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22 novembro 2007

O reactor nuclear de Sacavém tem um novo coração








Dentro das pesquizas diárias sobre assuntos diversos surgiu-me esta notícia, publicada no "Público" e assinada por Teresa Firmino, que quis trazer para o blog por 2 razões:

- O nuclear foi questão já ventilada por cá;
- Tem relação directa com o tema "Meio ambiente", também muito tratado entre nós.

Então aqui Vos deixo este trabalho, que considero bem interessante.

Para José Marques, a luz mais bela do mundo vem do fundo de uma piscina. Não de uma piscina qualquer, mas daquela onde se encontra o núcleo do Reactor Português de Investigação, perto de Sacavém. Do núcleo – o coração do reactor – emana um azul luminoso, intenso, tranquilizador até.
Este Verão, o reactor recebeu um novo coração, com outro combustível, que entretanto voltou a brilhar.“Então José, o azul mudou?”, perguntava, a brincar, Parrish Staples, da agência nacional de segurança nuclear do Departamento de Energia dos EUA, depois de uma visita ao reactor há alguns dias. “Não, que eu tenha notado”, respondia-lhe, no mesmo tom, o director do Reactor de Investigação Português.
Mas o físico português não quis perder o momento, há cerca de duas semanas, em que o reactor com o novo combustível atingia a potência normal, que é de 1 megawatt, o equivalente a mil aquecedores a óleo domésticos de 1 quilowatt. Subiu para uma ponte móvel mesmo ao centro da piscina e pôs-se a fotografar o tal azul ou, como ele diz, “a luz mais bonita do mundo”.
Bem conhecida dos físicos nucleares, essa é a radiação de Cherenkov, um fenómeno descrito pelo físico russo Pavel Cherenkov, pelo qual ganhou o Nobel da Física de 1958. Durante a reacção em cadeia, os átomos de urânio são escaqueirados com neutrões: dessa cisão resultam outros elementos radioactivos, cuja posterior desintegração origina a emissão de electrões e positrões.
Ora, a luz azul é o efeito resultante do facto de essas partículas viajarem mais depressa do que a luz na água (a luz viaja a menos de 300 mil quilómetros por segundo na água, enquanto as partículas o fazem a essa velocidade).
Para chegar ao pé do reactor português e ver a inesquecível radiação de Cherenkov, é preciso ir ao Instituto Tecnológico e Nuclear. José Marques, de 42 anos, a trabalhar no reactor desde 1997, é o cicerone de uma pequena comitiva, para assinalar a conversão do reactor.
Entre os convidados, além de Parrish Staples, encontra-se James Matos, do Laboratório Nacional de Argonne, perto de Chicago; John Kelly, representante da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA); e Jean-Louis Falgoux, da Cerca, a empresa francesa que fabricou do combustível para o reactor português.José Marques encaminha-os até à porta metálica de um pavilhão, com um palmo de grossura, por cima da qual se lê, em letras cor-de-rosa, “reactor em operação”.
Transpõem essa porta, esperam numa salinha até outra porta igual se abrir e, depois de passarem por um corredor, surge-lhes a piscina do reactor. Ergue-se nove metros acima do solo, no centro, sem qualquer janela para o exterior.
No fundo da piscina, repousa o coração do reactor rodeado por 450 mil litros de água, que blindam a radiação.

O enriquecimento do urânio

Neste momento, o núcleo só tem urânio de baixo enriquecimento, tendo sido substituído o núcleo com urânio muito enriquecido. Na natureza, o urânio natural é quase só do isótopo (forma) 238, possuindo apenas 0,7 por cento de urânio-235, aquele que interessa para uma reacção em cadeia.
Por isso, tem de se enriquecer o urânio natural com o isótopo 235. Se for para um reactor de produção de electricidade, é enriquecido até cinco por cento. Se for para um reactor de investigação, como o português, o enriquecimento vai até quase 20 por cento. Quando se excede os 20 por cento, o urânio é considerado de alto enriquecimento.
Era o que sucedia com anterior núcleo do reactor português: comprado aos EUA em 1973, tinha urânio enriquecido a 93 por cento.“Pouco depois desse urânio ter sido comprado, na Administração Carter, os EUA decidiram limitar as vendas deste tipo de material, dado que poderia ser convertido para usos militares, para bombas”, explica José Marques. “A maior parte dos países têm vindo a converter os reactores para um enriquecimento inferior a 20 por cento, dado que esse tipo de material já não tem interesse para aplicações militares.”Agora chegou a vez do reactor português.
Começou a funcionar a 25 de Abril de 1961, quando se fez a primeira reacção nuclear controlada em Portugal.
Na altura, pensava-se que o país poderia vir a ter uma central nuclear de produção de energia eléctrica, uma ideia abandonada nos anos 70.
É a terceira vez que se compra combustível para o reactor, depois do que foi adquirido em 1961 (devolvido em 1999 aos EUA) e em 1973 (em uso até agora).O projecto para mudar o núcleo necessitou de três anos. “Tenho mais de 500 e-mails de José Marques”, lembra James Matos, para exemplificar o imenso trabalho.
O Departamento de Energia dos EUA deu o urânio já enriquecido e uma parte do dinheiro para pagar o fabrico do combustível à Cerca, a outra parte foi paga por Portugal (no total, custou 500 mil euros).
O laboratório de Argonne e a equipa do reactor nuclear português fizeram os estudos de segurança para a mudança do núcleo. E à AIEA coube a coordenação global do projecto, dando a ajuda que se necessitasse e avaliando os estudos de segurança feitos.
A 31 de Maio, o reactor era parado.
Em Junho, a AIEA enviava uma carta formal dizendo que apoiaria qualquer pedido de licenciamento que os responsáveis pelo reactor fizessem às entidades portuguesas competentes. Em Agosto, a Direcção Geral de Geologia e Energia concedia, assim, a licença de operação com o novo combustível. No início de Setembro, o novo núcleo começava a operar a baixa potência.“Herdei um sonho, que é manter o reactor a funcionar nas melhores condições e disponibilizá-lo à comunidade científica”, resume José Marques.
Para tal, terá urânio que chegue até 2016.

Como é o núcleo e o que vai fazer-se com ele

Se, pela luz azul, o coração do reactor nuclear português é fácil de localizar dentro da sua piscina, como é ele exactamente?
Do topo da piscina, um conjunto de tubos cilíndricos desce até ao reactor: são as barras de segurança, que, caso seja necessário parar a reacção em cadeia, entram pelo coração do reactor adentro e absorvem os neutrões que fazem falta para manter a reacção.
O sítio onde entram essas barras, visto de cima, parece uma grelha: na verdade, são 12 paralelepípedos na vertical, a que se chama os “elementos de combustível”.
Em cada um desses elementos, com 70 centímetros de altura, existem placas de alumínio e são elas que têm o urânio no miolo. Alguns desses elementos têm 18 placas de alumínio, enquanto outros, aqueles onde descem as barras de segurança, possuem uma dezena. O coração velho repousa num canto, no fundo da piscina, até os EUA o virem buscar. Se apagássemos todas as luzes, ainda veríamos uma luz azul ténue, durante anos.
Dentro da água, junto ao novo coração do reactor (o único na Península Ibérica dedicado à investigação científica), irão ser colocados os mais diversos objectos para serem irradiados. Já se irradiaram peças arqueológicas para ver a composição, rochas lunares, esterilizaram-se moscas dos citrinos ou testaram-se murganhos à procura de um tratamento selectivo do cancro.
O reactor serve também para investigação fundamental médica, por exemplo produzindo isótopos (formas de elementos) radioactivos. O estudo de materiais num ambiente de radiação é outra das suas utilizações, razão por que o reactor português faz parte de uma rede europeia de pequenos reactores: “Vão fazer-se estudos de materiais para a próxima geração de reactores de produção de electricidade”, explica José Marques, director do reactor português.
Outra das vertentes do reactor é a educação: “Tem sido uma ferramenta de ensino desde o início da sua operação em 1961. Todos os anos recebemos dezenas de alunos universitários, que aí realizam trabalhos experimentais que não poderiam fazer noutro sítio.
Recebemos também milhares de estudantes do ensino secundário, que têm assim o primeiro contacto com o ‘nuclear’”, acrescenta José Marques.

A 51ª conversão de um núcleo americano

Com o caso português, os EUA já mudaram o combustível a 51 reactores nucleares de investigação, desde 1978. Nesse ano, lançaram um programa para converter o urânio altamente enriquecido de reactores de investigação em urânio de baixo enriquecimento.
O motivo? Se for roubado urânio de um reactor de investigação enriquecido acima de 90 por cento com o isótopo 235, esse material pode ser utilizado para fazer bombas. O melhor, considerou-se, seria deixar de usar urânio muito enriquecido para fins civis. “A única maneira de convencer países que podem ser problemáticos a não usar esse material é dar o exemplo. É não haver excepções para ninguém”, explica o físico José Marques.
Em 2004, o programa americano ganhou impulso, em particular por causa dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, chamando-se Global Threat Reduction Iniciative.
Depois disso, os presidentes George W. Bush (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) acordaram um programa conjunto: “Tanto os americanos como os russos se comprometeram a fazer a limpeza do mundo. Foram eles que forneceram tecnologia nuclear, cada um na sua esfera de influência. Tomaram a responsabilidade de ir buscar o material que forneceram desde os anos 50, o que não é trivial”, diz José Marques.
Entre os 51 reactores de investigação de origem americana já convertidos, 14 estão nos EUA (aí, outros 28 aguardam conversão). “Ainda há cerca de outros 50 para ser convertidos que usam urânio de alto enriquecimento fornecido pelos EUA”, conta José Marques.
Quanto aos núcleos de origem russa, houve quatro conversões. Entre reactores americanos e russos, qual é a situação? “Há mais de 100 reactores a operar com urânio altamente enriquecido.
Há 20 toneladas de urânio altamente enriquecimento por aí, que dão para fazer centenas de armas nucleares”, refere John Kelly, representante da AIEA. “A conversão de núcleos é um programa de segurança.”


JPSetúbal

25 julho 2006

Energia - a factura II

Nota previa
Fico sempre satisfeito quando um tema gera respostas contraditorias ou movimentos de continuação. E fico-o porque acho que esse é um dos objectivos deste blog.
Fico muito satisfeito por ter sempre as opinioes do Rui e do JPSetubal.
Ficaria muito mais se outros se juntassem à discussão.



Não sou um fundamentalista da energia Nuclear. Chamem-me mais um copista.

Na Europa industrializada mais de metade da energia electrica ( em alguns casos cerca de 80 % ) é de origem nuclear.

Eu sei bem que o Nuclear não resolve o caso dos automoveis e de outras meiso de locomoção.
Mas a energia electrica é uma alternativa a geradores Diesel, maquinas a Gás natural, consumo domestico de aquecimento, etc.

A produção Nuclear obvia à necessidade de centrais termoelectricas a carvão, petroleo ou gás ou mesmo as mais modernas de ciclo combinado.

Por uma Central Nuclear a trabalhar demora. Demora uns anos largos e é preciso começar logo a pensar no seu fecho e na abertura de uma nova.

O que acontece neste mundo é que os hidrocarbonetos estão com os dias contados. O Desenvolvimento da India e da China aumentando o respectivo consumo de petroleo, vieram por uma pressão suplementar em cima do preço. ( Basta pensarmos que estes dois paises juntos somam mais de 2,5 bilioes de pessoas ou seja 1/3 da populaçao do mundo e só agora começam a desenvolver-se economicamente)

As alternativas ao Petroleo passaram de alternativas a interesse estratégico. Quando o Petroleo acabar .....

E quer queiramos quer não, as eolicas têm uma produção muito pouco rentavel, as ondas do mar é uma ideia que ainda nao produziu resultados que sejam sequer mensuraveis, a biomassa é um conceito interessante para produção energética local ( auto-suficiencia de exploraçoes agricolas).

Mas dizia eu que sou um copista.

Sou porque não vale a pena re-inventar a roda. Uma data de países cujas economias são bem mais fortes que a nossa produzem energia Nuclear, e nós andamos atrás de Moinhos de Vento.

Nem os espanhois, patricios do D. Quixote, andam atras dos moinhos de vento.

O Nuclear é 100 % seguro ? É claro que não.

Nada é 100% seguro.

Há acidentes nucleares ? Claro que há.

Como há acidentes com refinarias convencionais, e centrais de ciclo combinado , etc.

Mas tudo isto é irrelevante face à necessidade estratégica de ter alternativas de produção energetica dentro de 10 anos.

Se me convencerem que uma plantaçao de Moinhos de vento de Norte a Sul , De Ocidente a Oriente e do Zenite ao Nadir das Montanhas , resolve o nosso problema energetico sem criar outros de maior dimensão, garanto que pego numa pá e planto um moinho la na minha rua.

Enquanto isso, sou copista.

JoseSR

24 julho 2006

Energia nuclear - sim ou não?


Decididamente, este blogue está numa fase de debate de "questões fracturantes".

Já por aqu passou a questão do Médio Oriente, agora foi introduzida a questão da produção de energia nuclear em Portugal.

O JoséSR deu o pontapé de saída no debate, manifestando-se a favor. Em comentário ao texto do JoséSR, o JPSetúbal manifesta a sua opinião em sentido contrário.

No texto "Energia - a factura" e nos respectivos comentários podem ler-se os respectivos argumentos - que não vale, portanto, a pena aqui repetir -, os quais não fogem da argumentação tradicional de cada uma das posições.

Este é um daqueles temas em que, a curto prazo, não vislumbro possibilidades de se atingirem grandes consensos: quem é pro-energia nuclear em Portugal esgrime com a necessidade económica da produção de energia por esta via, com o desenvolvimento da tecnologia de segurança das centrais nucleares de última geração, com o facto de Portugal ter centrais nucleares espanholas próximo das suas fronteiras e, portanto, já ter os riscos sem ter os benefícios; quem é anti-energia nuclear em Portugal argumenta com os custos de construção e manutenção de uma central nuclear, com os riscos e com o ainda mal resolvido problema dos resíduos, atenta a meia-vida de centenas de milhares de anos da matéria radioactiva que os compõe.

De um lado e do outro, tenho para mim que, embora sob acapa da argumentação racional, o que cada um dos campos esgrime é com a sua convicção. Acima de tudo é esta que influi nas posições de um e de outro lado. A colocação de um ou do outro lado da barricada é ainda, portanto, uma questão de convicção, ou seja, de FÉ. E nós bem sabemos que a fé não de discute, nem vale a pena discuti-la...

Logo, enquanto a discussão se mantiver no plano - ainda que subliminar, ainda que não aceite como tal - da convicção, não podemos esperar que as posições de princípio extremadas evoluam para um maior ou menor consenso, através da discussão racional. As coisas são como são!

Obviamente que respeito a Fé, a Convicção de cada um mas, neste assunto assumo-me como "agnóstico", isto é, não tenho ainda uma opinião completamente formada, não tenho uma convicção sólida, procuro ainda analisar tão racionalmente quanto possível os argumentos de um e outro lado para, pela razão, procurar chegar a uma posição.

Sem poder, portanto, postular qualquer certeza, sinto-me suficientemente equidistante para analisar os argumentos de cada campo e emitir o meu juízo sobre a respectiva valia. É claro que, nestas questões de convicção, quem se declara equidistante, "em cima do muro", corre o risco de não ver as suas posições críticas bem aceites, nem por um, nem por outro dos lados. Mas. no caso concreto da discussão neste blogue, aventuro-me confiantemente na empresa de ousar opinar sobre as argumentações opostas, sem temer reacções adversas, quer porque nenhum dos "contendores", sendo embora ambos firmes nas suas convicções, é fundamentalista, quer porque qualquer deles tem a inteligência suficiente para entender que é errado atirar pedras a quem está em cima do muro, porque o impacto delas poderia fazer tombar o atingido... para o outro lado!

Assim auto-confortado, começo por dizer que me parece que a argumentação de um e de outro campo (não especialmente a argumentaçãodo JoséSR e a do JPSetúbal, mas, mais genericamente, a argumentação dos campos, respectivamente, pro e anti energia nuclear em Portugal) se me afigura não totalmente isenta de demagogia.

É algo demagógico esgrimir-se com o preço do petróleo e, sobretudo, com o previsivelmente não muito longínquo fim das resrvas do mesmo para sustentar a inevitabilidade da produção de energia através do nuclear. O petróleo é, nos tempos actuais, essencialmente imprescindível para o sector dos transportes. São os automóveis, os camiões, os navios, os aviões, enfim, quase tudo o que mexe que depende dos hidrocarbonetos. Mas a energia nuclear não responde a esse problema! Parece-me (ao menos no futuro previsível) impensável que os meios de transporte sejam movidoa a fissão nuclear, cada viatura, navio ou avião dotado do respectivo reactor nuclear (existem, é certo, os submarinos nucleares, mas essa é outra guerra, e uso o termo sem ser sequer em sentido figurado...).

Para os transportes, a solução alternativa, tanto quanto se descortina, só poderá advir do desenvolvimento das pilhas de hidrogénio (o que implica a resolução de questões técniicas, de segurança e de custo que, por enquanto, são complicadas), enfim, e em linguagem muito simplificada, o sonho dos veículos movidos a água (mas, já agora, de preferência, salgada, que há muita nos oceanos, e a água doce já vai faltando...).

Não é a escassez dos hidrocarbonetos que, no meu entender, implica a produção de energia através do nuclear. Esta destina-se essencialmente à produção de electricidade e a mesma, salvo quanto ao caminho de ferro e seus sucedâneos, pouca ou nenhuma utilidade traz, por ora, ao sector dos transportes.

Objectar-se-á, porém, que a produção de energia eléctrica em larga escala faz-se com o recurso à energia hídrica, à energia nuclear ou à energia termoeléctrica e que esta consome hidrocarbonetos; portanto, a produção de energia eléctrica através do nuclear permitirá poupar no consumo de hidrocarbonetos (ainda com o bónus de diminuir a produção de dióxido de carbono e ajudar a não agravar o problema do aquecimento global). O argumento é pertinente, mas, a meu ver, não decisivo. Em primeiro lugar, é certo que a produção de energia eléctrica em larga escala faz-se essencialmente por estas três vias, mas não só por elas: pode-se produzir energia eléctrica também com recurso às energias solar, eólica e das ondas, além das mais limitadas possibilidades de aproveitamento da energia de origem vulcânica (já se faz, nos Açores) e de biocombustível.

Para produção de electricidade, assim, a alternativa não é petróleo ou nuclear. É petróleo ou energia hídrica, eólica, solar, das ondas, vulcânica, de biocombustível e também, se necessário, nuclear. É claro que se o lóbi ecologista fizer uma gritaria sempre que se quiser construir uma barragem, porque "se vai destruir o último rio selvagem da Europa" ou porque se destrói o habitat natural de uma espécie obscura de peixinho, ou se armar um espalhafato porque os moinhos de produção de energia eléctrica através do vento destroem a paisagem, não se vai a lado nenhum a não ser, efectivamente ao nuclear...

Objecta ainda quem defende o nuclear que a produção de energia eléctrica através da energia solar, ou do vento, ou das ondas, ou vulcânica, ou de biocombustível, sai mais cara do que através dos hidrocarbonetos ou da energia nuclear. O argumento só parcialmente é procedente quanto à comparação dos custos com os hidrocarbonetos e é duvidoso quanto à comparação com o nuclear.

Que a produção de energia através das tecnologias limpas é mais caro do que através dos hidrocarbonetos é um facto... AINDA. Mas, por um lado, é de esperar que o investimento na evolução dessas tecnologias faça baixar o seu preço de produção; e, por outro, é inútil comparar preços quando não houver hidrocarbonetos... E, mesmo antes disso, se o preço do petróleo continuar a aumentar, a sua vantagem competitiva diminui e, tendencialmente, desaparece. E não vale a pena esperar que os produtores de petróleo limitem o preço, como estratégia para que tal não suceda: por um lado, está à vista que o que vai havendo é um constante movimento de aumento de preços, com base em todos os pretextos (qualquer dia, ainda vamos ouvir a justificação do aumento do preço do "brent"do Mar do Norte, como consequência de uma derrota do Chelsea, ou do Manchester United, ou doutro qualquer...); por outro, quando acabar...acabou, e ponto final!

Quanto à comparação com os custos de produção de energia nuclear, também não é certo que, todas as contas feitas, o nuclear seja efectivamente mais barato: há que incluir nas contas a amortização do colossal custo de construção de uma central nuclear, do enriquecimento de urâneo (obrigatoriamente feito no estrangeiro e, portanto, sem que nacionalmente possamos controlar o preço), das obrigatórias e caras medidas de segurança... e do custo de tratamento, transporte, armazenagem e segurança dos resíduos. Tudo somado, vai dar uma conta calada e... uma central nuclear tem uma vida útil de 30 ou 40 anos e tudo tem de ser amortizado nesse período.

Assim, meus caros defensores da produção de energia nuclear em Portugal, as vantagens dessa opção não são tão evidentes e indiscutíveis assim!

Mas também a argumentação dos anti-nuclear em Portugal padece de alguma demagogia.

Quanto aos riscos, realmente estamos conversados, indo dar um passeio a Almaraz! Não vale realmente a pena continuar a bater nesta tecla. É incontornável que a situação presente é que temos os riscos e não temos as vantagens e impõe-se reconhecê-lo. Por aí não me convencem!

Aliás, a questão do risco do nuclear é uma discussão claramente inquinada pela emoção. Quer queiramos, quer não, a nossa memória colectiva permanece presa aos pecados originais do nuclear: Hiroshima e Nagasaki! O cogumelo nuclear! A guerra fria e a capacidade das potências nucleares para destruir sete vezes a Terra (como se fosse possível destrui-la mais do que uma vez...)!

Tudo isso permanece num cantinho dos nossos cérebros... e tudo isso é irrelevante para a discussão! Primeiro, porque o que se discute é a utilização pacífica da energia nuclear, não a bélica. Segundo, porque os mísseis nucleares, as bombas, os submarinos nucleares continuam aí - e, infelizmente, parece que continuarão, com ou sem centrais nucleares de produção de energia eléctrica.

E não vale a pena acenar com o papão de Chernobyl. O acidente de Chernobyl ocorreu em consequência de anos e anos de criminoso abandono das mais elementares regras de segurança e da manutenção em funcionamento de um reactor que tinha há muito ultrapassado o termo da sua vida útil em segurança. Chernobyl não é nem nunca foi um problema de segurança. Devia, pura e simplesmente, ser um (exemplar) caso de polícia!

Quanto à questão dos resíduos, é também de uma pertinência apenas parcial. É verdade que os resíduos são um problema. Mas, por um lado, SÃO UM PROBLEMA, COM CENTRAL NUCLEAR EM PORTUGAL OU SEM CENTRAL NUCLEAR EM PORTUGAL! Repare-se: existem centenas de centrais nucleares em todo o Mundo. Que criam resíduos! Nenhuma alteração QUALITATIVA uma central nuclear em Portugal traz ao problema. Nem sequer quantitativamente significativa...

Também não julgo válido o argumento de que os países desenvolvidos mudaram a sua política quanto à produção de energia nuclear e estão a encerrar centrais, não a abri-las. Este argumento, por um lado, é inexacto: estão a fechar centrais centrais QUE ATINGIRAM O FIM DA SUA VIDA ÚTIL COM SEGURANÇA, de primeira e segunda geração (que , ao menos, Chernobyl tenha servido de lição), mas estão, porque continuam a precisar da produção nuclear de energia, a substitui-las por centrais de terceira e quarta geração, espera-se que com vantagem no capítulo da segurança. Uma última nota, quanto aos anti-nuclear em Portugal: sabiam que JÁ EXISTE UM REACTOR NUCLEAR EM PORTUGAL? E em funcionamento? É o reactor do LNETI, que, é certo, é pequenino, mas tem tantos riscos como os grandes e que até suspeito que esteja já no limite da sua vida útil e a precisar de urgente substituição (já existia há mais de 30 anos...). E sabem onde é que ele está? Em Sacavém, às portas de Lisboa (e do outro lado da colina fica Odivelas)... Nada mal para quem teme pela segurança do nuclear!

Portanto, meus caros, a argumentação de um e do outro lado não me convence!

E o que penso eu? Deve ou não haver uma central de produção eléctrica em Portugal?

Por enquanto, a minha resposta - e penso que, por ora, a única racionalmente possível - é... NIM!

Depende da análise SÉRIA e COMPETENTE das necessidades e custos. Ou seja, não sou emocionalmente contra uma central de produção de energia eléctrica através do nuclear em Portugal. Mas também não sou acefalamente a favor!

Depende da avaliação das necessidades, da capacidade de obtenção da independência energética, no que toca à electricidade, do País através de outras fontes de energia. Depende da comparação de custos. Necessidade e custos! Tudo se resume a isso! O resto é... paixão, não razão.

Portanto, repito, por ora a minha resposta é nim. Se e quando, porventura, mediante estudos sérios e credíveis (e não arrazoados pseudo-modernistas), me convencerem da necessidade e/ou conveniência e efectiva superação dos inconvenientes pelas vantagens da existência de uma central nuclear em Portugal, evoluirei para um sim; se e quando, porventura, me convencerem, mediante estudos sérios e credíveis (e não arrazoados pseudo-ecologistas) da desnecessidade e/ou inconveniência e efectiva superação das vantagens pelos inconvenientes da existência de uma central nuclear em Portugal, evoluirei, sem qualquer problema, para um não.

Há assuntos que só se resolvem bem com a cabeça, não com o coração...

Rui Bandeira

Energia - a factura

O nosso país é totalmente dependente de fontes externas para produzir a energia que consumimos.

Bem não totalmente porque algumas das nossas barragens produzem electricidade, mas não chega.

Importamos petroleo, gás,electricidade,carvão, enfim quase tudo.

Temos uma factura de energia enorme, e isso reflecte-se na produtividade de algumas industrias, e no custo geral de tudo o que produzimos ( serviços incluidos).

Hoje no suplemento economia do DN, um investigador portugues defende que a produção de energia Nuclear em Portugal seria uma forma de reduzir os custos de produção energeticos e consequentemente termos energia mais barata.

Acho que ele tem toda a razão.

Os criticos do Nuclear que me perdoem, mas não têm grandes razões para se oporem, mas para o fazerem teriam que ser consequentes, senão vejamos:

De acordo com o mesmo artigo 16% da energia consumida é de origem Nuclear, isto quer dizer que os Anti Nucleares teriam que viver às escuras durante 58 dias por ano, para nao usarem energia nuclear.

Por outro lado, as centrais nucleares espanholas estão junto de cursos de agua que vêm dar a POrtugal, nomeadamente a de Almaraz junto ao Tejo. Se aquilo explodir garanto que a radioactividade chega a Lisboa, e os peixinhos que andam ali nas docas ficam fluorescentes. Ora os amigos na liga antinuclear tambem nao deveriam viver em Lisboa. E como as zonas do Douro e do Guadiana também nao são seguras o melhor é irem para a Madeira ( opps não pode ser que o Alberto João não quer lá os indios do Continente).

Ora se já usamos 16% de energia Nuclear, se sem nenhuma possibilidade de controlo estamos à mercê das centrais espanholas, se e Graças a Deus e aos Engenheiros, no mundo Ocidental os acidentes nucleares são quase inexistentes , e ainda por cima o mesmo artigo diz que a nossa factura ainda pode baixar 50 % se abrirmos uma Central Nuclear.

Além do mais somos exportadores de Uranio, bem sei que o este uranio tem que ir para fabricas para ser enriquecido etc, mas mesmo assim.

A passagem ao Nuclear traria ainda a vantagem de ficarmos menos dependentes do Petroleo e do Gás Natural, coisas que como sabemos têm os preços inflacionados e ao sabor de N factores que nao controlamos, como sejam o aumento do numero de carros em circulãção na China e na India.

Creio que este país teria todas as vantagens em ter energia Nuclear.

JoséSR