Sei Ruhig!
Estive na Polónia no fim de semana passado, razão por que não escrevi o meu costumeiro artigo semanal. Foi uma visita-relâmpago, com visita a Auschwitz e uma voltinha por Cracóvia para desanuviar o espírito. A fotografia acima foi tirada nas melhores "casernas" onde dormiam os prisioneiros; sim, as melhores, que as piores eram todas de madeira, num local onde a temperatura desce frequentemente abaixo dos -20 ºC no Inverno.
Na parede que se vê, uma ordem - "SEI RUHIG!", ou "Estejam calados!" - chamou-me especialmente a atenção, pois logo me recordou o meu tempo de Aprendiz e Companheiro, em que também tinha que manter silêncio. Porém, logo, horrorizado, afastei a ideia de sequer comparar duas realidades tão díspares. Contudo, voltei à carga, pensando desta vez: "Porque é que me repugna tanto, afinal, comparar estes dois silêncios? É claro que são muito diferentes, mas o que é que os distingue tanto?"
Ali estava eu, embrenhado nestes meus pensamentos, quando ouço de uma das pessoas que me acompanhava uma observação nestas linhas: "O que me faz mais impressão é que eles não tinham para onde fugir, como mudar nada, eram só conduzidos, não tinham escolha nenhuma. Não tinham liberdade nenhuma, nem esperança de a vir a ter."
De facto, não tinham. O seu silêncio - como tudo o resto - era forçado e imposto para seu prejuízo. Já o meu, só era forçado e imposto enquanto eu quisesse ser maçon - coisa a que ninguém me obrigava - e, mesmo assim, tinha um horizonte temporal. Mas, mais do que isso, era-me imposto em meu proveito. Era, assim, uma liberdade condicionada, para a qual eu tinha uma válvula de escape: podia sempre pedir para sair, coisa que ninguém me impediria de fazer.
Eles... pois, também acabavam todos por sair...
Não tenho alento para escrever mais. Deixo-vos a recomendação de que, se nunca o fizeram, procurem na Wikipédia e no YouTube artigos sobre Auschwitz. Há muita controvérsia sobre o tema, mas a Luz surge do confronto dos opostos - e a liberdade só se pode exercer na escolha entre alternativas...
Paulo M.