre retardou algumas sessões a efectiva investidura do novo Mestre de Cerimónias. Portanto, durante algumas sessões, fui eu que assegurei em substituição o exercício do ofício, estando nas colunas aquele que já sabia que ia iniciar funções naquele ofício.

Esta situação gerou uma cumplicidade entre ambos. O meu Irmão das colunas observava com atenção o que eu fazia, preparando-se para ele próprio o ir fazer. Eu exercia a função, sabendo que, além de o dever fazer adequadamente, convinha fazê-lo de forma particularmente clara para quem especialmente me observava. Um gesto mais marcado aqui, uma troca de olhares enfática ali, uma acção executada tendo o cuidado de me posicionar de forma a que a mesma fosse claramente vista por aquele Irmão acolá e, sem palavras, sem necessidade de grandes explicações, fiz o melhor que pude, para que o meu Irmão agora possa fazer melhor que eu.

Cada Mestre de Cerimónias tem o seu estilo. Mas esse estilo é tributário do que se aprende com os anteriores. O actual Mestre de Cerimónias titular já está no exercício do ofício desde há algumas sessões. Tem o seu estilo próprio – e é bom! Mas, olhando com atenção, algo dele tem a ver com o meu...

Estou orgulhoso!

Rui Bandeira