Mostrar mensagens com a etiqueta Delta. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Delta. Mostrar todas as mensagens

05 março 2014

Delta (II)


No texto anterior, procurei explicar e ilustrar a forma do símbolo Delta e as várias variantes que podem existir. É agora a altura de me referir ao significado desse símbolo.

O Delta, sendo um triângulo com dimensões respeitando a Proporção de Ouro ou Divina, procura ser um símbolo que espelha a Harmonia e a Beleza. O símbolo triangular (independentemente da forma) desde tempos imemoriais que é associado ao significado de Força em expansão. Muitas vezes iluminado - e com expressa chamada de atenção aos presentes para que os seus olhos se voltem para a Luz... -, o Delta é associado à verdadeira Sapiência, ou Sabedoria, à Verdadeira Luz.

Este singelo símbolo, afinal apenas três segmentos de reta que se juntam de determinada forma, apela assim ao conjunto da trilogia maçónica por excelência: Sabedoria - Força - Beleza. Desenvolvendo, temos que Sabedoria, Força e Beleza são caraterísticas necessariamente presentes na Perfeição. Com efeito, só existe Perfeição se estiverem presentes a Sabedoria, a Força e a Beleza. A falta de qualquer destas caraterísticas impede que se considere o que quer que seja como perfeito. A Perfeição é, todos o sabemos, uma caraterística que, embora desejada, embora apreciada, não é inerente ao ser humano. O ser humano pode aspirar à perfeição, pode tentar aproximar-se dela o mais possível, mas - lá está! - o máximo que consegue é aproximar-se, nunca lá chegar. A Perfeição é caraterística imanente a algo superior ao Homem, que existe noutro plano, enfim, àquilo que os vários povos e seres, cada um à sua maneira e segundo a sua cultura, referem por Divindade. Só a Divindade é Perfeita, por definição.

O Delta, evocando a Sabedoria, Força e Beleza e, por via delas, a Perfeição, simboliza, assim, a Divindade, o Poder ou Força Criadora. A conceção dessa Divindade, das suas caraterísticas, de como é designada, deixa a maçonaria à liberdade, ao juízo e à crença de cada um. Por isso, essa entidade comummente evocada por todos, mas cada um à sua maneira e segundo as suas conceções, é designado pelos maçons de Grande Arquiteto do Universo. Depois, cada um designá-Lo-á pelo que entender, seja Deus, seja Jeovah ou Javeh, seja Allah, seja Vishnu, seja Universo, seja Natureza, seja, enfim, o que cada um e a sua cultura entenderem. Isso é com cada qual.

O Grande Arquiteto do Universo NÃO É uma "divindade maçónica" nem o produto ou designação decorrente de qualquer sincretismo religioso. O Grande Arquiteto do Universo é apenas e tão só a designação encontrada como máximo denominador comum, como ponto de confluência de todas as crenças, culturas e conceções, para referir a entidade criadora, ou superior (ao plano humano e material), em que cada um creia, consoante a sua fé ou conceção. 

Porque as conceções religiosas podem ser as mais diversas, díspares, mas todas são igualmente respeitáveis, porque a crença de cada um é inerente à sua própria identidade e modo de estar na vida e no mundo, não sendo lícito respeitar mais umas do que outras, os maçons buscaram uma designação que, ligada à sua tradição da Arte da Construção, pudesse ser utilizada por todos, cada um mencionando como tal a sua particular conceção e designação da Divindade da sua crença particular.

O Grande Arquiteto do Universo não é "adorado" ou "venerado" em Loja maçónica. A adoração ou veneração da divindade do culto de cada um é matéria que só a cada um diz respeito, pela forma e nos locais que a crença de cada um determine ou aceite. O Grande Arquiteto do Universo é, por sua vez, apenas um símbolo, o símbolo comum do ponto de encontro de todas as crenças e conceções de todos os maçons, permitindo a todos e cada um manterem a sua crença e a sua individualidade independentemente das diferenças que porventura haja em relação às crenças dos demais. Assim, os maçons não "adoram" ou "veneram" o Grande Arquiteto do Universo, limitam-se a trabalhar à sua Glória, isto é, cada um procurando honrar a sua própria divindade segundo a sua individual crença ou conceção.

O Delta não é uma representação do Grande Arquiteto do Universo, pela simples razão de que o Grande Arquiteto do Universo é uma abstração criada pelos maçons para harmonizarem o respeito de todos pelas diferentes crenças e conceções de cada um. Aliás, para algumas conceções religiosas não é, sequer, aceitável, pretender representar-se a sua Divindade...

O Delta é assim um símbolo das caraterísticas comuns imanentes à Perfeição e, por consequência à conceção da divindade de cada um. O Delta não é o símbolo imediato do GADU. É, quando muito, um símbolo mediato: simboliza, evoca, lembra, as caraterísticas da Perfeição e, assim, por essa via e só por essa via, remetendo mediatamente para a divindade de cada um e, logo, para o ponto de encontro de todos, por todos designado, por conveniência comum, de Grande Arquiteto do Universo. 

Porque o Delta é assim um símbolo que lembra algo que remete para algo que significa Algo, simultaneamente diferente e comum a todos, não admira que haja variantes na sua representação. Daí os raios de Luz do Delta Radiante, ou a inserção do iod ou do tetragrama, ou ainda da autêntica apropriação maçónica de um símbolo cristão que é o "olho que tudo vê". Daí também a opção, muitas vezes também presente, da inscrição, no interior do triângulo, da letra "G", de Geometria=Maçonaria=Arquitetura (ver G...de Maçonaria e Maçonaria=Geometria=Arquitetura), como forma de unificar por mais uma abstração as diversas referências individuais.

Mas, para mim, a melhor forma de utilizar o símbolo é a mais simples, portanto a que mais permite incluir a cada um: o triângulo isósceles com o ângulo superior a 108 º e os outros dois a 36 º cada um, sem mais nada dentro e sem mais nada fora. Cada um põe, na sua mente e na sua conceção, o que entender por bem acrescentar e ninguém terá nada a ver com isso. O símbolo mais "despido", mais simples, mais singelo, tem a virtualidade de ser aquilo que deve ser: o mais abrangente possível.

Rui Bandeira

26 fevereiro 2014

Delta (I)

Entre as representações do Sol e da Lua, ao centro da parede (ou perto ou junto dela) do lado oposto à entrada do espaço de reunião de uma Loja maçónica encontra-se um símbolo designado por Delta.

É frequente, mas errada, a referência e a representação do Delta como um triângulo equilátero. A representação correta do símbolo é um triângulo isósceles, em que a base é maior do que os dois outros lados, iguais entre si, de forma a que o ângulo do topo do triângulo tenha 108 º e cada um dos ângulos da base 36 º.

Com estas medidas de ângulos internos, trata-se de um triângulo obtusângulo áureo, isto é, um triângulo isósceles em que a razão (o resultado da divisão) entre a base e um dos lados iguais corresponde ao número de ouro, ou Phi (F), correspondente a 1 + √ 5 /2, ou seja, 1,618033989..., a razão ínsita na famosa sequência de Fibonacci, a tradução numérica da Proporção Divina, encontrada em inúmeros exemplos na Natureza, reproduzida pelo Homem em inúmeros monumentos e obras de arte, e que genericamente integra o que consideramos belo, harmonioso.

O Delta, com a indicada medida nos seus ângulos e, assim, a Proporção Divina nas dimensões dos lados do triângulo, resulta da construção da Estrela Pentagonal ou Pentagrama, forma geométrica já utilizada pelos pitagóricos e também adotada como símbolo pela Maçonaria.


Com efeito, o Pentagrama constrói-se a partir de um pentágono regular:


Se atentarmos no triângulo assinalado, cuja base é a linha A-C e o ângulo superior  (invertido na figura) de 108 º, verificamos ter a exata forma de um Delta. Como  um Delta é o triângulo A-B-E (e o B-C-D, e o C-D-E, e o A-D-E), como mais claramente resulta desta imagem:


O Delta pode ser representado de forma simples ou na forma usualmente designada por Delta Flamejante ou Delta Luminoso, com raios irradiando do triângulo, o qual, por sua vez, pode ou não estar inscrito numa nuvem.


O Delta pode ser representado na sua forma simples, com o interior do triângulo vazio, ou com o interior preenchido pela letra "G" (como na figura que encima este texto), por um "olho que tudo vê" ou mesmo pela representação da letra hebraica iod, seja na sua forma hebraica abaixo indicada, seja na sua transliteração latina (como pode ver-se na imagem que ilustra o texto Sol e Lua.

Pode ainda o interior do delta conter o tetragrama hebraico lido como Jeovah ou Yaveh:


Em suma, o símbolo do Delta é essencialmente um triângulo isósceles com as dimensões resultantes da Proporção Dourada (embora, por vezes, e até com alguma frequência, erradamente representado por um triângulo equilátero). Acessoriamente a esse triângulo podem existir adornos ou representações diversas.

Esta multiplicidade de representações do mesmo símbolo tem a ver com o respetivo significado e as diferentes representações que inscreve nos diversos imaginários humanos. Veremos isso no próximo texto.

Rui Bandeira