Ocorreu ontem a sessão de lançamento do livro de poesia As Pedras do Vau, da autoria de Martin Guia, o actual Grão-Mestre da GLLP/GLRP.
A Sala de Ambito Cultural do El Corte Inglés foi demasiado pequena para acomodar as centenas de interessados que compareceram. No decorrer da sessão, vários dos poemas do livro foram ditos por Carmen Filomena, daniel Ribeiro, Ellys Almeida, Eunice Santos, Francisco Queiroz, Hermínia Tojal, José Fanha e Mário Máximo, as vozes que declamam todos os poemas do livro, disponíveis em 2 CD's que acompanham o volume. As Pedras do Vau podem, ser lidas ou ouvidas, ou ainda simultaneamente lidas e ouvidas. A qualidade das declamações muito valoriza os textos.
Como eu previa, Martin Guia deve hoje estar em trabalhos de recuperação dos músculos do braço e mão direitos, tantos foram os autógrafos que teve ontem de conceder.
Os poemas do livro espelham a sensibilidade e afectuosidade do poeta, mas também o seu sentido de humor e a sua ironia e ainda a força da sua indignação. Vale bem a pena ler - e ouvir - este livro!
Solicitei, e obtive, de Martin Guia autorização para aqui publicar um dos poemas. Pedi-lhe que escolhesse qual. Escolheu um forte poema com palavras de amarga e desiludida indignação. Hesitou. Temeu que seja demasiado forte. Deu-me a liberdade de escolher eu. Abuso! Vou publicar aqui, não um, mas dois poemas. Primeiro, um escolhido por mim, ilustrativo da ironia do poeta. Depois, o forte poema que ele escolheu.
Apreciem:
Ajoelham, rezam
Ajoelham, rezam
e dizem que tudo dão
para irem parar ao Céu...
mas se lhes dissermos
que quase já lá estão,
gritam Ai Jesus
e fogem dele
como o Diabo da Cruz!
E agora este:
Atocha
El Pozo, Santa Eugenia, ATOCHA, Téllez
Madrid dois mil e quatro, Março onze,
a las siete y media de la mañana...,
Tantos, tantos mortos!
Paseo de Gracias,
Barcelona, dois mil e quatro, Março doze,
a las siete de la tarde
concentração..., comigo somos
quinhentos mil mais um milhão...
... ouvindo:
silencio por favor...
esta es una manifestación unitaria
por favor, silencio... silencio por favor!
Quanto mais silêncio se rogava
mais o Povo gritava:
asesinos, asesinos, asesinos,
asesinos, asesinos, asesinos...
e porque de assassinos se tratava
nesse estrondoso silêncio
mais o Povo gritava:
hijos de puta, hijos de puta,
hijos de puta, hijos de puta...
porque de filhos de puta se tratava!
Também alguns tímidos (para alguns ex-temidos):
el povo unido jamas sera vencido,
el povo unido jamas sera vencido.
A eterna pretensão do eterno vencido!
No al terrorismo, no al terrorismo,
paz si, guerra no, paz si, guerra no,
No al terrorismo, no al terrorismo,
paz si, guerra no, paz si, guerra no,
como se
no abismo deste mundo de massa divisível
a paz total fosse possível...
Novos, velhos, ricos, pobres,
políticos, padres, freiras,
guardas civis, estadistas,
paralíticos, juristas, rameiras,
licenciados, jubilados,
bem fadados, mal fadados...
... todos...
mãos abertas a acenar, braços levantados,
... tais pombas de paz...
num estertor de revolta
a chorar um isto não se faz,
seus filhos da puta... isto não se faz!
Todos unidos, mas já todos desunidos,
na triste graça
de só na desgraça nos aliarmos...
...enquanto dela nos lembrarmos!
E é por estas e por outras que temos na Terra
a merda da guerra,
a puta da luta
e os filhos da puta dos filhos da puta!
Lido, este poema impressiona. Soberbamente dito por José Fanha, num dos CD's, ressuma de força!
O livro e os dois CD's foram editados pela editora Diário de Bordo. Pode ser adquirido na secção de livraria do El Corte Inglés e nas boas livrarias. Vale a pena! Esta amostra é elucidativa!
Rui Bandeira