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22 setembro 2020

Comunicação do Grão Mestre da GLLP/GLRP aos Irmãos por ocasião do Equinócio de Outono


Lisboa, 22 de Setembro de 6020 

O Equinócio dos tempos que desconhecemos 

Meus Queridos Irmãos, 

Muito gostaríamos de estar reunidos na Assembleia Maçónica da Grande Loja para comemorar o Equinócio do Outono, à semelhança do ano passado, ocasião que foi para todos nós muito especial porquanto estiveram presentes mais de 800 Irmãos, e muitos e ilustres visitantes de 34 delegações oriundas de 26 países espalhados por todo o mundo. 

Há muito que vivemos tempos desafiantes, inquietantes, estranhos e perigosos. Mas a humanidade, ao longo dos milénios, sempre teve enormes problemas para resolver e agora, não sendo os mesmos, incumbe-nos a nós estar à altura dessas interrogações, enfrentando esses perigos e receios. 

O Equinócio é o evento celeste que ocorre duas vezes no ano, em Março e em Setembro. Nos equinócios ambos os hemisférios se encontram igualmente iluminados pelo Sol, na sua órbita aparente vista da terra passa pelo equador celeste, tornando o dia e a noite iguais na sua duração. 

Assim, a linha divisória entre o dia e a noite observada do cosmos torna-se vertical, "ligando" os polos Norte e Sul do nosso planeta. Dá-se o início da mudança das estações. 

É nos equinócios que os maçons recebem as bênçãos do equilíbrio, da igualdade e da justiça, sempre numa contenda para prevenir o desequilíbrio moral, espiritual e social que quotidianamente nos afectam e prejudicam. 

Devemos todos reflectir nisto porque a Maçonaria não vive fora do mundo e das realidades que a cercam e, por isso mesmo, não poderemos nunca ser indiferentes face ao tão vasto horizonte de eventos e desafios com que nos confrontamos. 

Hoje, dia 22 de Setembro de 2020, assinalamos o Equinócio do Outono e não podíamos deixar de o celebrar apesar de o mundo todo - e a maçonaria também - estar confrontado com incógnitas, dúvidas e receios de tamanha dimensão que a todos inquietam e a todos afectam de sobremaneira. 

E celebramos a efeméride porque somos fiéis ao nosso passado histórico e aos “landmarks” que nos impelem a manter viva a chama da maçonaria universal, independentemente dos tempos, devido a esses mesmos constrangimentos que se torna mais premente dizermos presente, e avançarmos para a linha da frente das carências e daquilo que se impõe fazermos. 

Provavelmente, nunca como hoje o planeta Terra, o nosso mundo, se tornou tão próximo de nós. 

Evidenciando as suas fragilidades, é certo, mas também dizendo-nos que o mundo é um só e que, se a todos pertence, igualmente de todos necessita para que a sua sustentabilidade continue a vigorar. 

A pandemia trouxe incomensuráveis problemas e brutais malefícios, mas serviu e serve para mostrarnos que a humanidade é uma só e que todos precisamos de nos unir para subsistir, lutando contra o que desregula a natureza e prejudica a sobrevivência humana e todo o ecossistema planetário, com a sua incontável e maravilhosa biodiversidade. 

É urgente, pois, intervir onde for e como for necessário, visando a recuperação da normalidade da vida em sociedade, mantendo a economia a funcionar, até para que o essencial, como os alimentos, nunca faltem. 

Todavia, é também preciso equilibrar tal desiderato com as acções de combate à pandemia, fazendo o que as entidades sanitárias entendem dever ser feito para evitar as infecções na população, e para diminuir as sobrecargas dos serviços hospitalares. 

Nada é ou será fácil neste equilíbrio, até pelos custos económicos que lhe estão associados e sobretudo quanto aos gastos com a saúde e com os subsídios aos desempregados. Mas torna-se imperioso prosseguir nesta linha para não colocar em risco a nossa saúde e a nossa sobrevivência colectiva. 

É tempo de agir! 

E agir é, por exemplo, dar atenção e reflectir sobre temas que já fazem parte das nossas preocupações e sobre os quais devemos mostrar a nossa inquietação cívica, como as Migrações e as Alterações Climáticas. 

Há um ano realizámos uma Conferência sobre as Migrações, esse enorme problema que continua, infelizmente, na ordem do dia. As migrações continuam a ser hoje uma questão incontornável a nível mundial, e como fenómeno social, económico e político assumem um papel central na opinião pública e no debate político. 

Com base na Carta das Nações Unidas para os Direitos do Homem, documento tão nobre e respeitado por todos aqueles que reconhecem nos valores da maçonaria o melhor quadro genético para a sociedade atingir a felicidade desejada, devemos encarar o problema das migrações como um desafio à própria afirmação do Homem como Ser Justo e Solidário. 

Cientes dos problemas decorrentes de semelhante fenómeno e das suas naturais reacções locais, não deixaremos que nesta reflexão se esqueça a dimensão humana de um problema, que a todos afecta, e perante o qual ninguém pode ficar indiferente. 

O Governo português transmitiu recentemente à Comissão Europeia a sua disponibilidade para participar no esforço europeu de solidariedade para o acolhimento de pessoas que se encontravam no campo de refugiados de Moria. O Secretário-geral da ONU, António Guterres, pede solidariedade europeia para com os Refugiados de Lesbos. Em Lesbos mais de 10.000 pessoas (quase 1.000 são crianças) dormem ao relento e estão a passar fome, situação perante a qual ninguém deve ficar de braços caídos. 

Está na hora de passarmos das palavras aos actos e demonstrarmos a nossa solidariedade. Solidariedade essa que não deve reduzir-se a simples ajuda ou assistência, dando-lhe apenas um significado económico ou material. Não há Solidariedade sem Caridade, sendo esta a principal fonte de todo o valor moral que impregna cada um de nós, no nosso coração. A solidariedade significa a dimensão social da caridade. Na verdade, não há futuro sem solidariedade

Citando Dionigi Tettamanzi: “Há muitas etnias e povos diferentes, mas todas as etnias têm a sua raiz e o seu desenvolvimento na única etnia humana, de modo que todos os povos se encontram num mesmo tecido vivo e unitário da família humana”

É preciso olhar para os migrantes numa óptica global, como pessoas, portadoras de direitos e deveres, merecedoras do nosso respeito e de igual dignidade pessoal, que é devida a cada ser humano. 

No discurso do “Estado da União” Úrsula von der Leyen pediu uma gestão conjunta de todos os países da EU na questão dos Refugiados. 

A crise sanitária é agora, segundo von der Leyen, outro meio para afirmar a Europa como potência à escala global. A crise pandémica mostrou “quão frágil é a nossa comunidade de valores”, afirmou ela defendendo que a União tem de “liderar a resposta global” à covid-19. Criticou ainda os “nacionalismos” na busca de uma vacina, e defendeu a cooperação no desenvolvimento de uma vacina disponível para todos, e não apenas para aqueles que tenham capacidade para as adquirir. von der Leyen assegurou ainda que “a Comissão atribui a maior das importâncias ao Estado de direito” e que o respeito pelas regras democráticas “não é negociável”. E revelou também estar em preparação um plano para combater discursos racistas e de ódio. 

Nós, Maçons, temos o dever de olhar para as questões climáticas. O Secretário-geral da ONU defendeu que os Estados "devem agir juntos face à ameaça climática", a qual é "muito mais grave do que a pandemia em si". "É uma ameaça existencial para o planeta e para as nossas próprias vidas", referiu. "Ou estamos unidos ou estamos perdidos", avisou o secretário-geral da ONU, apelando, em particular, à adopção de "verdadeiras medidas de transformação nos domínios da energia, transportes, agricultura, indústria, e no nosso modo de vida, sem as quais estaremos perdidos". 

Por causa da pandemia do novo coronavírus, várias reuniões internacionais sobre questões ambientais agendadas para este ano tiveram de ser adiadas, suscitando receios de novos atrasos na luta contra as alterações climáticas. 

A 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), que pretendia relançar o Acordo de Paris (após o anúncio da retirada dos Estados Unidos em 2017), estava prevista para este ano em Glasgow (Escócia, Reino Unido) e foi adiada para Novembro de 2021. 

Apesar do confinamento em massa, registado a nível mundial por causa da pandemia ter desencadeado uma quebra nas emissões (até 8% a nível mundial, de acordo com algumas estimativas), os cientistas já salientaram que o desenvolvimento global não irá abrandar sem mudanças sistémicas, particularmente nas áreas da energia e da alimentação. 

De acordo com os especialistas da área do ambiente da ONU, a emissão de gases com efeito estufa teria de diminuir 7,6% por ano durante a próxima década. 

A transformação a partir do Green Deal tem na prossecução da neutralidade carbónica da UE até 2050 o “coração da nossa missão”, disse a presidente da Comissão Europeia, von der Leyen. 

Defendeu, assim, que é preciso acelerar o passo para atingir esse objectivo, e anunciou que iria propor que a meta de redução de emissões até 2030 suba de 40% para 55%. 

Ao nível das temperaturas, o ano de 2019 foi o segundo mais quente desde 1880, altura em que começaram os registos modernos de temperaturas. 

Temos de nos mobilizar em torno destes objectivos e procurar influenciar todos para as causas que, pela sua dimensão humana e solidária, nos tocam, enquanto maçons, de forma especial. 

Recuperar e trazer para o tempo presente aquilo que de bom e útil nós maçons fizemos no passado, deve estar sempre na base do nosso pensamento e acção. 

Neste equinócio do Outono quero agradecer e saudar todos os Veneráveis Mestres, e a todos aqueles maçons, que ousaram contrariar esse imobilismo resultante da pandemia, realizando Sessões virtuais, e mantendo dessa forma viva a egrégora da Loja, para satisfação intelectual, filosófica e espiritual de todos os Irmãos. 

É verdade que todos sentimos a falta dos Templos e do Ritual. Os Rituais são acções simbólicas, cuja encenação e participação têm um efeito poderoso na nossa mente e espírito ao ensinar-nos importantes lições e, no limite, e ao ajudar-nos a moldar o nosso carácter e a pautar a nossa vida, através de cerimónias iniciáticas de celebração e passagem. 

Os rituais, como actos simbólicos, representam os valores que produzem uma comunidade coesa, que é capaz de harmonia e de um ritmo comum, sem os quais cada um de nós se sente isolado. A repetição, e portanto a sua prática, é uma característica essencial dos rituais. 

Nós não nascemos maçons, tornamo-nos maçons. E por isso impõe-se também uma palavra especial para todos os Irmãos Aprendizes. Do Aprendiz espera-se trabalho, conhecimento e construção permanente. Não basta a cerimónia de iniciação, nem os juramentos. É preciso o trabalho no Templo, numa busca permanente pela separação entre a luz e as trevas. A maçonaria pretende fazer de um homem bom um homem melhor.

Há, no entanto, Irmãos Aprendizes que, por força da pandemia, desde o dia da sua iniciação não voltaram a reunir em Templo. Mas não devem esmorecer! Eu estarei convosco, estaremos todos convosco, neste nosso caminho na busca incessante de mais luz e, portanto, de mais conhecimento. 

Assim, fruto da nossa experiência adquirida iremos a partir de Outubro, salvo se a situação pandémica e a DGS não o permitirem, realizar Sessões, em regime experimental, gradual e transitório, com um número máximo de 10 Irmãos em Templo e cujas regras estão em fase final de conclusão, e que oportunamente serão divulgadas. 

Esta solução resulta, por um lado, do trabalho e reflexão no seio da nossa Grande Loja e, por outro, de reuniões virtuais, realizadas com outras Obediências Regulares como a UGLE e a GLNF. 

Todos temos a firme convicção que alguma coisa tem de ser feito, sem riscos desnecessários, preservando a nossa segurança, na estrita observância das regras sanitárias, que nos permita de forma gradual retomar a nossa tão desejada e necessária actividade maçónica, para nossa alegria e felicidade. 

O que move o mundo é a busca constante da felicidade e isso é sobretudo um caminho, um percurso individual e colectivo que nunca tem fim pois se tivesse, a obra estaria concluída e tal resultado, bem sabemos, nunca poderá estar terminado, a não ser quando o GADU nos chamar para junto Dele, fechando-se, então, para cada um de nós, a magnifica Abóbada Celeste. 

Durante estes novos tempos de pandemia, que nos têm mantido afastados dos nossos afectosfraternais e contactos pessoais e sociais, realizámos diversas iniciativas. Pela sua importância e mérito destaco duas iniciativas, ambas com a “chancela” da Academia Maçónica: a Revista “O Aprendiz” que hoje publica o n.º 1, desta nova fase editorial; e a Academia de Verão - que contribuiu, seguramente, para ampliar o conhecimento e sabedoria de todos os Irmãos. 

Vamos continuar a demonstrar, por palavras e pelo nosso trabalho e obras, que a Maçonaria e os Maçons, estejam onde estiverem e sejam quais forem as condições, continuam a ser, como sempre foram, obreiros da liberdade, da paz, da harmonia, da justiça, da tolerância e do amor. Mas também motivadores de progresso, de desenvolvimento, de ciência, de educação e de solidariedade. 

Fraternalmente, 

Armindo Azevedo 

Grão Mestre

22 junho 2020

Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP aos Irmãos por ocasião do solstício de verão


Queridos Irmãos,

Começo por enviar as minhas saudações fraternas e amigas a todos os meus queridos Irmãos. Faz hoje um ano em que estávamos reunidos, em Assembleia da Grande Loja, para comemorar o Solstício de Verão, como é tradição Universal na nossa Fraternidade.

Infelizmente, hoje como no Equinócio da Primavera, continua a não ser possível vivermos esta data em convívio fraterno, que marca um dia especial para a Maçonaria e para os Maçons.

Nos últimos meses fomos confrontados com um surto epidemiológico que alterou de forma radical as nossas vidas, e que nos trouxe privações nunca antes vivenciadas.

Nunca o planeta foi atingido de forma tão extensa e profunda por uma pandemia como a que estamos ainda atravessar, porquanto a doença chegou até aos confins lugares mais distante da Terra, incluindo ilhas e ilhotas, no mais recôndito dos oceanos.

Desde o início desta nefasta ocorrência que nós, Maçons Regulares portugueses e também de todo o mundo, nos manifestamos pela palavra, por actos e obra feita. Sempre discretos, mas assertivos no combate ao vírus e às consequências provocadas nas sociedades humanas.

Chegados aqui, com o decrescer dos efeitos negativos da pandemia, impõe-se dizer que sempre acreditamos na força e inteligência do homem para enfrentar a desdita e, claro, nunca duvidamos de que com a protecção do G.A.D.U. a nossa tarefa seria um êxito. E é isso que está a acontecer pois, iluminados pelo Todo-Poderoso, seguimos o único caminho certo: continuar a obra do nosso Templo Interior.

Estas palavras antecedem o essencial da mensagem por ocasião do tão esperado Solstício de Verão, que comemoramos a 20 de Junho. Este ano, ainda semi-confinados, não poderemos festejar como sempre, o raiar da nossa estrela, da qual dependemos para a vida.

Mas o Solstício aí está, com o movimento aparente do Sol na esfera celeste a atingir a maior declinação em relação à linha do equador, no caso, no hemisfério norte.

E é assim que nos obrigamos a receber essa luz para enfrentar as lutas, todas as lutas que dificultam o avanço do progresso ou impedem o crescimento do conhecimento do homem.

Estes tempos de confinamento e distanciamento social, a que a pandemia nos obrigou, não nos afastaram das nossas preocupações mundanas.

E bem vemos o que se passa no mundo de hoje, em que a pandemia tanto contribui para que as misérias humanas crescessem volumosamente, criando milhões de desempregados, doentes e esfomeados.

Nunca tantos sofreram tanto em tão pouco tempo.

Se já tínhamos antes, os migrantes e refugiados, passamos a ter os sem trabalho a uma escala inaudita, com reflexos em todos os aspectos essenciais da vida, e que se resumem ao desespero das famílias para fazerem face aos seus compromissos.

É verdade que a pandemia também permitiu muita solidariedade, levou os povos a questionarem a política e a procurarem novos caminhos para o futuro, mas o mais significativo que poderá ter produzido, é a noção de que o planeta é um todo singular, que pertence a todos os que nele habitam e nele fazem um ecossistema de interdependências que obrigam a uma prolixa conectividade biológica (a vida) entre todos os seres, desde os micróbios, às florestas e aos homens. E certamente, tudo e todos, dependentes do Sol, da sua radiação, do seu calor, da sua iluminação.

Este momento deve fortalecer a solidariedade e despertar a responsabilidade individual para com o colectivo, para com a sociedade.

O Homem, soberano e árbitro de si mesmo, no seu livre arbítrio, apesar de portador de uma capacidade criativa, e de transformação do mundo, não tem sido capaz de se transformar a si mesmo.

O Homem é um ser eminentemente social. Esta circunstância impõe, a cada um de nós, um forte compromisso e respeito para com os outros e, com a nossa consciência.

Agora, mais do que nunca, teremos de aproveitar esta situação para defender o nosso planeta e criarmos a sustentabilidade de que carece para nos mantermos vivos e vivermos na beleza desta Terra, tão longinquamente colocada no espaço e num extremo do braço da Via Láctea.

E se temos a certeza de que os nossos valores e crenças, aqueles que enformam todos os Maçons, nos garantem o bom caminho e o bom augúrio, então digo-vos que se não aproveitarmos os dias longos banhados pelo nosso Sol, para fazermos o bem e lutarmos por um mundo melhor, as noites que se seguem a partir deste Solstício começam a ganhar forças crescentes até ao Equinócio do Outono e assim perderemos a luz de que tanto precisamos para procurarmos concluir as obras do nosso templo.

Hoje gostaria de honrar aqueles Irmãos corajosos que tomaram a decisão de restaurar a Regularidade no nosso país e ousaram criar a Grande Loja Regular de Portugal em 29 de Junho de 1991, com o apoio da G.L.N.F..

Presentemente, é mais fácil entender porque um grupo de Maçons tenha decidido, aquilo que para muitos, naquele tempo, parecia uma aventura: a instalação da Regularidade em Portugal.

Este caminho foi encetado por um grupo liderado por homens, infelizmente alguns já desaparecidos, e dos quais se destaca a figura de Fernando Teixeira, primeiro Grão Mestre da Grande Loja Regular de Portugal.

A G.L.R.P. agrupando diversas Lojas e personalidades, das mais variadas origens, profissões, idades e ideologias uniram-se pelas mesmas crenças, foi reconhecida pelas potencias maçónicas Regulares do mundo.

Assim, passou a existir em Portugal a Maçonaria Regular disposta a abrir-se a todos os Maçons que, de forma consciente, se sentissem atraídos por ela e pelos seus princípios e valores. A postura dos Maçons Regulares é diferente dos Maçons, ditos irregulares, perante as grandes questões.

Muitas obras publicadas referem-se à Maçonaria em geral, sem qualquer distinção entre a Maçonaria Regular e a irregular. A Maçonaria Regular deve continuar a lutar para evitar que lhes sejam imputados princípios e atitudes que não são os seus.

Nas Constituições de Anderson (1723), documento fundamental para a Maçonaria, os seus autores, dois pastores protestantes, Desagulliers e Anderson, referiam-se à Maçonaria: “como lugar de encontro de homens de uma certa cultura e preocupações intelectuais, interessados por uma certa fraternidade humanista, situada acima das oposições sectárias, causadoras de sofrimento, e que tinham como objectivo fundamental a criação de uma atmosfera de tolerância e de fraternidade”.

A Maçonaria Regular está intimamente ligada à Maçonaria Universal dos últimos trezentos anos, congregando pessoas de todas as ideologias democráticas, não devendo, como tal, intrometer-se na vida político-partidária, como aliás, resulta imperativamente da sua Constituição.

A Maçonaria Regular é a maior e a mais antiga fraternal ordem secular no mundo, que reúne homens de todos os países, raças, crenças e opiniões, em paz e harmonia. É uma fraternidade Universal, dedicada ao aperfeiçoamento intelectual, moral e espiritual dos seus elementos, e por essa via, à melhoria e ao progresso da Sociedade.

Pertencemos a uma Ordem iniciática que, em estrita fidelidade aos juramentos e às regras ancestrais e imutáveis, deve balizar o nosso horizonte espiritual em conformidade com os valores da Maçonaria.

Na Maçonaria Regular só é admitido aquele que declare a sua Crença em Deus, Grande Arquitecto do Universo (1º Landmark). Os Maçons prestam os juramentos mais solenes sobre os livros fundamentais das suas religiões (7º Landmark) e trabalham à Glória do Grande Arquitecto do Universo, expressão que utiliza para designar o Princípio Divino Criador, que cada um dos seus elementos conceba ou aceite, segundo a sua convicção religiosa ou espiritual.

Este princípio de tolerância religiosa vem ao encontro do movimento ecuménico, pelo que acreditamos que o espírito de desconfiança e ressentimentos, dos tempos idos, contra a Maçonaria Regular, está a ser gradualmente ultrapassado.

O 6º Landmark proíbe, formalmente: “…no seu seio, toda e qualquer discussão ou controvérsia política e religiosa.” Ou ainda, o 10º Landmark: “os Maçons cultivam nas suas Lojas o amor da Pátria, a submissão às leis e o respeito pela autoridade constituída.”
Compreender que todos somos essencialmente iguais, valorizar as diferenças inerentes à nossa individualidade, articular o que é comum com o que é diverso, em harmonia e tolerância, são características da Maçonaria. Para nós os Maçons Regulares, reconhecer a Igualdade é valorizar e aproveitar a Diferença.

E, por isto, no coração do Maçom, Igualdade e Solidariedade são meios para atingir o fim, ainda mais nobre, da União entre todos os Homens, independentemente da sua origem, da sua religião ou filiação política ou, empregando uma narrativa maçónica: “Encontrar o Equilíbrio e Reunir Tudo o que anda Disperso”.

A Maçonaria Regular aspira à melhoria da Sociedade através da melhoria dos seus membros e do exemplo por eles transmitido.

A Maçonaria Regular pretende precisamente SER e FAZER melhor do que o comum da sociedade e, assim, contribuir, pela via do aperfeiçoamento dos seus membros, para a melhoria, para o desenvolvimento e para o avanço ético da Sociedade. Esta tem de ser uma hora e um tempo de solidariedade.

Estima-se que nos próximos meses muitas empresas, em diversos sectores de actividade, deixem de laborar, que muitos milhares de pessoas possam perder os seus empregos, diminuição das condições de vida, de empobrecimento, que trará inevitavelmente problemas agravados para um Sistema Nacional de Saúde, centrado no Covid-19, e que por isso tem prestado pouca atenção a outras doenças mais graves ou às patologias cronicas.

D. José Tolentino de Mendonça, uma das vozes mais esclarecidas e inspiradoras da nossa contemporaneidade, disse (10JUN20): “desconfinar não é simplesmente voltar a ocupar o espaço, mas é poder, sim, habitá-lo plenamente”.

O cardeal português pediu ainda um “novo pacto ambiental”, citando a encíclica “Laudato Si” (Papa Francisco), que apela a uma ecologia integral, na qual os seres humanos sejam “cuidadores sensatos” do mundo em que vivem.

D. Tolentino de Mendonça, cita o Canto Sexto d’Os Lusíadas: “a tempestade não suspendeu a viagem, mas ofereceu a oportunidade para redescobrir o que significa estarmos no mesmo barco”. Neste enorme barco que é a nossa vida e numa clara alusão ao perigo que representa a desunião global.

E continua D. Tolentino de Mendonça, e cito: “a tempestade provocada pela covid-19 obriga-nos, como comunidade a reflectir sobre a situação dos idosos, que estão mais sós, mais pobres, remetidos muitas vezes para precários contextos de institucionalização”; e, por ultimo enfatizou: “A vida é um valor sem variações e por isso, mesmo uma vida mais curta não tem menos valor intrínseco que uma vida mais longa”. Que extraordinária lição de vida, de afectos e de humanismo!

Se estamos ainda no tempo do mote lançado por mim, há seis meses: Temos de Agir! Precisamos de saber “Se Agimos” e se o fizemos é porque as sementes, então lançadas estão agora a florir. E isso reconforta-nos porque os Maçons querem sempre ser os melhores – e não os maiores – mas melhores no benefício dos outros e do engrandecimento da humanidade.

Cada maçom tem a possibilidade de aperfeiçoar-se, de instruir-se, de disciplinar-se, de conviver com pessoas que, pelas suas palavras, pelas suas obras, podem constituir-se em exemplos na sociedade, e encontrar afectos fraternais em qualquer lugar que esteja, dentro ou fora do país.

Finalmente, o Maçon obtém a enorme satisfação de haver contribuído, mesmo que em pequena escala, para a obra moral e grandiosa levada a efeito pelos homens.

É por essa razão que os Maçons espalhados pela Terra são convocados a agir, isolada ou colectivamente, para minorar o sofrimento, para evitar as doenças, para promover o desenvolvimento, para matar a fome, para elevar a ciência, para defender a liberdade, para tolerar as diferenças, para combater as injustiças, e apelar aos governantes para as emergências sociais das guerras e dos conflitos.

O Futuro não vai ser fácil. Só unidos e com a Luz do Grande Arquitecto do Universo a iluminar o nosso caminho é que chegaremos lá.

Devemos estar orientados para objectivos que nos cativem, porque só assim conseguiremos, em prol do bem da humanidade, contribuir para o bem estar das pessoas. É isso que nos deve nortear.

Eu estarei sempre na linha da frente de todas as “batalhas” na defesa intransigente da dignidade humana, da verdade e da justiça, no combate contra a miséria, a fome e a exclusão.

Mas sei que não estou sozinho, e que o meu olhar se perde na enorme imensidão de todos os Maçons que me acompanham, e que me fazem sentir forte e determinado para concretizar a nossa nobre missão, com bondade, denodo e amor fraternal.

“Ninguém, absolutamente ninguém, deve ficar à beira da estrada”.

Armindo Azevedo
Grão-Mestre

23 março 2020

Comunicação do Grão Mestre aos Irmãos por ocasião do Equinócio da Primavera


Meus Queridos Irmãos,

Nesta hora tão difícil que o povo Português atravessa, em consequência da pandemia que afecta milhões de seres humanos em todo o mundo, a Grande Loja Regular de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal, fiel às suas tradições deveria estar hoje, dia 21MAR20, a celebrar em Paz, Harmonia e Alegria o Equinócio da Primavera.

Ao assinalar este ano a passagem do Equinócio da Primavera, esta lembrança é mais actual que nunca, porquanto as trevas anunciam-se hora a hora e dia a dia, por toda a Terra, num vendaval ininterrupto e avassalador, sob a forma de um vírus, o Covid 19, afectando a humanidade e pondo em risco a nossa sobrevivência.

Mas as Trevas, que sempre existiram, parecem desconhecer a sagacidade, a ousadia, a inteligência e a temeridade da nossa fraternal ordem, sobretudo nos difíceis tempos de desgraça. Por todo o tempo que nos antecede, quantas lutas os Maçons travaram e ajudaram a vencer.

A Grande Loja criou um Gabinete de Apoio aos Irmãos mais vulneráveis para satisfação das necessidades básicas.

Tenho recebido inúmeras mensagens de apoio de muitos Irmãos que, com verdadeiro amor fraterno, manifestaram vontade de ajudar neste momento de calamidade. A todos agradeço, muito reconhecido.

Tenho ainda mantido estreito contacto com muitos Veneráveis Mestres que procuram encontrar e apoiar as soluções mais adequadas à satisfação das necessidades dos nossos Irmãos e dos seus familiares.

Sempre unidos e prontos a lutar pela segurança os Maçons estão a dar provas em todo o mundo e em todos os lugares e posições.

A Maçonaria a que pertencemos, está em cada canto do nosso planeta e por isso se define como uma Ordem Mundial.

Por isso, tenho ainda mantido contactos com muitas Obediências Internacionais num amplo quadro fraterno e de diplomacia maçónica.

E tudo isto na sustentação moral e material dos mais necessitados, fazendo o bem e contribuindo para a diminuição das imperfeições do mundo.

Desta forma, cada Irmão, no campo da sua actividade, deve colocar em prática todos os ensinamentos a que foi convidado a meditar e a aceitar, no dia da sua iniciação.

Tudo o que assim fizermos, far-nos-á encontrar o âmago da vida - ou das coisas que fazem a vida -, e isso é saber a razão de existir e do porquê de aqui estarmos.

E o que procuramos é o conhecimento, a Luz. Por isso convoco todos os Irmãos a este combate pela Luz, manifestando prontidão, seja onde for e estejam onde estiverem.

Neste tempo particular de dificuldades e de incertezas, precisamos de estar unidos e serenos, para que a razão, alicerçada nos valores que professamos, seja a Luz que ajuda os outros.

Não posso deixar de enviar um abraço forte e fraterno a todos os Irmãos que se encontram doentes, bem como a todos os Irmãos que se mantêm a trabalhar activamente em todas as frentes das necessidades desta luta, bem como às suas famílias, abraço que alargo a todos os Irmãos e famílias que se encontram confinados em casa.

Renovo o agradecimento a todos os cidadãos que em Portugal se empenham em possibilitar a continuidade da nossa vida comunitária, de forma denodada e virtuosa.

Meus Queridos Irmãos,

Precisamos de todos. Apelo, por isso, ao vosso escrupuloso cumprimento das Directivas Governamentais e das Entidades de Saúde.

Convosco, sei que faremos mais e melhor a bem da humanidade e para engrandecimento da nossa Augusta Ordem.

Recebam um fraternal tríplice abraço,

A.G.D..A.D.U..

Armindo Azevedo
Grão Mestre

18 dezembro 2019

Comunicação do Grão Mestre da GLLP/GLRP por ocasião do Solstício de Inverno


Meus Queridos Irmãos, 

TEMOS DE AGIR! 

Estamos prestes a comemorar o Solstício de Inverno, uma efeméride ritual que provém de uma ocorrência astronómica, que assinala o início do Inverno. 

E surge até nós pela ancestralidade de que somos depositários, pois esta data sempre foi importante para as culturas antigas que a associavam a aspectos como o nascimento ou renascimento da vida. 

Por ser o dia com a maior noite no ano, o Solstício de Inverno é associado ao desconhecido ou à escuridão, enquanto o de maior claridade (21 de Junho) é associado à Luz (Solstício de Verão). 

Na antiguidade, as iniciações eram feitas sempre no Solstício de Inverno, porque sendo o último dia da maior noite, significava o início do ciclo de dias de luz cada vez maiores; significava ainda a saída do mundo dos mortos (a noite, a escuridão), e a entrada no mundo dos vivos.

As iniciações tinham assim o significado de renascer, ou nascer de novo para a Luz; o renascimento assume, deste modo, o significado simbólico da vida que eternamente se renova. 

Meus Queridos Irmãos, 

Queria lançar aqui uma palavra de ordem para os próximos seis meses, e ela é: TEMOS DE AGIR! 

Vivemos tempos de uma enorme desconfiança em tudo que nos rodeia. Tempos de extremismos políticos, de desigualdade social, de uma enorme crise ambiental e de guerras e conflitos culturais. 

Neste Séc. XXI em que vivemos, também marcado pelos avanços da ciência, pelas novas tecnologias, pela globalização, pelas viagens rápidas e por um encurtamento das distancias, o Solstício não perdeu a substancia mística que sempre transportou, mas há roupagens novas, sobretudo as que soubermos vestir, de forma a prolongar o encanto que nos trouxe à nossa AO e que por sermos fiéis depositários dela, obriga-nos a levá-la mais longe. E digo novas roupagens porque a essência é imutável, tal como imutável é o G.A.D.U..

O Deus Criador não muda, o que se altera da sua obra deve-se aos homens, e é desta obra – a Criação Universal – de que fazemos parte enquanto criaturas, de que falo quando cito a necessidade de reinventar as roupagens dos solstícios que cada Irmão representa. 

Pois bem, o mundo enfrenta muitos abismos, tal como referi por ocasião do Equinócio do Outono, mas bem sabemos que os problemas são sobretudo questões imateriais, porquanto nascem nas mentes humanas antes de se materializarem no quotidiano das pessoas. Bastas vezes nem sequer se materializam e já se fazem sentir. 

O mundo sempre careceu de mais humanidade, de mais caridade, de mais generosidade, de mais disponibilidade de uns para com os outros, sobretudo para com os necessitados, os explorados, os humilhados, os desprotegidos, os fragilizados, enfim, os pobres e os excluídos.

O enorme impacto no clima e na temperatura da Terra das actividades humanas, nomeadamente a queima de combustíveis fósseis, o abate da floresta tropical e a pecuária é cada vez maior, sendo que as enormes quantidades de gases provenientes destas actividades, juntam-se às presentes na atmosfera, reforçando o efeito de estufa e o aquecimento global.

Já são visíveis os impactos destrutivos das alterações climáticas e as previsões não são animadoras.

Limitar o aquecimento global exigirá a limitação das emissões de dióxido de carbono em todos os sectores da actividade humana. Nunca a destruição foi tanta e tão rápida, e governos e comunidade internacional estão a falhar no combate à crise climática.

As alterações climáticas representam uma emergência sem precedentes, diz a ONU.

A UE cuja divisa é Europa Sustentável- Futuro Sustentável tem como principal prioridade o reforço, como líder mundial, no domínio da acção climática.

Ambiente é a nova arma da Comissão Europeia para pôr a UE a crescer, centrando-se no combate às alterações climáticas como estratégia de crescimento da UE.

Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia manifestou, no seu recente discurso do passado dia 27 de Novembro deste ano, a sua preocupação sobre as alterações climáticas dizendo: “Temos o dever de agir e o poder de liderar”.

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou na Cimeira sobre as alterações Climáticas, conhecida como COP25, ao aumento da “vontade política” dos líderes mundiais para fazerem o que a comunidade científica lhes pede na luta contra as alterações climáticas: “O que ainda falta é vontade política, sendo fundamental pôr o mundo em linha com o que a comunidade científica definiu”, disse Guterres em conferência de imprensa.

“Durante muitos séculos a espécie humana esteve em guerra com o planeta e o planeta está agora a contra-atacar”; “Temos de parar a nossa guerra contra a natureza e a ciência diz que podemos fazê-lo”, sublinhou ainda Guterres. 

O Papa Francisco criticou, no encerramento do sínodo a propósito da preservação ambiental da Amazónia e do problema provocado pela mineração e desfloramento da bacia amazónica - que os cientistas dizem ser um incremento à ameaça do aquecimento global-, todos aqueles que consideram os povos indígenas “atrasados e de pouco valor”, não reconhecendo o que a cultura deles pode ensinar às outras: “Quanta superioridade presumida, que se transforma mesmo hoje em opressão e exploração”! Disse o Papa Francisco.

Neste momento começa a ser dramático para Portugal o imparável envelhecimento da população e as suas consequências, a todos os níveis da sociedade, da saúde ao crescimento económico. Mantem-se a tendência de envelhecimento demográfico, em resultado da redução da população jovem e em idade activa e do aumento do número de pessoas idosas.

O envelhecimento não só coloca problemas de sustentabilidade dos sistemas sociais, como as sociedades mais envelhecidas tendem a perder o ritmo de crescimento económico, o que agrava tudo ainda mais. A OCDE explica, por outro lado, que este envelhecimento demográfico resulta, por um lado, do reforço da esperança média de vida e, por outro, a redução do número de filhos por casal.

De acordo com os dados divulgados recentemente pela OCDE, Portugal está entre os países onde se prevê que esse envelhecimento aconteça de forma “muito rápida”, que deverá pressionar continuamente o sistema de pensões, e levar a aumentos das contribuições exigidas e resultar na redução dos salários líquidos e no aumento o desemprego, ou em novos cortes nas pensões.

A este problema soma-se o risco de desigualdade na velhice, o desenvolvimento de novas formas de trabalho e o cenário de baixo crescimento económico.

A Maçonaria Regular deve-se manter à margem do debate político e religioso, mas temos o dever de nos juntarmos contra o anti-semitismo que se verifica em algumas cidades francesas, e temos de dizer basta ao crescimento de manifestações de ódio contra a população judaica. Devemos deixar muito claro que o ideal de Fraternidade que nos caracteriza está em total contradição com o anti-semitismo em todas as suas expressões, tal como o “ódio racial” ou qualquer forma de racismo. 

Neste contexto juntemo-nos à maçonaria francesa no apelo à “liberdade e responsabilidade de todos “nas diferentes iniciativas para “parar o aumento do ódio nas relações sociais actuais, um ódio que, no passado, cristalizou tragicamente contra os judeus”. 

Mas hoje, a urgência em acorrer aos carenciados, os da nossa casa, da nossa rua, do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país, também se estende àqueles que nos chegam de fora, os imigrantes e, sobretudo, os refugiados que fogem de todas as guerras, conflitos e tormentas que vamos conhecendo, na procura de uma vida melhor.

As migrações são hoje um problema incontornável a nível mundial. As migrações como fenómeno social, económico e político têm vindo a assumir um papel central na opinião publica e no debate político. 

Meus Queridos Irmãos, 

Hoje, como sempre, devemos celebrar a Vida, a nossa Liberdade e a Democracia, e de fazer tantas coisas que, aparentemente simples e fáceis, foram fruto de árduo trabalho e difíceis conquistas, como a liberdade de falar, de discordar e de votar. 

Não é fácil compreender a complexidade de necessidades e de como a elas acorrer. Mais difícil ainda é ter soluções para essas ocorrências brutais que se multiplicam um pouco por todo o lado, a par das emergências climáticas, ambientais, demográficas e até políticas, algumas delas bem perto ou até dentro da geografia a que pertencemos. 

Ora, todo o Maçon – cada maçon – tem a obrigação de estar atento e reflectir sobre estas questões e, claro, saber agir. Temos de agir! Esta deverá ser a palavra de ordem para o Solstício. E Temos de Agir porquanto sem acção não há obra e sem ela, não realizamos o Templo que está em nós, e impedimos o carente de obter o amparo que precisa. 

Só agindo poderemos proclamar a obra do G.A.D.U., e ela consiste em consumar o nosso juramento como maçons exercendo a solidariedade. E é nesse acto perante o irmão fragilizado, perante a comunidade necessitada ou perante a premência de ajudar a encontrar rumos justos na sociedade, que estaremos a erguer um novo mundo, aquele em que habitarão os filhos que nos sucederem. 

A G.L.L.P./G.L.R.P. tem uma responsabilidade maior, não pelo facto de ser a maior obediência maçónica em Portugal, mas pelo facto de ser a única Obediência Regular, e por isso mantermos laços de amizade e de reconhecimento com as Grandes Lojas Regulares de todo o mundo, e com elas partilharmos os antigos princípios da Fraternidade Maçónica Universal, assim como a tradição iniciática. 

Esta tradição iniciática ancestral torna possível a procura e a construção de valores dentro do respeito, mais absoluto, pelas crenças particulares de cada um de nós, dando um verdadeiro sentido à nossa vida. Esta é a verdadeira e única explicação para a extraordinária vitalidade que a maçonaria conserva e representa nos nossos dias. 

É neste contexto que proponho vivermos com mais alegria, com mais robustez nos bons propósitos de vencer e de ter sucesso, não nas coisas grandes, mas nas mais pequenas ou ínfimas, nas que estão em nós e ao nosso redor. Não é preciso ir para longe para tentar fazer o bem ou melhorar o mundo.

Bem connosco ao nosso lado, em casa, na nossa rua, no nosso bairro, na empresa onde trabalhamos, ou olhando melhor o amigo ou o vizinho que temos, possamos dedicar o esforço em ajudar quem precisa.

Temos de assumir que representamos os Maçons Regulares e que, verdadeiramente, pertencemos a uma comunidade fraterna, independentemente da religião, da origem social ou da raça de cada um dos seus membros.

Devemos estar preocupados com o futuro dos nossos Irmãos sem qualquer discriminação, como um amor que não espera nada em troca, e que se acontecer um infortúnio nas suas vidas devemos estar presentes para lhes dar a força, a esperança e a confiança. Não podemos ficar indiferentes. Devemos estar presentes e agir! Os princípios de solidariedade devem ser a nossa principal preocupação e bandeira. 

A generosidade que juramos sob a forma da caridade, não é mais do que o exercício dos afectos e são estes que transformam o mundo, primeiro em cada um de nós e depois na diferença que fazemos nos outros, que deles carecem para reduzir as suas agruras ou dificuldades. 

Vamos, pois, dedicar algum tempo aos afectos – até porque se aproxima a época do Natal – para que diminua o sofrimento no mundo. Não é preciso buscar batalhas distantes, basta olhar perto e todos perceberemos que podemos fazer a diferença. E olhai bem, quantas vezes só fazendo o bem a outrem é que abrimos a porta para que beneficiemos do bem dos outros. 

Temos de utilizar as ferramentas da esperança, da lucidez e da alegria neste fascinante caminho de renovação. Não podemos desperdiçar os nossos dias, que são poucos, mas que bem contados podem valer uma eternidade. 

Meus Queridos Irmãos, 

Permitam-me que cite, mais uma vez, Albert Pike: “Tudo o que fizermos na vida só para nós, morre connosco, tudo o que fizemos pelos outros e pela humanidade permanece e é imortal”. 

Ou, ainda, um sábio pensamento judaico: “O dia de hoje jamais acontecerá novamente. Mas uma boa acção pode fazê-lo durar para sempre.” 

Ou citando, Mário Martin Guia: “A maior felicidade é a de termos a capacidade de sermos felizes com a felicidade dos outros!” 

Eram estas as palavras simples, mas cheias de emoção, que do fundo do meu coração queria partilhar convosco e que por isso espero que não sejam inúteis e contribuam para um futuro melhor. 

Meus Queridos Irmãos: 

TEMOS DE AGIR! 

Armindo Azevedo 
Grão-Mestre

21 outubro 2019

Comunicação do Grão Mestre da GLLP/GLRP por ocasião do Equinócio de Outono


Meus Queridos Irmãos,

Estamos aqui mais uma vez reunidos na Assembleia da GLLP/GLLRP, para comemorar o Equinócio do Outono, este ano especial, porquanto temos aqui presentes muitos e ilustres visitantes e Irmãos de 34 delegações de 26 países do mundo.

Equinócio

O evento celeste que ocorre hoje torna o dia e a noite quase iguais. Assim, a linha divisória entre o dia e a noite observada do cosmos, torna-se vertical, "ligando" os polos Norte e Sul do nosso planeta. Dá-se o início da mudança das estações do ano.

É nos Equinócios que os maçons recebem as bênçãos do equilíbrio, da igualdade e da justiça, sempre numa contenda para prevenir o desequilibro moral, espiritual e social que quotidianamente nos afetam e prejudicam.

O que move o mundo é a busca constante da felicidade e isso é sobretudo um caminho, um percurso individual e coletivo que nunca tem fim, pois se o tivesse, a obra estaria concluída e tal resultado, bem sabemos, nunca poderá estar terminado, a não ser quando o G:.A:.D:.U:. nos chama para junto dele, fechando-se, então, para cada um de nós, a magnifica Abobada Celeste.

Que consigamos, todos nós, demonstrar por palavras e pelo trabalho que a Maçonaria e os Maçons, estejam onde estiverem e sejam quais forem as condições, continuam a ser, como sempre foram, obreiros de liberdade, de paz, de harmonia, de entendimento, de amabilidade e de amor. Mas também, motivadores de progresso, de desenvolvimento, de ciência, de educação e de solidariedade.

Vivemos tempos desafiantes, inquietantes, estranhos e perigosos. Mas a humanidade, ao longo dos milénios, sempre teve enormes problemas para resolver e agora, não sendo os mesmos, incumbe-nos a nós estar à altura dessas interrogações, desses perigos e receios.

E reflito nisto aqui porque a Maçonaria não vive fora do mundo e das realidades que a cercam e, por isso mesmo, não poderemos nunca ser um corpo indiferente em tão vasto horizonte de eventos com que nos confrontamos.

Num momento em que a maçonaria enferma de uma injusta perceção pública, numa época em que tudo vale para fazer vingar um qualquer fim, mais do que nunca teremos de travar a queda por este declive obscuro e recolocar a Maçonaria no caminho e no patamar que sempre a distinguiu ao longo da História.

A realização de eventos abertos ao mundo profano, com temas importantes, como este das Migrações, deverá ser um caminho na partilha das nossas ideias e das nossas preocupações, que afinal não são tão secretas como nos caracterizam certos grupos.

Nesta fraternidade Maçónica destaco o extraordinário fator de união que se vive, apesar da diversidade de convicções de cada um dos seus membros, no plano político, religioso e étnico como exemplo maior de tolerância e respeito, que nos ajudam a enriquecer enquanto pessoas e maçons.

Ontem realizamos uma Conferência sobre as Migrações, esse enorme problema que vivemos hoje.

As migrações são hoje um problema incontornável a nível mundial. As migrações como fenómeno social, económico e político têm vindo a assumir um papel central na opinião publica e no debate político.

O aumento dos movimentos migratórios internacionais, registados nas últimas décadas, transformaram profundamente as sociedades contemporâneas. Esta realidade provoca um natural impacto na comunidade internacional que precisa de respostas concretas e de soluções adequadas e da implementação de políticas que atendam aos direitos humanos, ao invés, de gerarem discursos estéreis, radicais e xenófobos. As discussões em torno das migrações e dos migrantes têm sido, do nosso ponto de vista, pautadas por intervenções irrealistas e desconexas, sem analisar verdadeiramente a realidade migratória, as suas verdadeiras causas e as suas consequências.

A maçonaria tem contribuído para o bem estar da sociedade e das pessoas, de muitas maneiras, ao longo dos últimos séculos. Uma miríade de instituições, organizações e agremiações, ligadas à maçonaria universal, trabalham arduamente pelo mundo fora trazendo o conforto, a paz, a saúde, a esperança, a dignidade e a vontade de viver. E sempre foi assim para acabar ou minorar o sofrimento, a humilhação, a ditadura, a intolerância e os dogmas.

A GLLP no exercício da sua missão de cidadania tem promovido, com crescente regularidade, ações de reflexão ou campanhas de solidariedade, intervindo diretamente na sociedade em defesa dos superiores valores que professa.

Com base na Carta das Nações Unidas para os Direitos do Homem, documento tão nobre como querido a todos aqueles que reconhecem nos valores da maçonaria o melhor quadro genético para a sociedade atingir a felicidade desejada, encaramos o problema das migrações como um desafio à própria afirmação do Homem como ser justo e solidário.

Cientes dos problemas decorrentes de semelhante fenómeno e das suas naturais reações locais, não deixaremos que nesta reflexão se esqueça a dimensão humana de um problema que a todos afeta, e a ninguém pode deixar indiferente.

Num mundo em permanente evolução, a mudança deve estar ancorada num quadro de valores que, em momento nenhum, esqueça o personalismo e a liberdade individual como principal motor dessa dinâmica e, em última instância, da garantia da própria felicidade humana.

Neste desafio, poucas são as instituições seculares que têm mantido viva a luz. Por vezes na vida somos nós que fazemos a História. Noutras ocasiões é a História que nos faz a nós. A sociedade em que vivemos hoje em acelerada mudança, encerra um conjunto de desafios de proporções ainda desconhecidas e de consequências imprevisíveis. Os riscos da incerteza exigirão firme e determinada intervenção das lideranças das principais instituições que compõe a sociedade.

A nossa Augusta Ordem, ontem como hoje, pela força da sua génese e pela sua responsabilidade histórica, será inevitavelmente chamada a, mais uma vez, constituir-se como farol da evolução, saber de experiência feita sobre o essencial da libertação do Homem, luz sobre os valores que mudança alguma pode colocar em causa.

Nos tempos que correm, a maçonaria é importante na vida de milhões de pessoas e, no decurso de mais de três seculos, a maçonaria tem inspirado e moldado um número incontável de pessoas.

Uma coisa sabemos bem: os maçons foram sempre os primeiros a erguerem-se perante as dificuldades, foram sempre os mais intrépidos face às calamidades, mas também contra às ignomínias e às múltiplas incongruências e barbaridades que o ser humano criou e cria, no seu trajeto de poder e domínio das sociedades temporais, políticas, religiosas, económicas e muitas outras mais.

Consciente destes desafios, ciente da responsabilidade secular que o meu cargo impõe, propus-me a ativamente contribuir para resgatar para a maçonaria o papel central sobre este processo de evolução, recolocando-a como referência maior e escola de vida para os Homens Bons que pretendem apurar-se na relação com os outros, tornando-se Homens Melhores.

Mas foi o crescimento espiritual do homem que nos fez compreender a existência do Deus Criador e com isso, sabermos que o G.A.D.U. tudo vê.

E se assim é, esse poder absoluto do divino tornou-se um bálsamo para a humanidade, já que na sua submissão a uma força maior, se obrigava a estabelecer as leis morais e as regras cívicas que tornaram possível a convivialidade social e a civilidade entre os povos, refreando os instintos e punindo os excessos.

É neste contexto que a maçonaria universal foi “motor” de evolução humana, agindo na educação, no ensino, na reflexão e no estudo, burilando as arestas das imperfeições e elevando o pensamento politico e organizacional das sociedades a um nível nunca antes atingido, forjando lideres e obreiros de enorme gabarito que catapultaram a humanidade para nobres desígnios e belas e frondosas obras que transformaram e melhoraram o mundo.

Fomos e somos factores do progresso, mas também teremos de ser o garante dos valores que suportam esse desenvolvimento e progresso, entre os quais a liberdade, a fraternidade e a igualdade, mas ainda, a solidariedade, a temperança, a tolerância, a compreensão e a cordialidade.

Sem compreender nunca poderemos perdoar, e isso é preciso para gizar planos inclusivos e agregadores da humanidade, que bem necessita de promotores de entendimento e concórdia. A nossa
condição de maçons obriga-nos a nunca deixar de porfiar e resistir perante o desalento, as tribulações, a maldade, o odio, as desavenças e as discórdias.

E tudo isso leva à subalternização da pessoa humana, face a interesses escusos ou duvidosas práticas de superioridade, à condescendência para com a quebra das regras mais elementares do bom senso e da legalidade, como temos ultimamente visto a nível internacional, seja nas disputas politicas e comerciais, ou mesmo no inquietante caminho de uma eventual proliferação da produção armamentista mundial, que depois desembocará em conflitos bélicos nos mais diversos locais.

O mundo está perigoso e caótico, em que os fatores de estabilidade e contenção enfraqueceram e, com isso, subiu a desestabilização dos países, das sociedades e dos povos, em que até movimentar mercadorias ou pessoas, se tornou matéria de contenda injustificável, colocando em risco civis inocentes ou prejudicando normais empresas na sua atividade útil das transações necessárias para o bem de todos.

E à turbulência mais tradicional do mundo, como foi a guerra fria, sucedeu uma crise energética e de preços do crude que fragilizou uma série de países, o que depois levou, também, à polarização dos apetites nucleares em zonas distintas do planeta, criando instabilidade acrescida, como são, a crise dos misseis da Coreia do Norte e o rasgar dos acordos sobre a produção nuclear do Irão, que se repercutiu em persistentes lançamentos de misseis sobre o mar do Japão e em ataques bélicos a navios mercantes no golfo pérsico, inclusive com o seu aprisionamento abusivo.

E a conflitualidade prosseguiu com o erguer de políticas protecionistas quanto às trocas comerciais mundiais, muito focadas na aplicação de tarifas extraordinárias entre os EUA e a China e até entre os EUA e a Europa, ou os EUA e outras regiões do mundo.

Não nos compete a nós maçons, ter outra ação que não seja analisar e avaliar com justeza e retidão todas as causas e circunstâncias destes conflitos, para podermos ponderar na forma como agir, no desiderato dos nossos “landmarks” e no cumprimento dos votos maçónicos que nos obrigam a pelejar pela liberdade, igualdade e fraternidade.

O papel do maçon é intervir, para com bom senso, chamar a atenção dos problemas, inventariar as causas, propor medidas e sensibilizar o mundo para a tolerância, para a justiça, para a harmonia e para o diálogo. Não se pode resolver nada se não formos justos, humildes e razoáveis.

Humilhar o próximo, exacerbar a superioridade, praticar o ódio, demonstrar o preconceito, acicatar as diferenças, ofender e diminuir o outro, explorar a desgraça, ter práticas contra o ambiente, promover a delapidação dos bens naturais, destruir os ecossistemas, fomentar a pobreza pela ausência de planos sociais e enfim, fragilizar a humanização da vida e das sociedades, dos países e do mundo, são crimes que colocam em causa a sobrevivência do homem e destroem o planeta Terra.

Iluminados pelo G.A.D.U., os maçons obrigam-se a refletir a luz divina recebida, e isso traduz-se na iluminação das trevas reportadas aqui, pois de trevas se tratam os problemas citados. E como bem sabemos, nós temos de levar a luz aonde haja escuridão e todos os Irmãos estão convocados para esse trabalho.

Que saiamos daqui motivados para essa necessária tarefa exigente, prolongada e difícil, porquanto o mundo precisa desse nosso papel, até porque se não agirmos, não faremos jus ao passado dos nossos dignos ancestrais e lamentaremos dramaticamente a exigência de não termos agido como era necessário, e com isso, sermos fautores da desgraça que afinal devíamos ter ajudado a evitar.

Prometi, faz hoje um ano, dedicar-me com total empenho, aprimorando o talhe da pedra, cuja beleza não cessará de ser trabalhada, visando a solidificação da Nossa Ordem e o crescimento da Fraternidade, em Paz e Harmonia. Os sinais de carinho e verdadeiro amor fraternal, que me chegam hoje, comprovam isso e são a única e a verdadeira recompensa que pretendo receber.

Não poderemos nunca, como em qualquer outra instituição, obter a plena aceitação ou unanimidade sobre tantos e tão delicados assuntos em que nos envolvemos. Mas podemos e devemos, sempre, aproximar ideias, objetivos e consensos alargados que consubstanciem a nossa vontade generalizada.

Convosco, sei que faremos mais e melhor para a nossa Augusta Ordem.

A.G.D.G.A.D.U.

Armindo Azevedo
Grão Mestre

20 março 2019

Comunicação do Grão Mestre da GLLP/GLRP por ocasião do equinócio da primavera


Meus Queridos Irmãos,

Estamos aqui hoje reunidos para celebrar a Maçonaria Regular neste período que antecede o Equinócio da Primavera.

Foram hoje aprovadas as contas do exercício de 2018 e foram discutidas e aprovadas alterações ao Regulamento da GLLP/GLRP. Foi, sem dúvida uma manhã muito profícua em que foi possível discutir, num ambiente fraterno, as propostas e contributos que algumas Respeitáveis Lojas, com elevado empenho e sentido de responsabilidade, nos fizeram chegar.

Permitam-me, no entanto, que lembre que o nosso Regulamento não é comparável com os estatutos de uma qualquer Associação e que aquele é também o principal garante da nossa regularidade e do nosso reconhecimento internacional, sendo que a Grande Loja, dentro dos limites dos princípios do reconhecimento, ainda que num quadro de independência e autonomia, deve manter a autoridade sobre a maçonaria de base, ou seja, sem partilhar o poder com qualquer outro órgão maçónico.

Por outro lado, fica para mim claro que, independentemente de quem é o Grão Mestre, não devem ser diminuídos os seus poderes e competências e devemos outrossim assumir com muito orgulho que o Grão Mestre é o chefe Supremo da Obediência, de acordo com a Tradição Maçónica e com os nossos juramentos.

A Grande Loja não pode, nem deve ser reduzida a uma mera Associação de Lojas ou a uma Assembleia de Grande Loja.

A Grande Loja tem presentemente cerca de 3.000 obreiros e isso justifica, por si só, o imenso trabalho que todos temos pela frente.

Realizámos no passado dia 23 de fevereiro o dia da Lembrança, em Condeixa, numa cerimónia de homenagem sentida, que nos remeteu para a saudade dos nossos Irmãos que partiram para o Oriente Eterno.

Esta cerimónia teve uma enorme mobilização, em especial dos Grandes Oficiais, que responderam com uma significativa presença. Agradeço a todos aqueles que foram nomeados para trabalharem com dedicação, lealdade e orgulho em prol da nossa Augusta Ordem.

Presentemente, temos 145 Lojas das quais só cerca de 125 estão ativas, sendo que muitas vivem no limiar do quórum, que se pretende ver reforçado, para que todas possam trabalhar de forma justa e perfeita.

Temos todos o dever de contribuir para o reforço do quadro de obreiros, convidando todos aqueles que, pelas suas reconhecidas qualidades humanas, éticas, intelectuais e solidárias, a integrar a nossa Ordem, num processo de rigorosa seleção.

Exorto-vos, mais uma vez, a inquietarem-se sobre o contributo que cada um pode dar, no dia-a-dia, para engrandecimento das vossas Lojas e da nossa Grande Loja.

Não devemos temer os fundamentalistas, os extremistas, os ignorantes e todos aqueles que, em movimentos mais ou menos organizados, optam por criticar a maçonaria, numa fobia coletiva e antimaçónica, ou seja, a “maçofobia”, como manifestação primária de um profundo sentimento antimaçónico.

Não devemos falar de política, mas quando se trata de violação dos direitos humanos e da liberdade não podemos ficar indiferentes. Manifestemos, pois, o nosso repúdio pelas ações antissemitas em França e pelos atos, como aqueles ocorridos em Itália, na qual o governo deliberou impedir os maçons de integrarem a administração pública e o executivo ou como na Sicília, exigindo aos funcionários que declarem ser ou não maçons. 

Mas a intolerância não reside só na Europa! Também na América do Sul, num país que já foi um exemplo de democracia, a Venezuela, o Governo terá mandado incendiar Lojas e Templos maçónicos e declarou todos os maçons venezuelanos traidores ao serviço de interesses externos.

No ano passado um jovem Aprendiz Maçon, Óscar Perez, piloto militar de helicópteros, e mais seis camaradas, foram assassinados sem julgamento, com um tiro. Foram eles os primeiros a revoltarem-se. Hoje é Juan Guaidó, também nosso Irmão, que luta pela reposição da democracia, da liberdade e de eleições gerais.

Ser maçon é pertencer a uma Ordem que utiliza a tradição milenar, e que tem como base ideias como a verdade, a virtude, a igualdade e a justiça. Por isso, a nossa força é enorme, pois temos ao nosso dispor, meios que mais ninguém tem, para influenciar a sociedade de forma muito positiva.

Meus Queridos Irmãos,

No próximo dia 20 de março festejamos o Equinócio da Primavera, que é o que define o instante em que o Sol, na sua órbita aparente, atravessa o equador celeste. Teremos, assim, o primeiro dos quatro grandes momentos de interação astronómica entre o Sol e a Terra.

Há muito que deixamos de ser Maçons Operativos para nos tornarmos em Maçons Especulativos. Deixamos o materialismo e passamos a procurar a Igualdade, a Liberdade e a Fraternidade. Sermos especulativos quer dizer observar, pesquisar, refletir e projetar, fazendo teoria. 

As estações do ano, com suas características, regulam toda a vida da natureza e, também, toda a atividade humana. Estaremos 12 horas sob a égide do Sol e 12 horas sob a égide da Lua, astros que decoram os nossos Templos e que devem inspirar-nos ao estudo dos seus significados simbólicos.

A primavera é a estação das grandes mudanças. A chegada da primavera é um evento sempre muito celebrado em todo o mundo, porque marca o fim do inverno, uma estação sempre associada às noites longas, penumbra, mau tempo, desconforto e em termos históricos à escassez de comida. Para além disso, é a celebração do renascimento da natureza, e historicamente, era a altura em que se celebravam os festivais de fertilidade e abundância.

Os reinos animal e vegetal saem da letargia e tornam-se exuberantes. Para nós, maçons, é tempo de crescer e difundir os nossos princípios na sociedade. Na Primavera, as sementes brotam... e é hora então, da Maçonaria recolher “a boa semente” e plantá-la no campo da nossa Sublime Ordem.

Os Equinócios (Outono e Primavera), explicados cientificamente, são uma coisa, em maçonaria especulativa quer dizer que devemos ver acima das aparências e tentar conhecer com a visão interior e por isso é que os equinócios nos remetem para a equidade, ou seja, igualdade.

Que propósito teria o GADU, em toda a sua glória, para fazer as coisas assim?

É necessário ter em conta que a luta entre a luz e as trevas, nunca termina e que teremos sempre de pelejar para nos libertarmos da matéria e assumirmos a condição do espírito.

A Primavera dá início à vida, à prosperidade, à harmonia e ao equilíbrio e nós, que somos os construtores da sociedade “Justa e Perfeita”, passamos a deixar para trás a hibernação o Inverno escuro e lançamo-nos no erguer das colunas que refletem a Luz do GADU.

Porém, em todos os aspetos, este ritual de luz traz sempre, trabalho com a consciência, a alegria, a esperança, a renovação, a harmonia e o equilíbrio. É o momento de agradecer e celebrar a beleza da vida, da natureza, da mãe-terra e de tudo o que o Grande Arquiteto do Universo nos legou.

Meus Queridos Irmãos
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O universo criado pelo GADU é um vasto e misterioso lugar, abrangendo tudo o que já conhecemos, observamos e ainda o que iremos vir a encontrar. Durante milénios andamos a olhar para o céu, a nossa janela para o cosmos, o que provocava espanto, admiração e uma fascinação para com o desconhecido. 

Graças aos avanços alcançados, entretanto, agora sabemos que os pontos de luz no céu são estrelas, encontradas agrupadas em galáxias que se organizam em escalas maiores e assim sucessivamente.

E nós estamos aqui no nosso planeta, numa pontinha da Via Láctea…

A verdade é que, como maçons, cumpre-nos conhecer a evolução do mundo, o que muitas vezes não sucede.

Este conhecimento é importante para agora, no nosso tempo, intervirmos no mundo em que vivemos e que sabemos estar tão complicado, confuso e perigoso.

Poucos poderão antever o futuro, discorrer sobre as emergências politicas e sociais com que se defronta e defrontará o mundo, seja por questões politicas, económicas, religiosas, militares ou outras, como a sustentabilidade da humanidade enquadrada pelos países, relativamente a problemas como a poluição, a demografia, a produção alimentar, o abastecimento de agua potável, a globalização das pandemias, as alterações climáticas, a militarização das nações, a inteligência artificial, a robotização, etc..

Mas o papel da maçonaria universal é e será sempre o mesmo: defender o homem em todas as suas vertentes dos direitos humanos, da liberdade, da fraternidade, da democracia e do estado de direito.

E neste contexto, embora com as variáveis dos avanços tecnológicos, nunca deveremos ou poderemos fazer cedências. Temos de ser sempre os primeiros, onde estivermos e como estivermos, em sabedoria, nas batalhas dos novos templos de Salomão.

Todavia, hoje como no passado, a maçonaria sempre encontra caminhos para fazer avançar a humanidade e isso assim continuará a ser. 

À maçonaria portuguesa, incumbe em primeiro lugar, olhar para o país e nele cumprir a sua obrigação. Depois, temos de olhar para o mundo da lusofonia, e aí, também, fazer o que lhe compete. Logo a seguir, o nosso espaço europeu, importante por constituir o polo de maior desenvolvimento do planeta. Por último, precisamos de acompanhar o mundo que ajudamos a descobrir desde o século XV - o mundo chamado de novo, onde bem sabemos que apelam pelo nosso contributo.

E o que resta?

Bem, para além da geografia, sobra o ser humano e este não tem fronteiras enquanto ser vivo. Trata-se do nosso irmão, porquanto dúvidas não haverá, que o universo existe e nós nele estamos. Mas para saber que o universo existe, tem de haver uma consciência que dele dê notícias da sua existência. E quem dá esse sinal, somos nós, cada ser humano.

É por isso que a maçonaria é antiga, porque ela é inerente a cada homem desde os primórdios do mundo e é na maçonaria que se consubstancia o progresso da humanidade, pois para que o progresso siga em qualquer direção, torna-se necessário a Luz que a tudo ilumina, o foco que vai adiante.

E se a Luz vem do GADU, fonte de toda a claridade, ela, visa iluminar a mente do homem, se o homem a isso se predispuser.

E só depois o cosmos se alumiará. Afinal, o cosmos só pode ser visto, se for compreendido e para tal nem são precisos os olhos. Para olhar e compreender o cosmos, é necessário apenas que o coração humano seja habitado pelo Grande Arquiteto do Universo.

É isso que peço a todos os Meus Queridos Irmãos: que se deixem visitar pela Luz do GADU.

Obrigado.

Disse.

Armindo Azevedo
Grão Mestre

02 outubro 2018

Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP por ocasião da sua Instalação, no equinócio de outono de 2018


Meus queridos Irmãos,

Agradeço a vossa presença e a todos saúdo com um tríplice fraternal abraço.

Começo por saudar tão vasta representação de Representantes das delegações de potências maçónicas estrangeiras, que muito nos honram e sensibilizam com a sua presença.

Permitam-me que saúde de forma muito especial os Antigos Grão-Mestres, aqui presentes: o M. R. I. José Manuel Anes, o M. R. I. José Moreno e o M. R. I. Júlio Meirinhos que acabou de me instalar na cadeira de Salomão, o que muito me honrou.

Recebo das suas mãos uma Ordem mais forte. A Grande Loja teve um enorme incremento nos últimos 4 anos, fortaleceu-se internamente e aumentou significativamente a sua influência internacional. E isso resultou do esforço e empenho no exercício do cargo. Agradeço-te, pois, M. R. I. Júlio Meirinhos o teu empenho e dedicação à nossa Grande Loja.

Mas todos tiveram um papel notável na edificação da nossa Augusta Ordem. Foram o garante da nossa unidade e regularidade. Com o seu entusiasmo e dedicação, foram protagonistas relevantes da nossa história, e muito contribuiram para o crescimento da nossa Fraternidade. A todos eles devemos o que somos hoje. Agradeço em meu nome, em nosso nome, a todos os que me antecederam.  

Permitam-me ainda lembrar, com muita saudade, dois grandes e notáveis Maçons que marcaram, de forma indelével, o meu percurso e maturidade maçónica: Mário Martin Guia e Rui Clemente Lelé. A eles devo, ainda que de forma distinta, grande parte do que sou hoje como maçom.

Ao longo dos últimos anos, tive o privilégio de conhecer muitos Irmãos que enobreceram e enobrecem a nossa Augusta Ordem. Percorri um amplo número de Lojas e ajudei a fundar algumas. Fiz um trajeto que muitos outros Irmãos também fizeram e que muitos mais podem e, com certeza, virão a fazer.

No tempo que considerei certo, apresentei-me como candidato a Grão-Mestre da GLLP/GLRP, apresentei-me com a simplicidade e a normalidade de um qualquer Irmão que assim o desejasse e estivesse conforme à regularidade e aos regulamentos.

As últimas eleições para o cargo de Grão-Mestre reafirmaram a pluralidade e diversidade de opiniões e a enorme vitalidade da nosa Augusta Ordem. Cumprimento por isso todos os RR. II. que comigo as disputaram.

Em democracia as eleições são a pedra angular da liberdade e é sempre salutar que elas ocorram conforme os cânones que se lhe aplicam, com serenidade, igualdade, cordialidade e correção.

Na nossa Augusta Ordem, as eleições, no estrito cumprimento dos Regulamentos e do verdadeiro espírito maçónico assumem, ainda que assentes em princípios democráticos, contornos particulares. No nosso caso, exige-se que tal suceda em fraternidade. Ou seja: porque somos uma obediência fraternal, impõe-se que a disputa seja leal e em irmandade, pois ninguém está, enquanto pessoa e Irmão, acima de quem quer que seja e o "pleito eleitoral", sendo necessário e importante na vida da nossa Augusta Ordem, é apenas um momento de escolha, onde os Irmãos elegem um seu par para assumir a cadeira de Salomão.

Na cadeira de Salomão, o ocupante senta-se para governar o que lhe foi confiado, tentar resolver o insolúvel, preparar-se para o imprevisível, antever o possível, dirimir os conflitos, eliminar o que for injusto e negativo e procurar a harmonia, a paz e a concórdia.

É certo que crescemos muito. Foi meu compromisso "eleitoral" defender a máxima exigência na seleção daqueles que devemos aceitar na nossa Augusta Ordem e a quem possamos verdadeiramente reconhecer como Irmãos. A nossa dificuldade tem de estar em selecionar, não em recrutar. Selecionar, sempre com o intuito de ter connosco os melhores e mais bem preparados, pois só assim poderemos agir com maior significado junto da vida profana onde nos inserimos e só assim manteremos a união e a fraternidade que nos carateriza.

Vivemos um tempo de dificuldades no país, na Europa e no mundo, em que proliferam muitas desavenças políticas, conflitos bélicos, incertezas geoestratégicas e incapacidade para resolver os problemas sociais, como os das minorias e dos refugiados. Internamente, o país regista ambivalências, com esperança numa definitiva mudança, entre certezas e muitas dúvidas.

E reflito nisto aqui porque a Maçonaria náo vive fora do mundo e das realidades que a cercam e, por isso mesmo, não poderemos nunca ser um corpo amorfo e indiferente em tão vasto horizonte de eventos com que nos confrontamos.

Num mundo em permanente evolução, a mudança deve estar ancorada num quadro de valores que, em momento nenhum, esqueça as pessoas e a liberdade individual como principal motor dessa dinâmica e, em última instância, da garantia da própria felicidade humana.

A sociedade em que hoje vivemos encerra, em acelerada mudança, um conjunto de desafios de proporções ainda desconhecidas e de consequências imprevisíveis. Os riscos da incerteza exigirão firme e determinada intervenção das lideranças das principais instituições que compõem a sociedade.

A nossa Augusta Ordem, ontem como hoje, pela força da sua génese e pela sua responsabilidade histórica, será inevitavelmente chamada a, mais uma vez, constituir-se como farol da evolução, saber de experiência feita sobre o essencial da libertação do Homem, luz sobre os valores que mudança alguma pode colocar em causa.

Consciente destes desafios, ciente da responsabilidade secular que o cargo impõe, proponho-me, se soberba, ativamente contribuir para resgatar para a maçonaria o papel central sobre este processo de evolução, recolocando-a como referência maior e escola de vida para os Homens Bons que pretendem apurar-se na relação com os outros, tornando-se Homens Melhores.

Honrando a herança recebida desde o exemplo maior de Jacques de Molay, 704 anos após a sua morte às mãos da tirania de Filipe IV, curiosamente de cognome "O Belo", propomo-nos continuar a combater por uma sociedade mais livre e mais solidária, onde o génio individual liberte todo o seu poder criativo à luz da razão, conquistando a verdadeira beleza que resulta da perfeição.

Quando atendemos à dimensão de todos aqueles que se sacrificaram em nome dos nossos ideais, só podemos ter orgulho na condição de maçons que transportamos em nós.

Por todas estas razões, escolhi como lema do meu Grão-Mestrado "O Orgulho em Ser Maçom".

Quanto maior a alma, maior o desafio. E por tudo isto, liderar o grupo de Homens Bons que integram a nossa Augusta Ordem é, não só um privilégio, uma honra, mas uma enorme responsabilidade. É orgulho, felicidade e ambição, que só a profunda admiração que nutro por cada um me fazem imaginar sequer poder estar à altura.

Num momento, também, em que a maçonaria enferma de uma injusta perceção pública, numa época em que tudo vale, muitas vezes entre nós próprios, para fazer vingar um qualquer fim, mais do que nunca teremos que travar a queda por este declive obscuro e recolocar a Maçonaria no caminho e no patamar que sempre a distinguiu ao longo da História.

A Maçonaria em Portugal esculpiu pela sua ação alguns dos momentos maos épicos dos feitos nacionais. Da democracia à consagração das diferentes liberdades, muitas são as medalhas que podemos exibir com brio e dignidade.

É pois tempo de voltarmos a contribuir ativamente para o apuramento do Homem e da sociedade, é tempo de voltarmos a fazer História.

Para este desígnio, tenho plena consciência que o caminho a que me proponho não será nem fácil nem pacífico. Tenho total certeza das inúmeras tormentas que nos esperam e dos múltiplos ataques que nos aguardam.

A Maçonaria sempre existiu, e existirá, para melhorar o mundo. Mas para isso é preciso, primeiro, melhorar o homem. É essa a função primordial da Maçonaria.

Chegado aqui, cumpre-me, obviamente, refletir sobre o nosso momento, a realidade da nossa fraternidade. O certo é que, sendo uma Fraternidade, somos também uma Ordem onde impera a lealdade e a irmandade. Mas não nos esqueçamos que somos ainda uma Obediência e esta obriga-nos, a todos, a uma sã relação de respeito para com o Grão-Mestre e deste para com os todos os Irmãos.

Ninguém é obrigado a ser Maçom, mas, em o sendo, tem de se conformar com as constituições e as regras da Maçonaria Universal.

E é por isso que, quando prestamos os juramentos, comprometemo-nos a cumpri-los. Podemos não concordar com o que quer que seja, mas temos de cumprir e, sobretudo, em fraternidade, cumprir e agir irmãmente. Nunca por objeções, maledicências, deslealdades ou críticas que atingem a dignidade  de qualquer Irmão.

Não poderemos, nunca, como em qualquer outra instituição, obter a total aceitação ou unanimidade sobre tantos e tão delicados assuntos em que nos envolvemos. Mas podemos e devemos, sempre, aproximar ideias, objetivos e obter consensos alargados que traduzam a vontade generalizada dos Irmãos.

É iso que farei nos próximos 2 anos, com total empenho e dedicação, aprimorando o talhe da pedra, cuja beleza não cessará de ser trabalhada, visando a solidificação da Ordem e o crescimento da Fraternidade.

A condição de Maçom exige que o eleito se convença da sua humildade, pois ela será a sua grandeza, mas humildade em excesso ou pouco sentida não são mais que vícios e vaidades escondidas. Contudo, Humildade não é inação ou falta de determinação, uma vez que não se pode renunciar a governar em plenitude, mas tal apenas o determina no sentido do "Bem da Ordem".

"O Bem da Ordem" não é uma arbitrariedade ou uma aritmética administrativa. É essencialmente agir, garantindo a continuidade provinda de antanho e prossegir adiante, robustecendo a Fraternidade, constituída por Maçons livres que se congregaram para o aperfeiçoamento do homem e a melhoria do mundo. 

São estes os objetivos e os limites da governação. Tudo o mais não interessa, mas sem deixar de agir, liderar e trabalhar, fazendo o que tem de ser feito, antecipando o bom porvir e evitando o que é desajustado.

Afinal, tudo só pode ser feito com o empenho de todos os Irmãos, pois se é verdade que a Grande Loja tem de ser o vértice da Fraternidade, esse vértice tem que assentar numa base que são as Lojas, com proximidade e interação.

Reafirmo, pois, o compromisso assumido de intensificar a aproximação da Grande Loja com as Lojas e destas entre si, fortalecendo dessa forma as nossas relações e estimulando o fortalecimento da nossa Instituição.

Por isso, também, todos os Irmãos devem esforçar-se por trabalhar comigo, ajudando-me na obra comum. Quem, inconformado, passa para uma inorgânica "oposição", se afasta ou evita compromissos e serviços, "nunca será um bom Maçom". Será tão só um "membro da Loja", alguém que assinou uma proposta para ingresso na Maçonaria, como quem subscreve ou participa, anódino, numa associação social, recreativa, desportiva ou cultural.

Não sou dos que defende que haja nas Respeitáveis Lojas e também na Grande Loja portadores de cargos e colares e que apenas deambulam pelas Sessões e festividades, sem conhecimento e dedicação às funções.

Somos todos necessários e assim é inaceitável que, no meio dos "ELEITOS DA LUZ", não haja maçons disponíveis para o trabalho: só pelo trabalho o Maçom elimina as trevas.

A propósito da Luz, recorro-me da poesia do nosso Muito Querido e saudoso Mário Martin Guia e do poema Hino à Harmonia:

"Sendo o homem a sombra do Divino
e sendo também verdade
que a necessidade equilibra a Liberdade
o Espírito a Matéria, a Fé a Razão
e a sabedoria o Poder
para haver Harmonia
e alcançar a Felicidade
é também ponto assente
que a Luz deve vir do Oriente".

Desde o primeiro dia em que entrei para a nossa Augusta Ordem que sei fazer parte de um grupo que veio para ficar, com uma ideia de futuro e um plano para cumprir. É neste quadro que sustentamos a razão da nossa existência. É neste quadro que queremos crescer, ajudando os homens a serem bons e os bons a serem melhores. Ajudando as sociedades a rimarem liberdade com responsabilidade, alma com solidariedade. É este o legado que queremos deixar.

Darei por isso continuidade a tudo o que de bom foi feito, melhorando aquilo que tiver que ser, com o objetivo de cumprir o meu programa, mas respeitando o princípio da pluralidade e diversidade, ouvindo as vossas opiniões e propostas.

Importa criar e semear aqui e agora, olhando para o futuro e para a Augusta Ordem que queremos ter.

A equipa que me acompanhará é aquela que eu entendo ser o resultado da reflexão sobre a renovação das tradições que nos fazem maçons, conjugadas com a realidade, prioridades e objetivos que uma sociedade iniciática requer, num tempo imediatista e desinformado.

Disse sempre que não me candidatava contra ninguém, nem a favor de ninguém. Agora que sou o vosso GM fiquem certos de que não estarei contra ninguém, exceto aqueles cujos comportamentos e ações não respeitem os princípios e juramentos que nos unem.

O GM será o garante que nenum Irmão fica esquecido, que todas as palavras são escutadas, mas igualmente que nenhum outro se arroga de importâncias que não tem, ou de egos que deve, em primeira linha, combater. Este é o espaço da liberdade, da igualdade e da tolerância. 

Comprometi-me e vou demonstrar que somos uma organização virada para a sociedade, aceite e contributiva e onde os maçons são reconhecidos como homens de confiança, livres e de bons costumes.

É tempo de trabalhar muito, com dedicação, ética e entrega a esta causa que é de todos.

Assim, o futuro da GLLP/GLRP será risonho, não tenham dúvidas, porque a quantidade e qualidade dos Irmãos que a constituem assim querem, desejam e tudo farão para que tal suceda.

Para isso preciso de todos. Convosco, sei que chegarei lá. Convosco sei que, em paz e harmonia, todos faremos mais e melhor para a nossa Augusta Ordem.

À Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Armindo Azevedo
Grão-Mestre