Um trecho de Albert Pike, a propósito de Maçonaria, Crise e Sociedade
Um leitor deste blogue, em comentário ao texto Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXX, expressou a sua insatisfação pelo facto de, em tempos de crise em Portugal e na Europa, não ver aqui comentário à mesma. Seguiu-se uma troca de comentários em que penso ter explicado a posição dos maçons que aqui escrevem sobre o assunto.
Mas, ao documentar-me sobre as respostas a dar, recordei uma passagem de Morals and Dogma, de Albert Pike, que julgo interessante para se ver como a Maçonaria já desde há muito tempo que sabe muito bem como cada um dos maçons deve intervir na Sociedade.
Os teóricos da conspiração costumam muito citar Pike e a sua obra Morals and Dogma para elocubrarem sobre o pretenso projeto da Maçonaria de dominar a Humanidade e criar a Nova Ordem Mundial (seja lá o que isso for). Mas não se dão ao cuidado de ler Pike e Morals and Dogma...
Este excerto que aqui transcrevo ilustra bem, creio, a postura dos maçons perante a Sociedade. E, quanto à presente Crise, destaquei e sublinhei uma passagem. Para bom entendedor...
Por muito negro que seja o momento, a tormenta há de passar e este Povo há de ressurgir mais forte e mais capaz de superar as adversidades!
Que assim seja!
Eis o excerto:
Mas
o grande mandamento da Maçonaria é: “Dou-vos um novo mandamento: Amareis uns
aos outros! Aquele que disser estar na luz e odeia seu irmão, ainda estará na
escuridão”.
Estas
são as obrigações morais de um Maçom. Porém, também será obrigação da Maçonaria
ajudar a elevar o nível moral e intelectual da sociedade; cunhando
conhecimento, trazendo ideias à circulação e fazendo crescer a mente da
juventude; e colocando a raça humana em harmonia com seu destino, gradualmente,
mediante ensinamento de axiomas e pela promulgação de leis positivas.
É
desse dever e trabalho que o Iniciado é aprendiz. Não deve imaginar que não
pode afetar nada, e com isso desiludir-se e permanecer inerte. Está nisso,
assim como está na vida diária de alguém. Muitas grandes obras são executadas
nas pequenas lutas da vida. Existe, nos dizem, bravura determinada porém
invisível, que se defende passo a passo, na escuridão, contra a invasão fatal
da necessidade e da baixeza. Existem triunfos nobres e misteriosos, que os
olhos não vêem, que não têm recompensas renomadas e que não recebem a saudação
de fanfarras de trompetes.
A
vida, o infortúnio, o isolamento, o abandono, a pobreza, são campos de batalha
que têm seus heróis – heróis obscuros, mas algumas vezes maiores do que
aqueles que ficam famosos. O Maçom deve lutar da mesma maneira e com a mesma
bravura contra aquelas invasões da necessidade e da baixeza que atingem as
nações assim como às pessoas. O Maçom deve enfrentá-las também, passo a passo,
mesmo no escuro, e protestar contra o erro e a insensatez; contra a usurpação e
contra a invasão dessa hidra, a Tirania.
Não
há eloquência mais soberana do que a verdade indignada. É mais difícil para um
povo manter do que conseguir sua liberdade. Sempre são necessários os Protestos
da Verdade. O direito deve continuamente protestar contra o Facto. Existe,
verdadeiramente, Eternidade no Direito.
O
Maçom deve ser um sacerdote e um guerreiro desse Direito. Se o seu país tiver
roubadas as suas liberdades, não deve desesperar. O protesto do Direito contra o
Facto persiste para sempre.
O
roubo de um povo nunca prescreve. O reclamo de seus direitos nunca é barrado.
Varsóvia não pode mais ser tártara do que Veneza teutónica. Um povo pode
resistir à usurpação militar, Estados
subjugados ajoelham-se a Estados e usam a canga sob a pressão da necessidade;
mas, quando a necessidade desaparece e se o povo estiver preparado para a
liberdade, o país submerso virá à tona e reaparecerá e a Tirania será
julgada pela História por ter assassinado suas vítimas.
Seja
lá o que ocorrer, devemos ter Fé na Justiça e na Sabedoria soberana de Deus, Esperança
no Futuro e benevolência Afetuosa para com os que erram. Deus torna Sua vontade
visível às pessoas através de acontecimentos; um texto obscuro, escrito numa
linguagem misteriosa. As pessoas traduzem-na imediata, rápida e incorretamente,
com muitos erros, omissões e interpretações falhas. A nossa visão do arco do
grande círculo é tão curta! Poucas mentes compreendem o idioma Divino. Os mais
sagazes, os mais calmos, os mais profundos, decifram hieróglifos lentamente; e,
quando voltam com seu texto, talvez a necessidade já se tenha ido há tempo; já
existem vinte traduções – a maioria é incorreta e, é claro, são as mais aceites
e populares.
De
cada tradução nasce um partido; de cada interpretação falha, uma fação. Cada
partido acredita ou finge que detém o único texto verdadeiro; e cada fação
acredita ou finge que apenas ela possui a Luz. Além disso, fações são gente
cega que aponta apenas para frente, e erros são projéteis excelentes, atingindo
habilmente e com toda a violência que salta de argumentos falsos, onde quer que
um desejo de lógica naqueles que defendem o direito os faça vulneráveis como
uma falha numa couraça.
Portanto,
muitas vezes seremos derrotados ao combater o erro diante do povo. Antaeus resistiu
a Hércules por longo tempo, e as cabeças da Hidra cresceram tão rapidamente
quanto foram cortadas. É um absurdo dizer-se que o Erro, ferido, agoniza em dor
e morre no meio dos seus adoradores. A Verdade conquista lentamente. Há uma
vitalidade surpreendente no Erro.
A
Verdade, realmente, na maioria das vezes, atira por sobre as cabeças das
massas; ou, se um erro estiver prostrado por um momento, levantar-se-á num
instante, vigoroso como nunca. Não morrerá quando o cérebro tiver sido
arrancado; e os erros mais estúpidos e irracionais serão os mais duradouros.
A Crise há de ser superada. A Sociedade é e será o que cada um de nós e todos em conjunto delas fizermos. Que cada um aprimore a sua Sabedoria, melhore a sua Força e em tudo o que faça ponha Beleza para que do melhor de nós resulte uma Sociedade melhor, antes, durante e depois de qualquer crise!
Rui Bandeira