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30 julho 2025

O Equilíbrio que Mantém o Mundo e a filosofia

Frequentemente, associamos a vida a uma noção de equilíbrio. Contudo, do ponto de vista da física, esta ideia merece uma análise mais aprofundada. Os sistemas vivos, sendo sistemas abertos, não existem num estado de equilíbrio, mas sim num estado estável dinâmico. O equilíbrio, em termos termodinâmicos, define-se como o estado de máxima entropia, onde todas as diferenças de potencial se anulam e a capacidade de realizar trabalho desaparece por completo. É um estado de inércia final.

Pelo contrário, o aparente equilíbrio que observamos na vida, o seja,  o seu estado "estável" é um motor de trabalho constante. Exige um fluxo contínuo de energia para manter a distância que o separa do verdadeiro e derradeiro equilíbrio. É nesta dança que reside a essência da vida: manter-se através da mudança e conservar-se através da transformação. Esta coexistência de estabilidade e mudança é uma das suas características mais fundamentais.

A Hipótese de Gaia

Esta mesma ideia de um sistema dinâmico e autorregulado é expandida para uma escala planetária através da Hipótese de Gaia. Proposta na década de 1960 pelo cientista britânico James Lovelock, esta hipótese sugere que a biosfera e os componentes físicos da Terra formam um complexo sistema interativo. Este superorganismo, que Lovelock batizou de Gaia, mantém as condições climáticas e biogeoquímicas do planeta favoráveis à vida. Segundo esta visão, a vida, uma vez surgida, assumiu o controlo do ambiente inorgânico, moldando-o para garantir a sua própria perpetuação. A Terra, neste sentido, comporta-se como um gigantesco organismo vivo em busca de um estado estável.

A Ordem no Caos e a Busca Humana

No entanto, a natureza também nos apresenta o seu oposto: a perda de controlo. A Teoria do Caos demonstra que uma pequena alteração nas condições iniciais de um sistema pode gerar consequências futuras de uma magnitude imprevisível. Este "efeito borboleta" revela um universo que, na sua essência, é complexo e caótico.

O ser humano, por natureza, lida mal com esta imprevisibilidade. A nossa mente procura a ordem, a estrutura e o equilíbrio como forma de se manter e prosperar. Tentamos incessantemente classificar o que nos rodeia em categorias claras. Como referiu o filósofo Bertrand Russell, todo o conhecimento definido pertence à ciência; todo o dogma sobre o que transcende esse conhecimento pertence à teologia. Mas entre a ciência e a teologia existe uma "Terra de Ninguém", exposta aos ataques de ambos os campos: essa Terra de Ninguém é a filosofia.

A Maçonaria: Uma Senda de Equilíbrio

É precisamente nesta Terra de Ninguém que a Maçonaria encontra o seu lugar, enquanto instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista. A sua busca é, na essência, a busca pelo equilíbrio. Classificamo-la como filosófica porque, nos seus atos e cerimónias, se debruça sobre a essência, as propriedades e os efeitos das causas naturais, investigando as leis da natureza e alicerçando as bases da moral e da ética pura.

Na nossa Ordem, a filosofia do equilíbrio está presente em múltiplos atos, símbolos e alegorias. Espera-se que um Maçom seja justo e tenha uma vida equilibrada, mas também que seja um promotor incansável da justiça e da igualdade, compreendendo que a harmonia reside muitas vezes entre a dualidade e a polarização.

É por isso que o número Três assume uma importância tão central, especialmente no Rito Escocês Antigo e Aceite. Ele simboliza a reconciliação e o ponto de equilíbrio que resolve a tensão do binário, representando a síntese que devolve a dualidade à unidade. Como escreveu Rui Bandeira neste mesmo blog:

"o TRÊS é o resultado, em equilíbrio e harmonia, da união do UM com o DOIS, a forma de resolução harmónica do conflito entre a potência e a ação do Princípio Criador, o resultado dessa resolução harmoniosa: a Criação."

Cabe a cada Irmão internalizar este ensinamento, agindo como catalisador de uma sociedade mais justa e perfeita. Esta é a nossa principal missão: promover a Verdade e combater a ignorância, sendo o ponto de equilíbrio que gera a luz.

Esta busca pela Verdade, que nasce da harmonia e se manifesta como a própria Criação, é uma força inevitável. E assim, a conclusão do nosso raciocínio encontra um eco perfeito nas palavras atribuídas a Buda. Ele disse: "Há três coisas que não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade."

Nesta poderosa imagem, não temos apenas uma lista de três elementos. Temos o Sol e a Lua — a eterna dualidade, os polos que governam o dia e a noite, a luz e a sombra. E temos a Verdade, o terceiro princípio. Ela não surge ao lado deles, mas como a realidade fundamental que, tal como os dois grandes luzeiros, é inevitável e acabará sempre por se revelar. A Verdade é o equilíbrio manifesto, a luz que, inevitavelmente, dissipa todas as trevas.

Fábio Serrano, M∴M∴