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03 abril 2017

Lição prática de Maçonaria


Um maçom português está na Alemanha. Outros maçons portugueses vão à Alemanha visitar uma Loja local. Tertulia-se. A conversa faz-se em torno de um tema cujo ponto de situação atual suscita dúvidas. Esse maçom português comunica por mensagem de correio eletrónico com um experiente e sabedor maçom residente no norte de Portugal. Por acaso, o tema em causa não é assunto em que o maçom residente no norte de Portugal seja especialmente versado. Para não dar uma resposta errada ou incompleta, remete a questão a outro maçom, também já com alguma experiência, que reside em Lisboa.

Por coincidência, esse maçom residente em Lisboa tinha recentemente ultimado um texto sobre o tema, que considerou que esclarecia as dúvidas suscitadas na teruliana conversa. Envia esse texto ao maçom do norte de Portugal. Por sua vez, o maçom do norte de Portugal envia o dito texto ao maçom que está na Alemanha, que por sua vez o circula pelos outros elementos que tiveram a tertuliana conversa onde surgiram as dúvidas.

Entretanto, o maçom do norte de Portugal acha que o tal texto pode ser interessante para outros maçons e, com a prévia anuência para tal do maçom de Lisboa, faz circular o dito texto pela sua lista de contactos maçons.

Sucede que, no tal texto, o maçom de Lisboa escrevia, a dado passo, que havia uma pequena parte do assunto que não podia melhor desenvolver, porque não lograra encontrar um documento essencial para tal.

Um dos maçons da lista de contactos do maçom do norte de Portugal, por fortuna, tinha a tradução em castelhano desse documento que o maçom de Lisboa não conseguira encontrar. Logo tomou a iniciativa de enviar essa tradução em castelhano para o maçom de Lisboa, que pode assim aperfeiçoar o seu escrito com o desenvolvimento que faltava.

Tudo isto se passou em não mais de 24 horas. De todos os intervenientes, o maçom residente em Lisboa apenas conhece pessoalmente o maçom que reside no norte de Portugal. Uma conversa gerou uma dúvida e, de uma normalíssima diligência para esclarecimento dessa dúvida, gerou-se, em muito pouco tempo, uma cadeia de eventos em que vários elementos se ajudaram a melhor esclarecer todos sobre o assunto em causa. Essa cadeia de eventos permitiu, designadamente, que aquele que ajudou acabasse, afinal, por ser também ajudado.

Materialmente, ninguém ganhou nada com isto - afinal, uma banal cadeia de eventos do quotidiano. Mas, no final, todo um conjunto de pesoas ficou a saber mais um pouco, designadamente em relação ao tema que gerou a dúvida.

A Fraternidade é isto. Permite que Irmãos que se encontram a centenas e milhares de quilómetros uns dos outros e que, na sua maior parte, nem sequer se conhecem pessoalmente, naturalmente cooperem entre si, se auxiliem e cada um aprenda um pouco com o que os demais lhe proporcionam.

Assim são os elos da cadeia de União que une os maçons, que funcionam para as pequenas coisas (como esta que descrevi) e possibilitam, quiçá, grandes realizações. Porque são as pequenas coisas que cimentam os alicerces das grandes edificações. Por isso a Maçonaria é uma Fraternidade que completa este ano trezentos anos, está bem e recomenda-se e prepara-se para os próximos trezentos. 

Rui Bandeira

17 agosto 2015

A Cadeia de União (republicação)

O texto que hoje Vos trago é uma republicação de um texto da autoria do Rui Bandeira que aborda um dos pontos altos de uma Sessão Maçónica bem como o esplendor do simbolismo da fraternidade que a Ordem evoca. Trata-se da "Cadeia de União".
O texto original pode ser lido aqui .

"Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as conceções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos. Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos. É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos."

Rui Bandeira

11 setembro 2014

O Maçom, Homem Fraternal...


                                          (imagem retirada de Google Images)                                          
Este é o primeiro texto de muitos, assim o espero, que irei publicar neste honorável espaço de escrita para uns, leitura para os demais.  
Espero que com o que eu irei partilhar convosco, Vos ajude a compreender qual a “missão” da Maçonaria no mundo que nos rodeia e um pouco mais sobre a vasta simbólica maçónica que existe, sendo que os meus textos demonstrarão a minha visão pessoal sobre qualquer tema que seja versado por mim.
Sendo assim, este meu primeiro texto teria de ser naturalmente, um texto muito pessoal.
Assim, hoje venho falar-Vos de como o maçom é alguém com um elevado sentido fraterno, logo irei falar de Fraternidade, algo que para mim não é apenas sentimento, mas antes sentido.
Não no sentido dos outros cinco sentidos que dispomos, nos quais eu qualificaria a Fraternidade como um sexto sentido, um “sentido espiritual”; mas trato deste sentido/sentimento como o “sentido” do verbo “sentir”, de sensação…
A Fraternidade é algo que se sente e se partilha, uma vez que a mesma tende a vivificar no nosso interior, algo que se reflete posteriormente nas nossas ações.
Por isso é tão habitual entre os maçons se afirmar que a “Maçonaria também se vivencia,  praticando a fraternidade!”.
E como Fraternidade que é, na Ordem Maçónica, o amor ao próximo, ao nosso Irmão, encontra-se presente e em permanência. Concordemos ou não com as suas opiniões, aceitemos ou não a sua forma de estar na vida, mas amamo-lo!!!
E  amar está muito além de apenas se tolerar
A Tolerância implica Respeito, um respeito pelo “outro” em toda a aceção da palavra, senão seria apenas mais uma palavra vã nos nossos dicionários, tal como outras que pela sua quantidade, mais me parecem ser tantas como as espigas que existem nos campos…
No entanto,  Fraternidade também é muito diferente de Benevolência ou Caridade, pois se tanto uma como outra podem suscitar sentimentos ditos “menores”, uma forma de auxílio em que se age assim apenas porque é moralmente aceitável ou simplesmente porque socialmente fica bem ou parece bem a quem o assim faz.
Tanto que por isso, a Fraternidade também é sinónimo de Solidariedade, algo que se encontra mais além que a Caridade ou a Benevolência; a Solidariedade é para mim um sentimento ainda mais nobre, uma vez que é suposto advir diretamente do coração. 
E ser solidário nivela-nos como Homens, pois quem o pratica e quem recebe a nossa solidariedade, encontrar-se-á num mesmo patamar moral, apesar de que socialmente seja muito diferente. E essa humildade que é necessária para quem é solidário e fraterno, deverá fazer parte integrante da nossa natureza humana como maçons. Isto sim, é o “core”, o cerne  dos tais “bons costumes” com que habitualmente nos reconhecem ou nos quais nos revemos…
Não deveriam os valores que defendemos, tais como a Igualdade, a Liberdade e principalmente a Fraternidade, serem a base da Sociedade humana?!
Todavia, tenho para mim que a Fraternidade também é uma alavanca, um apoio que está subaproveitado na sociedade em que vivemos e que a ser usada como “ferramenta social”, muito contribuiria para o progresso humano.
Cada vez mais o Homem olha apenas para si próprio, não retribuindo o mesmo valor ao seu igual. E nesse contexto, nós como maçons que somos reconhecidos, poderíamos fazer mais… e melhor.
O maçom é um livre-pensador; logo de que nos valerá sermos intelectualmente ou moralmente mais instruídos ou como tal considerados, sermos formados nas ditas “artes liberais”, as mesmas artes que libertaram os homens do obscurantismo e do jugo da Ignorância, se depois de adquirirmos estas valências, não agirmos no mundo à nossa volta também para o melhorar e o fazer evoluir no comportamento e relacionamento entre os seres?!
Não fosse a minha Iniciação na Augusta Ordem Maçónica e eu não privaria com muitos dos meus Irmãos. E digo isto porque na sua maioria temos percursos profissionais distintos, não pertencemos às mesmas agremiações profanas e o nosso percurso de vida é muito díspar. Mas por partilharmos os mesmos desígnios, em Loja nos encontramos. E afirmo, se a Loja me acolheu, eu também acolhi a (nossa) Loja na minha vida.
A Loja passou a fazer parte integrante da minha Família.
E esta fraternidade e esta sensação de amor fraterno que nos une vale muito mais do que aquilo que à primeira vista possa aparentar…
De facto, esta sensação não é imediata, e ainda bem que tal assim acontece. Pois se assim o fosse, seria uma sensação falsa e carente de sentido. Ninguém ama ninguém de um momento para o outro ou somente apenas pelo trocar de um olhar ou um sorriso.
Os amores platónicos ficam para a nossa vida profana.
E refletindo, questiono-me:
  • Como poderei eu amar alguém que não me conhece e que também eu não conheço?!
  • Como poderei eu amar alguém quando apenas o tolero?
  • Como poderei eu respeitar alguém com quem eu frequentemente esteja em desacordo?
Na Maçonaria encontro a resposta a estas questões.
A Maçonaria é fraternidade e, como tal, o seu espírito fraterno depende unicamente da união de todos os que a integram.
A nossa fraternidade só o é e somente o pode ser, se for construída dia após dia e cimentada sessão após sessão. E é aí que reside a nossa força!
Os maçons, tal como os “irmãos de sangue” não podem nem devem estar sempre em sintonia, pois as diferenças também propiciam à formação/evolução pessoal, de modo que na Maçonaria é-nos permitido discordar, concordando; e concordar, discordando; isto é, o respeito salutar que deve existir entre todos, permite aos maçons não se travarem de razões tal como quiçá o fariam no mundo profano, mas antes, ouvindo e interiorizando as opiniões contrárias à sua forma de pensar, permite-lhes que possam aprender e conviver com as diferenças e divergências que naturalmente possam existir. Somos Homens e como tal não podemos ser todos iguais.
O que seria do azul ou do amarelo, se todos fossemos vermelhos…
E tal como bagos de uvas que com a sua própria identidade estão ligados entre si, ou como as sementes de romã que se agregam no interior deste fruto, que podemos encontrar sobre os capitéis das colunas de entrada no nosso Templo, também a união e ligação dos nossos pensamentos em prol de algo melhor, a energia e sentimentos que aplicamos na Cadeia de União aumentam a coesão do nosso grupo e potenciam o nosso espírito de corpo.
Assim, na formação da Cadeia de União, um dos momentos “altos” da ritualística maçónica em sessão de Loja, o encadeamento dos Irmãos que é formado e a oração que é proferida, permite-me também sentir que aquilo que nos une é mais do que aquilo que nos poderá afastar e que os laços não-sanguíneos que nos unem, ligam-nos por um cordão umbilical ainda maior e que nos juntam numa caminhada  através da Virtude e em prol de todos Nós.
Pois se a egrégora acontece, é porque todos o assim desejamos e fazemos para que assim tal aconteça!
Para mim,  no estrito cumprimento do ritual em Loja, se demonstra  que aí reside o espírito fraternal que devemos vivenciar e transmitir também  para o mundo profano.
 Eu vivo e sinto assim a nossa fraternidade. Outros o farão à sua maneira pessoal. Podemos não ser todos iguais, mas posso afirmar que somos todos muito semelhantes

18 outubro 2010

Como se pode - ou não - falar de religião em loja


A proibição de discussão religiosa em loja é assunto reiteradamente debatido. Não há, todavia, como o exemplo para ilustrar o princípio. Quando procurava uma ocorrência - real ou fictícia - que não soasse forçada, recebo um simpático cumprimento feito por um leitor aqui num dos comentários: "Que o Senhor lhe conceda discernimento para encontrar a verdade que liberta e está em Cristo Jesus!". Nem de propósito. Este cumprimento, feito sem qualquer dúvida com a melhor das intenções, consubstancia, precisamente, o tipo de discurso que, apesar de socialmente admissível fora de loja, não o é numa loja maçónica.

Mas porque é que um simples cumprimento como este - que até é auspicioso, traduzindo os desejos de que suceda ao seu destinatário uma coisa que o emissor tem por positiva - não é admissível em loja? Vejamos com mais atenção o que se diz. "Que o Senhor"... Até este início insuspeito pode gerar controvérsia; se, por exemplo, se pertencer a uma religião que denomine a Divindade de uma outra forma, é quanto basta para que se sinta a expressão como estranha. Nesse sentido, não é difícil imaginar uma situação em que alguém interprete isto como sinónimo de "que o meu Deus - que não é o teu - te conceda isto e aquilo". "... a verdade que liberta ...", esta sim, é uma  quase certa fonte de discórdia, por causa da sua mais pequena palavra: "a". Referir-se "a" verdade que liberta, especialmente junto de um nome comummente associado a certa religião, implica ser esta verdade algo de único, que não há outra, e que muito menos há várias. Referirmos a existência de um único caminho certo implica que quem não o percorra estará a ir... por caminhos errados - o que é contrário à ideia de que cada um deva sentir ser respeitadas as suas crenças de forma que não haja preponderância de quaisquer outras sobre estas - ou destas sobre quaisquer outras. Isto faz-nos chegar à última parte: "... e está em Cristo Jesus". Se a todas as outras fórmulas se poderia, eventualmente, fazer "vista grossa" quando utilizadas em loja, esta última não é, de todo, passível de ser aceite, por ser indiscutivelmente própria de uma religião, e por isso sentida como estranha por quem professe uma fé diversa.

Cada religião tem uma terminologia própria para referir a(s) divindade(s) a quem presta culto. Forçar seguidores de várias crenças a utilizar a terminologia de uma delas seria algo de muito pouco paritário. Para ultrapassar esta dificuldade, a maçonaria decidiu adotar uma nomenclatura própria, alheia a qualquer crença ou religião - e por isso equidistante de todas estas - para designar a Divindade. Assim, em vez de um dizer Elohim, outro Deus e outro Jesus Cristo; em vez de invocar Allah ou Jeová, Krishna ou Zoroastro, Thor, Zeus - ou a Divindade por qualquer outro nome - os maçons dizem "Grande Arquiteto do Universo". Essa expressão designa não um qualquer "deus maçónico" - pois tal não existe - mas constitui apenas um mesmo nome através do qual  todos os maçons se referem cada um ao seu próprio Deus.

De fora fica também, evidentemente, tudo o que é próprio desta ou daquela religião. Não faria sentido dizer-se "invoquemos Maria, mãe do Grande Arquiteto do Universo", ou "O Grande Arquitecto do Universo é grande, e Mohammed é o seu profeta". Assim, em loja, apenas nos referimos ao "Grande Arquiteto do Universo". As pranchas maçónicas - na maçonaria regular - começam sempre: "À G.·.D.·.G.·.A.·.D.·.U.·. ", uma vez que todo o trabalho é feito "À Glória Do Grande Arquiteto Do Universo". Cada um dedica o trabalho que fez ao Deus da sua predileção, mas todos sob uma "alcunha" comum. Um pouco como cada adepto se refere ao respetivo clube como "o Glorioso"...

Um dos momentos altos de cada sessão é a Cadeia de União. Uma vez formada, um dos irmãos profere uma curta oração, que não deve ser própria de nenhuma religião, e é, as mais das vezes, espontânea. Pode ser algo como: "Agradeçamos ao Grande Arquiteto do Universo a graça de estarmos todos aqui, juntos uma vez mais, e recordemos todos quantos já partiram para o Oriente Eterno". Dificilmente alguém poderá sentir-se posto de parte perante tal fórmula, e é precisamente o que se pretende: fomentar a união, a identificação apesar da diversidade, e o foco naquilo que, de facto, é comum a todos. Não faria sentido, apesar de a esmagadora maioria dos maçons da nossa loja ser cristã, rezar-se um "pai-nosso" na cadeia de união - até porque um dos nossos irmãos é judeu, e sentir-se-ia certamente desconfortável. E mesmo que todos fôssemos cristãos, o princípio é para manter - basta recordar que recebemos frequentemente visitas de irmãos de outras lojas, e nunca sabemos que fé professam...

Esta limitação de expressão pode tornar-se problemática para os seguidores de certas religiões que tenham por princípio o testemunho permanente perante os outros dos valores, princípios e verdades da sua religião - e, no limite, tentar converter os demais para a sua fé, expondo as fraquezas de uma crença e exaltando a outra. Quem sinta essa obrigação não poderá sentir-se bem na maçonaria, pois esta não lho permite.

Apesar de tudo o que disse ser regra apenas vigente em loja e em sessão ritual, o que acaba frequentemente por suceder é - por força do hábito por um lado, pela interiorização dos princípios pelo outro, e por último pela generalização da sua aplicação - desenvolver-se um certo comedimento nas palavras, e acabar por se evitar a utilização de expressões manifestamente próprias de uma ou outra religião, substituindo-as por outras menos passíveis de fazer o nosso interlocutor sentir-se desconfortável. Assim, não posso senão agradecer o cumprimento, e retribuir: "Que o Grande Arquiteto do Universo lhe conceda o discernimento para encontrar - e saber manter - a Luz!"

Paulo M.

P.S.: Tenho, desde que comecei a escrever aqui no blogue, vindo a escrever dois textos por semana. Afazeres diversos impedem-me de manter este ritmo, pelo que irei passar a escrever, no futuro mais próximo, apenas um texto por semana, ao fim de semana. Assim que possa passarei, de novo, a escrever mais.

01 setembro 2010

A Cadeia de União


Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as conceções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos. Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos. É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos.

Rui Bandeira

07 agosto 2008

2 estórias de AMOR

O Rui de férias, o Zé Ruah às aranhas com a “net” e o Verão em pleno. É altura de “postar” 2 estorinhas, uma enviada via e-mail, outra passada comigo. Aqui vão elas.



A minha

Em 11 de Julho p.p. o Rui colocou um “post” no qual conta a história de um copo de leite oferecido em momento oportuno e consequências respectivas.
Pela mesma altura participava eu próprio, inconscientemente, numa “distribuição de copos de leite” forçada por razões de saúde da V. Cunhada, M.A.

Uma doença grave totalmente inesperada surgiu à V. Cunhada, estavamos a 500 Km. de casa.
Dessa doença resultou um internamento no hospital da zona, uma cirurgia mal conseguida que obrigou a uma 2ª cirurgia de correcção e um pós-operatório relativamente pouco cuidado que terminou com uma “alta” totalmente descuidada.

O estado de fraqueza a que chegou impossibilitava-a de se pôr em pé (tem 67 anos, 1,63 m de altura e pesava menos de 40 Kg.). O movimento necessário para tomar qualquer alimento significava um esforço imenso.
A situação do enorme défice alimentar aumentou a dificuldade da recuperação, já que o próprio metabolismo se habituara à falta dos alimentos reagindo como tal.

Uma vez emitido o documento de alta (contra vontade da doente, contra os conselhos de 3 ou 4 médicos que se pronunciaram particularmente e com o espanto da equipa de enfermagem do hospital) foi literalmente posta na rua pelo cirurgião que a operou (da 2ª vez).

O regresso a casa estava fora de causa pela inexistência das condições mínimas que resistissem a uma deslocação de 500 km fosse em carro particular ou em ambulância (a deslocação por via aérea estava igualmente posta de parte pelas condições dos voos existentes e pela inadequação dos próprios aparelhos).

Só que na zona há uma Loja Maçónica e o “clique”aconteceu ! A cadeia de união foi espontânea e logo apareceram 1, depois 2, depois 3, depois várias vozes :
- Meu Irmão, a nossa Cunhada tem um quarto à espera dela, lá em casa. Antes de estar em condições não arrancas daqui para fora !

E assim foi durante 3 semanas.
Uma sala foi transformada em quarto, uma casa toda alterada, a lógica diária da vida dos donos da casa levou uma volta e o acolhimento fez-se, durante todo o tempo indispensável à recuperação mínima para o regresso a Lisboa.

Não me é possível passar para o papel tudo o que nos foi dado de carinho, de companhia, de atenção, de verdadeira solidariedade, de total fraternidade.

Assim foi e durante 3 semanas os maçons “mostraram a sua raça”, sem uma hesitação.

A quantos “copos de leite” tivemos nós direito durante todo este período complicado ?

Como diz o Rui, todos os gestos solidários são grandes, imensos e indispensáveis. Para o Mundo ser melhor, só é preciso que cada um faça a sua parte!
Aqui deixo o testemunho de um grupo de Irmãos que fizeram a sua parte.

Via e-mail
A AMIZADE ABSOLUTA

Numa aldeia vietnamita, um orfanato dirigido por um grupo de missionários foi atingido por um bombardeamento.
Os missionários e duas crianças tiveram morte imediata e as restantes ficaram gravemente feridas, entre elas uma menina de 8 anos, considerada em pior estado. Foi necessário chamar a ajuda por um rádio, e ao fim de algum tempo um médico e uma enfermeira da Marinha dos EUA chegaram ao local.
Teriam que agir rapidamente, senão a menina morreria devido ao traumatismo e a perda de sangue. Era urgente fazer uma transfusão, mas como? Após vários testes rápidos, puderam perceber que ninguém ali possuía o tipo de sangue necessário.
Reuniram as crianças e entre gesticulações, arranhadas no idioma tentaram explicar o que estava acontecendo e que precisariam de um voluntário para doar sangue.
Depois de um silêncio sepulcral, viu-se um braço magrinho levantar timidamente. Era um menino chamado Heng. Ele foi preparado à pressa e, deitado ao lado da menina agonizante, espetaram-lhe uma agulha na veia.
Ele se mantinha quieto e com o olhar no teto. Passado um momento, ele deixou escapar um soluço e tapou o rosto com a mão que estava livre.
O médico perguntou-lhe se estava doendo e ele negou. Mas não demorou muito a soluçar de novo, contendo as lágrimas.
O médico ficou preocupado e voltou a perguntar-lhe, e novamente ele negou. Os soluços ocasionais deram lugar a um choro silencioso e ininterrupto. Era evidente que alguma coisa estava errada.
Foi então que apareceu uma enfermeira vietnamita vinda de outra ala. O médico pediu então que ela procurasse saber o que estava acontecendo com o Heng.
Com a voz meiga e doce, a enfermeira foi conversando com ele e explicando algumas coisas, e o rostinho do menino foi se aliviando... Minutos depois ele estava novamente tranquilo.
A enfermeira então explicou aos americanos:
- Ele pensou que ia morrer, não tinha entendido bem o que vocês disseram e achou que ia ter que dar TODO o seu sangue para a menina não morrer.
O médico se aproximou dele, e com a ajuda da enfermeira, perguntou-lhe:
- Mas, se era assim, por que então você se ofereceu a doar seu sangue para ela?
E o menino respondeu simplesmente:
- Ela é minha AMIGA!!!!
JPSetúbal