29 junho 2007

Novas funcionalidades no blogue

A partir de agora o blogue A Partir Pedra disponibiliza duas novas funcionalidades para quem tem interesse nos textos que aqui se publicam.

Uma delas já podia ser utilizada por quem usa as aplicações de navegação na Rede Internet Explorer 7 e Mozilla Firefox 2.0: as actualizações via RSS. Mas talvez alguns dos que já tinham essa possibilidade não a utilizassem, por desconhecimento da sua existência na sua aplicação de navegação na Rede.

Para esses e também para aqueles que usam outras aplicações de navegação sem essa funcionalidade, colocámos um atalho, logo abaixo do Arquivo do Blogue, com um pequeno ícone similar à imagem que ilustra este texto e sob o título ÚLTIMOS TEXTOS VIA RSS. Quem quiser beneficiar da funcionalidade, basta clicar no ícone e abrir-se-á uma página onde, ao alto, está o nome do blogue e, à direita, vários ícones. Basta clicar no ícone que prefira e, após confirmação da subscrição do serviço (inteiramente gratuito, é claro!), passará a dispor, na barra de tarefas do serviço que escolheu, da funcionalidade RSS, que lhe permitirá verificar quais os últimos textos publicados no A Partir Pedra. Quem utilizar o Yahoo poderá clicar no ícone respectivo; quem preferir utilizar o Google, idem; quem preferir utilizar a barra de tarefas da sua aplicação de navegação, desde que esta suporte o serviço, deverá utilizar o pequeno ícone laranja com o texto "View feed XML".

Quem quiser receber na sua caixa de correio electrónico os novos textos que forem publicados, pode, ou utilizar o ícone do sobrescrito em fundo azul na página que se abre quando se clica no ícone ÚLTIMOS TEXTOS VIA RSS ou - mais fácil ainda! - clicar no atalho que se encontra criado logo abaixo do ícone de acesso ao RSS, sob o título NOVOS TEXTOS VIA CORREIO ELECTRÓNICO. O atalho em si é, para que ninguém tenha dúvidas, constituído pelo texto Receba os textos do A PARTIR PEDRA por correio electrónico. Clicando nesse atalho, abrir-se-á uma janela intitulada REQUERIMENTO DE CADASTRO DE EMAIL, onde deverá preencher, na caixa disponibilizada para o efeito, o seu endereço de correio electrónico. Após preencher, na caixa inferior esquerda as letras de controlo que visiona, clica na caixa COMPLETAR SOLICITAÇÃO DE CADASTRO e... está quase. Seguidamente, abra o seu leitor de correio electrónico. Se não estiver já lá uma mensagem com o assunto "Active a sua subscrição por correio electrónico para: A Partir Pedra", clique em enviar-receber para que esta seja recebida. Uma vez aberta esta, basta clicar no atalho constante da mensagem (ou copiar o mesmo e inseri-lo na barra de endereços da sua aplicação de navegação na Rede) e, uma vez acedida a página de destino, está completado o processo: desde que tenha sido publicado um novo texto no A Partir Pedra, diariamente receberá uma mensagem de correio electrónico com o mesmo. Por agora, o serviço está configurado para enviar a mensagem entre as 17 e as 19 horas, hora de Portugal Continental. Eventualmente, se se vier a concluir ser mais adequado ou conforme com os interesses dos subscritores do serviço, pode ser alterado o intervalo horário de envio de mensagens.

Uma outra alteração foi feita no modelo do blogue, mas esta é mais uma brincadeira do que outra coisa: quem for ao fundo do blogue, deparará com um ícone, o qual declara (em inglês) que este blogue foi classificado para todas as audiências e todas as idades. O ícone é verdadeiro e esta é a classificação que foi efectivamente atribuída ao blogue. Mas, aqui para nós, não podia deixar de assim ser: feita a verificação dos textos do blogue, a aplicação atribuiu essa classificação em face da ausência de palavras indicativas de pornografia ou violência. É certo que este blogue efectivamente não divulga pornografia nem violência, mas, manda a verdade que se reconheça que, mesmo que o fizesse, a classificação seria a mesma: é que o sítio de atribuição de classificações busca palavras desses temas... em inglês! No nosso caso, a única palavra que detectou (o que não foi impeditivo da classificação PARA TODOS) foi... "breast" (do atalho para o Breast Cancer Site)!

Rui Bandeira

28 junho 2007

O quarto Venerável Mestre

O Venerável Mestre no período entre Setembro de 1993 e Setembro de 1994 foi Ilídio P. C..

Foi o homem certo na altura certa. A Loja aprendera a trabalhar em condições mais difíceis do que aquelas em que se formara. A Loja aproveitara para perceber as vantagens de fazer rodar os Mestres - particularmente os mais recentes - nos vários ofícios rituais. É verdade que tal ocorrera por necessidade, devido à diminuição de assiduidade nas reuniões havidas às quartas-feiras. Mas ultrapassara a dificuldade e ainda obtivera um ganho com a forma como a ultrapassara. Mas a Loja necessitava de obter uma maior empatia com o seu líder. E Ilídio P. C. era o homem ideal para isso.

Ilídio P. C. teve a seu favor, desde logo, o factor emocional. A Loja aprendera a trabalhar sob uma liderança menos carismática, mas recordava com alguma saudade a ligação emocional e carismática que tivera com José M. M.. E, na verdade, com Ilídio P. C. teve o mais próximo disso que era possível, até num plano simbólico: Ilídio P. C. e José M.M. tinham sido cunhados (um deles, já não me recordo qual, tinha sido casado com a irmã do outro), a sua ligação pessoal mútua era grande (sobrevivera ao fim do casamento que os tornara cunhados) e Ilídio P. C. era também um emotivo, tal como José M. M.. Eram, obviamente diferentes - José M. M. motivava o grupo pela garra, pela combatividade, pelo carisma; Ilídio P. C. arregimentava afectos mansamente, ouvindo todos pacientemente e, num fio de voz, anunciando a decisão que todos instantaneamente sentiam que tinham contribuído para ser tomada e que reconheciam como a melhor, em face das circunstâncias analisadas. Era um carisma sossegado, mas não deixava de ser carisma.

Tinha uma actividade profissional intensa e competitiva e costumava dizer que a Loja era o seu porto de abrigo, o seu local de descontracção, onde podia estar à vontade e com as defesas em baixo, sem preocupações de ser traído (a palavra que utilizava era mais vernácula...), nem apunhalado pelas costas. Dizia-o, parte por ser verdade, mas também parte como meio de incutir na Loja a coesão entre os seus membros. A sua mensagem era: não importa a luta que travemos na vida profana, a forma como aí tenhamos de estar atentos; aqui é um espaço de camaradagem, de confiança, de amizade. Não é preciso gostar de todos, ser amigo de todos; mas não se trai nenhum e por nenhum se é traído. Aqui cada um pode e deve ser ele próprio, mostrar as suas fraquezas e colaborar com as suas forças; ninguém se aproveita das fraquezas de qualquer dos demais, ninguém abusa das forças dos seus irmãos.

E, dando-se a si como exemplo, agindo em consonância com o que dizia, calmamente fez com que todos o seguissem, e a Loja voltou a levantar voo, com as capacidades que tinha, enriquecida com a coesão que passou a fazer parte das suas características genéticas.

Ilídio P. C., que beneficiou também do paulatino regresso de muitos dos que, esgotados, tinham passado por um "ano sabático" de recuperação, no fim do seu mandato transmitiu ao seu sucessor uma Loja mais forte, mais coesa, mais madura, que entendera que a liderança também se exercia de uma forma calma e, com isso, crescera mais um pouco.

Ilídio P. C., aquando da cisão de 1996, sofreu como poucos o desgosto da separação e a forçada e inesperada quebra da coesão por que tanto se esforçara. Coerente, afastou-se. Mas, algum tempo depois, o apelo da Maçonaria foi mais forte. Uma vez maçon, sempre maçon. Acabou por se integrar numa Loja do GOL e aí certamente que o seu estilo brando e calmo exerce tanta influência como exerceu em nós.

Continuamos a revê-lo e a com ele conviver, sempre que possível, seja numa qualquer organização a que ele nos dá o gosto da sua presença, seja no jantar anual do Solstício de Inverno que a Loja organiza. E é sempre com grande alegria que o revemos e com ele convivemos e, sempre, algo de novo aprendemos. Porque o Ilídio P. C. não foi apenas um dos nossos. O Ilídio P. C. contribuiu, e muito, para a nossa identidade e características, mostrando-nos o imenso valor da coesão. Esteja onde estiver, esteja com quem estiver, é e será sempre um dos nossos!

Rui Bandeira

27 junho 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1856-1874)

O descontentamento com a administração da Maçonaria por Lord Zetland culminou em 1855 com a secessão de um grupo de maçons canadianos para formarem a sua própria Grande Loja. Isto foi seguido pouco depois pela formação da Grande Loja dos Maçons Mark Master.

Estes eventos fizeram parte de uma breve, mas profunda, crise política e social precipitada pele Guerra da Crimeia. Os ataques a Lord Zetland foram encabeçados por um jornal maçónico chamado Masonic Observer, escrito por um grupo de jovens e radicais maçons, entre os quais Canon George Portal e o Conde de Carnavon. Este defendia um maior papel para as províncias na organização maçónica. Estas reivindicações ligavam-se com as reformas da organização provincial, tais como a introdução dos Anuários Provinciais, reuniões provinciais mais frequentes e um papel mais activo para os Grão-Mestres Provinciais. Tudo isto pode ser visto como a exigência de um maior acesso à autoridade política e social por parte dos líderes sociais das novas cidades industriais. Isto foi impressivamente expresso em Birmingham, onde um certo número de ricos proprietários de fábricas e membros da elite social providenciaram pela criação de uma loja com o nome de Loja do Progresso, que iria reunir no Templo Maçónico, evitar o álcool e os ágapes e apoiar as virtudes da caridade, temperança e respeitabilidade. Idênticas iniciativas podem ser encontradas em muitas outras cidades industriais. Para referir de novo o exemplo de Bradford, a Loja da Esperança foi dominada por um grupo de ricos empresários, que entusiasticamente debatiam a melhor forma de atingir a Virtude Maçónica.

É nesta altura que a Maçonaria se torna uma avassaladora instituição da classe média. Convém notar que este parece ser um fenómeno intrinsecamente inglês. Na Escócia e na Irlanda, a presença significativa de elementos das classes trabalhadoras na maçonaria permanece até aos dias de hoje. Em Inglaterra, a importância da Maçonaria para a coesão das elites sociais nas cidades de província expressou-se na construção de Templos Maçónicos como parte integrante dos novos centros das cidades - em cidades como Manchester e Sheffield, localizados mesmo ao lado dos novos edifícios das Câmaras Municipais e outros edifícios públicos . Um dos muitos pontos de investigação futura acerca deste período fulcral da História da Maçonaria é verificar que efeito tiveram estas mudanças no papel da Maçonaria no Império Britânico.

Algumas das pressões junto da maçonaria Imperial eram diferentes e distintas - por exemplo, os Distritos indianos eram relutantes quanto à aceitação de não-cristãos nas lojas maçónicas e só vieram a admiti-los após determinações explícitas nesse sentido por parte de Londres. A relutância dos maçons coloniais da Índia em partilhar as suas lojas com os indianos propiciou um particular entusiasmo pelos trabalhosos de George Oliver e pelo desenvolvimento dos Altos Graus Crísticos - os indianos podiam integrar-se nas Lojas, mas só cristãos teriam acesso completo às glórias da Maçonaria, proclamava-se nos púlpitos das igrejas em Bombaim e por toda a Índia.


(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

26 junho 2007

Aniversário da Grande Loja

Decorreu este fim de semana a Sessão de Grande Loja do Solsticio de Verão. Esta sessão é coincidente com o Aniversário da Grande Loja, que este ano festejou o seu 16º.

Optou o M.R.Grao Mestre por dar maior enfase a questões de trabalho que a questões ludicas, indiciando assim o caminho que pretende ver percorrido.

Aproveitou a oportunidade para lançar a nova edição do ritual de aprendiz do R.E.A.A. que foi revisto, corrigido e melhorado. Ficou a informaçao que brevemente os demais ritos praticados terão também os seus rituais revistos e editados.

Seguiu-se jantar branco em ambiente muito agradavel.

Evidentemente que a organização de toda esta logistica teve o cunho das nossas queridas amigas Milu e Sandra, o que agradecemos.

Jose Ruah

Uma História da Maçonaria Britânica (1834-1856)

A crescente clivagem social entre a maçonaria e outras formas de organização fraternal foi impressivamente expressa em 1834, quando elementos de uma organização fraternal foram presos e julgados ao abrigo da Lei das Sociedades Proibidas, um evento que foi aproveitado por oficiais da Grande Loja para lembrar às lojas maçónicas que a excepção que isentava a Maçonaria dessa Lei continuava em vigor. No entanto, as mudanças sociais começavam a colocar grandes desafios à Grande Loja.

Para o Duque de Sussex, a capacidade da Maçonaria de reformar a sociedade expressava-se melhor na sua capacidade de transcendência dos conceitos cristãos. Para outros, como Robert Crucefix, a Maçonaria precisava de aumentar a sua acção social. Crucefix elaborou um projecto de criação de um lar para os maçons idosos e pobres, a que Sussex se opôs.

A publicação da Nova Lei dos Pobres em 1834 deu um novo impulso ao projecto de Crucefix: havia agora a possibilidade de os maçons poderem obter instalações para o Lar. Crucefix lançou a Freemasons Quarterly Review para ajudar a promover o seu projecto do asilo maçónico. A Freemasosn Quarterly Review rapidamente se tornou um veículo de divulgação de um novo tipo de Maçonaria, que se pode considerar ligado a um maior movimento de busca de reformas ocorrido naquela época. Crucefix defendia uma Maçonaria mais Evangélica e mais comprometida com as reformas sociais. Acima de tudo, defendia que a Maçonaria devia ser mais explicitamente cristã. Quanto a este aspecto, o maior aliado de Crucefix foi o George Oliver, um clérigo, que desenvolveu uma teologia cristã da Maçonaria, que exerceu enorme influência até ao final do século XIX. Crucefix concebia a Beneficência Maçónica em ligação a uma mais ampla promoção da auto-ajuda e segurança. Para Crucefix, a maçonaria destinava-se à respeitável classe média. A Freemasons Quarterly Review publicava angustiantes relatos acerca de maçons pobres, geralmente membros de lojas na Irlanda ou na Escócia, que se pensava usarem as lojas maçónicas como meio para tentarem obter trabalho - o tipo de prática censurável a que Crucefix pretendia por cobro.

O êxito de Crucefix na implantação da sua reforma da Maçonaria de classe média foi relativo - enquanto que a sua influência no ressurgimento de lojas dirigidas pelos seus seguidores era entusiasticamente exaltado nas páginas da Freemasons Quarterly Review, em cidades industriais como Bradford ou Sheffield o seu impacto foi mais limitado. Não vale a pena detalhar a titânica disputa entre Crucefix e o Duque de Sussex. Mas interessa mencionar que as alegações de que os debates em Grande Loja eram truncadamente publicados na Freemasons Quarterly Review levaram ao pormenorizado registo dos debates nas actas da Grande Loja...

O ponto importante a frisar é que a evidente clivagem que ocorreu em vida de Crucefix continuou após a sua morte em 1850, tendo o Grão-Mestre Lord Zetland sido sujeito a ferozes ataques à sua displicente administração da Obediência nas páginas do Freemasosn Magazine, publicação sucessora da Freemasons Quarterly Review. Crucefix traçou linhas divisórias no interior da Maçonaria cuja influência ainda hoje se faz sentir.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

25 junho 2007

Mestre de Cerimónias

No texto sobre o mandato do terceiro Venerável Mestre, fiz, a dado passo, referência ao ofício de Mestre de Cerimónias. Tendo sempre presente que este blogue se destina a ser lido por maçons e por não maçons, este é um bom pretexto para descrever mais um dos ofícios da Loja, após já ter feito referência aos de Venerável Mestre e de Vigilantes.

O ofício de Mestre de Cerimónias existe no Rito Escocês Antigo e Aceite (aquele que é praticado na Loja Mestre Affonso Domingues) e bem pode ser exercido por um mudo. Com efeito, não me recordo de existir uma única fala especificamente do Mestre de Cerimónias em qualquer das cerimónias rituais deste rito. Toda a actividade deste Oficial se faz pelo movimento e pelos gestos. No entanto, este ofício é um dos mais importantes do mencionado rito!

O Mestre de Cerimónias é o oficial de Loja que executa, dirige e conduz todas as movimentações em Loja. Sempre que um qualquer dos elementos da Loja deve circular nela, fá-lo acompanhado pelo Mestre de Cerimónias (melhor dizendo: seguindo-o). Sempre que a posição ou o estado de um dos objectos com significado ritual deve ser corrigida, quem efectua essa acção é o Mestre de Cerimónias. Cumprindo instrução nesse sentido do Venerável Mestre ou por decisão própria.

O Mestre de Cerimónias é o responsável por toda a circulação no espaço da Loja e, consequentemente, pela sua fluidez e correcção. É ele quem indica por onde se deve ir, para se fazer o quê.

O ofício de Mestre de Cerimónias é fundamental na execução do ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite, porque é ele quem marca os ritmos e, assim, quem agiliza ou soleniza cada cerimónia.

Ao contrário do que sucede, por exemplo, no Rito de York, o ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite não é executado de cor: os oficiais que o executam têm o apoio do texto relativo à cerimónia respectiva. Porém, o Mestre de Cerimónias, porque não tem falas, exerce o seu ofício sem o apoio do ritual escrito, o que o obriga ao profundo conhecimento do ritual de todas as cerimónias. Só bem conhecendo o ritual, pode ele estar preparado para executar uma determinada acção no exacto momento em que é adequado fazê-lo, por saber que, quando determinada frase é dita por alguém, se seguirá determinada acção que ele deve executar.

A experiência e o conhecimento do ritual do Mestre de Cerimónias pode fazer de uma qualquer cerimónia ritual um acto corriqueiro ou uma exaltante execução. O Mestre de Cerimónias tem que saber, que intuir, quando deve ser solene e pausado e quando deve acelerar o seu movimento - por vezes, em função da existência ou não de atraso na execução dos trabalhos...

O Mestre de Cerimónias só aprende o seu ofício de uma maneira: executando-o e corrigindo os erros e hesitações que lhe detectarem ou que ele próprio detectar. O Mestre de Cerimónias faz a função, mas também se faz na função.

O símbolo da função do Mestre de Cerimónias - símbolo que ele transporta sempre consigo! - é o bastão (ver figura), espécie de bordão ou vara de caminheiro com que ele marca o início dos seus passos e as suas mudanças de direcção e que é também utilizado, em conjunto com a espada de outro oficial, para executar uma abóbada cerimonial, designadamente sobre os mais importantes símbolos em Loja em momentos-chave da abertura e do encerramento dos trabalhos. Pode ser substituído por uma versão em tamanho reduzido, de cerca de cerca de meio metro, que, nesse caso, transportará sobre o antebraço, o que sucede normalmente em cerimónias a que se pretende conferir maior "pompa e circunstância".

Rui Bandeira

22 junho 2007

Uma História da maçonaria Britânica (1797-1834)

A política de realce do prestígio social da maçonaria sofreu um severo golpe em 1797/98, com a publicação de escritos alegando que a Maçonaria tinha sido usada como uma organização de cobertura por elementos jacobinos promovendo a Revolução Francesa. William Preston prontamente escreveu ao Gentleman's Magazine protestando a lealdade dos maçons ingleses às instituições estabelecidas. Mas as tensões assolavam a Maçonaria Britânica. Em Sheffield, lojas maçónicas cindiram, na sequência de desacordos sobre o uso das instalações maçónicas pela Sheffield Society para Informação Constitucional. Espiões apresentaram relatórios ao Ministério do Interior sobre actividades em lojas maçónicas. Uma loja maçónica em Brentford foi acusada de conspirar para assassinar o rei. A reacção das Lojas consistiu em energicamente protestarem a sua lealdade à Coroa. A Loja das Luzes, em Warrington, tornou-se ela própria num ramo da milícia local. Muitas lojas mudaram de nome, para enfatizar a sua lealdade e apego à Coroa.

Mas a Maçonaria recebeu um novo golpe com a descoberta de que rebeldes irlandeses tinham usado formas maçónicas de organização na preparação da rebelião irlandesa de 1797. O Governo propôs ao parlamento a proibição de reuniões à porta fechada. Finalmente, na sequência de um dramático debate parlamentar, acabou por ser aprovada uma excepção, em favor das lojas maçónicas, à Lei das Sociedades Proibidas de 1799. Esta legislação criou uma separação entre a Maçonaria e outras formas de organizações fraternais. Designadamente, os Oddfellows sofreram severas restrições na sua actividade.

Estas pressões sociais e políticas acabaram por influenciar a união entre as duas Grandes Lojas (a dos Modernos, ou primeira Grande Loja e a dos Antigos), ocorrida em 1813. Maçons de várias outras zonas da Europa ansiavam por que as Grandes Lojas em Inglaterra realmente conseguissem deter sobre os seus membros o controlo que reclamavam ter. Por exemplo, a Grande Loja da Suécia reclamava que as Lojas inglesas eram demasiado permissivas na admissão de marinheiros provenientes das classes baixas, que posteriormente criavam problemas quando se deslocavam ou regressavam à Suécia e tentavam juntar-se a lojas suecas. O Ministério do Interior Britânico exerceu pressões sobre a Grande Loja dos Antigos, para que esta banisse os ágapes após as reuniões maçónicas, pois muita conspiração podia aí decorrer.

Na negociação da união das duas Grandes Lojas, o Duque de Sussex (Príncipe Augustus Frederick, sexto filho de Jorge III, Grão-Mestre da Grande Loja dos Modernos em 1813 e subsequentemente primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Unida de Inglaterra - na foto que acompanha este texto) atendia a várias preocupações. Por um lado, pretendia garantir que não existisse o perigo de a Maçonaria ser usada por elementos sediciosos. Por outro lado, procurava criar uma Maçonaria apta para o Império , criando uma uniformidade na sua prática em todo o Império Britânico. Esperava ainda que a união das duas Grandes Lojas inglesas viesse a ser seguida pela união da Grande Loja Unida de Inglaterra com as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda, o que explica alguns detalhes da reforma do ritual maçónico ocorrida em função da união entre os Modernos e os Antigos.

O Duque tinha mais largas ambições com a sua reforma. Esperava que, consumada a união, iria também levar a cabo um maior serviço à Humanidade. Estava fascinado pela ideia de que a Maçonaria recobria os restos de um antigo culto solar, anterior ao Cristianismo e encarregou Godfrey Higgins, que fora o pioneiro dessa teoria nas suas publicações, de investigar mais as origens da Maçonaria. Higgins afirmou ter encontrado provas suportando a sua teoria. Com a ajuda de Higgins, Sussex sonhava em usar a Maçonaria para dar uma nova religião ao Mundo, o que ele pensava ser um avanço para a civilização.

Não obstante o seu radicalismo religioso, Sussex mostrou ser muito mais conservador em termos sociais e económicos. Insistiu em que os escravos libertos não podiam ser admitidos maçons, causando o caos na Maçonaria caribenha, que só foi ultrapassado em meados do século XIX. Não foi sensível às necessidades e características das novas cidades industriais, o que talvez tenha potenciado a secessão de um grupo de lojas no Noroeste de Inglaterra, após a união das duas Grandes Lojas. Em termos gerais, parece não ter havido interesse na divulgação da Maçonaria nas cidades industriais. Um exemplo característico parece ter sido o de Bradford, onde a loja maçónica local continuou a ser constituída em exclusivo por artesãos, que aparentemente buscavam manter nela o sentido de comunidade que o desenvolvimento industrial da cidade fizera desaparecer.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

21 junho 2007

O mandato do terceiro Venerável Mestre

No texto em que relembrei as circunstâncias da sua eleição, descrevi como a Loja foi convencida a eleger José C. C. para exercer o ofício de Venerável Mestre para o período entre Setembro de 1992 e Setembro de 1993, apesar do desacordo inicial de muitos dos obreiros, e como, tomada essa decisão, todos manifestaram o seu apoio ao candidato.

A forma como foi construído o consenso removeu um grande escolho no caminho do novo Venerável Mestre. Mas as circunstâncias adversas acumulavam-se e o mandato de José C. C. não podia deixar de se ressentir. A Loja estava exausta: quase dois anos de actividade ritual extremamente intensa, dedicados a iniciar, passar e elevar quase todos os obreiros da nóvel grande Loja deixaram marcas que inevitavelmente cobrariam o seu preço. A equipa que dirigira a Loja durante o mandato de José M. M. e que, com notável coesão, assegurara todo o trabalho ritual esrava cansada e dispersava-se. José C. C. teve de efectuar uma renovação do quadro de oficiais da Loja, recorrendo inevitavelmente a elementos menos experientes.

Com a condução das cerimónias rituais por elementos com menor experiência e, sobretudo, sem a coesão que a anterior equipa forjara, não podia deixar de se notar uma quebra de qualidade no trabalho ritual na Loja, particularmente um aumento de hesitações e de comissão de pequenos erros. Isto levou a duas consequências, uma penosa a curto prazo, outra rapidamente gratificante.

A penosa foi que muitos dos que tinham manifestado discordância perante a perspectiva de José C. C. ser Venerável Mestre da Loja, pensaram que se confirmavam os seus receios. Essa sensação e o cansaço acumulado fez com que muitos dos elementos até então preponderantes na Loja fossem paulatinamente reduzindo a sua comparência. Por outro lado, no final do mandato de José M. M. a Loja tinha decidido mudar os dias de reunião. Em vez de reunir dois sábados por mês, passou a reunir um sábado e uma quarta-feira em cada mês. A reunião à quarta-feira à noite demorou a entrar nos hábitos dos obreiros da Loja e foi no período do mandato de José C. C. que tal mais se sentiu. Durante esse ano, algumas quartas-feiras houve em que as sessões decorreram com o mínimo indispensável de presenças, algo a que a nossa pujante loja não estava, de todo, habituada...

A gratificante foi que a nova equipa resolveu adequadamente o problema da sua inexperiência: corrigiu erros, ultrapassou hesitações, ganhou coesão e, em poucos meses. a qualidade do trabalho ritual foi retomada. Particularmente importante, porque difícil, foi o papel do novo Mestre de Cerimónias.

Numa loja maçónica do Rito Escocês Antigo e Aceite, o rito praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues, toda a circulação no espaço do Templo é assegurada e dirigida pelo Mestre de Cerimónias, oficial que, assim, assume particular importância no ritmo e na correcção de todas as cerimónias rituais. A Loja estava habituada a trabalhar com um fentástico e experiente Mestre de Cerimónias, Miguel C. M.. A sua substituição não se antevia fácil e não o foi. Mas o caminho faz-se caminhando - e o cemitério está cheio de insubstituíveis... A seu tempo emergiu um novo e notável Mestre de Cerimónias que, à sua indesmentível qualidade no exercício do ofício, veio a aliar a sua permanente disponibilidade para partilhar os seus conhecimentos do ritual e ajudar os outros a bem exercitar a sua função. Hoje é, seguramente, dos maçons portugueses que mais sabe do Rito Escocês Antigo e Aceite e ainda continua a, sempre que é preciso, proficientemente exercer o ofício de Mestre de Cerimónias (ou qualquer outro em Loja, diga-se de passagem...). Quem habitualmente lê este blogue está familiarizado com o seu nome: José Ruah!

Mas aquele ano 1992/1993, com todas as dificuldades, com todos os obstáculos, foi passando, sem problemas de maior. Foi um ano de anti-clímax, de "serviços mínimos", em que, paulatinamente, a Loja recuperou fôlego, renovou o seu Quadro de Oficiais e viu uma nova geração de Mestres ganhar experiência. E aprendeu que as dificuldades se superam com trabalho e coesão. E isso foi um importantíssimo ganho para a Loja: a coesão que naquele ano aprendeu e obteve, nunca mais, até hoje, a perdeu. E tempos difíceis vieram em que essa coesão se revelou essencial. Ainda hoje a característica mais forte, mais distintiva, da Loja Mestre Affonso Domingues é, na minha opinião, a sua coesão, que se fortalece e floresce quando as adversidades surgem. José C. C. teve um papel importante no construir dessa coesão. Só por isso, merece uma grata referência na memória da Loja.

José C. C, um tímido afável, exerceu esforçada e interessadamente o seu ofício de Venerável Mestre. E, com a ajuda do seu Quadro de Oficiais, cumpriu a sua obrigação: entregou ao seu sucessor a Loja objectivamente melhor do que a recebeu, recomposta, mais experiente, pronta para, esgotado o ciclo do contributo ritual para a implantação da Obediência, definir o seu projecto.

Rui Bandeira

20 junho 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1763-1797)

1763 foi o ano em que terminou a Guerra dos Sete Anos, um degrau importante na emergência da Grã-Bretanha como uma potência mundial. Similarmente, a primeira Grande Loja inglesa assumiu-se como uma potência maçónica em tudo digna desse novo poder imperial. Por exemplo, na Suécia a primeira Grande Loja actuou em ligação com diplomatas britânicos para impedir a implantação de uma maçonaria de orientação francesa, como parte de um ataque global à influência política francesa no Norte da Europa.

A primeira Grande Loja arrogou-se ser a Suprema Grande Loja do Mundo e energicamente estabeleceu a sua influência em todo o Império Britânico, por exemplo através de acções como a iniciação do príncipe indiano Omdit-ul-Omrah Bahauder em 1779 em Madras (actual Chennai, capital do Estado indiano de Tamil Nadu). A primeira Grande Loja assinalou este evento com o envio de uma carta de congratulação escrita a tinta de ouro, acompanhada de uma cópia do Livro das Constituições soberbamente encadernada.

Porém, enquanto internacionalmente a primeira Grande Loja estendia a sua influência, internamente era minada pelo sucesso da Grande Loja dos Antigos (Ancients Grand Lodge) no recrutamento de membros entre as classes mais baixas. Acresce que a Grande Loja dos Antigos estabeleceu com as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda relações muito mais estreitas do que a primeira Grande Loja. Graças a Laurence Dermott, a Grande Loja dos Antigos forjou um estilo de Maçonaria que contrastava profundamente com a maçonaria formal e racionalista dos primeiros anos da primeira Grande Loja.

A reacção de algumas das personalidades mais influentes da primeira Grande Loja foi a de procurar realçar a respeitabilidade e o prestígio do seu estilo de maçonaria. Uma especial referência neste aspecto merece William Preston (foto que ilustra este texto), Venerável Mestre da Loja Antiguidade, uma das quatro lojas que formaram a primeira Grande Loja. Através de sucessivas edições das suas Ilustrações da Maçonaria, Preston defendeu uma reforma da Maçonaria, dando menos ênfase ao relacionamento social e centrando-se nos aspectos espirituais e filosóficos, mas acima de tudo apresentando a Maçonaria como uma actividade social de grande respeitabilidade e elevação. Encontramos uma abordagem semelhante no trabalho de Thomas Dunkerley na promoção da primeira Grande Loja fora de Londres, realçando o conteúdo espiritual da Maçonaria. Tanto Preston como Dunkerley procuraram levar a maçonaria a realçar a sua respeitabilidade, aconselhando a que as Lojas deixassem de se reunir em tabernas e passassem a fazê-lo em edifícios especialmente construídos para tal.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

19 junho 2007

O Mundo dá muitas voltas

Ai as voltas que o Mundo dá.
Vai mais ou menos para um ano a generalidade da imprensa,e a generalidade das pessoas era rápida a condenar o exercito de Israel pelas suas acções na faixa de Gaza e no Libano, com o intuito de reduzir as incursões dos terroristas e o disparo de rockets.
Acusou-se o exercito de Israel de atingir civis inocentes, etc etc.
Hoje e nos mesmos cenários Libano e Faixa de Gaza ocorrem situaçoes similares.
No Libano o exercito regular bombardeia campos de refugiados onde estaõ entrincheirados grupos radicais terroristas.
Em Gaza as milicias do Hamas perseguem e aniquilam as forças da Fatah. Sabe-se de execuções sumárias com tiros na nuca e outras atrocidades.
Em qualquer dos casos existem mortos civis.
Curiosamente os média olham com paternalismo para a desgraça. Não olham como se um conflito se tratasse mas como se uma catastrofe tipo tsunami fosse.
Tenho que concluir, fria e cruelmente, que quando Israel está envolvido há chacinas e massacres e morrem muitos civis. Quando a questão é entre facçoes rivais é uma causa natural e só há desgraçados que não tinham como escapar dessa monstruosa onda.
Ora aqui está a subtil diferença que os Media introduziram sem se dar conta.
É natural, é historico, que facçoes rivais dos palestianos se matem umas às outras, como tal o peso dado a estes eventos é a 16ª pagina do jornal e a noticia no fim do bloco de noticias internacionais.
É mais um "fait divers" tipo " Morreram mais 79 pessoas (um dia são Xiitas e no dia seguinte são Sunitas) num atentado em Bagdad ".
O mundo em geral vai dizendo que é preciso parar a coisa, mas não é tomada nenhuma acção nesse sentido pois até dá jeito que as facçoes rivais nao se entendam e se aniquilem. Dá jeito que o exercito regular do Libano use as muniçoes que a enferrujar para se poderem vender mais uns obuses e uns canhões.
Ora eu cá como até nem sou hipocrita, escrevo estas coisas.
Mas que estou absolutamente convencido que existem dois pesos e duas medidas para as atitudes do Mundo face a esta realidade que é o Médio Oriente, isso estou.

José Ruah

18 junho 2007

Uma história da Maçonaria Britânica (1737-1763)

A crise precipitada pelo apoio da Grande Loja ao Príncipe de Gales culminou em 1741, com a parada solene da Grande Loja em Londres a ser interrompida por tumultos. Em 1747, a Grande Loja sentiu-se incapaz de continuar a organizar a sia parada pública anual. Em 1751, formou-se a Ancients Grand Lodge (Grande Loja dos Antigos), reflectindo a crescente divisão do mundo maçónico.

Em Inglaterra, esta crise de autoridade da primeira Grande Loja evidentemente que conduziu a uma saída de muitos elementos. No entanto, nessa mesma altura a Maçonaria difundia-se para além das Ilhas Britânicas. Benjamin Franklin tinha impresso uma edição americana do Livro das Constituições em 1734 e, por volta de 1740, foi instalado Grão-Mestre Provincial de Filadélfia.

Entretanto, à medida que a Maçonaria se espalhava pelo Mundo, tornava-se uma maior fonte de conflitos. As discordâncias entre as Maçonarias francesa e inglesa, por vezes reflectindo o explícito envolviento jacobino, criou tensões entre as Grandes Lojas de França e de Inglaterra. Por outro lado, a suspeição papal, que resultou numa série de bulas papais contra a Maçonaria a parir de 1738, tornaram a Maçonaria uma actividade arriscada na Europa Continental. O livro, que foi um êxito de vendas, descrevendo os tormentos de John Coustos às mãos da Inquisição Portuguesa contribuiu para dar ênfase a uma imagem da maçonaria Britânica anti-católica, o que também é ilustrativo de como a Maçonaria se tornou uma instituição com uma marca política e social.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

15 junho 2007

Se a moda pega ou a lei passa...

Tamos metidos num molho de brocolos !!!

Refiro-me claro aos autarcas arguidos. Há uns tempos atrás abordei este assunto, hoje retoma actualidade.

De repente ficamos a saber ( o que já sabiamos mas agora de forma oficial) que uma quantidade de autarcas são arguidos nos mais variados processos.

Ficamos a saber que o Governo pretende aprovar legislação que obrigue autarcas arguidos a suspenderem o mandato.

Já sabiamos que alguns partidos são inflexiveis (mais ou menos conforme lhes convêm e dá jeito) nas suas opções e forçam os seus autarcas a suspenderem o mandato se forem constituidos arguidos.

Se a moda pega ou a lei passa podemos de repente decapitar o poder autarquico.

Podemos cair no ridiculo de um cidadão acordar mais mal disposto (eventualmente vitima de uma fortissima dor de cabeça sofrida pela sua mulher na noite anterior) e decidir apresentar queixa crime contra o Presidente da Camara da localidade onde vive porque o cão do vizinho defecou na via publica e os serviços camarários nao foram suficientemente diligentes a limpar o dito dejecto que se lhe entranhou no sapato.

Já imaginaram que não gostam do Presidente da Camara ou de um vereador porque ele não autorizou aquela obra que até não tinha o projecto como deve ser, nem sequer qualificava para tal, já imaginaram ? Já !!!

Pois poderão vingar-se. Basta apresentar uma queixa qualquer que faça com que o dito seja constituido arguido e pronto aí está o homem suspenso !!!!

Cá estou para ver onde isto vai chegar.

Continuo a acreditar na presunção de inocência. Isto quer dizer que quando for demosntrada a culpa então que haja a perca de mandatos e que se mandem os prevaricadores para a cadeia.

Até lá .... um pouco de bom senso não faz mal a ninguém.

José Ruah

14 junho 2007

Centro Cultural Malaposta


Como alguns sabem vivo em Odivelas, e já lá vão 40 anos que fiz esta emigração, o que explica o carinho com que vejo a evolução destas "terras do fim do mundo" (há 40 anos, eram...).
Acontece que "cultura" não é própriamente uma filha estimada do Estado ou das entidades governamentais, nem pelo exemplo dos interesses pessoais e muito menos pelo interesse público demonstrado.
Ora Odivelas escapa a este vazio de interesse.

O Centro Cultural Malaposta ("A Malaposta"...) trata de corrigir, cá pelo burgo, as faltas culturais nacionais, mantendo tempos de programação com 2 anos de distância, uma actividade permanente, variada e, por vezes, ultrapassando em muito a sua área de actuação específica como foi exemplo a "BIENAL DE CULTURA LUSÓFONA" que transformou Odivelas na Capital da Lusofonia Universal durante um mês.

Ontem foi inaugurada mais uma exposição para cuja visita deixo aqui um convite.
É Victor Belém com os seus projectos, objectos e instalações ou, por outras palavras, é pôr à vista desarmada de todos, estados de espírito de alguns momentos do pós 25/Abril/74.
A exposição não é grande (o espaço é o que há... e não estica !) mas vale a pena.
"Pedra no Sapato" de 1985, "Pátria Prisioneira" de 1996 ou o "Porão B" de 2006 (já exposto durante a Bienal da Lusofonia) são alguns trabalhos para serem vistos e revistos atentamente.
Deixo-Vos aqui alguns "rebuçados" para incentivar o Vosso entusiasmo.
Pátria Aprisionada - 1996


Pedra no Sapato- 1985

Natureza Morta - 1994 Impressão Digital - 1975/89

Filho da Pátria Cortado ao Meio - 1985 Porão B - 2006
Aqui fica o desafio.
Entre todos confesso a minha predilecção pelo "Porão B", estória da história dos portugueses que andaram de barco entre a Europa e as colónias.
JPSetúbal

Dia Mundial do Dador de Sangue: Obrigado!

Hoje assinala-se o Dia Mundial do Dador de sangue, que foi instituído pela Assembleia de 2005 da Organização Mundial da Saúde. É assinalado nesta data, por a mesma ser a data de nascimento de Karl Landsteiner, prémio Nobel da Medicina, que descobriu o sistema de grupos sanguíneos ABO, permitindo assim a transfusão de sangue.

Esta efeméride destina-se também a assinalar o reconhecimento pelos dadores de sangue.

E, neste aspecto, todos os dadores de sangue de Portugal bem merecem os parabéns que o Instituto Português do Sangue muito justamente lhes endereça, já que, no ano passado, Portugal atingiu a auto-suficiência nas reservas de sangue, graças às mais de 360.000 unidades de sangue colhidas, equivalentes a 39 dádivas por mil habitantes. O número ideal de dádivas por milhar de habitantes é de 40 a 50 por ano.


Em Portugal existem presentemente 400.000 dadores de sangue, segundo o número de cartões emitido pelo Instituto Português do Sangue. Só em 2006, esse Instituto registou 298.000 novos dadores!

São as mulheres e os jovens quem mais contribui para as reservas de sangue a nível nacional.

A todas e a todos os dadores, um muito grande

OBRIGADO!

A todas e a todos os dadores, o desejo de que continuem a efectuar as suas dádivas, se possível mais do que uma por ano. O ideal são 3 dádivas anuais pelas mulheres e 4 anuais pelos homens.

BEM-HAJAM!

Rui Bandeira

12 junho 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1717-1737)

Continua-se a divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield.


É no contexto de uma reacção contra a existência do grupo dos Aceites na Companhia dos Maçons de Londres que se insere a criação da Grande Loja em 1717. Esta organização reclamou a jurisdição sobre os construtores de Londres e arredores e um dos seus objectivos nos primeiros vinte anos da sua existência foi a organização e articulação de uma estrutura administrativa de controlo sobre as Lojas existentes nessa área, designadamente com a emissão de cartas-patente das Lojas pela Grande Loja e a exigência desta de que aquelas obedecessem às regras por si instituídas. Paralelamente a este controlo administrativo. foi desenvolvida uma apreciável actividade cultural e social, para além de um alinhamento político no apoio ao Príncipe de Gales contra seu pai, o rei Jorge II. Por outro lado, exerceu um forte esforço no estudo e divulgação da geometria, em conexão com os desenvolvimentos do pensamento científico da época. Teve também um papel importante ao nível estético, pois as primeiras actividades da Grande Loja estiveram explicitamente ligadas ao suporte da arquitectura vitruviana, em oposição à tradição gótica.

Esta Maçonaria inovadora não fazia distinções religiosas, como se prova pela existência de Judeus e huguenotes nas primeiras Lojas. Mas a crescente insistência numa particular agenda política, cultural e social veio a revelar-se fonte de litígios. Tal expressou-se, designadamente, no abandono de William Hogarth, por volta de 1736. Por outro lado, ocorreram também tensões com os maçons de outras zonas das Ilhas Britânicas, como por exemplo com York, onde o historiador Francis Drake reclamava que a verdadeira origem da Maçonaria residia naquela região, A criação de Grandes Lojas na Escócia e na Irlanda também ocorreu em reacção às pretensões hegemónicas da Grande Loja de Londres.

As tensões decorrentes da criação, implantação e pretensões hegemónicas da Grande Loja de Londres agudizaram-se com a Iniciação, em 1737, de Frederick Lewis, Príncipe de Gales. Este acto abertamente político da Grande Loja de Londres inaugurou um período de grande tensão e cisão.

Rui Bandeira

11 junho 2007

Boas noticias

Em Fevereiro Rui Bandeira no seu post Carta a um Irmão deu-nos a conhecer que a filha de um Irmao da Loja tinha graves problemas de visão. Problemas que foram detectados alguns dias após o nascimento.

Este Fim de Semana este Irmão usando da palavra no momento apropriado e agradecendo a todos informou que a sua filha tinha recuperado a visão a praticamente 100% num dos olhos e que no outro a evolução era muito boa e que se esperava que recuperasse também.

Foram alguns meses de angustias para a familia proxima do Irmão mas com felicidade podemos dizer que as coisas correram bem.

Correram bem porque R&G (chamemos-lhes assim) não desistiram não se conformaram e foram para a guerra. Correram bem porque o sistema de saude portugues ( hospitais publicos) tem equipamento e pessoas qualificadas tal qual como no estrangeiro. Correram bem porque também o Grande Arquitecto assim o quis.

PAra R&G e evidentemente para a filha, que vivam até aos 120 anos com saude e prosperidade.

José Ruah

06 junho 2007

Transparências 2

O nosso JoséSR passou a assinar José Ruah, conforme Ele próprio disse, na sequência na notícia da Sábado, abandonando o “pseudónimo” que eu continuarei a usar sempre que a Ele me refira.
Tal como digo num comentário, o “SR”, muito mais do que abreviatura do nome é a abreviatura do “Senhor” que ele é na vida, dentro e fora da Maçonaria.
O Rui já antes era Rui Bandeira e assim continua, naturalmente.
E eu mantenho o JPSetúbal que foi a “alcunha” (na linha será um “petit-nom”…) que me foi colada ao meu “Eu” quando em 1973 entrei na Xerox.
Naquela casa, na altura pelo menos, todos os colaboradores, desde o “director geral” ao “paquete dos cafés”, eram conhecidos por 3 letras, iniciais dos nomes, atribuídos por uma lógica que nem sempre era coerente, e com exclusão total e absoluta de quaisquer outras designações, honoríficas ou profissionais.

Em 1973 esta forma de relacionamento foi uma lição de democracia, ainda mais significativa por sair de uma multinacional americana, naturalmente apelidada então de “capitalista, inimiga do povo…”.
Bem, mas o tema não é esse, e o que aconteceu é que a partir daquela data passei a ser o “JPS”, JPSetúbal quando era necessária alguma clarificação das iniciais, e assim fiquei até hoje.
Assim permanecerei por hábito e vontade própria.
Com Sábado ou sem Sábado, com denúncias ou sem denúncias.
Filho de Mário Calvário Setúbal e de Joana Queiroz de Paiva, o primeiro herói na guerra de 39/45 e a segunda “dona de casa”, como se dizia e era uso na época.
Já agora e só para terminar esta “transparência”, tenho 5 (cinco) netos, liiiiindos !

Como já é “amanhã” e tenho que me levantar cedo… boa noite a todos. Durmam bem e descansem.



JPSetúbal

05 junho 2007

Transparências


Há algum tempo, 1 ano e tal, exprimi a minha opinião sobre o “estado da arte” no relacionamento da Maçonaria com o mundo profano.
Desde sempre pensei que o “secretismo” maçónico deveria ser equacionado de maneira a que, sem perder a condição de organização discreta, pudesse transmitir à sociedade envolvente a verdade dos sentimentos, da vontade, da actividade e dos objectivos dos maçons.
A curiosidade legítima do mundo profano sobre o que se passa na Maçonaria origina, se não tiver resposta adequada, toda a sorte de hipóteses e de “deitar a adivinhar”, que levam ao surgimento de ideias fantasistas, sistematicamente muito afastadas da realidade.
É frequente ser confrontado com a opinião de que a Maçonaria não é senão uma organização secreta, qual antro de piratas, destinada à protecção dos interesses próprios, à conquista do poder político e económico para os seus membros, com ligações obscuríssimas aos centros de decisão nacionais e internacionais.
Devo dizer que foi muito por esta razão que dei todo o apoio que me foi possível ao Irmão Rui Bandeira quando, há 1 ano e picos, me falou na criação de um blogue e entusiasmou para este projecto, a mim e ao JoséSR.
Pareceu-me desde logo que poderia ser a oportunidade que eu procurava para dizermos de nossa justiça sobre o que é a nossa vida como Maçons e da Maçonaria como organização orientada para o bem do Homem, para o aperfeiçoamento das relações humanas, para a divulgação da Paz entre os Povos, sem discriminação de nenhum tipo, aceitando como iguais todos, mas mesmo todos, os homens que queiram pôr o interesse da Humanidade acima dos seus interesses privados.
A Paz, a Alegria e a Força que são os três vectores base da nossa actividade como maçons devem poder ser explicadas ao mundo profano de maneira a que a falta de informação não possa ser aduzida como desculpa para muitas das mentiras que circulam a nosso respeito.
Verdade seja que grande parte dessas mentiras são publicitadas e postas a circular por entidades que fazem o que podem para manter o obscurantismo nas mentes dos seus seguidores, essas sim, com a certeza de que se a verdade completa sobre a sua actividade for realmente conhecida perderiam grande parte da influência que têm no mundo.
Já escrevi, mesmo aqui no blogue, que a Maçonaria não é uma organização perfeita de homens perfeitos.
Pelo contrário, reconheço, reconhecemos, que na Maçonaria encontramos bons e maus maçons, tal como em todas as organizações de Homens.
Talvez numa organização divina seja possível ter só “bons”, mas esse não é o caso da Maçonaria, que pretende caminhar sob orientação divina mas que é uma organização de humanos e como tal, com bons e maus.
É inevitável !
Estamos convencidos que a percentagem de homens bons é bem superior à de homens maus, entre os que integram esta irmandade, e essa é mais uma razão para não haver necessidade de esconder ao mundo profano muito do que se passa internamente.

Acontece que a revista “Sábado” tem feito o possível para “sensacionalizar” o que não tem nada de sensacional, e temos pena que a Sábado tenha que ganhar o seu dinheiro com o aproveitamento sensacionalista de informações que obtém, fatalmente, por processos ilegítimos.
Ilegítimos na origem pela forma como são obtidos ou ilegítimos no final pela forma como são publicados.
Neste processo alguém está a faltar a compromissos assumidos, muito provavelmente sob juramento, e isso é um péssimo sinal quanto à estatura humana dos intervenientes.

Na 5ª feira passada saiu mais uma notícia (4 ou 5 páginas com grande chamada na capa) sobre a vida interna da Maçonaria.
Da 1ª vez, há 1 mês (?), referi-me a uma estranha caixa informativa complementar à notícia, porque as dissonâncias nela contidas eram tão grandes que alguma coisa teria de ser esclarecida sobre o assunto.
Desta vez o conteúdo global da notícia é bastante escorreito no que toca aos rituais descritos, sem ser exaustivo nem perfeito é no entanto um texto quase verdadeiro.
Não refere a existência de vários rituais, nem a qual ritual pertencem os procedimentos ali divulgados.
Há alguma confusão entre o que é a GLLP/GLRP, a Casa do Sino e o GOL, assim como algumas imprecisões quanto aos nomes e sua relação com as Lojas respectivas, mas de modo geral não está mal.
Ou melhor, não estaria mal caso a informação publicada fosse obtida por métodos legítimos.
Como não foi, esse facto envenena desde logo todo o processo.

O extraordinário da coisa está em que os interessados têm à disposição toda aquela informação, e muita mais, sem sensacionalismo, sem “gafes” ou incorrecções em centenas de locais da “net”, sendo que um deles está aqui mesmo, neste blogue.
Basta ler o que Rui Bandeira tem escrito, principalmente ele, sobre a vida da Maçonaria, práticas e usos, para se ter uma colecção de informação fidedigna, validada e legitimamente divulgada, muito mais profunda e completa do que a da “Sábado”.
O que é que falta a esta informação e que a “Sábado” completa ?
São os nomes dos Ministros que são ou foram, dos Secretários que são ou foram, dos Directores que são ou foram, dos Maçons que são ou foram…
Essa é a informação que realmente falta nos textos do Rui.
E falta por 2 razões principais:

1- porque na grande maioria dos casos não sabe se fulano A ou B é maçon;
2- porque se soubesse não os publicaria, e aqui também por duas razões:

2.1- porque essa divulgação é totalmente desinteressante;
2.2- porque não estaria autorizado a fazê-lo.

Por caminhos nada louváveis e fugindo completamente ao seu objectivo (digo eu), a “Sábado” acabou prestando um bom serviço à causa da Maçonaria.
Não foi essa a intenção, garantidamente, mas está a ajudar a limpar algumas teias de aranha.
Se conseguir distinguir, dentro da confusão informativa das várias obediências, quem é quem, então direi mesmo que prestou um muito bom serviço à causa.
E já agora ponham lá também no que é que os maçons gastam o seu tempo.
Talvez dê algum trabalho adicional aos jornalistas ou talvez os jornalistas (aqueles) não estejam interessados em esclarecer por completo esse “quem é quem”, mas isso seria a cereja em cima daquele bolo.
E se os textos forem correctos, sem entrelinhas nem ambiguidades, todos ficarão com ideias
claras quanto ao verdadeiro papel da Maçonaria na sociedade e com o que a sociedade pode contar da parte dos Maçons.

Mas insisto, não vale a pena gastar dinheiro com o preço da revista.
Aqui no blogue está tudo o que interessa, e é de borla.

Apetece-me trazer ao texto o “ovo de Colombo” e a transparência do cristal, assim, tudo junto.






(foto de Gun Legler)

JPSetúbal

04 junho 2007

Balanço

Este é o primeiro texto do segundo ano deste blogue. Parece-me adequado que seja um texto de balanço do blogue, desde o dia 4 de Junho de 2006, em que o JPSetúbal publicou um texto, ainda com o título CHEGÁMOS fora do sítio (pois é, fomos aprendendo a lidar com isto da blogosfera à medida que... íamos fazendo).

365 dias passados, publicámos 375 textos. Desses, 191 (51%) foram publicados por Rui Bandeira, 93 (25%) por José Ruah, 81 (22%) por JPSetúbal, 5 (1%) por PauloFR e os restantes 5 (1%) por Fernão de Magalhães (2, um em Junho, o outro em Julho de 2006 e depois... entrou de férias prolongadas!), Erato (2 em Julho de 2006) e Templuum Petrus (1 experiência em Julho de 2006). Até agora, portanto, 7 Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues publicaram aqui textos. Mas só três o fazem com regularidade, tendo publicado textos todos os meses (Rui Bandeira, José Ruah e JPSetúbal). PauloFR tem publicado textos ocasionalmente (três em Julho de 2006, 1 em Janeiro e outro em Abril de 2007.

O mês em que Rui Bandeira publicou mais textos foi o de Março de 2007 (21) e aquele em que menos publicou foi em Agosto de 2006 (7). Quanto a José Ruah, teve o seu pico de produção em Julho de 2006 e Janeiro de 2007 (19 textos em cada um desses meses) e esteve falho de inspiração em Outubro e Novembro (apenas um texto em cada um desses meses). Finalmente, JPSetúbal teve a pena mais ocupada também em Julho (14 textos) e deu-lhe mais descanso em Novembro de 2006 e Abril de 2007 (3 textos em cada um desses meses).

O mês em que foram publicados mais textos foi o de Julho de 2006 (56, com a curiosidade de esse ter sido também o único mês em que os 7 elementos publicaram textos no blogue); aqueles em que menos textos foram publicados foram Novembro de 2006 e Abril de 2007 (23 em cada).

168 dos textos publicados receberam comentários (45% do total - nada mau!). Até ao momento em que escrevo este texto, o texto que mais comentários mereceu foi o recente (de 31 de Maio) "Não que me preocupasse, mas...", em que José Ruah publicou a sua identidade (11 comentários).

Só foi instalado contador de visitas no blogue em 9 de Julho. Desde então, e até ao final do dia de ontem, recebemos 26.773 visitas, com a particularidade de o seu número ter aumentado significativamente a partir do mês de Março, no qual tivemos mais visitas (4.053) do que no conjunto de todos os meses anteriores (3.783). E em Abril quase duplicámos o número de visitas em relação ao mês anterior (7.033). E em Maio voltámos a ver o número de visitas a aumentar (8.193). Quanto a Junho, no momento em que escrevo, já contabilizámos 818 visitas (em 4 dias incompletos!), mais do que em qualquer dos meses de 2006, excepto Novembro (906).

41% das visitas chegam do Brasil (10.984). De Portugal registamos 6.483 visitas (24% do total). 3% das visitas foram oriundas dos Estados Unidos (826). O top-25 dos países de onde recebemos visitas completa-se, por ordem descendente do número destas, com França, Suíça, Itália, México, Japão, Alemanha, Canadá, Moçambique, Bélgica, Argentina, Holanda, Espanha, Grã-Bretanha, Angola, Colômbia, Austrália, Uruguai, Luxemburgo, Peru, Hungria, Roménia e Chile.

Os três textos directamente mais vezes acedidos foram O sítio das tatuagens maçónicas, Cinco motivos para NÃO SER maçon e Simón Bolívar, Revolucionário e Maçon.

Os três marcadores mais consultados foram maçonaria, energia e Acácia.

As três palavras-chave que mais visitantes trouxeram ao blogue foram "imagens de tatuagens", "maçonaria" e "pedra madeira".

As 26.773 visitas originaram 53.404 páginas acedidas, isto é , em média cada visitante, além da página de acesso, consultou uma outra.

Estes números superam todas as nossas expectativas. Nunca pensámos que um blogue temático como este merecesse tanto interesse de tantos. A todos o nosso Bem Hajam. Procuraremos, no segundo ano do blogue, continuar a merecer o vosso interesse.

Rui Bandeira

01 junho 2007

A Santificação do Homem

O post de hoje, para desanuviar, é sobre um tema um pouco diferente da maçonaria , ou talvez não.

Reproduzo aqui uma comunicação que apresentei há umas semanas atrás no coloquio:
" Turres Veteras X - a Historia do Sagrado e do Profano"

O Texto foi escrito para ser lido e por isso perdoarão alguma incorrecção. As citações são extridas do Livro " Torá" editado recentemente pela editora Sefer do Brasil e consequentemente estão escritas em português do lado de lá.


A Santificação do Homem


Quando me foi lançado este desafio, de vir aqui falar sobre o Sagrado e o Profano do ponto de vista do judaísmo, aceitei sem saber bem o que iria dizer sobre o tema.

É importante lembrar que não sou Rabino nem estudioso de matérias religiosas pelo que corro o sério risco de vos apresentar algo que fique muito aquém das expectativas, mas é a minha visão do assunto.

O judaísmo enquanto religião e forma de vida visa sempre a santificação do homem numa perspectiva de o tornar mais próximo de Deus.

A religião judaica prescreve mandamentos e regras que se integralmente cumpridas representarão o respeito máximo por Deus e pela sua Santidade, e que não cumpridas farão do homem um profano que ao contrario do seu irmão cumpridor, no dia do julgamento poderá ser considerado como indigno de se manter vivo.

Todavia o homem está sempre a tempo de se arrepender e retornar ao caminho da santidade com isso glorificar Deus. Este arrependimento, que pode surgir a qualquer altura, está muito associado com o dia do Kipur. Dia de penitencia e arrependimento e também o dia em que cada judeu se apresenta perante Deus e lhe apresenta contas do que fez, esperando que o seu nome seja inscrito por Deus no Livro da Vida e que o seu arrependimento seja aceite.

Neste sentido e de forma a realçar a importância do percurso do homem, de cada homem, no sentido a elevação espiritual decidi ir buscar exactamente os trechos da Torá que explicam e regulamentam o dia de Kipur e de lá extrair o que me pareceu fundamental para ilustrar a perspectiva judaica sobre o sagrado e o profano, do ponto de vista do homem.

Uma breve explicação prévia, a Torá é composta por 5 livros (Bereshit – Génesis, Shemot – Êxodo, Vaycrá -Levitico, Bamidbar – Números e Devarim – Deutronomio) e constitui a lei fundamental do judaísmo, a lei dada por Deus a Moisés no deserto. Nestes livros poderemos encontrar desde a criação do Mundo aos preceitos alimentares e regulamentos familiares. Estes livros são lidos em capítulos semanais de maneira a que num período de um ano todos os livros tenham sido integralmente lidos e se recomece.

Estes são os livros de base do que se convencionou chamar de Bíblia.

Para ilustrar o tema de hoje escolhi algumas passagens e respectivos comentários, que penso poderão ajudar a explicar o que o judaísmo pensa e preconiza. Estas passagens estão incluídas no capítulo que regula o Dia de Kipur.


“... E tomarás os dois cabritos e os farás ficar diante do Eterno à porta da tenda da reunião. E lançará Aarão sobre os dois cabritos, sortes, uma para o Eterno e outra para Azazel. E aproximará Aarão o cabrito sobre o qual caiu a sorte para o Eterno e o oferecerá como oferta de pecado. E o cabrito sobre o qual caiu a sorte para Azazel colocar-se-á vivo diante do Eterno, para expiar por meio dele, para envia-lo para Azazel no deserto.


E colocará Aarão suas duas mãos sobre a cabeça do cabrito vivo, e manifestará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, todos os seu delitos e todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do cabrito e o enviará, por mão de um homem designado para isso para o deserto. E levará o cabrito todas as iniquidades à terra desabitada e deixará o cabrito ir pelo deserto… “

Vaikrá (Levitico) 16: 7 a 10 e 21 a 22

Sobre este trecho da Torá o Rabino Mendel Diesendruck, que na década de 50 do sec. XX foi Rabino em Lisboa escreve o seguinte:


“ Sortes: os nossos exegetas interpretam esta cerimónia de sortear os cabritos como indicação simbólica para os dois diferentes elementos humanos e a sua maneira distinta de encarar os problemas da vida. Um encarna com o seu estilo de viver e pela pureza das suas acções e pensamentos aquela máxima gravada em muitas sinagogas com letras douradas por cima da Arca Sagrada, Shiviti Hashem Lenegdi Tamid (Tenho o Eterno sempre à minha presença), ou seja tudo o que eu faço e pretendo fazer é orientado e guiado por uma única motivação: Viver sempre dentro das prescrições da Torá, amar a Deus, o meu povo e a humanidade inteira; e para concretizar este meu ideal sublime não receio qualquer sacrifício.

Este elemento humano que representa pela nobreza do seu carácter a perfeição da criação Divina é o símbolo de “ para o Eterno” .

Mas existe também um elemento radicalmente oposto. É aquele ser humano cuja vida é claramente profana, cujos interesses nesta vida são de um materialismo vil, uma abjecção grosseira; o tipo de ser humano cujo maior ideal é o seu próprio ego, para o qual o meio ambiente não existe, porque ele é incapaz de dar algo de si.

Este tipo de homem vive na auto ilusão de ser um elemento útil à sociedade mas quem for capaz de deitar um olho para dentro da sua alma vazia e pobre, verificará facilmente que ele, coitadinho, não é mais que um bode isolado num deserto. Pois nós todos sabemos muito bem que existem não apenas desertos geográficos, mas também – e o que é mais lamentável – desertos espirituais, intelectuais, assim como existem climas que não dependem somente das condições atmosféricas, mas sim do calor das nossas almas e dos sentimentos de nossos corações. Este segundo elemento também não se importa em fazer toda a espécie de sacrifícios para alcançar o seu fim, mas é o fim próprio que distingue estes dois carácteres.

Enquanto para o primeiro o alvo é “ para o Eterno “ , a meta do segundo é orientada “ para Azazel “.
A cerimónia de sortear os bodes, oficiada no dia mais sagrado e pelo homem mais sagrado (o sumo-sacerdote) é talvez a mais bela e mais significativa demonstração de que o acaso pode ser um factor decisivo quando se trata de carneiros inocentes, mas nunca em relação ao homem responsável pelos seus actos. “

Mais à frente pode ler-se na Torá:

“… E falou o Eterno a Moisés dizendo: “ Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e lhes dirás: Santos sereis, pois santo sou EU o Eterno vosso Deus….” …”
Vaikrá (Levitico) 19: 1 e 2


A este propósito o Rabino Mendel Diesendruck escreveu o seguinte:

“Santos Sereis: Segundo Rashi (comentador mais importante da Torá) isto significa – “ afastai-vos de toda a espécie de imoralidade e da transgressão” – “

O Rabino Diesendruck retoma escrevendo:

“ O Judaísmo não conhece nenhum outro “santo” além de Deus. Em que consiste então a substancialidade de Deus? No “ser diferente”, no “ser fora” de toda a natureza e por isso na liberdade. A opinião que Deus Sive Natura é uma flagrante negação da doutrina básica do judaísmo. Fora da natureza é o reino da liberdade. “Santo” significa livre no grau mais transcendental. O homem nunca é fora da natureza; para o ser o humano só pode prevalecer sempre a “aspiração à santidade “, aspiração cujo objectivo é livrar suas acções de tudo o que é terrestre, material, fútil, mesquinho e profano, uma aspiração a que os seus sentimentos e desejos sejam determinados o máximo possível pela sua consciência divino-espiritual…”

O comentário é concluído com a seguinte afirmação:

“ Ser criado à imagem de Deus não é um facto consumado, mas sim uma elevada missão, uma potencialidade em constante desenvolvimento. “

Na mesma edição da Torá que utilizei e a propósito da mesma passagem os editores juntam o seguinte comentário:

“ Santos sereis: O homem não precisa de executar nenhum acto fora do comum ou feito extraordinário para ser santo. Em todas as esferas da vida o “fazer” e o “não fazer” de cada indivíduo é que o tornam santo. A singularidade do povo de Israel está no facto de que a vida e a santidade não são dois domínios separados. Quem deseja ser santo não precisa de se afastar da natureza, da vida, retirar-se da sociedade para ir viver no deserto, fechar-se asceticamente dentro de muros ou ir viver isolado para a floresta. Todos nós podemos ser “ um reino de sacerdotes e um povo santo” (Êxodo 19:6), e isso não se dará pelo afastamento ou renúncia da vida, mas sim através da santificação da vida, de acordo com o conselho: “ Reconhece-O em todos os teus caminhos” (Provérbios 3:6).”

Como podemos perceber destes comentários e do que atrás foi dito, no judaísmo é dado um especial enfoque ao homem como o decisor da santidade.

O Judaísmo preconiza valores e preceitos que permitem, se seguidos, ao homem tornar-se mais puro e mais santo, pois aproximam-no de Deus.

O homem tem a capacidade de progredir no caminho da sacralização por acção do seu livre arbítrio e vontade, cumprindo os mandamentos e preceitos e assim aproximando-se do seu Criador, à imagem do qual foi feito.

Este tema é no fundo uma das bases da sacralização pois podemos interpretar que o ter sido feito à imagem e semelhança quer dizer que lhe foi concedido raciocínio e poder de decisão.

Consequentemente o homem, ao contrário dos animais que agem por instinto, pode separar o bem do mal e pode escolher ser mais “santo” fazendo sobressair a centelha Divina que lhe foi incutida, ou por outro lado decidir uma vida mais profana.

É todavia importante perceber e diferenciar esta santificação do homem na religião judaica, da santificação / beatificação na religião Cristã. No judaísmo a Santificação é interior e exclusiva de quem segue o caminho dos mandamentos e será apenas reconhecida por Deus. Não existirá em caso algum a veneração de um homem por parte de outros homens.

Concluo com uma incerteza e uma certeza. A incerteza de vos ter trazido algo de utilidade, a certeza de ter aprendido com este trabalho e desta forma ter progredido um ínfimo passo no meu melhoramento.

Todavia se porventura a minha incerteza se tornar certeza então tenho que agradecer-vos pela oportunidade que me deram de dar mais um pequeno passo, neste caminho que todos deveremos levar no sentido da santidade.

Apenas com o trabalho interior de cada um independentemente da religião que seguimos poderemos de forma afirmativa progredir. A nossa progressão individual terá seguramente como consequência a progressão dos nossos semelhantes em direcção a um futuro que esperamos melhor.


José Ruah

Uma história da Maçonaria Britânica (1583-1717)

Prossseguindo com a divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott por ele apresentado na sua lição de despedida do Center for Research into Masonry da Universidade de Sheffield:

1583-1717


Em 1583, à fase do sindicalismo sucedeu a que David Stevenson chamou de “Século da Escócia”. Em 21 de Dezembro de 1583, William Schaw foi nomeado Mestre das Obras pelo rei James VI da Escócia. Dois dias mais tarde, surgiu um novo manuscrito, contendo, além do mais, cópias das lendas constantes primeiramente nos manuscritos de Regius e de Cooke. Esse novo manuscrito é hoje conhecido por Old Charges (Antigos Deveres). Circulou primeiramente entre trabalhadores de construção (maçons) escoceses. Schaw reformou radicalmente a organização dos maçons escoceses, através de dois conjuntos de regras aprovados em assembleias de maçons escoceses, em 1598 e 1599. Essas reformas incluíram, designadamente, o estabelecimento de Lojas separadas, organizadas numa base territorial, respondendo directamente perante um Vigilante Geral, realizando reuniões regulares e mantendo actas das mesmas. Há indícios de que Schaw procurou também interessar os membros destas Lojas nos novos desenvolvimentos existentes na época nos campos do esoterismo e da filosofia, tal como a designada “arte da memória”. As Lojas estabelecidas por Schaw começaram a ser pólos de atracção de elementos que não trabalhavam na construção, tais como Sir Robert Moray, que se tornou profundamente interessado nas lendas e no simbolismo do ofício de construtor (maçon).

Embora a organização dos maçons ingleses tenha permanecido mais informal e ad hoc, algumas das características evidenciadas pela organização escocesa começaram a surgir também em Inglaterra a partir de meados do século XVII. Em particular, as reuniões dos maçons também ganharam o interesse de elementos estranhos à profissão, como o cientista e antiquário Elias Ashmole e Randle Holme.

Em Londres, este processo de criar um grupo do elite com as organizações dos construtores (maçons) a fim de suportar as reivindicações e o prestígio da profissão conduziu ao aparecimento de um grupo interno dentro da Companhia dos Maçons de Londres, conhecido como os Aceites, que incluiu alguns dos mais prósperos arquitectos / construtores, bem como outros elementos como Ashmole.

Prescott elucida-nos assim acerca da evolução ocorrida com as organizações profissionais de construtores, criação no âmbito destas de lendas que suportassem as reivindicações profissionais daqueles, criação de Lojas separadas mas subordinadas a uma autoridade profissional central e progressiva evolução destas Lojas para além dos meros interesses corporativos, também para o esoterismo e a filosofia e, por via disso, integração nas Lojas de elementos estranhos à profissão, mas Aceites nas Lojas. É esta evolução que fundamenta a expressa denominação de muitas Obediências como sendo de Maçons Livres e Aceites. E assim ocorre também a evolução de uma organização meramente corporativa ou operativa, para uma outra realidade, a moderna Maçonaria especulativa.

Rui Bandeira