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17 julho 2025

Quando a forma engana a essência

 "Quem acolhe um lobo julgando tratar-se de cão, descobrirá tarde demais que não é o latido que o define, mas os dentes."

Às vezes, abrimos a porta a alguém que não iniciou pelo nosso caminho iniciático., chega por transferência de outra, tudo regular, tudo conforme. Inquirido e Iniciado por outros irmão. Confiamos, porque queremos confiar, porque a confiança é parte do que somos e, talvez, porque baixamos a guarda quando um Irmão nos é apresentado por outro.

O processo foi cumprido, não houve irregularidade formal, mas falhámos no essencial. Devíamos ter esperado, devíamos ter observado, devíamos ter conhecido antes de acolher. Não o fizemos. Era prático, parecia seguro, mas principalmente porque confundimos silêncio com humildade, e dicção com profundidade.

Esse Irmão, ou ex irmão, antigo irmão, "reprofano", lia actas como ninguém, também pranchas o deveria fazer, mas nunca o ouvi. Tinha boa voz, tom grave, ar seguro, mas não construía um pensamento, não ligava ideias, nunca debateu para aprender, apenas para minar. 

Maltratava Aprendizes, deixava Companheiros desmotivados, e guardava sempre os comentários mais venenosos para os bastidores. Era cortês com os Mestres, mas pelas costas afiava cada palavra.



Os mais novos sentiam-se expostos, por vezes até aterrorizados, vi-me obrigado a intervir para que situações não escalassem. E durante demasiado tempo, deixámos andar. Porque a Loja estava habituada a confiar, porque ninguém queria ser o primeiro a desconfiar. Até que as mensagens se acumularam, e a serpente revelou a pele.

Quando decidiu sair, fê-lo sem confronto. Tentou voltar, por outra porta, para outra Loja E aí, não hesitámos. A votação foi rápida, clara, unânime, definitiva, sem dúvidas. Não pelo que foi, mas pelo que sabíamos que voltaria a ser, não poderíamos permitir que outros Irmãos passassem pelo que nós passámos, não seríamos cúmplices de não fazer nada quando o deveríamos ter feito, já tínhamos tido uma oportunidade e desperdiçamo-la, desta vez em vez de esperar para ver se o fogo ateava, não demos fosforos para que

Procurou depois abrigo noutro espaço, fora da nossa Obediência, onde as regras são outras. Aí já nada podemos fazer, mas a nossa lição está aprendida.

Este texto não é sobre ele, é sobre nós. Sobre como até uma Loja experiente pode falhar., sobre como até entre colunas bem assentes pode rastejar o que nos divide. E sobre como há momentos em que proteger a cadeia é saber dizer não, meter uma bola preta e encerrar a questão.

Como é do conhecimento de todos, cada macieira dá fruto em abundância, mas de vez em quando também uma maçã podre. É da sua natureza. A nossa tarefa é saber colhê-las com discernimento. e quando a serpente aparece, não é com violência que se responde, mas com firmeza, vigilância e memória.

Que esta lição nos fique gravada. A forma engana, mas a essência, mais cedo ou mais tarde, revela-se.

João B. M∴M∴

27 março 2009

O Chocolate quente


Verdade que o tempo mais frio parece ter passado... de facto nunca se sabe, mas mesmo com a tradição a não ser o que era a Primavera anuncia-se esplendorosa renovando a vida.

Está a ser assim e ainda bem.

A Primavera está-se nas tintas para as crises !

Esta constatação vem a propósito de uma boa chávena de chocolate quente...

Quem, de entre Vós se lembra e teve a sorte de beber o "Cacau da Ribeira" ?

Em Lisboa funcionava como o "ide e que Deus vos abençoe" das missas católicas... Era o final inevitável das "noites da malta", aí pelas 5 ou 6 da matina, já abrandava o escuro do Céu quando o pessoal se juntava no Cais do Sodré para o "Cacau da Ribeira", quente, denso, com cacau a sério (não era plástico, não !) que repunha a ordem no corpo e no espírito após uma noitada... de trabalho duro e cansativo que Deus sabe... Aquilo é qu'era trabalho... haja Deus !

Ora bem, hoje é dia de "estorinha" (institucionalização do Rui) e como tal aqui vai uma, bem saborosa e doce que recupera algo daquela magia das noitadas de Lisboa nos idos de 50's e 60's do século XX (caraças, estou velho !)
Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras,decidiram fazer uma visita a um velho professor da faculdade, agora reformado.

Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho.

O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes - de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas.

Apenas disse aos jovens para se servirem à vontade.

Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, lhes disse:

- Reparem como todos escolheram as chávenas mais bonitas e dispendiosas deixando ficar as mais vulgares e baratas. Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stress. A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena, mas fostes conscientemente para as chávenas melhores.

Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação doprofessor, este continuou:

- Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm.

Vivei com simplicidade.
Amai generosamente.
Ajudai-vos uns aos outros com empenho.
Falai com gentileza.

E apreciai o vosso chocolate quente!

(fim da estória)

Muito bem, se depois disto tiverem necessidade de pegar no guardanapo para limpar a boca... é bom sinal.

Escolheram o chocolate ! Fizeram bem !!!

Mas não abusem. Cuidado com o fígado.

Bom fim de semana.

JPSetúbal