Dialéctica
Em boa verdade, a pergunta não está correcta. Se pensarmos bem, eu escrevo sempre sobre a mesma meia dúzia de coisas, o mesmo punhado de ideias (aquelas poucas que consigo alinhavar...). O que consigo é escrever sobre a mesma meia dúzia de ideias... de uma imensidão de maneiras diferentes! Isto é, bem espremidinho este blogue, aqui diz-se sempre as mesmas coisas - e nem sequer são muitas. O que se vai fazendo é enroupar a mesma ideia com colecções de formas diferentes. Em resumo: não me considero um criador de ideias; apenas, e quando muito, um costureirinho de roupagens para as poucas que consegui alinhar. Presentemente, estou apresentando a colecção de Primavera - Verão de 2008...
É claro que tenho um plano geral sobre a evolução e apresentação dos textos que espero publicar. No fundo, é como se estivesse escrevendo o que eu penso que seja a Maçonaria... em fascículos, em pílulas, em bocadinhos. Porém, talvez por ser retorcido ou simplesmente por apreciar a variedade e abominar a monotonia, cada textozinho é um bocadinho do puzzle total, que apresento fora de ordem. O aspecto global está na minha cabeça. Mas não o quero, pelo menos por agora, nem pelos tempos mais próximos, mostrar a quem me lê, pela simples razão de que espero que este espaço seja apreciado como espaço de informação e de consulta por quem se interessa pelo tema da Maçonaria e que os interessados aqui voltem com alguma regularidade. Afinal de contas, não escrevo para meu deleite pessoal. Gosto que leiam aquilo que escrevo e, se possível, o apreciem. Este espaço é um blogue, não um livro. Num livro, é suposto apresentar-se a tese que se propõe ao leitor segundo uma certa ordem. Um blogue, pelo contrário, é um espaço dedicado a textos não demasiadamente grandes, tanto quanto possível apontando claramente a ideia que se tem sobre o que se está escrevendo, frequentemente actualizado com novos textos, acrescentos, comentários, respostas, etc.. É um espaço em que a dialéctica deve imperar, se for bem trabalhado por quem o edita e bem correspondido por quem o lê. E assim, nessa dialéctica, se constrói um blogue, se junta um acervo de textos e de ideias e de diferentes apresentações de ideias, que se deixa à disposição de quem o quiser ler e explorar. Aqui, já vamos em mais de dois anos de acumulação...
Pode não parecer, mas o arrevesado parágrafo anterior explica de onde vem a inspiração para os textos. Verifico que hoje estou virado para a complicação. Vou então simplificar. A inspiração para os textos que escrevo vem-me por duas vias. A primeira, como que o pano de fundo, é o projecto global que, às pinguinhas, vou escrevendo e que se resume num princípio muito simples: ao contrário do que para aí se proclama, a Maçonaria não tem nada de secreto e tem muito pouco de reservado; não existe, pelo contrário, nenhum inconveniente em divulgar, em colocar à disposição de quem nisso estiver interessado, o que é a Maçonaria, seus princípios, suas práticas, seus métodos, seus hábitos. A segunda surge através da dialéctica com quem me lê e com os demais autores de textos do blogue.
Quanto à primeira fonte de inspiração, estamos conversados. Pouco mais haverá a dizer. Ou, porventura, não me apetece agora nada mais acrescentar.
Quanto à segunda, é, na minha opinião, o que confere brilho, vivacidade, cor, ao blogue. É por aqui que chega o inesperado. É por esta via que surgem as voltas imprevistas, os temas inesperados, as discussões interessantes, os desenvolvimentos propiciados. Se quem escreve um blogue se limitasse a seguir um plano pré-traçado, mais valia, na minha opinião, estar quieto: no mínimo, estar-se-ia perante um blogue monótono e cansativo, por muito interessante ou importante que fosse a mensagem. Há que ter em conta a diferença de suportes: um blogue não é um livro e não se destina a ser lido como um livro. Num livro busca-se o desenvolvimento coerente de uma ou várias ideias; num blogue, se bem vejo, procura-se o texto curto, a informação rápida, a consulta, a sequência. Um livro pode ler-se de seguida; um blogue destina-se a ser visto um bocadinho de cada vez e, quando apetece e se pode, por vezes, alguns bocados por mais algum tempo.
É por isso que dou muita importância, quer aos textos dos outros autores do blogue (que frequentemente me sugerem ideias para outros textos), quer aos comentários e perguntas de quem me lê e se dá ao trabalho de aqui deixar a sua opinião. Muito frequentemente, também, um comentário sugere-me um ou mais textos. Por vezes, não imediatamente publicados. Mas tenho o cuidado de iniciar um novo documento, ou novos documentos, com a ou as ideias propiciadas pelos comentários, para oportunamente serem desenvolvidas, ou simplesmente referidas, seja num texto mais sério, seja num tom mais ligeiro.
Para que tenham a noção, neste momento, tenho em carteira as seguintes ideias, fora do plano de fundo do blogue: um texto que terá talvez o título de Malhetes, em desenvolvimento do tema do exercício do poder na Loja (já não me recordo se em resultado de texto do José Ruah, se de algum comentário surgido sobre outras pinceladas sobre este tema); um texto que se intitulará Deixar os metais à porta do Templo, que resulta de um comentário deixado no blogue, salvo erro do nuno_r, em cuja resposta anunciei que haveria de desenvolver este tema (posso ser atrasado, mas não sou esquecido...); um texto que terá o título Simbolismo: da Loja à vida, que é o texto que resta fazer de um conjunto que anunciei em resposta a um comentário do simple (está muito, muito atrasado, eu sei; mas não me apeteceu ainda fazê-lo; e a experiência há muito que me ensinou que, quando não me apetece escrever algo, é porque esse algo ainda não está maduro e convém deixar o subconsciente acabar de o trabalhar; mas acho que está quase...); um texto sobre Tipos de ritualistas, inspirado em conversas com o José Ruah e num fabuloso texto que ele publicou aqui no blogue (seguramente um dos melhores textos alguma vez aqui publicados); um texto de resposta a um comentário muito recente do simple sobre os marcadores do blogue; e dois textos (um curto, mais ligeirinho e brincalhão; o outro, mais sério) em resultado de uma mensagem privada que recebi de um Companheiro Maçon de São Paulo: o ligeirinho comentará, brincando, uma passagem da sua mensagem que me caiu no goto; o outro tratará o tema Escada em Caracol.
Portanto, caros leitores, este blogue não é só feito pelos autores dos textos aqui publicados; também é feito por quem comenta, seja em aberto, seja em mensagens pessoais. É desta dialéctica que se faz um blogue que se deseja com um mínimo de qualidade. Espero que se vá conseguindo este objectivo.
Rui Bandeira