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12 outubro 2015

O quinto Grão-Mestre


O quinto Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi Mário Martin Guia. Foi eleito em 16 de dezembro de 2006 e instalado em 24 de março de 2007 para o exercício do seu primeiro mandato. Foi reeleito para um segundo mandato em 7 de março de 2009 e reinstalado em 28 do mesmo mês. Não veio, por opção própria, a completar esse segundo mandato, encurtando-o em cerca de seis meses, de forma a programar a instalação do seu sucessor para uma altura propícia a que essa instalação decorresse com a presença de muitas e importantes delegações estrangeiras.

Este detalhe demonstra bem como Mário Martin Guia dedicou especial preocupação e cuidado às relações internacionais. No decorrer dos seus mandatos, efetuou várias - e algumas prolongadas e esgotantes - viagens dedicadas ao estreitamento dos laços entre a GLLP/GLRP e as Potências Maçónicas Regulares da Europa, de África, dos Estados Unidos e da América do Sul. Foi com ele que a GLLP/GLRP assumiu papel de relevo na Confederação Maçónica Iberoamericana, onde integra a sua Zona VI, conjuntamente com o Grande Oriente do Brasil e as Grandes Lojas de Espanha, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. 

Dedicou grande atenção às relações com as Obediências Maçónicas africanas. Foi no decorrer do seu mandato que a GLLP/GLRP apadrinhou a constituição da Grande Loja de Moçambique, tendo Martin Guia sido o Grão-Mestre Consagrante da referida Grande Loja e o Grão-Mestre Instalador do seu primeiro Grão-Mestre, dirigindo uma cerimónia em que também intervieram mais três Grão-Mestres em exercício: o Grão-Mestre da Costa do Marfim, que foi o Primeiro Grande Vigilante Consagrante e Instalador, o das Maurícias, que interveio como Segundo Grande Vigilante Consagrante e Instalador, e o da Rússia, que impôs o avental de Grão-Mestre ao recém-instalado líder da nova Obediência.

Reforçou também os laços de amizade e cooperação com as Obediências europeias. 

Em todas as ocasiões e cerimónias solenes em que participou, Martin Guia usava, não um ricamente bordado a dourados avental de Grão-Mestre, mas um simples avental branco, com um discreto bordado na mesma cor nas suas orlas (que fora executado por uma sua familiar). Resultado: dava mais nas vistas o discreto e singelo avental branco do Grão-Mestre português do que toda a rica parafernália dos dirigentes das maiores potências maçónicas! 

Internamente, soube rodear-se de uma equipa mista de maçons experientes, de que era exemplo o seu muito eficiente Grande Secretário, e de alguns elementos que introduziu nas lides da Grande Loja. Dirigiu os destinos da Grande Loja delegando nos seus colaboradores, mas sempre deixando bem claro  o que pretendia fosse feito. Nesse aspeto, o tio Mário (como nós, os irreverentes novos Grandes Oficiais carinhosa e nem sequer muito secretamente lhe chamávamos) era implacável: sempre com um sorrio nos lábios, um brando tom de voz e uma postura simpática, dava as suas instruções, pedia (ele nunca mandava, pedia; mas os seus pedidos eram sempre satisfeitos - ou então ele voltava a pedir, a lembrar, a insistir, sempre com toda a calma e sorriso prazenteiro, vencendo com a sua persistente brandura a mais empedernida das resistências...) e fazia com que as suas instruções fossem cumpridas.

Como Grão-Mestre, Martin Guia foi um conservador inteligente: soube chamar a si os espíritos jovens, os que mostravam mais irreverência, os mais predispostos a experimentarem coisas novas (e a correr riscos...), integrando-os nas lides da Grande Loja, aconselhando-os, dando-lhes responsabilidades, mas "mantendo-lhes as rédeas curtas", para que os generosos entusiasmos não fossem demasiado imprudentes e não causassem estragos irremediáveis. Os mais antigos foram contactando com e enquadrando o entusiasmo dos mais novos. Estes foram aprendendo e matizando com a sensatez da realidade a irreverência da sua inexperiência inicial.

Martin Guia efetuou, assim, uma tranquila transição de gerações na direção da Grande Loja. Sem perturbações. Paulatinamente. Com o saber-fazer que só a experiência de uma vida bem vivida permite adquirir.

Ao terminar os seus dois mandatos, tinha feito o que queria e deixou uma Obediência unida, organizada, bem enquadrada e bem relacionada externamente, com uma renovação gradualmente feita dos seus quadros dirigentes, enfim, uma Obediência pronta para evoluir a evolução que as condições lhe propiciassem.

Martin Guia, de uma forma muito lúcida, dizia - muitas vezes lho ouvi dizer, sobretudo no seu segundo mandato - que sabia bem que o seu sucessor ia ser diferente dele, ia fazer diferente dele, ia tomar decisões que seriam diferentes das que ele tomaria. Mas acrescentava sempre que assim é que deveria ser: cada um partia do caminho aberto pelo seu antecessor para desbravar o seu próprio caminho.

A evolução tranquila conservadoramente efetuada por Martin Guia deixou a Grande Loja preparada para a evolução futura. 

O quinto Grão-Mestre, Mário Martin Guia, foi um excelente Grão-Mestre, cujo mandato é grato recordar.

Obrigado, tio Mário!

Rui Bandeira   

24 junho 2012

Reeleição do Grão Mestre



Pela segunda vez na história da GLLP/GLRP aconteceu a reeleição de um Grão Mestre.

Ontem, depois de um período de votação antecedido da apresentação das candidaturas, processo que decorreu com com grande elevação e respeito, foi dia de se proceder ao escrutínio.

O Muito Respeitável Irmão José Moreno foi reconduzido no cargo de Grão Mestre, ao vencer a eleição. A proclamação do resultado foi feita na sessão de Grande Loja que se seguiu, sendo que a instalação ocorrerá num futuro próximo.

Como foi já aqui dito há mais ou menos dois anos, o agora reconduzido Grão Mestre é membro da RL Mestre Affonso Domingues, e isso é para a nossa Loja motivo de Orgulho.

Sabemos do trabalho feito, sabemos que há trabalho a fazer. E José Moreno, tal como aqui se disse há dois anos é homem de poucas palavras - mas de palavra - e de muitos actos. 

Estamos prontos para fazer o que for para fazer para poder tornar a nossa Grande Loja cada vez melhor.

Ao Muito Respeitável Grão Mestre os nossos desejos de grandes sucessos !


José Ruah

06 agosto 2011

Niny Sequeira - Maçon de corpo inteiro

Niny Sequeira – assim de repente o nome não diz nada a ninguém, ou a apenas poucas pessoas, a mim diz-me. Diz-me que já passaram muitos anos desde o dia em que o conheci, uns 20 talvez, ou quase.

Diz-me que nos idos tempos da “expansão pela província” da Maçonaria, privei muito de perto com ele.

Pela aurora se marcava a hora de encontro, ali para um posto de abastecimento de combustível na Encarnação.

Niny era inconfundível, magro, enérgico e sempre com um cigarro, mas não era por isso que era inconfundível, era pelo smoking. Homem prático não queria saber de levar muita coisa com ele e por isso o fatito de cerimónia ia logo vestido pela manhã, aliás de uma das vezes quis ser tão prático, e ao mesmo tempo tão irreal, que o smoking acabou por ser o seu pijama.
As idas eram para Bragança, e evidentemente não voltávamos no mesmo dia !!

Sim porque isto de ir realizar sessões maçónicas a sério, para ele só podia ser de smoking.

Foram algumas as viagens, foram muitas as peripécias.

Foram muitos os episódios que se passaram. O Maçon e o Amigo. De vez em quando telefonava-me e lá falávamos um pouco. Acompanhei por terceiros os seus últimos anos de combate a maleitas que o afligiram.

Ontem Niny Sequeira avançou passando ao Oriente Eterno, dele ficam muitas coisas nas nossas memórias.

Nós, que ainda estamos no nosso caminho de aperfeiçoamento, aqui ficamos no nosso percurso até o podermos encontrar novamente, daqui a muitos anos ( porque ele não se aborrece se nós o fizermos esperar um pouco!!!!)

Que o Grande Arquitecto do Universo o tenha  !

José Ruah

10 novembro 2010

O quarto Grão-Mestre


O quarto Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi Alberto Trovão do Rosário. Exerceu o ofício entre 2004 e 2007.

Antes disso, tinha sido, em 2001, com José Manuel Anes, candidato ao exercício do ofício. Então, foi este quem foi eleito terceiro Grão-Mestre. Mas a divulgação das candidaturas a que então se procedeu mostrou a elevada qualidade de ambos os candidatos e José Manuel Anes soube interpretar bem o desejo que então se formou e designou Alberto Trovão do Rosário para o exercício do ofício de Vice-Grão-Mestre.

Trovão do Rosário colaborou assim no trabalho de normalização da vida da Grande Loja levado a cabo por José Manuel Anes e recebeu uma Grande Loja pacificada, em velocidade de cruzeiro, com a normalidade restabelecida.

Preocupado em preservar o rumo readquirido, Trovão do Rosário dirigiu a Grande Loja com particular prudência. Cada passo, cada iniciativa, era analisado e reanalisado, estudado e ponderado antes de ser dado ou de ser levado a cabo, por forma a garantir-se que não fosse um passo em falso, uma iniciativa falhada ou erradamente controversa. Esta prudência não foi bem vista pelos mais impacientes, que, com algum humor, não isento de carinho e respeito, brincavam com o nome do Grão-Mestre, apelidando-o de Travão do Rosário...

Mas provavelmente o quarto Grão-Mestre tinha e teve razão: há que deixar o tempo fazer o seu trabalho, que consolidar o que anteriormente foi abalado e reparado. A impaciência é generosa, o desejo de fazer é positivo, mas há um tempo para avançar e um para consolidar o progresso alcançado. O quarto Grão-Mestre considerou que o seu tempo era de consolidação - e a evolução futura deu-lhe razão! A melhor prova disso é o percurso bonançoso que a Grande Loja tem trilhado desde então.

Alberto Trovão do Rosário, professor universitário, foi e é um homem ponderado, de estudo, de organização e exposição do saber adquirido. Foi talvez esta a linha de força que deixou marcada na organização que dirigiu. O seu tempo foi de aprofundamento do que é, para que serve, a Maçonaria, foi de organização das nossas ideias. Para fazer este trabalho, é preciso sossego. Que não deve ser confundido com inércia...

Este blogue, em devido tempo, registou o pensamento do quarto Grão-Mestre, quando publicou, entre 30 de outubro e 20 de novembro de 2006, na íntegra, mas dividido em nove excertos, o seu artigo "A Actualidade da Maçonaria", originalmente publicado no boletim da Grande Loja, "O Aprendiz". Ainda hoje vale a pena reler este artigo. Ainda hoje tem as marcas da atualidade e da qualidade.

Alberto Trovão do Rosário não foi travão. Foi pausa, foi estudo, foi prudência. Foi o que era necessário na altura. E o seu trabalho possibilitou que o seu sucessor estabelecesse o seu rumo, sem receio de que o terreno da partida estivesse em falso. O vigor dos passos que se dá também depende da consolidação do terreno em que esses passos se dão... Hoje, quando o seu sucessor deu já por terminada a sua tarefa e novo elemento tomou as rédeas da Grande Loja, podemos com justiça afirmar que o tempo de consolidação proporcionado pelo quarto Grão-Mestre foi precioso.

Eis um excerto, retirado do sítio da Grande Loja, do percurso maçónico do quarto Grão-Mestre que, na vida profana, é Licenciado pelo Instituto Nacional de Educação Física, Doutorado, com Distinção, pela Universidade Técnica de Lisboa (Faculdade de Motricidade Humana) e assegurou uma bem sucedida carreira universitária.

Percurso Maçónico

  • Ex-Obreiro da RL Bocage, Obreiro da RL Santiago, Obreiro da RL Fraternidade, Obreiro da RL Pisani Burnay.
  • Nestas RRLL desempenhou todas as funções do quadro de Loja tendo sido VM da RL Santiago por duas vezes e sido VM da RL Pisani Burnay.
  • Ex-Grande Inspector (Rito de York).
  • Assistente do MR Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Por inerência, foi membro do Grão-Mestrado.
  • Capelão do Capítulo «Mosteiro dos Jerónimos» (Arco Real).
  • Ilustre Mestre do Conselho da «Ordem de Santiago» (Graus Crípticos).
  • Generalíssimo da Comenda «D. Henrique o Navegador», integrada na Grande Comenda dos Cavaleiros Templários de Portugal, juntamente com as Ordens da Cruz Vermelha e de Malta.
  • Grande Prelado do Conclave «Henrique de Bourgogne» da Ordem Maçónica e Militar da Cruz Vermelha de Constantino e das Ordens anexas do Santo Sepulcro e de S. João Evangelista.
  • Supremo Magnus substituto da Societas Rosacruciana in Lusitania.
  • Membro do Shrine (Europa)
  • Membro do Shrine (Internacional).
  • Representante do GC dos MC do Arizona junto do GC de MR e E de Portugal.
  • Representante do GC dos GC do RAM do Arizona junto do Supremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugal.
  • Foi Presidente da Comissão Científica do Iº Congresso da Maçonaria Regular.
  • Foi Vice-Presidente e Presidente da Direcção da associação profana Grande Loja Legal de Portugal.
  • Criador, com outros obreiros, da colecção «Cadernos Maçónicos», na RL Santiago, em 1997. Posteriormente, a publicação desta colecção prosseguiu na RL Astrolábio.
  • Autor de dezenas de pranchas, artigos e comunicações sobre temas maçónicos.
  • Autor, com NN Fernandes, do livro «Mozart e a Flauta Mágica - Espiritualidade, Música e Maçonaria.
Rui Bandeira

03 novembro 2010

Vencedor e... vencedor!


Quando decorreu o processo eleitoral para a eleição do terceiro Grão-Mestre, a GLLP/GLRP estava ainda em convalescença da cisão que abalara o mandato do segundo Grão-Mestre. Esse processo eleitoral teve uma diferença substancial em relação aos anteriores: enquanto, quer Fernando Teixeira, quer Luís Nandin de Carvalho tinham sido candidatos únicos, para a eleição do terceiro Grão-Mestre apresentaram-se dois candidatos: José Manuel Anes e Alberto Trovão do Rosário.

José Manuel Anes era bem conhecido. Fora um prestimoso colaborador de Luís Nandin de Carvalho e em boa parte também a ele se devera a manutenção do reconhecimento internacional, após a cisão. Alberto Trovão do Rosário, professor universitário, obreiro de uma Loja no distrito de Setúbal, era então menos conhecido, mas era-lhe reconhecida grande capacidade, profunda estatura cívica e intelectual e era ardentemente apoiado por alguns Irmãos que suportavam a sua candidatura.

Recentemente cicatrizada de uma cisão, a GLLP/GLRP e os seus obreiros não pretendiam propiciar condições para que uma outra viesse a ocorrer. As duas candidaturas preocuparam-se assim em atuar de forma a que nenhuma fagulha ativasse indesejável braseiro. Pela primeira vez havia disputa eleitoral, importava demonstrar que esse facto integrava a normalidade da vida institucional da Obediência. Sabia-se que alguém havia de vencer e alguém haveria de perder a eleição. Isso era normal e fazia parte do processo eleitoral. Importava que a aceitação do resultado eleitoral fosse consensual e não criasse risco de perturbações - já tínhamos tido a nossa conta delas!

A divulgação das candidaturas e seus projetos - aquilo a que vulgarmente se designa por campanha eleitoral... - decorreu de forma exemplar: cada candidatura elaborou os seus documentos, que foram divulgados e distribuídos pela estrutura da GLLP /GLRP, com rigorosa imparcialidade. Ambos os candidatos se deslocaram às Lojas para se apresentarem e com os obreiros das Lojas debater os respetivos projetos. Mas essas deslocações tiveram a particularidade de terem sido feitas em conjunto. Não houve campanhas eleitorais, houve a apresentação de projetos, em sadio confronto.

Dificilmente se poderia ter tomado melhor opção! O processo eleitoral decorreu em harmonia, sem incidentes, cada um apresentando as suas ideias e assistindo à apresentação das ideias do seu opositor. Tudo decorreu com elevação, em verdadeira fraternidade.

No decorrer desse processo, verificou-se que as bases, as Lojas e seus obreiros, apreciaram a forma como ambos os candidatos divulgaram os seus propósitos. Verificaram que tinham perante si dois verdadeiros potenciais Grão-Mestres. Sabiam que só um seria eleito. Mas demonstravam o seu apreço por ambos. Consensualmente, a ideia surgiu, a sugestão foi verbalizada, o apelo foi feito, a opinião, Loja a Loja, coletivamente foi formada: um dos dois candidatos seria eleito, mas ambos eram merecedores de o ser. Então, sendo inevitável que houvesse um eleito e um não eleito, havia que proceder da forma que melhor se pudesse reconhecer esse mérito de ambos os candidatos. Loja a Loja, a mensagem que os candidatos ouviram afinava pelo mesmo diapasão: o candidato eleito Grão-Mestre deveria designar o outro candidato Vice-Grão-Mestre!

Talvez inicialmente não fosse essa a ideia dos candidatos. Mas o pulsar da Obediência era inequívoco.

E assim foi feito! Apurados os resultados da eleição, verificou-se que fora eleito para terceiro Grão-Mestre José Manuel Anes. Não se soube - está definido que não se saiba! - se a sua eleição ocorreu com grande ou pequena vantagem. Não houve elementos quantitativos a deslustrar a valia qualitativa de ambos os candidatos. E o Grão-Mestre eleito designou como Vice-Grão-Mestre o seu opositor na eleição!

Alberto Trovão do Rosário foi assim designado Vice-Grão-Mestre, com toda a legitimidade, com todo o peso institucional que a exemplar atuação de ambos os candidatos na eleição permitiram que lhe fosse conferido.

E foi assim que, de uma assentada, a GLLP/GLRP, recentemente cicatrizada a ferida da cisão, elegeu, não um, mas dois Grão-Mestres! Porque logo então se percebeu que, salvo qualquer anormalidade, não se tinha eleito apenas o terceiro Grão-Mestre: também se tinha escolhido o seu sucessor!

Rui Bandeira

25 agosto 2010

O terceiro Grão-Mestre

O terceiro Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi José Manuel Morais Anes. Exerceu essas funções entre 2001 e 2004. Coube-lhe assumir a tarefa da retomada da normalidade, após o tumultuoso mandato do seu antecessor. Garantida que fora por este a continuação do reconhecimento internacional da GLLP/GLRP como a única Potência Maçónica Regular em Portugal, José Manuel Anes, na frente internacional consolidou a normalização das relações. Com ele, virou-se a página e retomou-se o caminho.

Também na frente interna o mote do trabalho do Grão-Mestre José Manuel Anes foi a retomada e consolidação da normalidade. Paulatina mas firmemente, deixou bem claro que o passado era passado e que, mais do que recordar eventos, o que interessava era que cada um prosseguisse o seu trabalho de aperfeiçoamento pessoal, que cada Loja exercesse a sua função de enquadramento e catalisador do trabalho dos seus elementos.

Bem-disposto, bonacheirão, sempre com um sorriso na cara, José Manuel Anes transmitiu a todos a sua confiança. E o seu mandato foi um percurso em crescendo para a normalidade...

O Grão-Mestre José Manuel Anes recebeu uma Grande Loja ainda marcada pelos eventos que ofuscaram o mandato do seu antecessor e transmitiu ao seu sucessor uma Grande Loja estabilizada, confiante e em velocidade de cruzeiro. Podemos e devemos, sem dúvida alguma, considerar, com toda a justiça, que foi o homem certo a segurar na altura certa o leme da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP.

Eis o seu currículo, reunindo informação registada no sítio da GLLP/GLRP e na página a ele dedicada na Wikipédia:

Nascido em Lisboa a 21-6-1944.

Residente na Costa da Caparica.

Licenciado em Química, pela Faculdade de Ciências de Lisboa, em 1975 (Bacharel em 1973).

Nos anos 70 foi assistente de Biomatemática na Faculdade de Medecina de Lisboa (HSM) - 1976-77 e 1977-78 - e, tendo sido equiparado a bolseiro, frequentou um curso de pós-graduação em Química-Física Inorgânica na Fac. de Ciências da Universidade Complutense de Madrid e estagiou em Catálise e Catalisadores no Instituto de Química-Física do Conselho Superior de Investigações Científicas de Madrid. Foi durante vinte anos Perito Superior de Criminalística do Laboratório de Polícia Científica da P.J.; actualmente está na situação de aposentado.

Desde 1986,é docente convidado de Matemáticas para as Ciências Humanas do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade onde tem lecionado também Métodos Quantitativos no Departamento de História, Estatística e no de Ciência Política; desde o ano de 2000-2001, leccionou também, na FCSH da UNL, a cadeira de Antropologia da Religião no Departamento de Antropologia, nos anos de 2000-2001 e 2001-2002. Tem dado, desde 1998, Cursos livres sobre História das Correntes Esotéricas, Novos Movimentos Religiosos e "New Age", no Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da mesma Faculdade, e também no Centro Nacional de Cultura, os último dos quais se intitularam "Violência e Novos Movimentos Religiosos" e "Esoterismo e Política". Foi Assessor Cultural da Fundação Cultursintra, em 1996 e 1997, sendo Medalha de Prata da C.M. de Sintra em virtude da sua iniciativa pessoal que conduziu à classificação da Quinta da Regaleira pelo IPPAR como imóvel de interesse público e também pelos estudos realizados (um dos quais foi apresentado em Londres na Cornerstone Society - ver o resumo da conferência em www.workingtools.org) e pela divulgação da mesma Quinta. Foi Presidente da Academia de Estudos Ibero-árabes (1995/97) e Vice-Presidente da Associação Fernando Pessoa (1999-2000).

É membro correspondente em Portugal da Associação "ARIES" (de Estudos e Informações sobre Esoterismo) dirigida pelo Prof. Antoine Faivre da EPHE (Sorbonne), do CIRET (Centro de Estudos sobre Transdisciplinaridade) dirigido por Basarab Nicolescu (Paris) e das seguintes Associações de estudos dos Novos Movimentos Religiosos: a francesa AEIMR dirigida por Bernard Blandre e a italiana CESNUR (Torino) dirigida pelo Doutor Massimo Introvigne (Torino). Foi Director da "Biblioteca Hermética" da Hugin Editores, onde publicou obras de diversos autores, entre os quais Lima de Freitas, Gilbert Durand, Adalberto Alves, Carlos Calvet, etc.

É um especialista de Correntes Esotéricas Ocidentais, sendo membro da ESSWE- European Society for the Study of Western Esotericism, dirigida pelos Profs. Wouter Hanegraaff (Univ. Amsterdão) e Antoine Faivre (Jubilado da EPHE-Sorbonne).

Organizou, em 2000, a pedido da Câmara Municipal de Cascais/Pelouro de Cultura, o Colóquio internacional "Fernando Pessoa, o Esoterismo e Aleister Crowley" que contou com as participações, entre outros, dos grandes especialistas universitários de esoterismo e de "novos movimentos religiosos", Antoine Faivre, Massimo Introvigne e Gordon Melton e dos pessoanos Maria Aliette Galhós, Manuela Parreira da Silva e Luis Filipe Teixeira.

Escreveu prefácios para vários livros, os últimos dos quais para “O Pensamento Maçónico de Fernando Pessoa” de Jorge de Matos (Sete Caminhos, Lisboa, 2006) e “La Franc-Maçonnerie comme Voie d’Éveil” de Rémi Boyer (Rafael de Surtis/Éditinter, Monts, França, 2006).

Para além da sua formação em Criminalística, desde 1999, tem-se dedicado também, no quadro da Socio-Antropologia, particularmente no domínio do estudo da Violência em “Seitas” e grupos religiosos radicais, tem sido Docente de cursos sobre Violência Religiosa e Terrorismo Religioso, quer no ISER, a partir de 2001, quer em 2006, na Reitoria da Universidade (Clássica) de Lisboa, na Universidade Autónoma de Lisboa e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, num curso de Pós-graduação e Mestrado em Estudos Avançados de Segurança e Direito, onde lecciona as cadeiras de Violência Religiosa e de Criminalística. É co-autor no livro “As Teias do Terror” (Ésquilo, 2006).

Foi (desde 2004) Vice-Presidente do OSCOT- Observatório de Segurança, Crime Organizado e Terrorismo e é, desde o início de 2010, o seu Presidente. É Director da revista para o grande público intitulada “Segurança e Defesa”.

Bibliografia publicada:

"Re-creações Herméticas", Hugin, Lisboa, 1ª. ed. 1996, 2ª. ed. 1997; "O Esoterismo da Quinta da Regaleira", Hugin, Lisboa, 1ª. ed.1998, 2ª ed. 2000, 3ª ed. 2003. "Maçonaria Regular - Maçonaria Universal" - Hugin, Lisboa, 2003. "Re-creações Herméticas - II" - Lisboa, Hugin; “Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos” – Lisboa, Ésquilo, 1ª. E 2ª. Eds., 2004;“Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira” – Lisboa, Ésquilo, 2005.
Com outros autores: "As Tentações de Bosh e o Eterno Retorno", Lisboa, Museu de Arte Antiga, 1994; "Poesia e Ciência", Lisboa, Cosmos/GUELF, 1994; "Caos e Meta-Psicologia", Lisboa, Fenda/ISPA, 1994; "Religião e ideal maçónico", Lisboa, ISER, 1990); "Seminário sobre Newton", Évora, Universidade de Évora/CEHFC, 1995; "Masoneria y religión", Madrid, Ed. Complutense, 1996; "A Vivência do Sagrado", Lisboa, Hugin, 1998, "A Quinta da Regaleira: história, símbolo e mito", Fundação Cultursintra, 1998; "Portugal Misterioso", Lisboa, SRD, 1998; "L'Âme secrète du Portugal", Paris, L'Originel, nº 9, 2000; "L'Homme à venir - Mémoire du XXe.siècle - nº.2", Paris, Rocher, 2000; "Discursos e práticas alquímicas - I", Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2001; "Esoterismo e Humanidades" -Colibri/Faculdade de Letras de Lisboa, 2001; "Discursos e práticas alquímicas - II" - Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2002; "O Homem do futuro - um ser em construção" - São Paulo -Br., Triom/USP, 2002; "A Creação - La Création" - Lisboa, Atalaia/Intermundos, 2003; "Le Sacré aujourd'hui" - Paris, Rocher, 2003; “Templiers: les yeux du Baphomet” – Monts (Fr.), Rafael de Surtis/Editinter, 2004.

Percurso Maçónico

Foi iniciado Maçon no Grande Oriente Lusitano, em 1988, tendo saído em 1990, para constituir a Grande Loja Regular de Portugal-GLRP, onde fundou a Loja "Quinto Império" e onde foi sucessivamente, até finais de 1996, Grande Inspector, Assistente de Grão-Mestre e Vice Grão-Mestre. A partir de 1997, continuou a integrar a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP - potência regular internacionalmente reconhecida pela Maçonaria Universal - de que foi, a partir dos começos de 2001, Grão Mestre, até Março de 2004.

Foi de 1995 a 2000, Grão Prior do Grande Priorado Independente da Lusitânia da Ordem dos CBCS (Altos Graus do Rito Escocês Retificado).

É CBCS-Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (armado na Prefeitura de Genève do Grande Priorado Independente da Helvécia, de que é Membro de Honra), Cavaleiro maçónico de Malta - KM (armado no Grande Priorado da Gálias, em Paris), do Grande Priorado de Inglaterra e Gales) e 33º., Grau honorário do Rito Escocês Antigo e Aceite (Supremo Conselho para Portugal).

É membro do Supremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugal e do Conselho Críptico para Portugal (Mestres Reais e Escolhidos) - altos graus do Rito de York. É ainda Cavaleiro do Conclave "Henrique de Borgonha" do Grande Conclave Imperial para a França da Ordem Maçónica e Militar da Cruz Vermelha de Constantino e das Ordens do Santo Sepulcro e de S. João Evangelista. É IXº. Grau e membro honorário do Colégio dos "Supreme Magus" da Sociedade Rosacruciana dos EUA ("Societas Rosacruciana in Civitatibus Foederatis" e ainda membro da "Societas Rosacruciana in Lusitania (SRIL).

É membro de honra da Loja "Oldest Ally" da Grande Loja Unida de Inglaterra, Companheiro do Arco Real inglês (Capítulo "Benaventa" de Northamptomshire), Cavaleiro Templário - KT de Honra (Capítulo "Holy Cross" de Northamptonshire, "Supreme Ruler" da Ordem inglesa do "Secret Monitor" e do Conclave "Olissipus Fidelis" (a Oriente de Lisboa) da OSM, Cavaleiro Rosa Cruz da Ordem Real da Escócia (Grande Loja de Edimburgo), Maçon de Marca e do "Royal Ark Mariner" da Loja "Rose and Lilly" de Londres e membro (em Inglaterra, do Conselho do Grão-Mestre) dos 5 Ordens que constituem os Allied Masonic Degrees: St. Laurence the Martyr, Knight of Constantinople, Grand Tiler of Salomon, Red Cross of Babilon e Grand High Priest. É Knight Templar Priest do Tabernáculo «London Freemen» e membro da Sociedade «Operatives».

É detentor das mais altas distinções do Grande Oriente do Brasil - GOB, entre as quais, a Condecoração da "Estrela da Distinção Maçónica" (Conferida pelo Grão Mestre Geral do GOB), Diploma e Medalha de Honra ao Mérito "Gonçalves Ledo" (Conferida pelo Grão Mestre do Grande Oriente do Estado de São Paulo, federado ao GOB), Medalha do Mérito "Presidente Ivo Ramos de Mattos" (Conferida pela Assembleia Estadual Legislativa do Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB) e Medalha "Jubileu de Prata do GOERJ- 2003" (Conferida pelo Grão Mestre do Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB). É ainda detentor da Medalha do "Mérito Montezuma" do Supremo Conselho para o Brasil do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA (atribuída pelo Soberano Grande Comendador).

É Grande Representante da Grande Loja do Estado de Nova Jersey (EUA) , junto da GLLP/GLRP, da Grande Loja da Suécia junto do Grande Priorado Independente da Lusitânia e Grande Oficial de Honra da GL Real de Marrocos.

É membro correspondente das seguintes sociedades de investigação maçónica: «Ars Quotur Coronati» (Inglaterra), «Villart de Honnecourt» (França) e «Scottish Rite Research Society» (EUA).

Rui Bandeira

28 maio 2009

Maçonaria Entreaberta - III

Maçonaria Entreaberta - 3ª e ultima parte


Caso não se atinja essa dimensão, estarão sempre os maçons dominados pelas suas paixões visando objectivos materiais sem projecção espiritual... serão perfeccionistas do ritual, serão grandes doadores para obras de caridade, serão impecáveis nos seus atavios, medalhas, cordões e condecorações, mas pouco terão contribuído para o verdadeiro despertar das suas consciências, ou das dos outros. Pouco poderão contribuir, se a tão pouco se limitarem, a favorecer que a sociedade venha a ser de facto melhor.
Para se chegar a um tal nível, é necessário que tenhamos a visão das três idades que todos atravessamos: a do Pai ou da dependência, a do Eu, ou egocêntrica, e a do Nós ou da solidariedade.
Isto é, o ser humano quando nasce, e quantas vezes até morrer, nunca passa da fase inicial de dependência ou subordinação, primeiro dos pais ou do pai, depois dos professores ou tutores, depois dos amigos, dos patrões, dos leaders, enfim de quem não o permite ser livre por si próprio.
Outros há, que ultrapassam esta fase, entram na do Eu, egocêntrica e competitiva, normalmente com aspectos estimulantes de realização pessoal e profissional em função de metas materiais, atingindo quantas vezes os chamados padrões de sucesso e de convergência europeus, de felicidade e qualidade de vida, mas quantas vezes espezinhando os que encontram no seu caminho.
Não são todos, aqueles que conseguem ascender à terceira fase, a do Nós. A da solidariedade, que pressupõe responsabilidade social, sublimação de interesses materiais, conciliação entre objectivos individuais legítimos, e objectivos de interesse colectivo. Na fase do Nós, a espiritualidade é consequente, é actuante, e não apenas um rictus exterior para salvar aparências, ou apaziguar temores do desconhecido.
O momento da iniciação deveria ser, para aqueles que ainda não atingiram o terceiro degrau das suas vidas, o primeiro degrau de subida a esse nível de consciência, o verdadeiro primeiro dia do resto da suas vidas... A iniciação deveria ser sempre uma porta, um porta mais larga, com mais luz para o Nós, para consciência dos valores universais e espirituais milenários, que a Maçonaria regular representa.
A partir daqui, abre-se ao maçon regular, um caminho... ele aprenderá a comunicar pela palavra, e desde logo pelo juramento; ele aprofundará a capacidade de comunicar pelo gesto, e desde logo pelo colocar-se à ordem de aprendiz; enfim ele conseguirá com a ajuda dos seus irmãos aprender a comunicar pela mente, desde logo, pela primeira vez que se encontre numa cadeia de união.
Assim, ascenderá triplamente, oralmente, gestualmente e mentalmente, a uma nova forma de conhecimento, de si próprio, e dos outros, que como ele iniciados, passará a reconhecer e a tratar por Irmãos.
Se aqueles, que estiveram com a Grande Loja Regular até aos infaustos acontecimentos de 7 de Dezembro e depois a decidiram abandonar, tivessem mais cultura maçónica, se estivessem todos na fase do Nós, se tivessem ultrapassado as fases do Pai, e do egocentrismo do Eu, se já soubessem comunicar não só pela palavra, pelo gesto, mas também pela mente, não teriam afrontado a Maçonaria como o fizeram.
Não teriam eles sido, sim como foram, as vítimas da sua insaciável sanha anti espiritual, porque deixaram prevalecer as suas mesquinhas motivações profanas de interesses de poder material, sobre a responsabilidade do dever maçónico, que não compreenderam, que renegaram e que abandonaram.
Durante a crise aliás, verificou-se a simpatia senão mesmo a adesão aos valores da maçonaria universal pela reacção positiva de vários sectores da sociedade civil, e por uma opinião pública mais conhecedora dos fenómenos iniciáticos. Cedo se compreendeu, pela exposição à comunicação social, que o conflito tinha por génese a purificação da Maçonaria regular, de desvios que a viciavam, contrariando a sua abertura legítima ao mundo profano.
Os ex-maçons, que pelo uso da força e da mentira, violaram a lei civil e a tradição maçónica cometeram em auto-autópsia, um autêntico suicídio maçónico.
Ficou pois, finalmente claro depois da crise da maçonaria regular, quem ficou do lado da legalidade, da moralidade, da regularidade. Enfim, quem é Maçon...
Hoje, sem qualquer dúvida, a nível nacional ou internacional, a Maçonaria regular e universal está representada em Portugal pela Grande Loja Regular de Portugal, designação da assembleia geral da associação cultural sem fins lucrativos, constituída notarialmente segundo a lei portuguesa, sob a denominação de Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.
A Grande Loja, que prosseguiu sem soluções de descontinuidade a sua actividade, congrega múltiplas lojas em todo o País, e mantém relações fraternas com a larga maioria das obediências maçónicas estrangeiras que integram a maçonaria universal, e continua a sua actividade ritual e espiritual, como é dos landmarks, no respeito das leis democráticas portuguesas, das suas autoridades legítimas, da moral social, e da Tradição ancestral maçónica universal.
A Maçonaria regular tem em Portugal, como tem em todo o mundo, um amplo horizonte de serviços a prestar à sociedade em que se insere, e à Humanidade em geral, pois os maçons, na vida profana, e pelo seu exemplo, devem constituir valores seguros de referência.
Devem os maçons envolver-se individualmente, que não em nome da Maçonaria, em projectos sociais, culturais, científicos, económicos e de solidariedade que sob o ângulo da responsabilidade e exigências de profissionalismo e justiça social contribuam para o avanço espiritual da sociedade.
A Sociedade, a Humanidade, só progride se conseguirem condições generalizadas de Paz, de Harmonia, de Fraternidade, de Solidariedade e de Tolerância entre aqueles que partilhem destes valores. As sociedades e a Humanidade serão tanto mais justas quanto menos excluídos sociais houver... só que a exclusão e a marginalidade social não afecta só os pobres de bens materiais, afecta, e de que maneira, os pobres de espírito.
Cabe em geral aos homens de boa vontade, e em especial aos maçons regulares, entre outros iniciados, tudo fazerem para que o advento do III milénio represente um efectivo progresso para a condição humana, para que cada vez haja menos excluídos de um processo de espiritualidade ascendente à compreensão do nosso destino críptico.
Apela-se pois a todos os que lerem estas linhas, Homens de Boa Vontade, e Meus Irmãos:
Confiemos no Grande Arquitecto do Universo, prossigamos a obra infindável do despertar das consciências, sejamos todos melhores num mundo que só assim melhorará, pela generalização da prática dos valores espirituais universais. A porta da Maçonaria fica pois, mais uma vez, entreaberta.....a todos Nós....em particular, aos que têm os pés na terra, a cabeça no céu, e o coração com o dos outros...
Luis Nandim de Carvalho - 1997
Editado por
José Ruah

27 maio 2009

Maçonaria Entreaberta - II

Maçonaria Entreaberta - 2ª parte

Cabe recordar o conceito de seita como foi definido recentemente pelo Parlamento francês , e que identifica "grupos que visam, mediante manobras de desestabilização psicológica, obter a adesão incondicional dos adeptos, a diminuição do seu espírito crítico, a ruptura com as referências comummente aceites (éticas, cientificas, cívicas, educacionais)...estes grupos utilizam coberturas filosóficas, religiosas ou terapêuticas para dissimular os objectivos de poder, submissão e exploração dos adeptos".

Neste conceito de seitas, aparecem como elementos caracterizadores e indiciadores da existência da marginalidade do grupo, os atentados ou ameaças à integridade física... o discurso com características anti-sociais... perturbações da ordem pública... tentativas de infiltração dos poderes públicos... etc.
Nada disto tem a ver com maçonaria, nem com religião. Exemplos de seita antimaçónica temos historicamente em Itália a loja P2 (propaganda due). Desde logo antimaçónica, porque secreta, porque não realizando iniciações, por ausência completa de observância dos landmarks, por não reunir regularmente, não cumprir com constituições ou regulamentos maçónicos, por ter objectivos materialistas e ilegais.
Os maçons regulares devem reunir-se em lojas regulares, exclusivamente masculinas, que estão congregadas institucionalmente em Grandes Lojas, ou mesmo Grandes Orientes que globalmente trabalham à glória do Grande Arquitecto do Universo. Não é possível entender-se na Maçonaria Universal a existência de Lojas regulares que o não sejam pela legitimação da transmissão da regularidade, e acrescente-se, pela manutenção, dos "standards" dessa regularidade, fixados nos "landmarks".
Para os regulares também não é pois possível a existência de lojas regulares autónomas - estas serão lojas selvagens, não reconhecidas pela comunidade maçónica universal. Mas também não é possível, existirem dentro da mesma Grande Loja ou Grande Oriente, se pretender obter o reconhecimento internacional, lojas a funcionarem regularmente de acordo com a Tradição, e lojas irregulares a funcionarem liberalmente, isto é sem aceitação unânime do landmark da crença no Grande Arquitecto do Universo.
Neste quadro o que é possível então?
Os maçons regulares consideram que a Maçonaria, como substantivo, só pode ter uma acepção que é a do sentido de uma organização masculina, iniciática deísta e simbólica. Não se reclamam do exclusivismo esotérico nem do exclusivismo iniciático que reconhecem poder existir em outras organizações. De facto, o termo maçonaria como adjectivo, tem sido usado para qualificar outras organizações de base humanista e que pretendem por uma via iniciática substituída (não a sagrada), desenvolver igualmente a filosofia de fraternidade, igualdade e liberdade, valores cívicos essenciais ao pleno desenvolvimento dos valores espirituais da Maçonaria, como é o caso, entre outros dos Rosa Cruzes.
Deste modo, não é possível a cooperação ritual, em loja, ou mesmo em Grande Loja, entre maçons regulares e irregulares, ou entre maçons regulares e quaisquer outro grupo de iniciados, não maçons, ou mesmo mulheres que se reclamem da Maçonaria.
Mas não deixa de ser possível a colaboração em iniciativas de carácter profano em que maçons regulares, e outros homens e mulheres de bem, pretendam desenvolver iniciativas que visem proporcionar à sociedade uma divulgação de valores que sejam universais, como a Paz, a Harmonia, a Solidariedade, a Fraternidade e a Tolerância. De facto algo de essencial aproxima todos os que se reclamam da Maçonaria: as preocupações humanistas, e o envolvimento em acções humanitárias. Uns os regulares, porque crentes em Deus, Grande Arquitecto do Universo são espiritualmente humanistas, outros porque irregulares, e laicos, cientes na natureza do Homem, são igualmente humanistas. Por via espiritual ou existencialista, aceitam todos o Humanismo.
A cooperação dos maçons com outras entidades, parte porém de pressupostos mínimos que são essenciais, e até tão naturais em consciências civicamente bem formadas que quase seria desnecessário referi-lo. De facto, não há nenhum projecto no mundo cívico ou profano, que possa envolver maçons, se não for compaginável com o respeito pela legalidade e liberdade democráticas. Nem se concebe que pudesse ser de outro modo.
Por isso, um dos pontos porventura mais salientes da crise que alguns dos ex-maçons regulares em Portugal ocasionaram publicamente, em finais de 1996, e que se auto excluíram da maçonaria regular, a partir do dia 7 de Dezembro, com a usurpação das instalações de Cascais da obediência iniciática - Grande Loja Regular de Portugal - e depois, pela tentativa de domínio dos altos graus maçónicos, é o da sua ausência de cultura democrática, moral e maçónica.
As autoridades maçónicas internacionais ou estrangeiras depositárias das tradições iniciáticas da maçonaria regular já tomaram aliás, posição iniludível. Seja ao nível das Grandes Lojas, seja ao nível dos sistemas dos Altos Graus, em especial do Arco Real, dos Grandes Priorados, e dos Supremos Conselhos do grau 33º : - Em Portugal, só existe uma Grande Loja Regular legítima, e que se insere na associação sem fins lucrativos denominada Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.
A própria opinião pública, que condenou aqueles actos, surpreendeu-se, e com razão, com o facto de tal ter podido ocorrer desencadeado por quem se dizia maçon, e sempre publicamente se tinha apresentado como tal!
Quer com isso dizer-se, que muitos dos que se lançaram na aventura anti-maçónica da "casa do sino", como ficou a ser conhecida a instalação administrativa da Grande Loja Regular de Portugal, em Cascais, se esqueceram, ou nunca tinham interiorizado os ensinamentos que deveriam ter recebido na sua iniciação, e posteriormente com o simbolismo das demais subidas de grau, ou, ainda mais grave, na ascensão nos altos graus, ditos de perfeição. Ou seja, aqueles ex-maçons, ou pior, anti-maçons, que são hoje, violaram a importância dos seus juramentos, e com isso tornaram-se perjuros; renegaram a sua condição de maçons, e auto-excluíram-se da maçonaria regular e universal.
Uns intencionalmente, e perseguindo projectos de poder pessoal só possíveis pela pérfida violação da lei civil, da moral social e da tradição maçónica; outros, que os acompanharam, fizeram-no, uns, por ingenuidade ou falta de preparação maçónica, outros ainda porque não eram livres, e dependentes de salários, de relações familiares, e de empregos, não puderam libertar-se do jugo dos seus amos e senhores, ou, na melhor das hipóteses de relações de amizade possessivas.
Esqueceram-se, que mais valia ter a garganta cortada, no simbolismo expressivo de um dos juramentos maçónicos, do que faltar aos sãos propósitos de escolher os caminhos da virtude, de praticar o bem, assim, resvalaram nos caminhos do vício, ou seja decidiram praticar o mal.
Esqueceram-se, que no próprio catecismo de muitos ritos maçónicos, se exemplifica, para além do simbolismo: - mais grave ainda do que ter a garganta cortada, é ficar a ser considerado como perjuro, e passar a ser conhecido entre os maçons de todo o mundo, como homem indigno, sem palavra e sem honra...
Mas para tanto é preciso que se tenha honra. Que se seja livre, e de bons costumes...
Ora a questão essencial da cultura maçónica, começa por se colocar desde logo no momento da iniciação: - Só homens livres e de bons costumes podem ser iniciados, e desde que sejam crentes, em Deus, Grande Arquitecto do Universo. Não se trata de frases feitas para recitar como ladainhas, mas antes de conceitos que só fazem verdadeiro sentido se interiorizados, apreendidos, e assim sentidos na profundidade de um compromisso solene e sagrado, porque sob a sua honra, e sobre o livro sagrado.
O que quer dizer livre? De maior idade? Auto-suficiente economicamente? Não dependente de vícios que condicionem ou até anulem a nossa vontade? E de bons costumes? Que quer dizer? Que não se achem condenados pela sociedade civil, quer dizer apenas uma conformidade formal com a moral social dominante e vigente? Ou, antes terá o significado de bons costumes no sentido do respeito dos elementares deveres contidos na declaração universal dos direitos do homem?
Estas questões cruciais deveriam ser sopesadas aquando cada um que deseje ingressar na Maçonaria, se decide preencher o formulário de pedido de admissão. Por isso mesmo, há que favorecer a uma maior abertura ao mundo profano, e divulgação contida, daquilo que se pode entreabrir da Maçonaria... para que se saiba ao que se vai, pelo menos quanto a requisitos mínimos. E para que a sociedade não tenha, por receio ao secretismo do desconhecido, o impulso de o combater e de condenar.
Aliás, o verdadeiro segredo maçónico consiste na percepção interior da consciência do processo iniciático. É por isso e por natureza intransmissível, por qualquer outro que não seja o próprio, e mesmo assim, se encontrar palavras com que se possa exprimir de forma inteligível para quem não tiver sido, por sua vez, também iniciado.
Não há revelação de segredo maçónico por divulgação de quaisquer fotografias, frases, e até mesmo gestos que carecem de significado para quem não foi iniciado. Se de outro modo houvesse entendimento possível, todos os segredos da maçonaria estariam já revelados nos mais de 90.000 livros recenseados, que foram publicados sobre o tema, dos vários filmes e vídeos editados pelas Grandes Lojas Regulares, incluindo a Grande Loja Unida de Inglaterra, e das milhares de páginas que se encontram na Internet, quer assumidas oficialmente por várias obediências maçónicas, quer pelas páginas pessoais de vários internautas maçons. Não sejamos hipócritas... Hoje, a Maçonaria não se pode contentar em promover a iniciação daqueles que lhe batem à porta fascinados pelo sobrenatural do secretismo do mistério, pela enganosa ambição de negociatas mirabolantes só reservadas aos eleitos das suas imaginações, pelo pseudo poder oculto do domínio de coisas e de outros. Não e não.
A Maçonaria deve sim, ser uma resposta e uma via iniciática e redentora para aqueles que procuram um auxilio solidário no despertar e formar da suas consciências. Dos que pretendem ascender a um saber milenário e iniciático, que acreditam e querem continuar a acreditar no Criador, na Paz, na Harmonia, na Solidariedade, na Fraternidade e na Tolerância de todos os homens.
A Maçonaria deve ser uma escola de escol, de virtudes, uma oportunidade de auto aperfeiçoamento fraterno e universalista, para quem a procura, um caminho consequente de sublimação e de superação de limitações. Para tanto, é preciso maturidade de idade e de consciência, é preciso que se tenha uma percepção espiritualista da condição humana derivada da crença no Grande Arquitecto do Universo, é preciso enfim, ter-se já uma consciência suficientemente evoluída que permita a cada um dos maçons contribuir para que o profano iniciado se integre perfeitamente no caminho maçónico, que consiga sublimar os seus objectivos meramente materialistas, para se colocar numa posição ou patamar de espiritualidade actuante.
Fim da 2ª parte
Editado por
José Ruah

26 maio 2009

Maçonaria Entreaberta - I

Iniciamos hoje a publicação de primeira de 3 partes de um texto que cremos ter qualidade para estar neste espaço. Este texto que nos chegou por via indirecta, mas que imediatamente foi reconhecido como tendo sido escrito por Luis Nandim de Carvalho, 2º Grão Mestre da GLLP/GLRP, em 1997 época conturbada para a Maçonaria Regular Portuguesa. Solicitada a devida autorização para publicação, que nos foi concedida, ficou ao critério do editor, e dada a grande dimensao do mesmo, a respectiva separação em 3 partes a serem publicadas em dias consecutivos.
Relembramos que este texto data de 1997 e é um artigo de opinião pessoal .
Maçonaria Entreaberta
Quando um maçon usa ritualmente da palavra, em Loja, em sessão ritual, fá-lo a Bem da Ordem. Isto é, o maçon nunca se exprime por uma motivação pessoal e egoística, antes deve sempre preocupar-se e identificar-se com a organização iniciática que é a Maçonaria, assumindo pois uma postura altruísta e filantrópica.

Por natureza, o maçon é pois solidário na sua espiritualidade, o que resulta da sublimação da sua dimensão meramente terrena e materialista.
É esta atitude que alguns cínicos chamaram já de "insanidade maçónica", conceito anti-maçónico, porque anti-institucional, e que pretende ridicularizar os valores maçónicos, considerando-os só próprios de insanos.

Também na vida profana, isto é no seu quotidiano cívico, o maçon deve actuar de acordo com as suas responsabilidades próprias, isto é a bem da Ordem, o que significa nada fazer que ponha em causa a sua respeitabilidade e dignidade de instituição milenária, por via da contenção e da discrição. E por outro lado, pela via activa, tudo deve fazer para que os ideais universais dos valores da Paz, da Harmonia, solidariedade, fraternidade e tolerância, sejam efectivamente difundidos, aceites e praticados pelo maior número de pessoas, sejam ou não crentes no Grande Arquitecto do Universo.

Quer isto dizer, que não se pode ser maçon sem se respeitar a ordem democrática e da moral vigente, que aliás devem estar em consonância nas sociedades civilizadas contemporâneas. Um maçon que não se identifique nesses termos com a sociedade em que se integra, dificilmente poderá ser manter a sua condição de Maçon, porquanto nenhum legítimo dever profano deve estar em contradição com o juramento maçónico.
O maçon contemporâneo deve pois actuar de acordo com uma cultura maçónica espiritualista consequente, isto é, que compatibilize os valores humanistas universais, com os valores espirituais universais. Numa síntese, o maçon deve ter os pés na terra, a cabeça no céu, e o coração com o do dos outros... O que significa que o maçon deve sempre procurar superar as suas limitações, auto aperfeiçoar-se na busca de ser melhor do que é, especialmente em relação aos outros, qual bom samaritano. Correlativamente, cabe à Maçonaria proporcionar-lhe as condições objectivas para que tal lhe seja possível.

Esta postura é a exigida aos maçons regulares, também ditos tradicionais ou de via sagrada, aqueles que trabalham nas suas Lojas sob invocação de Deus, Grande Arquitecto do Universo, sobre o livro sagrado, o esquadro e o compasso.

Quanto aos outros, ditos maçons irregulares, ou liberais, ou de via substituída, que se reúnem segundo a aparência dos mesmos ritos, decorações e ideais, já dispensam a via espiritual, e trabalham sobre a Constituição de Andersen, a do País da sua nacionalidade, enfim sobre a própria declaração Universal dos Direitos do Homem, e sem necessariamente invocarem Deus, o Grande Arquitecto do Universo. Isto é: uns, os regulares, partem de um pressuposto que é o da crença no Criador, os outros partem do postulado da liberdade de crença ou não no Criador, uns e outros, sem se remeterem a uma posição contemplativa, buscam o seu próprio aperfeiçoamento, "não faças aos outros aquilo que não gostavas que te fizessem", mas com efeitos diversos ao nível de intervenção na sociedade.

De facto, enquanto os regulares se situam no plano do sagrado, os outros colocam-se no campo do laicicismo, e consequentemente envolvem-se mais directamente na vida profana que procuram aperfeiçoar, senão mesmo transformar.

Para um maçon "regular" a sociedade só será mais perfeita se isso decorrer do processo de aperfeiçoamento individual, de cada um, enquanto para um maçon "irregular", o essencial é ser ele o agente da transformação da sociedade. Isto é, passa o maçon em vez de ser o destinatário das suas reflexões e consciência, para procurar o auto aperfeiçoamento, a considerar-se o agente de transformação e da perfeição da sociedade.

Bem se compreende que esta atitude possa gerar desde logo, a quebra de harmonia entre os maçons. Ultrapassada a intimidade de cada um, em que só cada qual é juiz de si próprio, e de acordo com os parâmetros da sua autodefinição, sendo portanto responsável pela sua própria consciência, os maçons irregulares confrontam-se exteriormente sobre as várias actividades que poderão contribuir para transformação e aperfeiçoamento da sociedade...e estas serão tantas quantas as percepções do que é a perfeição da sociedade.
Uma outra questão que pode lançar alguma confusão quanto ao termo maçon, para além da referida distinção entre maçons regulares e irregulares, na terminologia mais amplamente consagrada, é a possibilidade de existirem maçons que trabalham regularmente mas em situação institucional de irregularidade, e a de maçons institucionalmente irregulares, mas que trabalhem regularmente nos seus templos e Lojas.
De facto, para se ser maçon não basta uma auto proclamação. É necessário que "os seus irmãos o reconheçam como tal", isto é, é essencial que se tenha sido iniciado, por outros maçons, cumprido com as suas obrigações de maçon, esotéricas, simbólicas e incluindo as materiais, e que se integre numa Loja, integrada regulamentarmente numa Grande Loja ou num Grande Oriente, devidamente consagrados, consoante as terminologias tradicionais. Ora, desde logo se pode vislumbrar a possibilidade de maçons integrados numa Grande Loja ou um Grande Oriente irregular (nomeadamente por não ter sido regularmente constituído, respeitar globalmente a crença em Deus, Grande Arquitecto do Universo, nem obedecer a outros landmarks), praticarem numa determinada Loja uma actividade em tudo igual aos que actuam numa Loja regular, integrada numa Grande Loja ou Grande Oriente Regular.

Todavia tal não basta, e uma prática maçónica, só se pode admitir como regular, se reconhecida como tal, por quem de direito, ou seja, por uma Grande Loja, ou Grande Oriente regularmente constituído e em regularidade de funcionamento.

Aos que se consideram maçons regulares, para que efectivamente o sejam, é necessário serem reconhecidos como tal, é indispensável que tal estatuto lhes seja reconhecido. De facto o reconhecimento é essencial para atestar um dos requisitos fundamentais e integradores da regularidade, que é o da legitimidade da transmissão da própria regularidade. Só assim se constitui legitimamente a regularidade.

Um pouco à semelhança do próprio processo de reconhecimento da independência dos Estados, em que não basta a proclamação unilateral de independência, é crucial que a comunidade internacional a reconheça, e depois, para se ser verdadeiramente membro de pleno direito da comunidade internacional, ou de comunidades regionais (como os Estados membros da União Europeia), é ainda necessário o respeito da legalidade universal, que tem como referência a declaração universal dos direitos do homem.

Um maçon que respeite as regras da regularidade, tem pois de respeitar as suas regras essenciais: Os landmarks, as constituições, os regulamentos, a regularidade da transmissão maçónica, enfim o próprio cumprimento das leis civis. Um maçon que portanto seja irregular quanto à sua filiação numa Grande Loja ou Grande Oriente irregular, não pode ser considerado regular pela comunidade maçónica regular... não pode pois aceder a sessões rituais regulares. Só o poderá fazer se, e quando por um processo dito de regularização, deixar a sua obediência irregular e for recebido como regular por uma obediência maçónica com estas características.
E quanto ao inverso? Um maçon iniciado regularmente, a trabalhar regularmente, integrado numa Grande Loja ou num Grande Oriente que perdeu o seu reconhecimento como regular pela comunidade maçónica universal? A resposta é simples... passa a ser incluído na irregularidade. Este só tem também uma solução à sua disposição, se não quiser permanecer na irregularidade e afastado do convívio maçónico regular universal: é ingressar numa obediência maçónica reconhecida como regular.

Caso ainda diverso e que não merece comentário, é o dos profanos e/ou, ex-maçons que se integram na anti-maçonaria, quer contra a maçonaria regular, quer contra a maçonaria irregular, desrespeitando a leis civis, e quanto aos primeiros os seus valores espirituais, e quanto aos segundos o seus valores humanísticos. Os anti-maçons estão fora da maçonaria.
Não se trata de um jogo de palavras. É essencial e constitutivo da regularidade maçónica o seu reconhecimento. Não pode haver maçonaria regular ao arrepio dos landmarks, com violação da constituição de uma obediência, dos seus regulamentos, com violação das leis civis, com a prática de crimes assim considerados pela sociedade profana democrática. A comunidade maçónica internacional condena e denuncia estas situações, que merecem denúncia pública de todos os maçons e homens de boa vontade.

Resta acrescentar, que não existe possibilidade de um movimento que se pretenda espiritualista, esotérico, simbólico, iniciático e universalista se desenvolver contra as próprias leis democráticas de um Estado de Direito, que se integre na comunidade internacional democrática.
A Maçonaria laica, humanista mas materialista, profana porque não sagrada, resvala com grande facilidade em dois dos mais temíveis desvios que podem fazer perigar a excelência da ideia e filosofia maçónicas: a politização e o negocismo.

De facto, grande é a tentação da opção pela via política directa, como suporte e instrumento directo da acção maçónica, para se implantar na sociedade ideias e ideais de liberdade, justiça social, igualdade, solidariedade... só que ao fazê-lo, faz-se perigar inexoravelmente a paz, a harmonia, a tolerância... a via maçónica torna-se pois irregular, na medida em que as lojas deixam logo de ser os locais de serena elevação espiritual, para passarem ao lado do esoterismo iniciático e simbólico que as caracterizam na sua pureza, para se assumiram como mais um local a profanar pelo imediatismo da gestão política dos interesses materiais.
Além da politização, o outro risco é o negocismo, a pretexto da solidariedade a estabelecer com os irmãos mais necessitados, ou para viabilizar ideais de solidariedade para com terceiros, ou mesmo para fortalecer financeiramente a instituição maçónica. O afastamento das preocupações de elevação espiritual cedo cedem passo ao "primum vivere, deinde philosophare..." Daqui à tentação do materialismo do "vale tudo" é um pequeno passo.
Dir-se-á que a maçonaria regular sofre também destas duas tentações. Decerto que sim, mas em menor grau, porque de tal modo infringiria um dos seus landmarks e consequentemente, arriscaria a perder a sua própria natureza. A maçonaria regular, que não pode por definição ser política, sofre antes, e mais gravemente de um potencial risco de desvio, que é o de se transformar em seita, pelo sectarismo messiânico, ou pseudo-esotérico de que os seus adeptos possam ser levados a reclamarem-se como iluminados.

De facto alguns, seduzidos pela aparência temporal do poder espiritual, enveredam por caminhos insondáveis de mistério, lado a lado com fórmulas de cultos iluminados de ilusionismo, cartomancia, bruxaria, satanismo, e seus similares de magia negra. Estão a um passo de enveredarem por seitas, naturalmente anti-maçónicas.

Fim da 1ª Parte


Editado por
José Ruah

24 março 2009

O segundo Grão-Mestre

Coube a Luís Nandin de Carvalho a tarefa de exercer o ofício de Grão-Mestre da então GLRP, como seu segundo Grão-Mestre.

A empresa já não se afigurava fácil, uma vez que Nandin de Carvalho sucedia ao carismático Grão-Mestre fundador, Fernando Teixeira. Em circunstâncias semelhantes, assegurar a sucessão, trilhar caminhos que necessariamente serão novos ou diversos, nunca é fácil. O peso institucional do líder fundador era muito. A inevitável comparação entre os estilos de quem fundara e de quem assumia as rédeas da liderança não facilitava nada a tarefa do sucessor: se este mantivesse uma linha semelhante ao seu antecessor, seria considerado um mero executante da vontade do fundador, um discípulo sem autonomia e sem real liderança; se alterasse o rumo, arrostaria com todo o peso dos fiéis do fundador, que não aceitariam bem as mudanças. A sucessão de um líder carismático é sempre muito complicada e aceitar assegurá-la é sempre um ato de coragem.

Se Luís Nandin de Carvalho certamente sabia que sair da sombra do seu antecessor seria difícil e doloroso, não teria porventura a noção de quão grandes viriam a ser as dificuldades. Mal tinha tido tempo de aquecer o seu assento na cadeira de Grão-Mestre, menos de três escassos meses após a sua instalação, foi confrontado com uma sublevação de fiéis de Fernando Teixeira. O tempo muito curto que decorrera desde que iniciara funções demonstrava que não era a sua atuação que estava em causa, antes um propósito de retomar um vão poder perdido. No final de 1996, ocorreu o que veio a ficar conhecido pela cisão da Casa do Sino, através da qual uns quantos pretenderam derrubar o Grão-Mestre eleito e recentemente instalado e substitui-lo por um iluminado de sua confiança.

Luís Nandin de Carvalho foi - não poderia deixar de assim ser - reconhecido como o legítimo Grão-Mestre, nacional e internacionalmente. O grupo que se arrogava do iluminado poder de decidir que o Grão-Mestre eleito devia ser derrubado e substituído tentava confundir as coisas e situações, utilizando também a sigla GLRP. Luís Nandin de Carvalho tomou então uma decisão, que, tendo sido na época dolorosa e porventura mal aceite por muitos do que permaneceram fiéis ao Grão-Mestre eleito - incluindo eu próprio -, se revelou acertada: concentrou-se no essencial e nem se preocupou com o acessório. O essencial era manter intocada a prática da Maçonaria segundo os princípios da Regularidade; era recuperar do golpe sofrido, com a ocupação das instalações da Obediência e a cisão; era manter o Reconhecimento das Potências Maçónicas internacionais. O acessório era terçar armas por um nome e por um específico local. Podia recorrer-se aos Tribunais, ao Poder civil, às instituições do Estado, para reclamar para a Obediência a recuperação das instalações de que fora esbulhada e o uso exclusivo do seu nome. Com isso, ter-se-ia, porém, uma longa e desgastante batalha judicial, que em nada prestigiaria a Obediência.

Concluiu que, afinal de contas, espaços para trabalhar há muitos, seria estulto perder tempo e energia a lutar por um específico, ainda por cima nem sequer especialmente adequado para a utilização pretendida, nem tendo propriamente uma localização privilegiada, nem sequer tendo uns custos de utilização baixos. Também entrar numa luta pela designação da Obediência só possibilitaria confusões entre os menos bem informados e no estrangeiro. Decidiu assim, aceitar a solidariedade e disponibilidade do Supremo Conselho dos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite e, provisoriamente, deslocar a sede da Obediência para instalações cedidas por este Supremo Conselho, num bairro histórico de Lisboa. Ulteriormente, e a seu tempo, a Grande Loja assegurou a utilização das suas atuais instalações, no centro de Lisboa. Quanto ao nome, decidiu frisar bem, interna e externamente, onde residia a legalidade maçónica e alterou o nome da Obediência para Grande Loja Legal de Portugal/GLRP (GLLP/GLRP). Internacionalmente, e por força do espírito prático americano, a Obediência ficou comummente conhecida por "Grande Loja Regular de Portugal (Legal)".

Se a sucessão já era, à partida, difícil, os acontecimentos tornaram a tarefa hercúlea. Havia que recolar todos os pedaços de uma jovem organização que um grupo de ambiciosos de vão e estulto poder escaqueirara. Foi preciso reorganizar, reconstruir, recomeçar. E Luís Nandin de Carvalho dirigiu a reorganização, a reconstrução, o recomeço. Apoiou-se naqueles que permaneceram fiéis ao Grão-Mestre eleito, alguns dos quais nem sequer tinham votado nele, mas reconheciam pertencer-lhe a legitimidade para o exercício do ofício. Limpou a casa. Foi avante. Persistiu. Trabalhou. Insistiu. Debateu. No final, transmitiu o malhete da Regularidade ao seu sucessor, intacto e posto a salvo da borrasca.

Só o ter conseguido fazê-lo já tornaria o seu mandato, que decorreu ente 1996 e 2001, merecedor de encómios. Não era, não foi fácil, levar a bom porto uma barca que arrostou com tão inesperada, como violenta tempestade. O seu mandato - ao contrário do que certamente ele próprio desejaria - foi, em grande medida, um trabalhoso período de limitação e reparação dos estragos provocados pela borrasca. Mas, quando chegou a altura de passar a barca a novo timoneiro, esta estava quase integralmente reparada. Todas as Lojas laboravam com normalidade. Internacionalmente, todas as Obediências da Maçonaria Regular reconheciam a GLLP/GLRP como a única e legítima representante da Maçonaria Regular em Portugal, com uma única e temporária exceção, uma das Grandes Lojas americanas, que, no entanto, logo do início do mandato do seu sucessor, retomou o reconhecimento da GLLP/GLRP. Esse é um mérito que ninguém de boa fé pode retirar ao segundo Grão-Mestre.

Mas não foi só no navegar em mar alteroso e na resistência ao infortúnio e más opções alheias que se esgotou o mandato de Luís Nandin de Carvalho. A sua marca mais perene, o essencial da sua maneira de ver a Maçonaria, foi o compromisso que defendeu entre Tradição e Modernidade, o equilíbrio entre recolhimento e abertura que promoveu. Nandin de Carvalho prezava e preza, como todos nós, o valioso espólio de Tradição que constitui um verdadeiro tesouro da Maçonaria. Tradição que se mantém, se deve manter e transmitir: princípios, ensinamentos, práticas ancestrais, hábitos de trabalho individuais e coletivos, enfim, tudo aquilo que faz a Maçonaria ter razão de ser. Mas intuiu e insistiu que, no século XXI, que no seu mandato se iniciou, a forma de a Maçonaria interagir com a Sociedade tinha de acompanhar a evolução desta e dos meios resultantes da Modernidade. Parafraseando o título de um dos seus livros, esta é a época d'A Maçonaria Entreaberta. Não se pense que esta noção teve um caminho fácil. Alterar, modificar, atualizar, arrasta sempre um coro de receios de que se vá depressa demais ou longe demais. E é, obviamente, preciso saber dar tempo ao tempo e dar passos seguros. Mas este compromisso apontado por Nandin de Carvalho fez e vai fazendo o seu caminho. Este blogue é um exemplo disso mesmo...

Rui Bandeira

26 novembro 2007

O Grão-Mestre Fundador

Fernando Teixeira foi o Grão-Mestre Fundador da Obediência Maçónica Regular Portuguesa, internacionalmente reconhecida, em que se integra a Loja Mestre Affonso Domingues, que se denominou, inicialmente de Grande Loja Regular de Portugal e que presentemente se denomina Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal (GLLP/GLRP). O seu currículo maçónico está resumido na página dedicada aos Past Grão-Mestres do sítio da GLLP/GLRP, na forma seguinte:

Curriculum Vitae maçónico

- Grau 33 do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite.
- Membro Honorário do Grande Priorado de Helvetia.
- Cavaleiro Benfeitor Honorário da Cidade Santa, do Grande Priorado Lusitano.
- Grande Prior do Capítulo Português do Arco Real.
- Membro de Honra da Grande Loja de Washington D.C.
- Membro de Honra da Loja "Atlântida" da Grande Loja de Espanha.
- Grande Oficial Honorário do Grande Oriente de Itália.
- Membro Honorário (Venerável de Honra) da Loja "Oldest Ally" da Grande Loja Unida de Inglaterra.
- Grande Oficial Honorário da Grande Loja de Porto Rico.
- Grão Mestre Honorário "Ad Vitam" da Grande Loja da Roménia.
- Medalha de ouro da Grande Loja Nacional Francesa.

Em 1984, Fernando Teixeira sai do Grande Oriente Lusitano e funda a Grande Loja de Portugal.
Em 1989, é designado Grão Mestre do Distrito de Portugal da Grande Loja Nacional Francesa.
Em 29 de Junho de 1991, a Grande Loja Regular de Portugal é constituída e reconhecida internacionalmente como Obediência Regular em Portugal, tendo Fernando Teixeira sido nomeado o seu primeiro Grão Mestre.
Reeleito em Setembro de 1994, é substituído em Setembro de 1996, a seu pedido e por motivos de saúde, tendo sido nomeado Grão Mestre Jubilado.

Quando relembro na minha memória Fernando Teixeira, a expressão que assoma ao espírito para definir a marca que deixou em mim é a de Príncipe da Renascença. Fernando Teixeira possuía um carisma invulgar, sabia que o tinha e utilizava-o sem tibiezas. Como Grão-Mestre, governou a Grande Loja com mão de ferro envolta em luva de pelica e sorriso cúmplice. Impunha a sua vontade como um rei absoluto, mas ouvia todos os obreiros, desde os mais próximos colaboradores ao mais recente e imberbe Aprendiz com interesse, agrado e atenção. E não se coibia de elogiar uma boa ideia, um ponto de vista interessante, vindo de um obscuro obreiro e de ordenar (é o termo: Fernando Teixeira, mesmo quando pedia, ordenava...) aos seus mais íntimos colaboradores, aos que asseguravam os mais altos ofícios na Grande Loja, que executassem a boa ideia, que atentassem no ponto de vista interessante.

A imagem que guardo de Fernando Teixeira é a de um homem com uma notória superioridade intelectual, uma cultura enciclopédica, que impressionava os demais e os predispunha para seguirem as suas orientações. Daí o seu carisma. Mas também era um homem perfeitamente consciente desse seu carisma e que o utilizava, sem qualquer hesitação, para garantir que a sua vontade imperasse. Fernando Teixeira foi, sem dúvida, um homem brilhante, que era óptimo ter como amigo, mas que era temível ter como inimigo...

A Grande Loja muito deve a Fernando Teixeira, à sua enorme inteligência, à sua habilidade no trato, à sua capacidade diplomática. Tendo sido criada na esfera de influência da Grande Loja Nacional Francesa, obteve, em tempo recorde, o reconhecimento das Grandes Lojas da esfera de influência anglo-saxónicas, as Grandes Lojas americanas e a Grande Loja Unida de Inglaterra e, com ele, o reconhecimento em todo o Mundo, como a Potência Maçónica Regular em Portugal. Conseguiu, em escassos dois anos, o que outros, mais ricos, fortes e poderosos, em outras paragens levaram anos e anos a obter.

Criou a Obediência a partir quase do nada, com espartana administração dos escassos recursos disponíveis. Sabia e fez saber que a afirmação da Obediência passava também pelo seu apuro ritual. Ensinou e exigiu que se aprendesse.

Fernando Teixeira foi, sobretudo, um grande líder. Com todas as características de um líder. Com todas as virtudes de um líder. Também com os defeitos que o hábito da liderança cria. Era uma vedeta e comportava-se como tal - mas todos gostavam dele assim mesmo e todos esperavam que fosse precisamente assim que se comportasse. Era autoritário e proclamava o seu orgulho em o ser - mas todos se sentiam confiantes no seu exercício da autoridade.

Os cinco anos de exercício do ofício de Grão-Mestre por Fernando Teixeira foram muito frutuosos. Do nada, ou quase, a Obediência cresceu, implantou-se, estruturou-se, organizou-se.

Fernando Teixeira apreciava as boas coisas da vida e afirmava-o sem tibiezas. E gostava de pompa e circunstância, sobretudo nas cerimónias em que recebíamos dignitários estrangeiros. Misturava a solenidade com a humanidade e singeleza com a naturalidade só acessível aos eleitos. Recordo-me de, ainda Companheiro, o ver entrar com pomposa solenidade, usando um riquíssimo avental e o seu Colar de Grão-Mestre, numa sessão de Grande Loja. A dada altura, essa sessão de Grande Loja ficou restrita aos Mestres - o que impôs que os Aprendizes e Companheiros aguardassem no exterior o desenrolar dos trabalhos até à altura em que podiam reentrar. Mas os trabalhos eram demorados e o tempo passava... De repente, no hall do hotel onde os mais novos procuravam consolar o seu aborrecimento, a caminho do tédio, aparece Fernando Teixeira, com todos os seus paramentos. "Fiz um intervalo nos trabalhos, para vir cá fora fumar uma cigarrilha e fazer-vos um pouco de companhia, que já estão há muito tempo à espera..." E cavaqueou durante dez minutos com os Aprendizes e Companheiros, após o que reentrou para recomeçar a sessão. E claro que deixou cá fora umas dezenas de incondicionais, resgatados do tédio da espera por dez minutos de atenção do Grão-Mestre...

Foi assim Fernando Teixeira, príncipe da Renascença, homem brilhante e carismático, que gerou incomensuráveis fidelidades.

Fernando Teixeira gostava do Poder - e assumia-o. Mas a saúde começou a traí-lo e resignou-se a deixar o ofício de Grão-mestre. Mas o perfume do Poder não deixou de o atrair. Conviveu mal com a saída do ofício. Não deixou respirar o seu sucessor. Estava então, também rodeado de alguns próximos que eram mais lata brilhante do que metal precioso. Não se apercebeu que o brilho que estes mostravam mais não era do que o pálido reflexo do brilho que ele próprio emanava. Ainda o seu sucessor não tinha aquecido o lugar, desentendeu-se com ele e quis impor a sua exoneração. Acabou por integrar a cisão da Casa do Sino.

Do meu ponto de vista, errou então. Mas não é esse erro, por muito dolorosas que tenham sido as situações então vividas, que deslustra, a meus olhos e aos olhos de todos quantos com ele privaram naqueles anos gloriosos de implantação da Maçonaria Regular em Portugal, tudo o que anteriormente, com brilhantismo, ele fez em benefício desta.

Tenho - temos, todos nós nesta Casa - muito orgulho, muita honra no Grão-Mestre Fundador, Fernando Teixeira.

E muita gratidão pelo que lhe devemos. E alguma saudade.

Outros haverá que também homenageiam a sua memória. Pela minha parte, em nada isso me incomoda. Poderemos ter, porventura, outras divergências. Ainda bem que convergimos na boa recordação de Fernando Teixeira. E, lá no Oriente Eterno a que, chegada a sua hora, Fernando Teixeira passou, estas tricas dos pobres humanos nada significam...

Rui Bandeira