09 março 2022

Caraterísticas da Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5

 A Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5, foi fundada em 30 de junho de 1990, no âmbito do Distrito de Portugal da Grande Loge Nationale Française. É uma das cinco Lojas fundadoras da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal. Não é melhor nem pior do que as demais Lojas da Obediência. Mas indubitavelmente que, ao longo dos mais de trinta anos do seu funcionamento criou uma cultura própria, que lhe confere individualidade.

Mais do que descrever o que fez no passado (o passado já passou…), mais do que mencionar o seu estado presente (o presente de agora não tarda nada e já é passado…), mais do que expor os seus projetos para o futuro (o futuro ainda não chegou…), julga-se útil referir (algum)as caraterísticas que compõem a individualidade da Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5.

1)     Na Loja nunca houve, não há e desejavelmente nunca haverá pugnas eleitorais.

Na Loja Mestre Affonso Domingues, é eleito Venerável Mestre o Primeiro Vigilante do ano anterior, e ponto final! E é eleito Tesoureiro o obreiro que o candidato a Venerável Mestre propõe para tal, parágrafo!

Nesta Loja não se perde tempo, nem se gastam energias com pugnas eleitorais. Temos mais e melhor que fazer! Com este princípio identitário não se perde tempo em lutas estéreis, não se formam artificialmente grupos, não se estabelecem quezílias. Acordos e desacordos estabelecem-se e discutem-se em relação a opções a tomar, a tarefas a realizar, a projetos a desenvolver. Isso, sim, debate-se o tempo que for preciso até se nos tornar evidente qual o melhor (às vezes, qual o menos mau...) caminho a seguir. Porque não perdemos tempo em questiúnculas de (ilusório!) poder, podemos mais utilmente gastá-lo a debater o que vamos e como vamos fazer.

2)    Cada Venerável Mestre é eleito para exercer um ano de mandato e depois dá lugar a outro.

O Regulamento Interno da Loja prevê a possibilidade de uma (única) reeleição para um segundo mandato, por maioria qualificada. Mas esta é uma possibilidade ali colocada apenas em face da eventualidade de sobrevir um "dia de chuva" tal que nos obrigue a recorrer ao guarda-chuva de uma excecional reeleição. O exercício do ofício de Venerável Mestre por um ano e basta tem duas evidentes vantagens: todos os obreiros interessados e intervenientes na Loja exercem, a seu tempo, o ofício de Venerável Mestre; não se sacrifica demasiado ninguém, pois, como todos os que se sentaram na Cadeira de Salomão sabem, exercer este ofício permite ao seu titular duas alegrias: a primeira quando é instalado para exercer o ofício, a segunda quando (finalmente, ao fim de um loooongo ano...) vê instalado o seu sucessor e é aliviado da responsabilidade de dirigir a Loja.

O Segundo Vigilante de um ano é o Primeiro Vigilante do ano seguinte.

 Este princípio identitário é crucial, pois impede que se criem cliques de direção da Loja, impedindo o Venerável Mestre recém-eleito de ser ele a escolher o seu sucessor. Com efeito, o Primeiro Vigilante é (ver o primeiro princípio identitário acima) o sucessor natural do Venerável Mestre e, consequentemente, não deve ser por ele escolhido, ao contrário da esmagadora maioria dos demais Oficiais da Loja. O Venerável Mestre tem o dever de designar para Primeiro Vigilante o Segundo Vigilante do ano anterior, que foi escolhido para essa função pelo seu antecessor, com a expectativa do próprio, do Venerável Mestre que o nomeou e de toda a Loja, de ser no ano seguinte Primeiro Vigilante e, no subsequente, Venerável Mestre. Assim não proceder, para além de ser uma condenável forma de se arrogar o direito de escolher o seu sucessor, seria uma tremenda falta de respeito pelo seu antecessor, uma forma de lhe dizer meu caro, foste um palerma, fizeste uma má escolha para Segundo Vigilante, eu é que vou ser o Cavaleiro Branco que vai emendar o teu erro e escolher o homem certo para o lugar certo... O incumprimento deste princípio identitário da Loja abriria uma Caixa de Pandora de consequências imprevisíveis, correndo-se o risco de deitar a perder tudo o que a Loja foi e construiu ao longo de mais de trinta anos.

Todos devem saber fazer tudo.

  Por rotina, todos os Mestres da Loja rodam no exercício de todos os ofícios. Sempre que possível, reservam-se para os Mestres Instalados, para além dos Ofícios de Ex-Venerável e de Guarda Interno (o Ex-Venerável do ano anterior), os Ofícios de Orador e de Hospitaleiro, dadas as suas especiais caraterísticas. Os demais ofícios, sempre que possível, são assegurados por Mestres que ainda não passaram pela Cadeira de Salomão. Ao rodar todos os Mestres por (quase) todos os Ofícios, assegura-se que quando o Obreiro chega à Cadeira de Salomão conhece perfeitamente o funcionamento de toda a Loja e está, assim, apto a dirigi-la.

Serviço é serviço, copos são copos.

 Antes da sessão, brinca-se e convive-se. Depois da sessão, idem. Desde o momento em que o Venerável Mestre bate pela primeira vez com o malhete até ao momento em que são dados por findos os trabalhos, trabalha-se! Sobretudo, procura-se executar o ritual sempre o melhor possível, corrigindo em cada sessão eventuais erros cometidos em sessões anteriores.

A espontaneidade e o humor nunca fizeram mal a ninguém.

Entre o ritual de abertura e o ritual de encerramento, e quando não se estão a executar outros rituais, o serviço é serviço, mas não tem de ser macambúzio. Se houver uma nota de humor, todos riem com gosto! E logo se retoma o trabalho… Mas atenção que o malhete do Venerável Mestre é que pontua os trabalhos e, sempre que o entenda necessário, lá está o Orador para moderar algum ocasional excesso… Estamos entre Irmãos, a espontaneidade temperada pela disciplina faz maravilhas pela coesão do grupo!

 Os mais novos são para integrar o melhor possível

 Cada Aprendiz só o é porque foi cooptado para integrar o Quadro da Loja. Cada Aprendiz é um Venerável Mestre potencial. Cada Companheiro é um elemento em transição para Mestre. Toda a Loja procura integrar os elementos mais novos, não só através da sua aquisição dos ensinamentos próprios dos respetivos graus, mas sobretudo na noção e na prática de que todos estão ali para se aperfeiçoarem, para cada um de nós ser melhor hoje do que ontem e pior do que amanhã. O trabalho faz-se com o grupo e os seus resultados são apresentados na Loja e em Loja.

Não há pressas, o tempo é indispensável; não há baldas, o trabalho é imprescindível

 Os interstícios são para cumprir, porque o tempo é um fator indispensável à boa integração no grupo. Ninguém é aumentado de salário sem elaborar e apresentar a sua prancha de proficiência em Loja, porque deve demonstrar a sua evolução aos seus pares.

Eu não sou mais do que tu, tu não és mais do que eu, tu e eu somos iguais.

 O grupo influencia o indivíduo o indivíduo influencia o grupo. Seja Aprendiz, Companheiro, Mestre ou Mestre Instalado. Basicamente todos somos iguais, todos temos de melhorar e todos estamos em processo de aperfeiçoamento. O Mestre guia o Aprendiz e auxilia o Companheiro, mas também aprende com o Aprendiz e beneficia da ajuda do Companheiro. Aprendiz, Companheiro e Mestre são necessárias fases de evolução e aprendizagem, mas todos os que nelas estão são basicamente iguais e como tal nos vemos uns aos outros.

Tudo se debate; mas quando o Venerável Mestre decidir, está decidido.

Tudo se debate, com exceção de política e religião. O debate pode e deve ser vivo. Não há mal nenhum em que se revelem divergências, diferenças de pontos de vista. Tal é necessário para que seguidamente se construam convergências e consensos. No debate, no fundo todos agem como conselheiros do Venerável Mestre. Mas a maioria não tem, necessariamente, razão. O Venerável Mestre pode decidir em consonância com a maioria, mas normalmente a melhor decisão é a que resulta do entendimento da maioria temperado com os contributos da ocasional minoria. E, uma vez tomada a decisão pelo Venerável Mestre, está decidido. Acaba o debate e passa-se adiante…

Ninguém pode obstaculizar à decisão do Venerável Mestre, mas ninguém é obrigado a cumpri-la.

A Maçonaria é essencialmente, voluntária, mas todos jurámos obediência as decisões do Venerável Mestre. Por outro lado, todos somos iguais e ninguém deve ser compelido a fazer algo contra a sua consciência. Do confronto destes dois princípios, há muito que na Loja é consensual que ninguém tem o direito de obstaculizar ao cumprimento da decisão do Venerável Mestre, mas ninguém é obrigado a executá-la, contra a sua consciência.

Eu e tu podemos estar em desacordo, mas que ninguém de fora ouse meter o bedelho.

 O hábito de (quase) tudo debater necessariamente que pode gerar diferenças de opinião, frequentemente conduz a debates acesos. Mas são debates que ocorrem entre nós e diferenças de opinião que resolvemos todos nós. Que ninguém de fora alguma vez tenha a infeliz ideia de meter o nariz onde não é chamado e atacar algum de nós! Os poucos que tiveram a ousadia de o fazer, viram, ao vivo e a cores, como toda uma Loja passa do modo debate para o modo muro de betão e como, se alguém se mete com um de nós, leva com todos!

Venham às nossas sessões, que nós gostamos de ser visitados.

Os visitantes na nossa Loja são sempre bem-vindos! Saudamos com sincera alegria a sua presença e procuramos dar-lhes o melhor tratamento possível: tratá-los como da casa! Por isso, não se admirem se nós discutirmos o que tivermos que discutir, pela forma que houver que discutir, na vossa presença. O visitante é como se fosse da casa, logo, não temos nada a esconder-lhe. Mais: se o visitante também quiser participar na discussão, a sua opinião é bem-vinda e apreciada. Só pedimos que tenha  cuidado com a nossa caraterística anterior… Ah! E os nossos visitantes são sempre também muito bem-vindos aos nossos ágapes, onde – não tenham dúvidas! – terão também sempre um tratamento rigorosamente igual aos da casa. Até no pagamento do custo do ágape…

A nossa Loja denomina-se MESTRE Affonso Domingues

Por favor não digam que a nossa Loja é a Affonso Domingues. Nós sabemos que, quando assim dizem, não o fazem por mal, mas o nome da nossa Loja é MESTRE Affonso Domingues. É um favor que nos fazem se não esquecerem uma parte do nosso nome. E, já agora, quando o escreverem, não esqueçam que o Affonso do nosso nome tem dois ff

Uma vez da Mestre Affonso Domingues, sempre da Mestre Affonso Domingues

Quem entrou na Loja, tornou-se um de nós. Todos aqueles que saíram, quantas vezes para formar outras Lojas ou colaborar na sua formação, fizeram-no no uso da sua liberdade individual, mas sempre sem azedumes nem qualquer espécie de mal-entendidos. Alguns já voltaram e foi como se nunca tivessem saído. A maior parte, quando está connosco, sente-se e é sempre tido e tratado como um de nós, que continua e continuará a ser. A nossa Loja é um espaço de formação, que desejamos marque quem por cá passa, esteja onde estiver. Todos sabem que quem foi um dia um de nós, é e será sempre um dos nossos.

E, neste particular, também os que já franquearam o umbral do Oriente Eterno continuam a ser um dos nossos. Por isso, este texto é dedicado ao nosso muito querido e recordado Luís Rosa Dias, mas também ao Rui Clemente Lelé, ao Alexis Botkine, ao João Damião Pinheiro, ao Carlos Antero Ferreira, ao Luís Prats, ao Jorge Pereira de Almeida, ao Salomão Amram, ao Jorge Silveira, ao Paulo Guilherme d’Eça Leal, ao José Luís Moita de Macedo, ao André Franco de Sousa, ao António Cunha Coutinho, ao Enrique Fugasot, ao José Manuel Severino e ao Eduardo Gonçalves.

 Estamos certos que, lá no assento etéreo onde subiram estão a manter viva e em bom funcionamento a versão do Oriente Eterno da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, a que, em devido tempo, nós nos juntaremos.

 Porque uma vez da Mestre Affonso Domingues, sempre da Mestre Affonso Domingues. Aqui e no Oriente Eterno!

Rui Bandeira

2 comentários:

José Carlos Kraemer Bortoloti disse...

Boa tarde direto do Brasil! Este texto, além de provocar muita saudade dos IIr. Da Affonso Domingues, n.5, reflete a mais pura realidade que percebi durante o período que foi fraternalmente recebido (2014-2015) por esta Augusta Loja. Longa vida à Loja Affonso Domingues, n.5, contribuindo com todos que tem o privilégio de trabalhar nesta Oficina. TFA Ir. José Carlos Kraemer Bortoloti, Passo Fundo, Brasil.

Marcos Oliveira disse...

Desde minha chegada do Brasil e assim que a GLLP abriu as portas devido o COVID que frequento a RL Mestre Affonso Domingues e de fato sinto-me verdadeiramente em casa. A Harmonia é o coluna chefe dessa Loja. 👏👏👏