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13 julho 2011

O símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues


Em comentário ao texto, Maçonaria e Filosofia Pitagórica - o QUATRO, Jocelino Neto perguntou:

Perdoe-me pela análise superficial, mas a vesica piscis faz parte do partido construtivo da imagem que identifica visualmente a R.´.L.´. (Respeitável Loja) Mestre Affonso Domingues? O significado deste símbolo é desvelado apenas aos seus O.`. (Obreiros)?

Quanto à primeira questão, a resposta é negativa. Repare-se que, enquanto a vesica piscis é o espaço comum resultante da interseção de dois círculos iguais com centros na mesma linha horizontal, a uma distância entre si inferior ao diâmetro de cada círculo (cfr. figura abaixo), a estrutura do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues é constituída por três círculos interligados, para além dos outros elementos.

Também a resposta á segunda pergunta é igualmente negativa. Parece haver tendência para envolver tudo o que respeita à maçonaria num véu de mistério, de segredo... Como o propósito deste blogue é precisamente mostrar que essa tendência não é consistente, aproveito o pretexto para explicar as circunstâncias da criação do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues e indicar o que pretende representar cada um dos seus elementos constitutivos. Quer as circunstâncias, quer os significados são o mais prosaicos possível, adianto já...!

Nos primórdios da Loja Mestre Affonso Domingues e da então denominada Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, a preocupação era a de aprender, criar e consolidar estruturas, enfim, trilhar o caminho da Regularidade Maçónica e da obtenção do Reconhecimento internacional. Os contactos que havia era com maçons da Grande Loge Nationale Française, que, por vezes, se apresentavam em sessão com a medalha da respetiva Loja. Também maçons portugueses iniciados no estrangeiro em Obediências Regulares podiam finalmente aceder a sessões maçónicas regulares no seu país e, comparecendo em sessões de Loja da novel Obediência Regular, frequentemente usavam as medalhas das suas Lojas de origem. Eu próprio, que tinha sido iniciado na Loja Miguel Cervantes y Saavedra, ao Oriente de Bona, no período em que frequentei a Loja Mestre Affonso Domingues com o estatuto de visitante (até ser admitido como obreiro do seu quadro), usava a medalha da minha Loja-mãe.

A Loja Mestre Affonso Domingues, sendo então a mais apurada na prática ritual, era a Loja mais visitada por obreiros estrangeiros e cedo verificou o costume de cada Loja ter uma medalha que era usada pelos seus obreiros. Foi assim simplesmente natural que a Loja, a certa altura, decidisse criar e mandar fabricar a sua medalha distintiva.

Um obreiro da Loja, artista plástico, elaborou o projeto que, com algumas modificações, sobretudo ao nível das cores (modificações essas que, assinale-se, por ser justo fazê-lo, o autor do projeto nunca viu com bons olhos), veio a servir de modelo para a confecção da medalha.

A imagem dessa medalha veio a ser utilizada como logotipo da Loja nos seus documentos e, a breve prazo, transformou-se no símbolo identificativo da Loja Mestre Affonso Domingues.

O significado dos seus elementos é simples e intuitivo e tem, naturalmente, muito a ver com o nome adotado pela Loja, Mestre Affonso Domingues, o arquiteto do Mosteiro da Batalha, imortalizado num belo texto das Lendas e Narrativas de Alexandre Herculano.

As porções visíveis dos três círculos entrelaçados cruzados por seis semicírculos virados para o exterior, evocam a principal característica da arquitetura gótica, a que pertence o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha, a abóbada em cruzaria. Na figura abaixo, pode-se ver a representação esquemática de uma abóbada de cruzaria sexpartida.
Repare-se: seis arcos quebrados ou ogivais góticos (a que correspondem as seis "pontas" da medalha) unidos e sustentados por três nervuras diagonais estruturais, que suportam e distribuem o peso, a abóbada de nervuras (a que correspondem os três círculos entrecruzados, só parcialmente visíveis)

Cada uma das pontas da medalha termina em forma de flor-de-lis, tal como as existentes no brasão de armas do Mestre de Avis, depois rei D. João I, que ordenou a construção do Mosteiro da Batalha (ver figura abaixo).

Justaposto a este conjunto, estão dois círculos concêntricos, formando uma faixa de fundo branco onde está inscrito o nome da Loja, Mestre Affonso Domingues, e o local da sua fundação e o seu número de ordem na Grande Loja, Cascais - n.º 5, inscrições separadas por duas folhas de acácia, símbolo maçónico conhecido. Inscrito no círculo interior está um triângulo (símbolo maçónico comum), em fundo vermelho (cor do Rito Escocês Antigo e Aceite, rito praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues), que contám no seu interior o também comum e conhecido símbolo maçónico do compasso e esquadro, este sobre aquele.

Como se vê, é prosaicamente simples a explicação do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues!

Rui Bandeira

19 março 2009

Do valor da imaginação

No último texto, mencionei uma das razões porque decidi publicar aqui no A Partir Pedra o texto, dividido em duas partes de Frederic L. Milliken. Agora é tempo de referir a outra.

Quem segue com alguma assiduidade este blogue já terá certamente percebido qual a minha posição quanto à abertura da Maçonaria à Sociedade.

Não sou cultor do secretismo absoluto. Terá sido necessário aqui noutros tempos. Será porventura ainda necessário noutros lugares. Na sociedade democrática da informação do século XXI, não me faz sentido.

Também já deixei bem claro que não sou adepto das "paredes de vidro", tudo divulgando, tudo deixando devassar. A Maçonaria, como qualquer pessoa ou instituição humana necessita e tem direito a uma zona de privacidade. Reconhecê-lo é uma simples questão de bom senso.

Sou adepto da política de definir e dizer claramente quais os aspetos que reservamos para nós e porquê. Fi-lo já, claramente e sem ambiguidades, neste blogue, designadamente na série de textos A propósito do segredo maçónico, Porque se guarda o segredo maçónico, Reserva de identidade, Reserva sobre as formas de reconhecimento, Reserva sobre rituais e cerimónias, Reserva sobre trabalhos de Loja e O segredo maçónico esotérico. Entendo que as pessoas sérias e bem-intencionadas percebem a razão de ser da reserva, quando esta é claramente afirmada e explicados os seus alcance, limites e motivos. Os outros, aqueles cujos preconceitos os inibem de ser intelectualmente sérios e bem intencionados, não me interessam nem preocupam.

Não sou também nem adepto de tudo esconder, para criar ou manter o mito dos "excelsos segredos e conhecimentos", que poderia impressionar uns quantos ingénuos, mas só contribuiria para desiludir quem buscasse a Iniciação, na mira de conhecer tão inefáveis como inexistentes segredos, nem de tudo revelar, dinamitando assim o teor de surpresa, de experiência vivida, que absolutamente deve estar presente no contacto daquele que é Iniciado com a Maçonaria e daquele que nela avança com os ensinamentos postos sob a luz da sua atenção, essencial para ativar e impressionar a sua inteligência emocional, permitindo que não só se aprenda como apreenda, que não só se saiba, como se viva, que não apenas se assista ou veja, mas se experiencie.

Embora alerte todos os que me manifestam interesse na Iniciação contra o perigo de ser a mera curiosidade a fonte do seu interesse, é claro que não sou insensível e compreendo e aceito e acho natural que haja uma componente de curiosidade em quem se interessa pela Maçonaria. Que se goste de saber o que se faz, como se faz, como são os rituais, etc.. É humano, é natural, é saudável. No entanto, a reserva sobre os rituais existe e concordo totalmente em que exista (um dos textos acima indicados explica porquê) e eu, como os demais maçons, cumpro o meu compromisso de manter essa reserva. Não só por ela, embora já tenha declarado entender e concordar com a razão da sua existência. Também porque nisso empenhei a minha honra. Procuro sempre manter o delicado equilíbrio necessário para esclarecer, divulgar, explicar, sem trair o meu compromisso e sem prejudicar os motivos da reserva do que é reservado.

Penso ter logrado um bom equilíbrio, por exemplo, nos textos A Iniciação (I) e A Iniciação (II). Pensava aí ter ido tão longe quanto possível, permitindo que os interessados tivessem a noção do autêntico rito de passagem que é a Iniciação, como ritos de passagem são todas as demais cerimónias que marcam o avanço na Maçonaria.

Quando li o texto de Frederic L. Milliken, percebi que afinal podia ir um pouco mais além. Com aqueles dois textos sobre a Iniciação, os interessados ficaram com a noção INTELECTUAL do rito maçónico. Ao publicar o texto de Frederic L. Milliken, podia proporcionar-lhes um pouco mais. Porque o que ali está descrito é, no fundo, um simples ritual de passagem, com a particularidade de o seu autor ter usados o tipo de linguagem maçónica e procurado descrever alguma da ambiência envolvente que se procura garantir nos "rituais verdadeiros" (ou "graus terrenos", como se dizia no texto). O texto é - ninguém tem obviamente dúvidas disso! - ficção, o fruto da imaginação do seu autor. Mas cada leitor, ao lê-lo, se usar a sua própria imaginação e se colocar na posição do "tomador do último grau" pode ter uma pequena noção do que se procura seja vivenciado por aquele em favor de quem é executada cada cerimónia. Não é verdadeira vivência de verdadeira cerimónia, claro que não é. Não permite marcar a sua inteligência emocional, claro que não. Mas porventura, poderá dar a noção de como isso é feito...

No tal delicado equilíbrio entre o que entendo que posso mostrar e o que aceito que devo esconder, o texto de Frederic L. Milliken, permite ir um poucochinho mais além. Por isso mereceu a sua publicação neste blogue!

No texto Do valor da parábola, a razão para a publicação que ali adiantei era pessoal, o efeito que o texto de Milliken teve em mim. Terá também tocado a alguns dos leitores, porventura nem por isso a muitos outros. Neste texto, apresentei a razão "institucional" da minha decisão de publicação. Gosto de divulgar, gosto de esclarecer quem quer ser esclarecido (não de terçar armas com quem busque estéreis embates de pretensas habilidades retóricas), gosto de debater Maçonaria com quem quer estiver interessado nesse debate (não em duelos ao pôr-do-sol...). A divulgação não se faz só com textos mais ou menos profundos, mais ou menos factuais, mais ou menos argumentativos. Também se faz com a ilustração, o estímulo da imaginação. E, neste aspeto, pouco importa o que se diz no texto de Milliken, antes interessa como se diz. Não releva tanto a árvore como a estrutura da floresta. Não se busca a possível pérola (que o galo de Esopo rejeita), mas antes verificar a estrutura da ostra.

Rui Bandeira

18 março 2009

Do valor da parábola

Quem acompanha este blogue sabe que, com exceção das "alegorias" de (algumas) sextas-feiras, privilegio a publicação de textos originais meus. A recente publicação de "Tive um sonho" e de "O último grau " é a exceção que conforma a regra. Estes dois textos - que, afinal, são apenas um, apenas dividido, por razões de extensão, em duas publicações no ótimo blogue The Beehive, do excelente sítio Freemason Information - impressionaram-me quando os li e decidi pedir autorização ao seu autor, Irmão Frederic L. Milliken, para os traduzir e publicar aqui no A Partir Pedra, autorização essa aliás pronta e simpaticamente concedida e que eu agradeço.

Duas razões me motivaram ao labor de traduzir e publicar trabalho alheio. A primeira, resultante de uma identificação com a mensagem constante da "palestra" do "último grau", explico-a neste texto. A segunda ficará para um outro.

Escrevi já várias vezes, a última das quais há não muito tempo (O segredo maçónico esotérico) que o único verdadeiro segredo maçónico, o que importa, o que releva, existe, não porque os maçons o queiram preservar, mas porque não o conseguem revelar. Porque é insuscetível de plena transmissão. Referi, também no mesmo texto, que, em bom rigor, duvido mesmo que haja apenas um verdadeiro segredo maçónico, um único segredo esotérico. Nesta altura do meu entendimento, propendo a considerar que cada maçon atinge a sua própria Luz - a deste com mais brilho, a daquele mais baça, a daqueloutro, qual bruxuleante chama de longínqua vela, mal se vendo -, cada maçon encontra e resgata a sua própria e individual Palavra Perdida - a de um bela e cristalina, a de outro sonora e estentória, a de um terceiro suave e quase inaudível murmúrio. Prossegui concluindo que nessa viagem, nesse trabalho, nessa busca, cada um procura coisa diversa. Eu só posso definir o que neste momento busco. Já me reconciliei - há muito! - com a finitude da vida neste plano de existência, já abandonei, por estulta e estéril, a busca do imenso porquê, a mim nunca me interessou particularmente interrogar-me sobre o cósmico como. Por agora, desde há muito e não sei até quando, concentro-me na busca do sentido da Vida e da Criação. Tenho uma ideia rude e imprecisa desse sentido. Busco o melhor ângulo para obter mais Luz. Espero que consiga obter o Brilho suficiente para, através do sentido da Criação, entrever o Criador... E tudo isto eu - neste momento - busco, em fantástica viagem, sem outro veículo que não eu próprio, não consumindo outro combustível senão tudo aquilo de que me interiormente despojo, sem outro destino e caminho senão o fundo de mim mesmo. Porque é o conhecimento de mim mesmo, em todas as complexas vertentes que condicionam o meu Eu, que me habilitará a conhecer o Outro, o Mundo e quem o criou e porquê e para quê e como. Eu sou a pergunta, a pergunta sem resposta, a pergunta buscando a resposta e, simultaneamente, a resposta contida na própria pergunta, que me levará a nova pergunta, que gerará nova resposta, em contínuo alargar de horizontes, que espero me permita entrever o que está para além do horizonte e contém todos os horizontes...

Percebe-se então facilmente porque me impressionou o trabalho do Irmão Milliken. Nessa busca interior que vou fazendo, a algumas conclusões próprias ia chegando e guardando no meu íntimo e aí as entesourando, por convencimento da minha incapacidade de adequadamente as transmitir. O texto da "palestra do último grau" assemelha-se muito ao meu pensamento e exprime-o muito melhor do que eu seria capaz:

"Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra se experimente a si próprio. Viver a "vida piedosa" é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos."

"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio."

"A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre "na unidade do Espírito Santo." SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento."

Realmente, há coisas que só as parábolas permitem transmitir!

Rui Bandeira

17 março 2009

O último grau

Quando entrei na sala da Loja, privado de visão, ouvi a mais bela música que alguma vez ouvi. Não era uma música com que eu estivesse familiarizado, nem com o que a produzia, nenhum instrumento que eu pudesse identificar. Mas era, oh, tão pacífica, trespassava a minha alma e criava uma noção de harmonia e de acordo total.

Eu era energia arrastada ou conduzida em pensamento em torno da Loja por esta música, seguindo o que parecia um rumo ao acaso, mas, após oito repetições, fui capaz de discernir que havia quatro repetições de duas manobras, uma sendo um círculo e outra um triângulo . A repetição de manobras foi necessária, como mais tarde me foi explicado, para criar a imagem de um símbolo tridimensional para este grau. E este símbolo era um dos existentes na Câmara do Meio onde recebi este grau. O Esquadro e o Compasso continuavam a adornar o exterior do edifício da Loja, mas dentro deste edifício existia uma Câmara do Meio, onde Pirâmide e Globos eram os símbolos utilizados.

Pude mais tarde ver com o que se parecia este símbolo. Era uma pirâmide na qual estavam três Globos alinhados verticalmente, desde a ponta até a base. No Globo superior, havia uma pequena pirâmide apontando para baixo. O Globo do fundo tinha uma pirâmide apontando para cima e o Globo do meio tinha uma estrela de seis pontas tridimensional. O significado deste símbolo era que o espírito do Criador, Redentor e Protetor estava infundido no círculo da vida, o infindável ciclo de nascimento, morte, renascimento, a morte de novo, e novamente e de novo, até à eternidade. Também transportava o sentido da unidade, já que estamos todos juntos como um, unidos como seres que possuem todos uma partícula do Criador. O símbolo não estava preso a nada, antes surgia perante os olhos de quem estivesse em qualquer ponto da Câmara do Meio, sob a forma de um holograma.

Não houve nem apresentação de qualquer ferramenta, nem um juramento neste grau. Foi-me explicado que, na minha condição presente de ausente de tempo e de lugar, mas em todo o tempo e todo o lugar, as sanções, juramentos e promessas eram supérfluos.

Fui conduzido para o Sul, para o Oeste e, em seguida, para o Norte da Loja, onde, ainda com a minha energia diminuída e apenas capaz de ouvir, eu teria, no entanto, a visão necessária para ver um filme em holograma totalmente privado, visível apenas para mim. No Sul, recebi uma revisão de toda a minha vida. Foi-me mostrada num holograma retratando pessoas, lugares, eventos, acontecimentos e ocorrências, numa rápida e contínua sequência, terminando no momento da minha morte física.

No Ocidente, vi, como anteriormente num filme em holograma, todas as vezes que eu tinha inspirado outros e quando eu tinha sido gentil, compassivo, amoroso e humilde. Muitas vezes fiquei dominado pela emoção, pois o que me foi apresentado era tão vívido como o que eu sentira quando tinha ocorrido no passado e estava acontecendo novamente bem à minha frente. Existe um real significado para a palavra reviver.

Depois, no Norte revivi o lado negro de mim próprio, todas as vezes que eu tinha agido com um arrogante ego inchado, para afastar e ferir os outros, todas as minhas fraquezas, os meus pecados e as vezes que eu tinha desiludido os outros. Mais uma vez, foi invadido pelas lágrimas, ao pensar que eu tinha agido de tal forma. E é por isso que estes hologramas eram totalmente privados e só passíveis de serem vistos por mim, pois aqueles reunidos em torno de mim, não estavam ali para julgar, mas para apoiar. E eu sentia o calor do seu amor e carinho fraternais.

Tal como ocorrera nos meus graus terrenos, fui conduzido, sempre através do pensamento, para fora da Câmara do Meio, para a antecâmara, onde fui preparado para voltar a entrar, para a segunda parte do grau, a palestra.

O meu condutor, Hiram Abiff, restaurou-me a plena energia e, em seguida, falou-me. "Os teus graus terrenos ensinaram-te os méritos da tolerância e da ausência de preconceito", disse ele. "Mostraram-te a forma de desfrutar da paz, harmonia e convivência entre as pessoas de diferentes raças, religiões, culturas, orientações políticas e condições económicas. Agora vamos levar-te ainda mais longe nesse conceito, na palestra do último Grau. "

Fui readmitido na Câmara do Meio e conduzido para junto do Oriente. A imagem da Pirâmide e Globos estava sempre presente diante de mim, num holograma. Acolhendo-me no Oriente, estava uma mulher negra, de meia idade, talvez. O seu sentimento de amor fraterno e afeto era como um calor brilhante, que penetrava o meu espírito. Procedeu à palestra, lentamente e com significado.

"A lição do último grau é que a separação que flagela muitos na sua peregrinação terrena, aquela divisão pela qual cada um vê os outros como diferentes, menos dignos ou sem valor, e que o separa dos demais, é realmente uma separação de Deus. Sim, na realidade, existem diferenças reais na Terra. Cada homem e cada mulher na Terra é realmente feito de forma um pouco diferente e respondem de maneiras diferentes. Existem diferentes raças, culturas, credos e conceitos do Criador. Mas atribuir um valor sinistro a essas diferenças é usá-las para dividir, em vez de reunir e, em seguida, para ostracizar, assim criando uma separação. Levada ao extremo, esta separação progride da desconfiança para a suspeita, conduzindo ao desprezo e ao ódio, e, em última análise, ao extermínio ou limpeza étnica. Esta desunião é fruto do livre arbítrio da humanidade e não reflecte as intenções do Criador. Esta divisão, desunião e separação constituem a verdadeira historia de Adão e Eva e da queda do Homem. Porque é na desunião e separação humanas que reside a separação do Todo-Poderoso."

"Reviste na tua Iniciação na Loja Celestial tudo que fizeste na tua vida humana na Terra. Reviveste as alturas em que permitiste que os teus medos dos outros e das suas diferenças te separaram deles. E reviveste as alturas em que não teres ligado a essas diferenças te pôs em harmonia com os demais."

"Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra, se experimente a si próprio. Viver a "vida piedosa" é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos."

"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio."

"A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre "na unidade do Espírito Santo." SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento."

Texto da autoria do Irmão Frederic L. Miliken, originalmente publicado no excelente sítio maçónico Freemason Information, colocado em BEE HIVE, e, com a devida autorização do seu autor, traduzido e aqui publicado por

Rui Bandeira

16 março 2009

Tive um sonho

Tive um sonho há não muito tempo. E nesse sonho eu tinha passado para a Loja Celestial e encontrava-me mesmo junto ao Portão das Pérolas. Não era S. Pedro quem me aguardava, mas antes um Peregrino de bordão e lanterna, vestido com um manto ou túnica larga, com o capuz puxado por cima da cabeça. Estava tão dobrado que mal se viam os seus olhos ou o movimento dos seus lábios.

"Eis um Viajante", disse ele com uma voz rouca.

"Sim, sou e acho que fiz uma longa viagem", retorqui.

"Podes prová-lo?", perguntou o Peregrino.

"Tenho a certeza que posso provar, sem margem para dúvidas de ninguém, que sou um Mestre Maçon", respondi.

"Está bem. Segue-me."

"Para onde vamos?"

“Para a Loja Celestial.”

"A Loja Celestial no além, que bom".

"Não, só Loja Celestial; no além já nós estamos."

Para iniciarmos o caminho, tentei dar um passo largo, mas permaneci no mesmo sítio. O Peregrino disse: "Aqui, o caminho faz-se em pensamento. Basta que te visualizes a seguir-me."

Assim fazendo, movimentei-me sem qualquer esforço, como se estivesse sobre uma passadeira rolante no aeroporto.

Chegámos ao nosso destino num abrir e fechar de olhos. Diante de nós, estavam o que parecia serem nuvens vermelhas, azuis e púrpura, nas quais brilhavam, num azul marinho iridiscente, quais salpicos brilhantes, o Esquadro e o Compasso. "É este o aspeto das luzes de néon no Paraíso?", pensei.

"É lindo", disse eu, "mas onde está a letra G?"

"Aqui não usamos a letra Gi", respondeu o Peregrino. "O que a letra G simboliza está presente no Oriente. Não é preciso o símbolo do Criador quando o Criador está presente. O Eu Sou Quem Sou é Quem Ele É."

"Ena! Bill Clinton ganharia o dia com esta frase", pensei.

Quando nos aproximávamos, uma voz estentória inquiriu, "Quem vem lá?"

"Um Viajante que atravessou o Portão das Pérolas," respondeu o Peregrino.

"Ele tem passe?" Perguntou a voz forte.

"Não tem. Respondo eu por ele."

"Ele aguardará até que o Todo-Poderoso seja informado da sua presença e a Sua resposta seja recebida."

Dentro de pouco tempo, uma mulher com um vestido cor de lavanda onde brilhavam lantejoulas brancas em forma de estrelas, surgiu de entre a massa de nuvens e disse, "Entra pela porta externa para a antecâmara".

Lancei um olhar inquiridor ao Peregrino.

Lendo os meus pensamentos, ele rapidamente respondeu, "Aqui nós aplicamos integralmente a lição do Nível."

As nuvens dissiparam-se e eu interroguei-me se seria Moisés quem estava do outro lado da porta. Enquanto atrás de nós as nuvens se fechavam novamente, entrámos na antecâmara. Um homem aguardava-me e, antes que eu pudesse falar, disse-me, "Não, eu não sou Moisés, sou Hiram Abiff, e sou o Mestre de Cerimónias que te vai conduzir ao longo do teu próximo grau."

"Tenho outro grau para receber?", perguntei timidamente.

"Sim, meu irmão, mas primeiro temos de proceder a alguns preliminares, transmitir algumas informações, e então estarás prepararado."

O Irmão Abiff solicitou e recebeu todos os passos, sinais, palavras e toques dos graus terrenos através do pensamento. Seguidamente, disse, "devo perguntar-te se vais prosseguir de tua livre vontade e acordo."

“Tenho escolha? “, perguntei.

"Oh sim, podemos mandar-te de volta."

"Mandar-me de volta, PARA ONDE?"

"Para onde vieste. Mas haverá uma condição."

"E qual é ela?"

"Não vais voltar a ser quem eras lá. Vais começar tudo de novo, como outra pessoa."

"Então, quem vou eu ser?"

"Não está predeterminado, mas, como se diz na Terra, é uma lotaria. Podes voltar como uma nova pessoa na China, ou na Índia, ou na Alemanha, ou em Cuba, ou no Uganda ou em qualquer lugar."

"E o que é que eu vou fazer lá?"

"Aquilo que escolheres fazer. Bem vês, com o livre arbítrio tens sempre uma escolha. Más escolhas, no entanto, geralmente geram maus resultados."

"Acho que gostaria de continuar aqui."

"Muito bem, então assim será."

Fiz uma boa escolha?"

"Não me compete a mim dizê-lo. O lixo de um homem é o tesouro de outro, como diz o ditado. Como provavelmente terás notado, o teu corpo, bem como o nosso, é apenas uma ilusão. A melhor descrição do que és, neste momento, é pura energia. Como tal, em vez de seres desnudado ou vendado, será diminuída a tua energia, de modo que poderás ouvir, mas não ver ".

"É este então o 34 º grau?"

” "Não", respondeu o Irmão Abiff. "Este é o último grau. Agora, segue quem te guia e não temas nenhum perigo."


Texto da autoria do Irmão Frederic L. Milliken,
originalmente publicado no excelente sítio maçónico Freemason Information, colocado em BEE HIVE, e, com a devida autorização do seu autor, traduzido e aqui publicado por

Rui Bandeira

04 fevereiro 2009

Pergunta de profano


Há dias, publiquei e comentei um texto que me foi enviado por um profano, sobre Aikido e Maçonaria. Esse contacto inicial tem proporcionado a continuação de uma agradável troca de correspondência. Mais do que isso, um precioso diálogo com um profano, a propósito do que neste blogue se escreve. Precioso para mim, porque este blogue destina-se, em primeira linha, precisamente ao esclarecimento de todos sobre a Maçonaria, do que trata, do que nela se faz. Ter - como periodicamente acontece - reações de profanos, seja em comentários aos textos publicados, seja em mensagens privadas, permite-me ir aferindo da forma e da eficácia com que é atingido o propósito de esclarecimento.

Transcrevo então de uma mensagem de José Restolho, onde ele coloca uma questão muito concreta:

Penso que é importante salientar que não quero de forma alguma tornar-me inoportuno. Simplesmente vejo neste blogue um sitio de reflexão e uma fonte de grande conhecimento que ajuda a saciar esta "fome" constante de conhecimento.

Entretanto e com profunda humildade, gostaria de lhe colocar uma questão. Uma das coisas que mais é realçada na maçonaria vista de fora são os seus ritos e símbolos, sobre os quais tanto se especula (não estou a incluir as ridículas teorias da conspiração, tais como a conquista do mundo pelos maçons, terem recebido os conhecimentos dos símbolos dos extra-terrestres ou ainda serem o instrumento do diabo na terra). Visto por mim não me parece que esses símbolos e ritos existam só porque sim, ou porque gostam de fazer teatro ( tal como ja vi referido num documentário do Discovery Channel). Então a minha pergunta é a seguinte:

Serão esses símbolos e ritos "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer? Será errado dizer que os significados dos mesmos ultrapassam a comparação linear e lógica deles (por exemplo, esquadro = rectidão) e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspecção?

É importante salientar que tenho consciência do facto de ser um profano e, como tal, compreendo se não me poder responder na plenitude a esta questão.

Antes de tudo, esteja José Restolho descansado que a resposta em nada fica limitada pelo facto de quem inquire ser profano, isto é, não maçon. Como acima referi, este blogue destina-se, em primeira linha, a propiciar o esclarecimento dos não maçons em relação à Maçonaria. Por outro lado, a matéria questionada em nada interseta matéria que possa estar coberto pelo chamado segredo maçónico - e que eu já tive oportunidade de mencionar que é muito mais restrito, simples e justificado do que normalmente se pensa: ver aqui.

A questão colocada permite resposta simples e direta: quanto à primeira pergunta, SIM; quanto à segunda, NÃO.

SIM, os ritos e símbolos são "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer. Marcos. Estações. Indicadores. O estudo dos símbolos permite a cada maçon aprofundar o seu conhecimento das matérias relativas à espiritualidade e à moral. O domínio dessa técnica permite que vá cada vez mais longe, cada vez mais fundo, designadamente dentro de si - que é o mais longínquo lugar onde cada um pode ir, acreditem! E, a algum momento dessa viagem, porventura o maçon terá a satisfação de ter conseguido obter algumas das respostas por que ansiava.

Quanto à referência a ritos, existe uma imprecisão terminológica na pergunta (rito, ritual) que fica esclarecida, creio, com a leitura deste texto. Mas assentemos, por agora, que a execução do ritual é mais uma forma de colocar símbolos perante os maçons.

NÃO. Não é errado dizer que os significados dos símbolos ultrapassam a comparação linear e lógica deles e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspeção. Também por esta via tem sentido e significado a designação de Maçonaria Especulativa. Especulativa também porque o trabalho primordial do maçon é especular, hipotizar, analisar, tentar, errar e recomeçar, aprender, cair, levantar-se e prosseguir. Por outro lado, cada um é diferente dos demais. Tem diferente combinação de genes. Diferente história de vida. Diversas influências. Os símbolos, enquanto elementos destinados a análise, a descoberta, são, por natureza, dotados de plasticidade que permite que cada um, do mesmo ponto de partida, chegue a destinos completamente diferentes.

Rui Bandeira

19 fevereiro 2008

O salário do maçon

A Maçonaria Operativa, como estrutura de regulação do acesso e prática da actividade profissional de construtor em pedra, regulava igualmente as formas de pagamento e os montantes dos salários dos seus associados.

Também na Maçonaria Especulativa os maçons recebem o seu salário. Simplesmente, como tudo na Maçonaria Especulativa, o salário que o obreiro recebe é simbólico.

O obreiro trabalha em Loja. Em quê? No seu aperfeiçoamento, na busca dos conhecimentos, das lições, dos exemplos, das práticas que dele farão uma pessoa melhor. Nesse trabalho tem de identificar e interpretar símbolos, atribuindo-lhes o seu significado pessoal, similar ou não ao que os seus Irmãos, ou alguns dos seus Irmãos, ou um particular Irmão, lhes atribuem. O trabalho do obreiro em Loja insere-se e une-se ao trabalho que os demais obreiros efectuam, constituindo o conjunto um acervo de estudos, actividades, interpretações, princípios desenvolvidos, que tem mais virtualidades como um todo do que a mera soma dos contributos individuais.

Virtualidades para quem? Para os próprios obreiros. O trabalho maçónico é eminentemente individual, mas colectivamente efectuado. O seu resultado, inserido no conjunto dos esforços e nele amalgamado, está à disposição para apropriação de todos e de cada um. A forma como cada um beneficia é com cada qual. O mesmo obreiro, em cada momento, pode retirar do trabalho que ele e seus Irmãos efectuam lições ou consequências diferentes. Hoje poderá ser uma lição moral, amanhã uma simples lição de vida ou regra de conduta, depois uma ferramenta para uso no seu dia a dia profissional ou de relação social, por vezes apenas (e tanto é...) uma simples sensação de Paz, de Segurança, de Conforto, a mera (mas por tantos tão dificilmente obtida) noção do seu lugar na vida e do significado da sua existência.

Perante a sua Loja, o maçon apresenta para o trabalho a Pedra Bruta que é ele próprio, o seu Carácter, a sua Personalidade, as suas Características, as suas Virtudes, os seus Defeitos, as suas Capacidades, as suas Insuficiências, as suas Potencialidades e o que falta para as transformar em Realidades. Junto de seus Irmãos, trabalha essa Pedra Bruta. Retira-lhe as asperezas. Melhora a sua forma. Determina o local onde deve ser colocada. Dá-lhe cor e atavio. A pouco e pouco, essa Pedra Bruta será cada vez menos Bruta, ganhará forma mais delineada e adequada, tornar-se-á mais útil para a função que está destinada a exercer. A pouco e pouco, tornar-se-á uma Pedra Aparelhada, já com alguma utilidade e capacidade para se inserir no grande Templo da Criação, Parede da Humanidade. Mas ainda será, não já áspera, mas rugosa, não já suja, mas baça.

Será ainda necessário alisá-la e poli-la, de forma a que, a seu tempo, a Pedra Bruta que é o maçon possa vir a ser a muito mais útil e bela Pedra Polida. Mas, ainda então, de pouca utilidade e valia será se não for inserida no local adequado, pela forma asada, para exercer a função destinada. Há que conhecer ou definir os Planos, efectuar e ler o Desenho que nos guie para colocarmos a nossa Pedra, que foi Bruta e que procurámos tão Polida quanto o lográmos que fosse, no lugar correcto, em que será útil e contribuirá para a sustentação, imponência e beleza do Templo em cuja construção se insere.

Cada maçon, à medida que vai trabalhando, vai aprendendo a trabalhar, à medida que melhora, vai aprendendo a melhorar, a medida que aprende, vai aprendendo a aprender. E cada vez mais vê melhor trabalho, mais melhoria, mais larga aprendizagem. À medida que evolui vai aumentando o benefício que retira do trabalho que efectua. Não patrimonial, mas pessoal, intrínseco.

Esse benefício é o salário do maçon, a justa remuneração do seu esforço. Não tem valor de mercado, nem cotação de troca, porque vale muito mais do que uma mercadoria ou um serviço. Tem o valor supremo da Pessoa Humana, que cresce, que se educa, que evolui, que se aprofunda, que se realiza, que se enobrece, que se dignifica. Esse valor vale mais que todo o ouro do Mundo, que todas as riquezas e mordomias de que usufruem os afortunados do planeta. Porque nada vale mais do que um Homem digno, de espinha direita, cabeça lúcida, espírito forte. Aos outros, por mais ricos que sejam, conquistou-os o mundo. Este conquista o mundo, ainda que seja pobre e sem poder. O seu mundo. O que interessa.

O salário do maçon é o que ele retira do bolo comum que resulta do seu trabalho, do seu esforço e dos seus Irmãos. Em conjunto e com o fermento da Fraternidade, esse bolo cresce muito mais do que se lhe pôs, ao ponto de todos poderem retirar mais um pouco do que cada um lá pôs e ainda sobra bolo.

Esse salário não se conta, não se mede, não se pesa, não se avalia. Só o próprio o sente e dele beneficia. Não tem valor facial algum. Tem todo o valor moral e espiritual.

E, porque à medida que o maçon trabalha, aprende, cresce, melhora, de cada vez vai conseguindo retirar um pouco mais, de cada vez vai conseguindo aumentar um pouco seu salário. Imperceptivelmente. Até que um dia os seus Irmãos dão por ela e... oficializam-lhe o aumento de salário! Chamam os maçons aumento de salário à passagem de grau. Mais não é do que o reconhecimento dos progressos feitos.

Rui Bandeira

09 março 2007

O Mundo de Cláudia

Navegar na Rede permite que encontremos, por vezes, insuspeitadas pérolas em improváveis páginas!

Os acasos da busca já me permitiram encontrar um sítio dedicado ao tema da Maçonaria e dos Maçons num endereço tão improvável como http://alnr.chez-alice.fr/. Disso dei conta em texto publicado neste blogue que intitulei "O que é que a Alice tem a ver com a Maçonaria?" .

Agora, comecei com a curiosidade de encontrar um blogue, sediado num servidor português e intitulado O Mundo de Cláudia... escrito em inglês. Tudo bem, alguém está em Portugal e expressa-se preferencialmente em inglês, não há razão para se estranhar. Trata-se de um blogue que se enquadra no género "diário pessoal", em que quem nele escreve revela uma especial tendência para os temas culturais, literários e artísticos. Mas a razão de aqui o mencionar não está no título, nem na língua, nem na orientação do blogue. Está num texto que nele encontrei, já antigo (publicado em 3 de Novembro de 2003), que vou reproduzir, traduzido e com pequenas correcções de imprecisões, naturais em quem é profano, com a devida vénia e a implícita autorização de o blogue informar que concede licença "Creative commons", autorizando a reprodução e a adaptação de conteúdos do blogue, nas condições de citar a autoria e permitir a reprodução do resultado nas mesmas condições. A primeira das condições está satisfeita; a segunda é já cumprida: declara-se que o conteúdo deste texto pode ser copiado, adaptado, enviado e transmitido livremente, nas condições de ser citada a sua autoria e de a publicação efectuada beneficiar de idêntica autorização, tudo nos termos desta licença "Creative Commons".

Sem mais comentários, porque falam por si, eis então o texto e as imagens publicadas naquele blogue:

Símbolos da Maçonaria

No Cemitério dos Prazeres há diversos mausoléus onde os símbolos da Maçonaria podem ser encontrados.

Um dos seus símbolos principais é o esquadro e o compasso, ferramentas do ofício, colocados um sobre o outro. O esquadro é considerado representar a matéria, e o compasso o espírito ou mente. O compasso é um símbolo antigo da espiritualidade e da criatividade espiritual. Algumas pinturas medievais mostram Deus criando o Universo com o compasso.



Um outro símbolo comum da maçonaria é o Olho da Divindade. É um emblema que nos lembra que estamos constantemente na presença de Deus.




Isto é mais difícil de encontrar: uma águia de duas cabeças com o número 33 no peito. O 33.o grau é o grau mais elevado que um maçon pode alcançar e que o autoriza a ter no seu avental um bordado de uma águia de duas cabeças de Lagash (uma cidade suméria). Estes são símbolos do Rito Escocês Antigo e Aceite.


Outro símbolo não muito comum é a colmeia, simbólico do trabalho organizado, significando que o que um não pode realizar sozinho pode facilmente ser executado quando todos trabalham juntos numa tarefa.



Rui Bandeira