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04 outubro 2025

E se a loja fosse tratada como uma empresa?


Grande parte dos irmãos das Lojas são empresários. Então, nada mais curioso que tentemos trazer uma visão estratégica para saber como nossa “empresa” está indo e para onde devemos rumar. Pensando nisso, imaginei como seria o Balanced Scorecard (BSC) de uma Loja Maçônica. Claro que é uma adaptação livre, mas ainda assim pode nos trazer algumas reflexões valiosas.

O BSC, é uma ferramenta de gestão utilizada em empresas para equilibrar objetivos em quatro dimensões: financeira, clientes, processos internos e aprendizado. Mas, e se transportássemos essa lógica para a Loja? Será que não encontraríamos paralelos interessantes?

Vejamos a tabela abaixo:

Perspectiva

Objetivos

Indicadores possíveis

Financeira

Garantir sustentabilidade da Loja e capacidade de beneficência

- Regularidade de contribuições; 

- equilíbrio entre receitas e despesas; 

- fundos para projetos sociais

Irmãos & Sociedade

Satisfação e engajamento dos Irmãos; impacto positivo na comunidade

- Retenção de membros; 

- participação nas sessões; 

- número de ações sociais realizadas

Processos Internos

Funcionamento ritualístico e administrativo com excelência

- Regularidade das sessões; 

- cumprimento do ritual; 

- clareza nas atas; 

- qualidade de eventos e ágapes

Aprendizado & Crescimento

Desenvolvimento moral, intelectual e espiritual dos Irmãos

- Frequência; 

- número de instruções e estudos; 

- evolução nos graus; 

- engajamento em cargos

Na dimensão financeira, por exemplo, a Loja precisa garantir sua sustentabilidade. Não apenas para manter as contas em dia, mas para estar preparada para investir em beneficência e projetos sociais, que são parte essencial de sua missão. Indicadores como regularidade de contribuições, equilíbrio entre receitas e despesas e fundos de reserva poderiam muito bem existir também no nosso ambiente.

Se olharmos pela ótica dos “clientes” (que aqui seriam os próprios Irmãos e, em sentido mais amplo, a sociedade), encontramos outro ponto crucial. A satisfação e o engajamento dos Irmãos são sinais claros da vitalidade de uma Loja. Uma Loja que não consegue acolher os novos Aprendizes ou manter o interesse dos mais antigos corre o risco de se esvaziar. Do mesmo modo, se ela não se projeta positivamente para além de suas paredes, perde a chance de cumprir sua função transformadora no mundo profano.

Nos processos internos, a Loja precisa assegurar tanto a boa condução ritualística quanto a gestão administrativa. Sessões regulares, rituais bem conduzidos, atas transparentes, eleições claras e eventos de qualidade são sinais de maturidade organizacional. Não basta que os símbolos brilhem, é preciso que a máquina funcione. Repare que apesar de claros, são objetivos difíceis de medir. O que é bom engajamento? O que são atas transparentes? Coloque isto em uma escala de 0 a 10 😅 

E, por fim, a dimensão do aprendizado e crescimento talvez seja a mais importante para nós. Afinal, nossa razão de existir é promover o desenvolvimento moral, intelectual e espiritual dos Irmãos. Isso se mede pela frequência, pelo número de instruções, pela evolução nos graus e, sobretudo, pelo engajamento. É nesse espaço que se cumpre a verdadeira missão da Maçonaria: lapidar o ser humano.

Quando colocamos a Loja sob essa lente estratégica, percebemos que ela não é apenas um espaço de reunião ritual. Ela é um organismo vivo que precisa de equilíbrio para prosperar. Muitas vezes nos concentramos apenas em uma dimensão, seja a ritualística, a beneficência ou até a administração, e esquecemos de que todas estão interligadas. Um caixa saudável não compensa uma Loja sem vida fraterna. Um ritual perfeito não substitui a ausência de impacto social. Uma grande obra filantrópica não resolve a falta de estudo e de instrução. É preciso harmonia e equilíbrio.

Talvez a maior provocação desse exercício seja justamente olhar para dentro da nossa Loja com a mesma clareza com que olhamos para uma empresa. Como está nossa saúde financeira? Os Irmãos se sentem acolhidos e motivados? Nossos processos são claros e regulares? Estamos promovendo de fato o crescimento humano dos nossos membros?

Equilibrar essas dimensões é o que mantém a Loja não apenas viva, mas vibrante. E se na vida empresarial buscamos resultados tangíveis, aqui buscamos algo ainda mais valioso: a transformação interior. Nossa “empresa” não vende produtos nem serviços. Ela transforma homens. E para isso é preciso tanto estratégia quanto coração.

Fábio Serrano M∴ M∴


09 março 2022

Caraterísticas da Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5

 A Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5, foi fundada em 30 de junho de 1990, no âmbito do Distrito de Portugal da Grande Loge Nationale Française. É uma das cinco Lojas fundadoras da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal. Não é melhor nem pior do que as demais Lojas da Obediência. Mas indubitavelmente que, ao longo dos mais de trinta anos do seu funcionamento criou uma cultura própria, que lhe confere individualidade.

Mais do que descrever o que fez no passado (o passado já passou…), mais do que mencionar o seu estado presente (o presente de agora não tarda nada e já é passado…), mais do que expor os seus projetos para o futuro (o futuro ainda não chegou…), julga-se útil referir (algum)as caraterísticas que compõem a individualidade da Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5.

1)     Na Loja nunca houve, não há e desejavelmente nunca haverá pugnas eleitorais.

Na Loja Mestre Affonso Domingues, é eleito Venerável Mestre o Primeiro Vigilante do ano anterior, e ponto final! E é eleito Tesoureiro o obreiro que o candidato a Venerável Mestre propõe para tal, parágrafo!

Nesta Loja não se perde tempo, nem se gastam energias com pugnas eleitorais. Temos mais e melhor que fazer! Com este princípio identitário não se perde tempo em lutas estéreis, não se formam artificialmente grupos, não se estabelecem quezílias. Acordos e desacordos estabelecem-se e discutem-se em relação a opções a tomar, a tarefas a realizar, a projetos a desenvolver. Isso, sim, debate-se o tempo que for preciso até se nos tornar evidente qual o melhor (às vezes, qual o menos mau...) caminho a seguir. Porque não perdemos tempo em questiúnculas de (ilusório!) poder, podemos mais utilmente gastá-lo a debater o que vamos e como vamos fazer.

2)    Cada Venerável Mestre é eleito para exercer um ano de mandato e depois dá lugar a outro.

O Regulamento Interno da Loja prevê a possibilidade de uma (única) reeleição para um segundo mandato, por maioria qualificada. Mas esta é uma possibilidade ali colocada apenas em face da eventualidade de sobrevir um "dia de chuva" tal que nos obrigue a recorrer ao guarda-chuva de uma excecional reeleição. O exercício do ofício de Venerável Mestre por um ano e basta tem duas evidentes vantagens: todos os obreiros interessados e intervenientes na Loja exercem, a seu tempo, o ofício de Venerável Mestre; não se sacrifica demasiado ninguém, pois, como todos os que se sentaram na Cadeira de Salomão sabem, exercer este ofício permite ao seu titular duas alegrias: a primeira quando é instalado para exercer o ofício, a segunda quando (finalmente, ao fim de um loooongo ano...) vê instalado o seu sucessor e é aliviado da responsabilidade de dirigir a Loja.

O Segundo Vigilante de um ano é o Primeiro Vigilante do ano seguinte.

 Este princípio identitário é crucial, pois impede que se criem cliques de direção da Loja, impedindo o Venerável Mestre recém-eleito de ser ele a escolher o seu sucessor. Com efeito, o Primeiro Vigilante é (ver o primeiro princípio identitário acima) o sucessor natural do Venerável Mestre e, consequentemente, não deve ser por ele escolhido, ao contrário da esmagadora maioria dos demais Oficiais da Loja. O Venerável Mestre tem o dever de designar para Primeiro Vigilante o Segundo Vigilante do ano anterior, que foi escolhido para essa função pelo seu antecessor, com a expectativa do próprio, do Venerável Mestre que o nomeou e de toda a Loja, de ser no ano seguinte Primeiro Vigilante e, no subsequente, Venerável Mestre. Assim não proceder, para além de ser uma condenável forma de se arrogar o direito de escolher o seu sucessor, seria uma tremenda falta de respeito pelo seu antecessor, uma forma de lhe dizer meu caro, foste um palerma, fizeste uma má escolha para Segundo Vigilante, eu é que vou ser o Cavaleiro Branco que vai emendar o teu erro e escolher o homem certo para o lugar certo... O incumprimento deste princípio identitário da Loja abriria uma Caixa de Pandora de consequências imprevisíveis, correndo-se o risco de deitar a perder tudo o que a Loja foi e construiu ao longo de mais de trinta anos.

Todos devem saber fazer tudo.

  Por rotina, todos os Mestres da Loja rodam no exercício de todos os ofícios. Sempre que possível, reservam-se para os Mestres Instalados, para além dos Ofícios de Ex-Venerável e de Guarda Interno (o Ex-Venerável do ano anterior), os Ofícios de Orador e de Hospitaleiro, dadas as suas especiais caraterísticas. Os demais ofícios, sempre que possível, são assegurados por Mestres que ainda não passaram pela Cadeira de Salomão. Ao rodar todos os Mestres por (quase) todos os Ofícios, assegura-se que quando o Obreiro chega à Cadeira de Salomão conhece perfeitamente o funcionamento de toda a Loja e está, assim, apto a dirigi-la.

Serviço é serviço, copos são copos.

 Antes da sessão, brinca-se e convive-se. Depois da sessão, idem. Desde o momento em que o Venerável Mestre bate pela primeira vez com o malhete até ao momento em que são dados por findos os trabalhos, trabalha-se! Sobretudo, procura-se executar o ritual sempre o melhor possível, corrigindo em cada sessão eventuais erros cometidos em sessões anteriores.

A espontaneidade e o humor nunca fizeram mal a ninguém.

Entre o ritual de abertura e o ritual de encerramento, e quando não se estão a executar outros rituais, o serviço é serviço, mas não tem de ser macambúzio. Se houver uma nota de humor, todos riem com gosto! E logo se retoma o trabalho… Mas atenção que o malhete do Venerável Mestre é que pontua os trabalhos e, sempre que o entenda necessário, lá está o Orador para moderar algum ocasional excesso… Estamos entre Irmãos, a espontaneidade temperada pela disciplina faz maravilhas pela coesão do grupo!

 Os mais novos são para integrar o melhor possível

 Cada Aprendiz só o é porque foi cooptado para integrar o Quadro da Loja. Cada Aprendiz é um Venerável Mestre potencial. Cada Companheiro é um elemento em transição para Mestre. Toda a Loja procura integrar os elementos mais novos, não só através da sua aquisição dos ensinamentos próprios dos respetivos graus, mas sobretudo na noção e na prática de que todos estão ali para se aperfeiçoarem, para cada um de nós ser melhor hoje do que ontem e pior do que amanhã. O trabalho faz-se com o grupo e os seus resultados são apresentados na Loja e em Loja.

Não há pressas, o tempo é indispensável; não há baldas, o trabalho é imprescindível

 Os interstícios são para cumprir, porque o tempo é um fator indispensável à boa integração no grupo. Ninguém é aumentado de salário sem elaborar e apresentar a sua prancha de proficiência em Loja, porque deve demonstrar a sua evolução aos seus pares.

Eu não sou mais do que tu, tu não és mais do que eu, tu e eu somos iguais.

 O grupo influencia o indivíduo o indivíduo influencia o grupo. Seja Aprendiz, Companheiro, Mestre ou Mestre Instalado. Basicamente todos somos iguais, todos temos de melhorar e todos estamos em processo de aperfeiçoamento. O Mestre guia o Aprendiz e auxilia o Companheiro, mas também aprende com o Aprendiz e beneficia da ajuda do Companheiro. Aprendiz, Companheiro e Mestre são necessárias fases de evolução e aprendizagem, mas todos os que nelas estão são basicamente iguais e como tal nos vemos uns aos outros.

Tudo se debate; mas quando o Venerável Mestre decidir, está decidido.

Tudo se debate, com exceção de política e religião. O debate pode e deve ser vivo. Não há mal nenhum em que se revelem divergências, diferenças de pontos de vista. Tal é necessário para que seguidamente se construam convergências e consensos. No debate, no fundo todos agem como conselheiros do Venerável Mestre. Mas a maioria não tem, necessariamente, razão. O Venerável Mestre pode decidir em consonância com a maioria, mas normalmente a melhor decisão é a que resulta do entendimento da maioria temperado com os contributos da ocasional minoria. E, uma vez tomada a decisão pelo Venerável Mestre, está decidido. Acaba o debate e passa-se adiante…

Ninguém pode obstaculizar à decisão do Venerável Mestre, mas ninguém é obrigado a cumpri-la.

A Maçonaria é essencialmente, voluntária, mas todos jurámos obediência as decisões do Venerável Mestre. Por outro lado, todos somos iguais e ninguém deve ser compelido a fazer algo contra a sua consciência. Do confronto destes dois princípios, há muito que na Loja é consensual que ninguém tem o direito de obstaculizar ao cumprimento da decisão do Venerável Mestre, mas ninguém é obrigado a executá-la, contra a sua consciência.

Eu e tu podemos estar em desacordo, mas que ninguém de fora ouse meter o bedelho.

 O hábito de (quase) tudo debater necessariamente que pode gerar diferenças de opinião, frequentemente conduz a debates acesos. Mas são debates que ocorrem entre nós e diferenças de opinião que resolvemos todos nós. Que ninguém de fora alguma vez tenha a infeliz ideia de meter o nariz onde não é chamado e atacar algum de nós! Os poucos que tiveram a ousadia de o fazer, viram, ao vivo e a cores, como toda uma Loja passa do modo debate para o modo muro de betão e como, se alguém se mete com um de nós, leva com todos!

Venham às nossas sessões, que nós gostamos de ser visitados.

Os visitantes na nossa Loja são sempre bem-vindos! Saudamos com sincera alegria a sua presença e procuramos dar-lhes o melhor tratamento possível: tratá-los como da casa! Por isso, não se admirem se nós discutirmos o que tivermos que discutir, pela forma que houver que discutir, na vossa presença. O visitante é como se fosse da casa, logo, não temos nada a esconder-lhe. Mais: se o visitante também quiser participar na discussão, a sua opinião é bem-vinda e apreciada. Só pedimos que tenha  cuidado com a nossa caraterística anterior… Ah! E os nossos visitantes são sempre também muito bem-vindos aos nossos ágapes, onde – não tenham dúvidas! – terão também sempre um tratamento rigorosamente igual aos da casa. Até no pagamento do custo do ágape…

A nossa Loja denomina-se MESTRE Affonso Domingues

Por favor não digam que a nossa Loja é a Affonso Domingues. Nós sabemos que, quando assim dizem, não o fazem por mal, mas o nome da nossa Loja é MESTRE Affonso Domingues. É um favor que nos fazem se não esquecerem uma parte do nosso nome. E, já agora, quando o escreverem, não esqueçam que o Affonso do nosso nome tem dois ff

Uma vez da Mestre Affonso Domingues, sempre da Mestre Affonso Domingues

Quem entrou na Loja, tornou-se um de nós. Todos aqueles que saíram, quantas vezes para formar outras Lojas ou colaborar na sua formação, fizeram-no no uso da sua liberdade individual, mas sempre sem azedumes nem qualquer espécie de mal-entendidos. Alguns já voltaram e foi como se nunca tivessem saído. A maior parte, quando está connosco, sente-se e é sempre tido e tratado como um de nós, que continua e continuará a ser. A nossa Loja é um espaço de formação, que desejamos marque quem por cá passa, esteja onde estiver. Todos sabem que quem foi um dia um de nós, é e será sempre um dos nossos.

E, neste particular, também os que já franquearam o umbral do Oriente Eterno continuam a ser um dos nossos. Por isso, este texto é dedicado ao nosso muito querido e recordado Luís Rosa Dias, mas também ao Rui Clemente Lelé, ao Alexis Botkine, ao João Damião Pinheiro, ao Carlos Antero Ferreira, ao Luís Prats, ao Jorge Pereira de Almeida, ao Salomão Amram, ao Jorge Silveira, ao Paulo Guilherme d’Eça Leal, ao José Luís Moita de Macedo, ao André Franco de Sousa, ao António Cunha Coutinho, ao Enrique Fugasot, ao José Manuel Severino e ao Eduardo Gonçalves.

 Estamos certos que, lá no assento etéreo onde subiram estão a manter viva e em bom funcionamento a versão do Oriente Eterno da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, a que, em devido tempo, nós nos juntaremos.

 Porque uma vez da Mestre Affonso Domingues, sempre da Mestre Affonso Domingues. Aqui e no Oriente Eterno!

Rui Bandeira

15 outubro 2020

A Loja pós-pandemia


A interrupção dos trabalhos presenciais em resultado da pandemia constituiu, obviamente, um apreciável transtorno para a Loja. Interrompeu-se a programação do ano, bem como o contacto presencial entre os obreiros da Loja. Ao fim de algum tempo, passou-se a utilizar os meios técnicos disponíveis para passar a reunir em videoconferência, nas mesmas noites em que normalmente haveria sessões de Loja. Foi o remédio possível, mas rapidamente se verificou que... não é a mesma coisa! Nem poderia ser, claro.

Inicialmente, nas duas ou três primeiras videoconferências, ainda houve a alegria do reencontro, ainda que por meios virtuais. Mas depois começou a ouvir-se o lamento, de cada vez mais de nós até ser evidente haver unanimidade nesse sentimento, de que... falta o ritual! E falta, efetivamente. 

Mas em quase todas as situações podemos escolher ver o copo meio vazio ou olhar para o copo meio cheio. O copo está meio vazio, porque falta o ritual. Mas, por outro lado, afinal o copo está meio cheio, porque nos demos conta de que falta o ritual!

Efetivamente, antes da pandemia (e subjetivamente este “antes da pandemia” começa a parecer-nos algo como “no século passado”...) quantos de nós REALMENTE tínhamos a noção da importância do ritual? Cada um que confesse a si próprio: é ou não verdade que, antes da pandemia, ao menos uma vez, em momento de maior cansaço ou num assomo de aborrecimento, se pensou que a repetição uma e outra vez do ritual era, afinal, uma perda de tempo e que mais valia tratar-se do que se tinha a tratar, debater-se o que se tinha a debater, decidir o que se tinha a decidir sem se “perder tempo” com a repetição de um ritual já conhecido? E não terá porventura havido alguma vez em que o ritual de encerramento foi “despachado” em alta velocidade porque já era tarde e o ágape esperava?

 Pois bem, agora vimos, agora sentimos, que o ritual nos faz falta. Que a repetição daquelas frases, por alguns já centenas de vezes ouvidas, nos conforta, que a audição desse diálogo nos sintoniza, que os princípios, os lemas, os símbolos  dele constantes nos relembram as condutas que devemos seguir, as melhorias que nos esforçamos por fazer, o sentido da vida que buscamos.

 Se algo de bom para a Loja resultou da paragem em resultado da pandemia, foi isto mesmo: lembrou-nos como o ritual é importante, como nos faz falta, como integra a essência de ser maçom.

 Assim, enquanto nos mantemos nesta “apagada e vil tristeza” de nos irmos vendo (alguns de nós, que a outros as videoconferências nada dizem) bimensalmente por videoconferência, comecemos, cada um de nós de si para si e todos em conjunto, a preparar o regresso à Luz das nossas reuniões presenciais e ao reencontro com o ritual.

 Porque – não nos enganemos – há que preparar esse regresso e nos prepararmos para esse regresso, pois este interregno deixou marcas, fez-nos perder o hábito de “ir à Loja”, potenciou a nossa preguiça (e venha de lá o mais pintado dizer que preguiça é coisa que não sente e nunca sentiu, que eu logo fraternalmente terei de o apodar de Irmão mentiroso... Um dos vícios para que cavamos masmorras é a preguiça...). Pelo que, quando regressarem as reuniões presenciais, haverá que sacudir todos e cada um de nós para desalojar a instalada rotina de “não ir à Loja” e motivar todos para comparecer... até porque vai haver ritual!

 Na minha ótica, três ações serão necessárias, quiçá indispensáveis.

 1)      Nas duas ou três primeiras sessões, fazer um trabalho mais pronunciado de divulgação e de motivação de todos a comparecer. No limite, organizar que cada um da metade mais assídua tenha a tarefa de contactar, motivar e tentar, por todos os meios exceto a força física, que os menos assíduos agora venham. Não só porque vai haver ritual, mas afinal porque vai haver um RECOMEÇO, um novo ciclo, a organização e funcionamento de uma nova Loja pós-pandemia (quer nós estejamos cientes disso ou não, este interregno pandémico é um corte, uma separação, entre a Loja de antes e a Loja de depois, que será o que nós quisermos, pudermos e conseguirmos fazer dela. Então, os menos assíduos, os menos interessados, os mais ocupados com trabalho, família e tudo o resto que normalmente se atravessa à frente da “ida à Loja”, que melhor oportunidade têm de contribuir para uma Loja mais à medida do seu interesse, das suas necessidades, do que aproveitar o RECOMEÇO e a folha em branco que ele transporta para escrever nela o que mais lhe interessa, para ajudar a fazer da Loja o que eles sentem que falta? A Loja pós-pandemia far-se-á com todos, os que antes vinham mais e os que antes vinham menos (ou não vinham de todo...), que agora podem ajudar a refazer a Loja mais a seu gosto!

 2)       A segunda necessidade a satisfazer é... RITUAL, RITUAL, RITUAL. Se sentimos que o ritual nos está fazendo falta, vamos matar a fome dele! Deveremos dar prioridade, nos primeiros tempos, à execução ritual e, sobretudo, à execução de vários rituais, designadamente o de Iniciação, o de Passagem e o de Elevação. Exceto os dinossauros da Loja (eu e mais um ou dois), miraculosamente ainda não extintos, os elementos do Quadro da Loja podem porventura ter ouvido falar, mas não tiveram experiência dos primórdios dela. E os primórdios dela resume-se a uma palavra triplamente dita: ritual, ritual, ritual. Durante mais de um ano, por imposição do Grão-Mestre Fundador, era a nossa Loja e só a nossa Loja que fazia Iniciações, Passagens e Elevações. No fim desse tempo estávamos exaustos, já deitávamos ritual pelos olhos fora, mas foi com esse trabalho que forjámos a argamassa que constituiu a coesão da Loja e que nos ajudou, ao longo de três décadas, a superar crises e adversidades. A Loja pós-pandemia vai recriar a sua coesão e a execução ritual vai certamente ter um papel nisso. Mas não esqueçamos que para fazer um ritual de Iniciação temos de ter candidatos já inquiridos e admitidos pela Loja à Iniciação. Aproveite-se o tempo de pausa para ultimar as inquirições de quem está nos passos perdidos, de forma a votarmos a sua admissão à Iniciação na primeira sessão presencial de Loja. Para fazer Passagens, temos que ter Aprendizes com o interstício cumprido e as respetivas pranchas lidas. Haverá que verificar se estão reunidas as condições de Passagem também logo na primeira sessão presencial, para programar a Passagem de quem pode fazê-lo logo nas sessões seguintes e assegurar o cumprimento dessas condições aos que ainda as não reunirem, para serem passados logo depois, numa fase subsequente tão rápida quanto possível. E o mesmo quanto às Elevações.

 3)       Finalmente, a terceira necessidade a satisfazer é cíclica na nossa Loja: estabelecer qual o nosso projeto nos tempos mais próximos, que iniciativas vamos assegurar, em que é que nos podemos distinguir das demais Lojas.

Para satisfazer esta necessidade vai ser necessário apresentar ideias, formular projetos, debater prioridades. Este é, por exemplo, um dos pontos que porventura permitirá que os mais desinteressados se voltem realmente a interessar. Mas não tenho ilusões. O passado mostra-nos que este não é um processo fácil, nem rápido, nem sequer particularmente eficiente. Ter ideias, apresentá-las, defendê-las, harmonizar com as sugestões dos demais, estabelecer pontos de entendimento e planos de ação nunca foi, não é e não será nunca fácil. Mas se há algo que os trinta anos da nossa Loja mostram é que este processo, quantas vezes anárquico ou demorado, acaba sempre por, cedo ou tarde, dar resultados positivos. Às vezes de forma não esperada, às vezes sem decisão formal da Loja, mas por avanço de dois ou três a que outros se juntam e acaba por se estar perante um projeto da Loja. Pouco importa. A seu   tempo, algo se fará. E cada coisa que se faça é mais um elemento fortalecedor da Loja e da sua coesão. Nem sempre poderemos avançar rápido. Teremos porventura de fazer pausas, de reordenar prioridades. Mas algo se fará. E muito mais se discutirá e projetará e fará mais à frente.

E verificaremos que, compreendendo que o ritual é importante e dando-lhe a importância que lhe é devida, ele não é tudo. Na Loja, como na vida, o equilíbrio é fundamental e o caminho faz-se caminhando. A Loja pós-pandemia vai necessariamente ser diferente da Loja de antes, mas a essência do que nós somos, essa, vai permanecer. Esta é a Loja Mestre Affonso Domingues! 

Rui Bandeira

Prancha apresentada na sessão virtual da Loja de 14 de outubro de 6020, E. M.


18 junho 2018

E agora... no Facebook!


Hesitámos durante muito tempo. Chegámos a ter, por duas vezes, projetos de páginas preparados. Das duas vezes não os ativámos publicamente. A rede social Facebook tinha (e tem) vantagens, mas também inconvenientes. Um deles o de parecer, por vezes, "território" em que as normas de boa educação e de convívio social são facilmente menosprezadas, com frequentes comentários em que o insulto soez e a provocação gratuita são moeda corrente. O que não deixa de ser curioso, para além de lamentável, numa... rede social...

Decidimos, portanto, aguardar e ser prudentes. Fizemos experiências. Por exemplo, desde há vários anos que coloco na minha página do Facebook ligação para os textos que escrevo e publico no A Partir Pedra. Verifiquei que, felizmente, o número de comentários malcriados ou provocatórios foi baixo e com tendência decrescente ao longo do tempo e que uma política firme de não complacência com violações das normas sociais de respeito e consideração pelos outros - normas essas que também devem vigorar no espaço cibernético e nas redes sociais - dissuadiu os poucos abusos que ocorreram.

Verificou-se também que a evolução da utilização da comunicação através dos meios virtuais, com o explosivo crescimento das redes sociais, alterou o perfil de busca e consumo de informação por parte da generalidade das pessoas. Os blogues, por si só, perderam alguma relevância. O utilizador habitual da Internet agora vai muito menos diretamente a um blogue - a não ser quando lhe interessa especificamente seguir o mesmo - e acede a sítios e blogues principalmente no âmbito de buscas temáticas ou através de palavras-chave nos motores de busca, mas também através de ligações de textos no Facebook. Este blogue, por exemplo, tem a esmagadora maioria dos acessos aos seus conteúdos através dos motores de busca (o Google, em primeiro lugar), do Facebook (das ligações a textos aí inseridas) e do sítio na Internet da Loja. Os acessos diretos são claramente minoritários, Bem sei que o endereço do blogue, algo complicado com os seus hífens (a-partir-pedra.blogspot.com (ou .pt, ou .br, ou .fr, etc.) não ajuda, sendo mais prático inserir apenas a partir pedra no Google,. Também sei que o inabitual endereço do sítio (www.rlmad.net) leva a que muitos acedam ao sítio utilizando os termos de busca Loja Mestre Affonso Domigues no Google. Mas, mesmo assim, a tendência é evidente.

Portanto, pesadas as vantagens e inconvenientes, é agora chegado o momento de a Loja Mestre Affonso Domingues estar também representada por uma página no Facebook. Está já ativa, no endereço https://www.facebook.com/mestre.affonsodomingues (atenção ao ponto entre mestre e affonso e aos dois ff de affonso...) a página no Facebook da Loja Mestre Affonso Domingues.

Essencialmente, terá aí publicados os textos do sítio da Loja que, pelo seu tema, pela sua estrutura, pela sua dimensão, o gestor da página considere adequados para inserção em rede social. Só excecionalmente terá, porventura, textos adicionais, pois a página no Facebook é - ao menos por agora - encarada como mais um ponto de acesso aos textos do sítio. O seu grafismo, dentro das especificades proporcionadas pela rede social, remete para os grafismos do sítio e do blogue, procurando ilustrar essa essencial unidade entre página do Facebook, sítio - e também blogue..

No fundo, este passo procura corresponder à tendência verificada de utilização de busca de informação no espaço cibernético e, afinal, facilitar ainda mais o acesso aos conteúdos produzidos e publicados pela Loja e seus obreiros.

Esperamos que seja útil!

Rui Bandeira 


19 fevereiro 2018

Novo site da Loja Mestre Affonso Domingues


A Loja Mestre Affonso Domingues foi pioneira entre as Lojas maçónicas portuguesas na disponibilização de um site na Internet, acessível através do endereço rlmad.net. Ao longo dos anos, temos procurado remodelar e melhorar esse site, acrescentando-lhe conteúdos.

Aproveitando o facto de mudarmos de fornecedor de alojamento, decidimos mudar também de plataforma, passando a utilizar o popular Wordpress e aproveitámos também para rearrumar as mais de cinco centenas de textos que já colocámos no site, agrupando-os em três grandes divisões: R.L.M.A.D. (por  sua vez, com as subdivisões Página do VM, Veneráveis e Pranchas Públicas - onde publicamos trabalhos elaborados por obreiros da Loja e nela apresentados e discutidos), G.L.L.P/G.L.R.P. (com as subdivisões Informações, Pranchas e Conteúdos, Em Loja, Memória da Grande Loja, Landmarks e Lojas Maçónicas) e Maçonaria (com os sub-temas Artigos Sobre Maçonaria, Graus Maçónicos, Interessante para os Maçons, Perguntas e Respostas, Poesia Maçónica, Pranchas Maçónicas, Regras Maçónicas, Maçons Célebres, Valores Maçónicos, O Aprendiz, O Companheiro, O Maçon, Ofícios da Loja e Simbolismo).

Este rearranjo dos textos do site tem como grande objetivo proporcionar aos visitantes do site, principalmente a quem não é maçom mas se quer informar sobre Maçonaria, um menu de temas que lhe permitem facilmente aceder a textos sobre diversos assuntos. Este site, sendo também útil para os obreiros da Loja, por constituir um fácil arquivo digital de muitos trabalhos e de muitos temas, foi pensado para ser especialmente útil para quem "está de fora", para quem não é maçom, mas quer obter informação sobre Maçonaria, a Grande Loja e as Lojas - particularmente a Loja Mestre Affonso Domingues, como é natural -, os trabalhos elaborados pelos maçons, as suas regras, Princípios e Valores.

Uma acusação recorrente contra a Maçonaria e os maçons é a de que se trata de "associação secreta". Este site procura demonstrar que a Maçonaria é tudo menos secreta! Nada temos a esconder. Pelo contrário, temos todo o gosto em partilhar os nossos trabalhos, divulgar os nossos Valores. 

Nos dias de hoje, a Maçonaria será porventura ainda algo de estranho para muitos, sobretudo ao depararem-se com grupos de indivíduos que se reúnem semanal ou quinzenalmente, sem nenhuma vantagem material. Em tempos de império do dinheiro, de glorificação das fortunas, de procura por tantos de "vencer na vida", de ascensão social, de conforto material, será estranho haver grupos de indivíduos que se juntam com o primordial objetivo de trabalharem para o seu aperfeiçoamento, para estudar, para aprender, para especular, para discutir Ética e Moral e Tolerância e Liberdade e Igualdade e Fraternidade e tantas outras coisas mais que não são de César e que não trazem vantagens materiais. Por isso alguns não acreditam que é para isso que os maçons se reúnem e elaboram teorias de conspiração e alimentam desconfianças. Nada podemos fazer quanto a isso - senão mostrar o que fazemos! E cada um que tire as suas conclusões!

Este é o site da nossa Loja, que, com agrado, colocamos à disposição de todos os interessados. Ainda não está pronto. Nunca estará pronto! Pretendemos continuamente aperfeiçoá-lo (como pretendemos aperfeiçoar-nos a nós...). Nos tempos mais próximos, tencionamos embelezá-lo com mais imagens, colocar mais conteúdos, "podar" o site, limpando-o de conteúdos desatualizados, melhorar o seu lay-out. Enfim, tencionamos mantê-lo como o pretendemos, como uma montra do trabalho que realizamos em Loja. 

Esperamos que o site seja útil. Esperamos que mereça a SUA visita e o SEU interesse.

Rui Bandeira

17 julho 2017

As Lojas e a Grande Loja: conceção simbiótica


Expus em dois dos últimos textos as conceções polarizadas que podem existir nas relações entre as Lojas maçónicas e a respetiva Grande Loja ou respetivo Grande Oriente, essencialmente a que dá prevalência àquelas sobre esta ou este e a que assenta no pressuposto precisamente contrário. Efetuei, ainda que brevemente, a crítica de uma e outra posições. É agora tempo de indicar a conceção que tenho por correta e que acho que deve enformar o relacionamento entre as Lojas e a sua estrutura agregadora. 

Conforme, em comentário a um dos textos, numa rede social, muito lucidamente escreveu Carlos D., um maçom que muito prezo e cujos escritos leio sempre muito atentamente, "efectivamente, a Loja constitui a base estrutural da Maçonaria" e, quer nas Grandes Lojas, quer nos Grandes Orientes, "ressalta a convicção da soberania das lojas, cabendo às "grandes" instâncias o exercício executivo dessa soberania colectiva". Efetuo estas citações porque resumem certeiramente os campos de atuação das Lojas  e das respetivas estruturas agregadoras.

Com efeito, para o trabalho do maçom, para se ser maçom, a Loja é indispensável. É na Loja, com a Loja e pela Loja que o maçom se faz, cresce e evolui. Portanto, naturalmente que a Loja é o polo essencial em tudo o que respeita à integração, formação e acompanhamento dos seus obreiros. E, assim sendo, é a Loja soberana quanto à forma como funciona, como organiza o seu trabalho e o trabalho dos seus obreiros. Enfim, o paradigma da muito batida frase que postula integrar o conceito de Maçonaria o princípio maçom livre numa Loja livre.

Mas, se no plano interno, o trabalho da Loja é soberanamente definido por esta, no plano externo, no relacionamento da Loja com outras Lojas, no relacionamento da Loja com obreiros de outras Lojas, nos contactos nacionais e internacionais, mas também na preservação comum dos princípios e boas práticas maçónicas e na organização da utilização dos espaços utilizados pelas várias Lojas, é indispensável a articulação efetuada pela estrutura agregadora. Neste plano, a primazia, digamos assim, deve ser dada às orientações e decisões tomadas a nível de Grande Loja ou Grande Oriente, não sendo admissíveis, por dificilmente acomodáveis, derivas estabelecidas a seu bel-prazer por uma (ou mais) Lojas. Isto é evidente quanto à gestão da utilização dos espaços, mas também na preservação do correto cumprimento das normas e comportamentos assumidos internacionalmente. E obviamente que o relacionamento entre Lojas e entre uma Loja e obreiro de outra deve seguir normas e padrões estabelecidos pela estrutura agregadora, por clara necessidade de prevenção de conflitos.

Estes dois planos - relação da Loja com os seus obreiros, gerida pela Loja, e relação da Loja com outras Lojas e obreiros delas e utilização de espaços, gerida pela estrutura agregadora - complementam-se e devem ser geridos por ambos os níveis das estruturas com respeito e aceitação das respetivas competências. São ambos indisopensáveis. São ambos harmonizáveis e devem ser sempre mantidos harmonizados.

A Loja maçónica existe por e para os seus obreiros. A Grande Loja ou Grande Oriente existe por e para as suas Lojas. A compreensão destes simples factos habilita a entender que a relação entre ambos os níveis de estrutura é simbiótica. Cada nível necessita do outro e deve, portanto, respeitar as competências desse outro nível.

As Grandes Lojas ou Grandes Orientes necessitam das suas Lojas para fazerem sentido. As Lojas agregam-se em Grandes Lojas ou Grandes Orientes porque necessitam de assim fazer para eficazmente poderem funcionar. Não tem, assim, lógica pretender-se estabelecer hierarquias de importância entre ambos os níveis. Ambos são igualmente indispensáveis. Cada um deles necessita do outro. Cada um deles tem tarefas importantes  a assegurar, para bem cumprir o seu papel. Em suma, são verdadeiramente simbióticos.

Não vale, pois, a pena complicar o que é simples, evidente e claro. Não se trata de quintas ou quintinhas de poder. Trata-se de estruturas, em diferentes níveis, de serviço. Se assim se entender, não faz então sentido a determinação de "quem é mais importante". Ambos os níveis são importantes, indispensáveis e nenhum funciona capazmente sem o outro. Isso é que interessa. O resto... são profanidades!

Rui Bandeira

26 junho 2017

As Lojas e a Grande Loja: conceção centralista - e sua crítica


A Maçonaria só se estabeleceu, expandiu e evoluiu a partir da criação de Grandes Lojas. O relacionamento internacional faz-se entre Grandes Lojas e ou Grandes Orientes, não diretamente entre Lojas. A estrutura logística de funcionamento e de reunião é assegurada pelas Grandes Lojas e são estas quem efetua a coordenação da utilização dessas estruturas pelas várias Lojas. São as Grandes Lojas que assumem a preservação da cadeia iniciática, a manutenção dos princípios fundamentais e a disciplina de comportamento de Lojas e obreiros. A unidade das práticas rituais necessita de coordenação e prevenção de desvios e alterações que só pelas Grandes Lojas ou Grandes Orientes pode ser assegurada.

Estas e outras afirmações - no essencial corretas, acentue-se - fundamentam a conceção centralizadora do relacionamento entre a Grande Loja, ou Grande Oriente, e as Lojas da sua jurisdição. Para esta conceção, as Lojas transferiram para a sua estrutira superior um conjnto de competências que originam também a transferência de uma gama de poderes que se consolidaram na esfera da Grande Loja ou do Grande Oriente e do Grão-Mestre, poderes estes que assumem natureza imperativa sobre as Lojas e os obreiros da respetiva jurisdição.

Com isso, o centro nevrálgico da organização maçónica transferiu-se da Loja para a Grande Loja ou Grande Oriente. As necessidades de coordenação, de prevenção de desvios, de disciplina e de organização impõem que a autoridade, o poder decisório essencial, se fixe na Grande Loja ou Grande Oriente e no seu Grão-Mestre, restando para as Lojas apenas poderes residuais e, mesmo assim, sob tutela da Grande Loja e do Grão-Mestre.

Esta conceção centralizadora do relacionamento entre a Grande Loja e as Lojas é errada, desde logo porque apenas burocrática, não atendendo à específica natureza da Maçonaria.

A Maçonaria é essencialmente voluntária. O maçom aceita cumprir determinadas regras, assegurar obrigações, cumprir a disciplina que lhe é indicada. Mas a ligação essencial do maçom não é com a Grande Loja ou com o Grão-Mestre. A ligação essencial do maçom é com os seus pares da sua Loja.  A ligação que se estabelece é uma ligação iniciática - e esta ocorre e alimenta-se entre o indivíduo e o grupo próximo onde se insere. A estrutura superior é alheia à mesma. O maçom faz-se maçom em Loja, forma-se maçom em Loja, cresce maçom em Loja, E, feito maçom, formado ou em formação, crescido ou em crescimento, vai à Grande Loja... Ou não... 

O trabalho da Loja relativamente aos seus obreiros e com os seus obreiros é insubstituível. A Loja não é uma mera correia de transmissão entre a Grande Loja ou o Grande Oriente e o obreiro. Nem sequer nada que se pareça a tal. Pelo contrário, a Loja é uma estrutura central e indispensável para o trabalho maçónico dos seus obreiros.

A Grande Loja pode e deve coordenar Lojas. Pode, mesmo, designadamente em assuntos administrativos, enquadrar o registo dos obreiros das Lojas e determinar procedimentos. Mas o relacionamento direto, pessoal, exclusivo e insubstituível entre o obreiro e a sua Loja ultrapassa e é completamente alheio à estrutura de enquadramento das Lojas.

Pode-se porventura objetar que não é bem ou não é absolutamente assim. Por exemplo, o Grão-Mestre tem tradicionalmente o poder de fazer maçom à vista e de dispensar prazos ou condições para aumentar o salário de maçom. É certo que sim. Mas não se esqueça nunca que ninguém é maçom, é-se reconhecido maçom! Reconhecido pelos seus Irmãos. Bem pode qualquer Grão-Mestre declarar que um qualquer elemento é maçom, no uso da sua prerrogativa para tal. Se nenhum outro maçom reconhecer o dito elemento como tal...ele não vai longe na sua vida maçónica. Com ou sem intervenção do Grão-Mestre...

Maçonaria não é profanidade e não se rege nem replica os princípios, regras, costumes e hábitos profanos. Desengane-se quem crer o contrário. Maçonaria pressupõe um laço, uma transmissão, um caminho feito de braço e abraço conjunto, que ultrapassa - e muito! - qualquer determinação regulamentar, qualquer norma, qualquer manifestação de poder.

A conceção centralista da Grande Loja pode porventura traduzir-se em regulamentos, em práticas, quiçá em profanidades. Mas, no que importa, na iniciática transfortmação do íntimo de cada um, não há decisões, nem regras, nem ordens vindas de cima. Aí, no que verdadeiramente importa, no que constitui ser maçom, ser reconhecido maçom e fazer realmente maçonaria, só dois planos importamn e estão presentes: a relação do maçom consigo próprio e a relação do maçom com o(s) seu(s) Mestre(s). E esse(s) inevitavelmente é (são) Mestre(s) na e da sua Loja!

Rui Bandeira

12 junho 2017

As Lojas e a Grande Loja: conceção basista - e sua crítica


Em 24 de junho de 1717, quatro Lojas maçónicas londrinas reunidas na taberna Goose and Gridiron decidiram associar-se numa Grande Loja e eleger um Grão-Mestre que a todos os seus obreiros representasse. Foi assim que, em síntese, James Anderson registou o nascimento da primeira Grande Loja macónica, hoje normalmente designada por Premier Grand Lodge. Este é o facto que se convencionou constituir o nascimento da Maçonaria Especulativa.

Foram quatro Lojas que se associaram e decidiram constituir uma Grande Loja. Foram essas quatro Lojas e os seus respetivos obreiros que decidiram eleger um Grão-Mestre. São as Lojas que dão origem às Grandes Lojas. São os maçons que escolhem o Grão-Mestre. Esta inegável verificação constitui a base fundamentadora da conceção basista do relacionamento entre as Lojas e as respetivas estruturas agregadoras (Grandes Lojas ou Grandes Orientes).

Para esta conceção basista, a origem do poder está nas Lojas e nos respetivos obreiros, tanto assim que são as Lojas quem cria as Grandes Lojas e os obreiros quem elege o Grão-Mestre, diretamente ou por representação das respetivas Lojas, consoante os sistemas de eleição do Grão-Mestre em vigor em cada Obediência maçónica. Em consequência, a Grande Loja só exerce as competências que lhe são delegadas pelas Lojas e o Grão-Mestre exerce apenas o poder que lhe é delegado pelos seus eleitores. O essencial da Maçonaria está nas Lojas. As Grandes Lojas são meras estruturas administrativas e de coordenação. Mas a prevalência está nas Lojas. Estas é que mandam na Grande Loja. Não o inverso.

Sendo histórica e iniciaticamente correto afirmar-se que são as Lojas que originam a Grande Loja e não o inverso, sendo inquestionável que a legitimidade dos Grão-Mestres assenta na sua eleição pelos Mestres de toda a Obediência, no entanto a adoção pura e dura desta conceção basista da subordinação das Grandes Lojas às Lojas não é razoável e conduz a resultados perversos. Como em tudo na vida, a absolutização desta conceção é perniciosa e - goste-se ou não - não espelha a realidade. Não se trata de conflito entre o que deve ser e o que é. Trata-se do respeito da natureza, do lugar e das tarefas que devem ser assumidas por uma e outra estruturas. 

Absolutizar a conceção basistas do relacionamento entre as Lojas e a Grande Loja conduz, por exemplo, à aceitação, quiçá promoção, da existência de Lojas selvagens. Se a legitimidade reside absolutamente na Loja, então esta pode, a todo o tempo, decidir desligar-se da Grande Loja e atuar por si só, em absoluta independência. No entanto, sabemos que - particularmente na Maçonaria regular - tal não é, hoje em dia, considerado aceitável.

Ao constituir uma Grande Loja, ao integrar uma Grande Loja ou ao criar-se no âmbito de uma Grande Loja, a Loja maçónica procede à tal delegação de competências suas na Grande Loja, mas simultaneamente renuncia ao direito de retirar as competências delegadas. As competências essenciais de regulação, de coordenação, de representação, de ordenação, que as Lojas delegam na respetiva Grande Loja ou no respetivo Grande Oriente, uma vez atribuídas não são retiráveis. 

Com a constituição de uma Grande Loja fez-se nascer uma nova entidade. Entidade detentora de direitos, obrigações, atribuições e competências que, uma vez originariamente nela objeto de delegação, quem assim delegou não tem já o direito de retirar.

Pelo facto de a Loja constituir, aderir ou criar-se no âmbito de uma Grande Loja, automaticamente renunciou à absolutização do seu poder, pois decidiu partilhá-lo com a estrutura que criou, a que aderiu ou em cujo âmbito se criou.

Assim, reconhecendo-se a natureza originária do poder residindo nas Lojas, não é, porém, correta a conceção basista do relacionamento entre as Lojas e a respetiva Grande Loja ou o respetivo Grande Oriente. A natureza da criação, existência e relacionamento de ambas as estruturas irrecusavelmente fez nascer uma mútua obrigação inderrogável de partilha de atribuições e competências. 

Na definição, fixação e medida dessa partilha é obviamente importante o reconhecimento de que a origem está na Loja, que a legitimidade assenta na escolha dos obreiros. Mas tal reconhecimento não admite a absolutização ou, sequer, uma insensata prevalência de um basismo, que seria inconsequente, inoportuno e, afinal, contrário aos interesses das Lojas e dos respetivos obreiros.

A pura e dura conceção basista do relacionamento das Lojas e da Grande Loja não é, assim, o entendimento acertado. No próximo texto, procurarei expor - e igualmente criticar - a conceção inversa.

Rui Bandeira 

08 maio 2017

Da ilusória natureza do Poder em Maçonaria


Na Loja Mestre Affonso Domingues, fora de religião e política, tudo é suscetível de ser discutido e tudo se discute, por vezes acaloradamente. Mas, até hoje, há algo a que a Loja teve o bom-senso de nunca se sujeitar: uma pugna eleitoral. Na nossa Loja, desde há muito que é consensual que o Primeiro Vigilante de um ano é, no ano seguinte, o Venerável Mestre e o Segundo Vigilante de um ano será, no ano seguinte, Primeiro Vigilante e, no subsequente, Venerável Mestre. As exceções a esta regra consensual contam-se pelos dedos de uma mão e ainda sobram dedos (curiosamente, uma dessas exceções envolveu-me a mim, como já neste blogue referi, no texto A ultrapassagem).

Quando imponderáveis se atravessam e assim não pode ser feito, por impossibilidade de o Primeiro Vigilante assumir a função de Venerável Mestre (sucedeu tal, não há muito tempo, na Loja: o Primeiro Vigilante de um ano não pôde assumir no ano seguinte o ofício de Venerável Mestre, porque entretanto foi profissionalmente colocado no estrangeiro), avança o Segundo Vigilante para o ofício.

Até hoje, não ocorreu situação de ambos os Vigilantes não poderem ou não quererem, em simultâneo, assumir o ofício de Venerável Mestre. Mas, se porventura tal ocorrer, não seremos apanhados de surpresa... A maneira de resolver esse imprevisto já tem sido conversada, pela melhor forma de o fazer: pensar em abstrato, sem o constrangimento de uma situação concreta. Nessa situação, existe um constrangimento regulamentar: só pode exercer o ofício de Venerável Mestre quem tenha previamente assegurado o exercício de, pelo menos, um dos ofícios de Vigilante. Como os Vigilantes naturalmente em seguida exercem o ofício de Venerável Mestre, só muito excecionalmente haverá um obreiro da Loja que tenha exercido o ofício de Vigilante e não tenha já passado pela Cadeira de Salomão (como será o caso, quando regressar do estrangeiro, do Irmão que, tendo sido Primeiro Vigilante, não pôde assumir o ofício de Venerável Mestre). Se essa exceção ocorrer e o obreiro estiver disponível para o ofício, deverá ser-lhe dada prioridade, evitando repetição de Venerável Mestre. Quando essa exceção não ocorrer, avança um dos Antigos Veneráveis. Qual? O mais antigo que tiver disponibilidade para tal.

Em suma, haverá sempre uma solução!

O que importa sublinhar é que, na nossa Loja, até agora não houve, e estamos determinados a que não haja, lutas eleitorais. Porque dividem, porque deixam sequelas entre Irmãos e, acima de tudo, porque tais lutas eleitorais contrariam a natureza do Poder em Maçonaria.

Com efeito, bem vistas as coisas, em Maçonaria o Poder é meramente ilusório. A Maçonaria é uma instituição assente completa e absolutamente na disponibilidade VOLUNTÁRIA dos seus membros. Adere à Maçonaria quem manifestar vontade nisso e for admitido. O Mestre Maçom integra a Loja em que voluntariamente se decide integrar, sendo cada um livre de, a qualquer momento, mudar de Loja. Apenas se faz o que cada um voluntariamente entender dever fazer. Se é certo que existe o dever de não violar decisão do Venerável Mestre da Loja, não é menos certo que nada obriga ao cumnprimento dessa decisão, se o obreiro entender não o fazer. Dito por outras palavras: o obreiro tem o dever de não obstaculizar, não contrariar, decisão do Venerável Mestre, mas tem o direito de não a executar, se com ela não concordar. Porque a Maçonaria assenta na Liberdade individual e em caso algum pode violar a consciência individual de um dos seus obreiros.

Assim sendo, é corolário evidente que, não podendo nenhum obreiro ser obrigado a executar decisão do Venerável Mestre com que não concorde, o Poder do Venerável Mestre é meramente ilusório, só tornando efetivas e eficazes as suas decisões, na medida em que as mesmas mereçam a concordância de um número significativo de obreiros.

E há também um segundo corolário a ter em atenção. Porque assim é, porque o Poder do Venerável Mestre assenta na aceitação, na concordância, em relação a cada uma das suas decisões, são indiferentes eventual unanimidade que porventura haja na eleição do Venerável Mestre ou eventual existência de bolsa de descontentamento ou desconfiança em relação a um Venerável Mestre que esteja na altura de assumir o ofício. Em Maçonaria, não há "estado de graça", nem "primeiros cem dias". Isso são conceitos profanos e modas passageiras. A valia de um Venerável Mestre não se afere pelos apoios, loas ou críticas que tenha à partida. Resulta dos juízos que sobre a sua atuação forem feitos no final do seu mandato, quando tiver concluído a sua tarefa. Porque, em bom rigor, os apoios existem - ou não - em relação a cada uma das suas medidas, a cada uma das suas decisões, a cada uma das suas escolhas. Estas - as medidas, as decisões e as escolhas - é que importam e estas é que permitirão, no final, avaliar o valor do mandato de quem as tomou.

É assim estulto reunir aparatosos apoios antes de iniciar o mandato ou temer eventuais discordâncias antes de se saber que concretas decisões se toma. Tão injustificada é a vã confiança do que porventura se sinta levado em ombros para a Cadeira de Salomão, como o temor do que porventura preveja vir a ter discordantes de si. 

Em Maçonaria, o único verdadeiro Poder é o da Persuasão!

Rui Bandeira

01 maio 2017

Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5


Cada Loja é um mundo particular. No que tem de bom e no que que tem de menos interessante. A Loja Mestre Affonso Domingues não foge à regra. Uma das suas características é que no seu seio tudo (tudo não: religião e política estão excluídas) pode ser debatido. E o nosso conceito de debate inclui, naturalmente, a livre expressão da opinião de cada um de nós de forma franca, aberta e cara-a-cara. O que cada um acha que tem de ser dito, diz. Se se exceder, é chamado à pedra e dá as suas explicações e, se necessário apresenta o seu pedido de desculpas. Mas disse, não guardou dentro de si. 

Claro que quem diz sujeita-se a ouvir... Entre nós, portanto, ninguém engana ninguém. Todos dizem o que pensam, ouvem o que têm que ouvir, toda a gente fica a perceber as posições, as razões, os sentimentos, os estados de alma de cada um. E depois chega-se coletivamente a uma conclusão.

Quando há que debater, debate-se. Estejamos sós ou tenhamos visitantes connosco. Às vezes, surprendemos alguma surpresa nos olhos de visitantes... Somos assim, sentimo-nos confortáveis assim, não há razão para escondermos como somos... Poderemos ser acusados de muita coisa. De hipocrisia é que, com justiça, não!

Mas o mesmo visitantre que porventura arregale os ohos ao assistir aos debates entre nós, se (ou quando) nos conhecer bem também percebe outra coisa. Podemos debater, podemos confrontar-nos, podemos resmungar, mas, se alguém de fora tentar pisar os calos a um de nós tem de se haver com todos, juntos e sem fissuras. 

Nós debatemos este mundo e o outro. Às vezes, discutimos, resmungamos, desabafamos e atiramos argumentos como petardos. Mas fazemo-lo assim porque podemos. Porque os nosso debates, as nossas querelas, têm subjacente que todos somos irmãos e todos somos iguais. Como os irmãos de sangue, podemos ter brigas sérias, ultrapassadas e esquecidas trinta segundos depois. Porque todos somos iguais e nos consideramos e tratamos efetivamente como irmãos é que podemos esgrimir argumentos como punhais, sem receio de criar situações inultrapassáveis. Falamos francamente - e, por vezes, com dureza - porque reconhecemos aos nossos iguais e irmãos o direito de falarem connosco com igual franqueza e, por vezes, dureza. No final, podemos não concordar todos com tudo (que aborrecimento de Loja que seria...), mas todos ouvimos todos, todos podemos perceber as razões, as motivações, as preocupações, dos outros. Todos nos abrimos perante os demais. Compreendemos os demais e demo-nos a compreender aos demais. 

E depois, plácida e naturalmente, formamos a nossa Cadeia de União. E não é nada raro, nem incomum, nem motivo de qualquer espanto, que dois manos que minutos antes bravamente se digladiaram estejam lado a lado dando-se as mãos nessa Cadeia de União e, juntos, participem no momento de reflexão e comunhão coletiva.

E também não é nada raro que, no pico de uma acesa troca de argumentos, alguém largue uma piada e todos - trocadores de argumentos incluídos - se unam em saudável gargalhada, prosseguindo-se depois o debate, com naturalidade e á-vontade.

Finda a sessão de Loja, vamos todos jantar. E todos estão lado-a-lado e frente-a-frente, descontraídos e confiantes uns nos outros. Por vezes - tantas vezes! - os mesmos que se atiraram antes argumentos e contra-argumentos ali, à mesa, combinam estratégios, acertam soluções, para, em conjunto, conseguirem ultrapassar qualquer problema, resolver uma questão, intervir ajudando um irmão, o que quer que seja.

Na nossa Mestre Affonso Domingues, nós não discutimos: afinamo-nos mutuamente; não nos digladiamos: damos e recebemos incentivos para sermos, nós e os outros, melhores. Afinal, não fazemos nada de mais: é assim que os irmãos se comportam enre si...

Às vezes fazemos coisas boas. Às vezes estamos de pousio. Mas todos juntos! Os últimos quatro ou cinco anos foram duros e difíceis para a sociedade portuguesa. Foram duros e difíceis para alguns de nós. A Loja inevitavelmente que sentiu essas dificuldades. Muito teve de se aguentar. Algo teve de se providenciar. Não fizemos sempre tudo certo. Tomaram-se decisões com que nem todos concordaram. Mas agora cá estamos para prosseguir e iniciar novo ciclo. Crendo que o pior já passou. Mais bem preparados, porque atravessámos tempos difíceis juntos e juntos seguimos para o que esparamos sejam épocas melhores.

Por isso, se um dia destes alguém nos visitar e deparar com o nosso à-vontade em, sem pudores, debatermos algo, não se admire, nem se inquiete. Há muito que procedemos assim. Afinal, é assim que as famílias procedem. Afinal só quem for filho único é que não experimentou as brigas de irmãos, tão ferozes como espetacular tempestade, mas afinal tão inócuas que permitem que, momentos depois, se brinque, se galhofe, se conviva, se construa o essencial comum sem problemas com circunstanciais desacordos.

A Loja Mestre Affonso Domingues é, afinal, uma grande família, já com mais de 25 anos de história familiar. Onde cada um pode ser, e é, ele próprio e é assim aceite e respeitado. E aceita e respeita os demais. Mais picardia, menos resmungo, isso são detalhes, meras estratégias para da individualidade de cada um construirmos e mantermos a identidade comum de todos.

É das diferenças entre nós que se cimenta a nossa Força coletiva!

É por isso que, com a nossa indisciplina, com os nossos acordos e desacordos, debates e confrontos, cooperações e realizações, todos estamos orgulhosamente conscientes de uma coisa: pode ser que seja só para nós - mas, para nós, a nossa Mestre Affonso Domingues é a melhor Loja do mundo - e arredores!

Rui Bandeira