26 outubro 2015

O Vigésimo Quinto Venerável Mestre


Com a renúncia do Vigésimo Quarto Venerável Mestre, a Loja deparou-se com uma situação inédita para resolver. Já anteriormente ocorrera uma renúncia do Venerável Mestre a meio do mandato, a do Sétimo Venerável Mestre, José Ruah. Então, a Loja designou para lhe suceder o Primeiro Vigilante, que completou o mandato e foi reeleito para exercer um mandato completo. Mas agora esta solução não era possível, pois o Primeiro Vigilante em funções informou que ou completaria o mandato interrompido, ou exerceria o mandato completo que se iniciasse em setembro seguinte, mas não estava disponível para exercer o ofício de Venerável Mestre durante ano e meio.

Analisado o problema e as várias propostas de solução que foram sendo apresentadas, a solução - como frequentemente sucede quando se debate em conjunto, com lealdade, seriedade e espírito de compromisso - acabou por ser uma que ninguém vira à partida, um verdadeiro "ovo de Colombo", uma solução tão evidente, tão lógica, tão à vista que, com alguma perplexidade, alguns de nós se interrogaram como não tinham pensado nisso antes.

Um dos Mestres fundadores da Loja, constando na carta-patente original da Loja como o seu primeiro Primeiro Vigilante, Hélder V., muito pouco tempo depois da fundação da Loja tivera que a abandonar, cumprindo missão, determinada pelo Grão-Mestre Fundador, de trabalhar em outra Loja. Durante mais de duas décadas, trabalhou em várias Lojas, auxiliando-as com a sua experiência e capacidade organizativa. Ao longo desse tempo, por várias vezes visitara a Mestre Affonso Domingues e ia mantendo contacto connosco. Cerca de um ano antes - talvez um pouco menos - regressara formalmente à Loja e reintegrara o seu Quadro de Obreiros. Exercera, por várias vezes e sob a direção de vários Grão-Mestres, diversas funções como Grande Oficial. Possuía a qualidade de Mestre Instalado. Detinha, assim, as condições regulamentarmente exigidas para poder, de imediato, ser eleito Venerável Mestre da Loja. Não se incomodava rigorosamente nada em exercer o ofício por um tempo mais curto do que a normal duração do mandato. Disponibilizou-se para completar o tempo do mandato do Venerável Mestre que renunciara mantendo em funções todo o o Quadro de Oficiais em exercício. Era o elemento ideal para assegurar a condução dos destinos da Loja pelo cerca de um semestre que faltava até a altura normal para um novo Venerável ser eleito e instalado.

Parecia impossível como nenhum de nós se lembrara antes de que tínhamos ali à mão de semear um Venerável Mestre "chave na mão", pronto e disponível para resolver o problema! Corrijo: acho que pelo menos um de nós se lembrou disso - e foi quem lhe deu a cotovelada (virtual) incitando-o a que se chegasse à frente...

Foi assim que, num abrir e fechar de olhos, de repente, todos se aperceberam que aquela era a solução melhor do que todas as outras que estávamos a analisar e, sem prévia combinação, com um consenso imediata e facilmente estabelecido (como nós, na Mestre Affonso Domingues, nos orgulhamos de frequente e quase rotineiramente conseguir) o Hélder, o nosso muito querido amigo e Irmão Hélder foi, por unanimidade, eleito Vigésimo Quinto Venerável Mestre.

O tempo de exercício do seu mandato foi curto - cerca de metade do normal - e não deu para muito fazer. Mas deu para atalhar ao que estava a perfilar-se como o maior problema da Loja: a recuperação do seu equilíbrio financeiro. As tarefas administrativas e financeiras são sempre as primeiras a sofrer em períodos excecionais e a Loja, num período de crise económica que implicava alguma mobilização dos fundos reservados para solidariedade, após um ano em que efetuara diversas iniciativas, mas também gastara algum dinheiro com elas, e meio ano com o Venerável Mestre ausente e com o Primeiro Vigilante a assegurar a gestão corrente estava a necessitar de dar atenção à sua situação financeira.

Hélder V., conhecido de todos pela sua bonomia e boa-disposição, fez questão de demonstrar que "conhaque é conhaque e serviço é serviço" e exerceu o ofício não hesitando em pôr de lado, quando tal entendeu necessário, essa sua bonomia e exercer a sua função com autoridade e exigência.

Foi o Venerável Mestre adequado para repor a Loja e os seus trabalhos no trilho da rotina, após um período de quase "autogestão" que, embora agradável e incentivador da união entre todos os obreiros da Loja, não deixou de ser um período de anormalidade.

Findo o seu breve mandato, a Loja estava de novo em velocidade de cruzeiro e pronta para seguir o seu caminho sob a orientação do seu sucessor.

Sem dúvida que Hélder V. prestou um bom serviço à Loja, corrigindo, na ocasião certa, os desequilíbrios que detetou e repondo o equilíbrio e o rumo da Loja. Indubitavelmente que cumpriu a sua obrigação de a deixar melhor do que a recebera. Com ele, acabou na normalidade um ano que começara em gestão excecional.

Rui Bandeira

19 outubro 2015

“Valerá a pena ser Maçom no século XXI ?”


Aqui há alguns tempos atrás o Paulo M. elaborou através da sua pena dois textos em formato de “mini-seriado” que me motivaram a reflexão que partilho convosco hoje e cuja questão central figurava na seguinte pergunta “No século XXI fará sentido ser-se Maçom?” e que é uma questão bastante pertinente para todos os Maçons, independentemente do seu Grau ou Qualidade, ou seja, independentemente do grau que detenham na sua caminhada maçónica e do cargo que ocupem nas estruturas maçónicas (Respeitáveis Lojas ou na Obediência Maçónica em si).

Esta pergunta que serve de tema para o texto de hoje é uma reflexão e questionamento que faço a mim próprio diariamente.

Será que valerá a pena nos dias de hoje, que em pleno século XXI, num tempo tão avançado tecnologicamente, mediaticamente etc etc etc… continuar a existir uma instituição como a Maçonaria e mesmo assim existir quem queira fazer parte integrante dela, nomeadamente eu inclusive?!

Será que existe qualquer mais valia para a Sociedade existirem pessoas que integrem Ordens de cariz iniciático e fraternal como a Maçonaria?

Com que interesse essas pessoas, nos tempos que correm, ambicionam entrar numa Obediência Maçónica?

Estas questões com que me deparo no meu dia-a-dia encerram elas próprias as suas respostas, a meu ver.

Poderá aparentar alguma estranheza responder a uma única questão (tema central) com outras três dúvidas/questões. Mas de facto elas fazem todo e qualquer sentido!

À primeira questão que se me apresenta, posso afirmar que sim!

Faz todo o sentido existir uma Ordem como a Maçonaria, uma vez que a Maçonaria é uma Ordem iniciática e ritualística, universal e fraterna, filosófica e progressista, firmada no livre-pensamento e na tolerância entre as pessoas, tendo por objectivo o desenvolvimento espiritual do homem com vista à construção de uma sociedade mais livre, justa e igualitária. Ordem esta que se preocupa em formar os seus membros para além de lhes propiciar as “ferramentas filosóficas e inteletuais” de forma a que possam potenciar as suas melhores qualidades pessoais, polindo o seu comportamento, de maneira a evitar a prática de atitudes desviantes ou  consideradas como erráticas ou indignas pela sociedade vigente.

Com esta última afirmação, posso eu responder também à minha segunda dúvida.

Não obstante o desenvolvimento intelectual e tecnológico da sociedade atual, a Maçonaria terá sempre lugar no tempo e na história, ou não fosse ela também uma instituição secular. As instituições vivem de pessoas e da sua comunhão e contato entre si, partilhando o que se sabe, aprendendo e obtendo conhecimentos que não se detinham, por forma a formar-se uma cadeia de partilha que se funcionando em pleno poderá fomentar o progresso da Sociedade no geral e das pessoas no singular. E existe algo que nem a própria tecnologia nem o mediatismo e consumismo atual poderá fazer.
Esse “algo” apenas poderá ser encontrado na vivência e prática espiritual de cada um de nós. E poderá ser aí que residirá a importância da existência de instituições que se interessem por esse “lado”.

A espiritualidade de cada um depende da sua cultura, educação e da sua experiência de vida. Uma prática espiritual pessoal dependerá sempre do que se ambiciona e se pretende da vida e do que já se obteve até então. E a maioria das vezes o problema será no que já se obteve ou não, e o que se fazer para se obter tal. Alguns sentem que necessitam de muito para viver, outros nem tanto assim… O que poderá levar a comportamentos e práticas incorretas na procura e obtenção daquilo que se poderá considerar como aquilo que fará falta para completar ou complementar a sua vida.

Se na sua vivência mundana, alguém denotar em si mesmo uma atitude ou comportamento errado, se decidir retornar ao “caminho certo”, com certeza tal será benéfico para todos; mas para o próprio será o reconhecimento das suas falhas e um sinal de humildade em querer mudar para “melhor”. Para os restantes, que o acompanham na sua vida, será a demonstração de um altruísmo e nobreza que o ajudarão, por certo, no futuro, a ter uma prática social que será digna de alguém que se considera livre, mas principalmente de bons costumes. E isso será reconhecido por quem o tiver que o fazer!

Saber o que está correto, certo ou errado e escolher sabiamente o caminho a seguir não está ao alcance de todos, e é gente assim que, por norma, interessa à Maçonaria. Gente que não é perfeita no sentido estrito da palavra, mas que procura aperfeiçoar-se a si mesmo, através do trabalho, do estudo, do relacionamento fraternal com os restantes membros, mas fundamentalmente através de um processo de auto-conhecimento, ou seja, do “conhecer-se a si próprio”. Isto tudo (é) feito através de uma via espiritual.

No entanto, a observação da boa conduta e boas práticas de maçons reconhecidos na sociedade poderá também a suscitar a vontade de profanos a entrar na Maçonaria, uma vez que tal poderá despontar o interesse destes em elevarem também a sua conduta e forma de estar na vida pela simples observação da ação da Maçonaria e dos seus membros na sociedade de que fazem parte integral.

Todavia, certamente que quem deseja fazer bem, “praticar o Bem”, não necessita de ser maçom para o fazer. Tal depende exclusivamente da vontade de cada um! Mas sendo maçom, tal não é excepção, mas sim uma das regras que o deverão nortear nas suas práticas e condutas sociais.

A Maçonaria não é um clube social, benemerente ou filantrópico em exclusivo.  - Não é apenas isso e é muito mais!-

Se alguém desejar entrar na Maçonaria para socializar, exercer a sua caridade ou filantropia, aumentar a sua lista de contatos pessoais e/ou fazer amigos, para isso já existem outras instituições para tal. Instituições que cuidam em exclusivo desses assuntos. Quem vier ou desejar entrar para a Maçonaria para isso somente, irá perder o seu tempo e fará perder tempo à Ordem e aos seus membros.

A Maçonaria apesar de ter estas preocupações – que tem!- tem também outras que estão para além do que é mensurável e visível. E tal encontrar-se-à na componente espiritual e iniciática que a Ordem encerra em si e que propicia aos seus filiados. E isto apenas estará ao alcance daqueles que compreenderem a Ordem, percebam os seus fins e desígnios. Ou não fosse por isso também que a formação é gradual e exponencial, para que o conhecimento seja obtido integralmente, mas passo a passo…

Concluindo, ao efetuar o somatório de toda estas reflexões que fiz, chego à conclusão que sim, vale a pena ser Maçom no século XXI e possivelmente também nos séculos vindouros...

12 outubro 2015

O quinto Grão-Mestre


O quinto Grão-Mestre da GLLP/GLRP foi Mário Martin Guia. Foi eleito em 16 de dezembro de 2006 e instalado em 24 de março de 2007 para o exercício do seu primeiro mandato. Foi reeleito para um segundo mandato em 7 de março de 2009 e reinstalado em 28 do mesmo mês. Não veio, por opção própria, a completar esse segundo mandato, encurtando-o em cerca de seis meses, de forma a programar a instalação do seu sucessor para uma altura propícia a que essa instalação decorresse com a presença de muitas e importantes delegações estrangeiras.

Este detalhe demonstra bem como Mário Martin Guia dedicou especial preocupação e cuidado às relações internacionais. No decorrer dos seus mandatos, efetuou várias - e algumas prolongadas e esgotantes - viagens dedicadas ao estreitamento dos laços entre a GLLP/GLRP e as Potências Maçónicas Regulares da Europa, de África, dos Estados Unidos e da América do Sul. Foi com ele que a GLLP/GLRP assumiu papel de relevo na Confederação Maçónica Iberoamericana, onde integra a sua Zona VI, conjuntamente com o Grande Oriente do Brasil e as Grandes Lojas de Espanha, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. 

Dedicou grande atenção às relações com as Obediências Maçónicas africanas. Foi no decorrer do seu mandato que a GLLP/GLRP apadrinhou a constituição da Grande Loja de Moçambique, tendo Martin Guia sido o Grão-Mestre Consagrante da referida Grande Loja e o Grão-Mestre Instalador do seu primeiro Grão-Mestre, dirigindo uma cerimónia em que também intervieram mais três Grão-Mestres em exercício: o Grão-Mestre da Costa do Marfim, que foi o Primeiro Grande Vigilante Consagrante e Instalador, o das Maurícias, que interveio como Segundo Grande Vigilante Consagrante e Instalador, e o da Rússia, que impôs o avental de Grão-Mestre ao recém-instalado líder da nova Obediência.

Reforçou também os laços de amizade e cooperação com as Obediências europeias. 

Em todas as ocasiões e cerimónias solenes em que participou, Martin Guia usava, não um ricamente bordado a dourados avental de Grão-Mestre, mas um simples avental branco, com um discreto bordado na mesma cor nas suas orlas (que fora executado por uma sua familiar). Resultado: dava mais nas vistas o discreto e singelo avental branco do Grão-Mestre português do que toda a rica parafernália dos dirigentes das maiores potências maçónicas! 

Internamente, soube rodear-se de uma equipa mista de maçons experientes, de que era exemplo o seu muito eficiente Grande Secretário, e de alguns elementos que introduziu nas lides da Grande Loja. Dirigiu os destinos da Grande Loja delegando nos seus colaboradores, mas sempre deixando bem claro  o que pretendia fosse feito. Nesse aspeto, o tio Mário (como nós, os irreverentes novos Grandes Oficiais carinhosa e nem sequer muito secretamente lhe chamávamos) era implacável: sempre com um sorrio nos lábios, um brando tom de voz e uma postura simpática, dava as suas instruções, pedia (ele nunca mandava, pedia; mas os seus pedidos eram sempre satisfeitos - ou então ele voltava a pedir, a lembrar, a insistir, sempre com toda a calma e sorriso prazenteiro, vencendo com a sua persistente brandura a mais empedernida das resistências...) e fazia com que as suas instruções fossem cumpridas.

Como Grão-Mestre, Martin Guia foi um conservador inteligente: soube chamar a si os espíritos jovens, os que mostravam mais irreverência, os mais predispostos a experimentarem coisas novas (e a correr riscos...), integrando-os nas lides da Grande Loja, aconselhando-os, dando-lhes responsabilidades, mas "mantendo-lhes as rédeas curtas", para que os generosos entusiasmos não fossem demasiado imprudentes e não causassem estragos irremediáveis. Os mais antigos foram contactando com e enquadrando o entusiasmo dos mais novos. Estes foram aprendendo e matizando com a sensatez da realidade a irreverência da sua inexperiência inicial.

Martin Guia efetuou, assim, uma tranquila transição de gerações na direção da Grande Loja. Sem perturbações. Paulatinamente. Com o saber-fazer que só a experiência de uma vida bem vivida permite adquirir.

Ao terminar os seus dois mandatos, tinha feito o que queria e deixou uma Obediência unida, organizada, bem enquadrada e bem relacionada externamente, com uma renovação gradualmente feita dos seus quadros dirigentes, enfim, uma Obediência pronta para evoluir a evolução que as condições lhe propiciassem.

Martin Guia, de uma forma muito lúcida, dizia - muitas vezes lho ouvi dizer, sobretudo no seu segundo mandato - que sabia bem que o seu sucessor ia ser diferente dele, ia fazer diferente dele, ia tomar decisões que seriam diferentes das que ele tomaria. Mas acrescentava sempre que assim é que deveria ser: cada um partia do caminho aberto pelo seu antecessor para desbravar o seu próprio caminho.

A evolução tranquila conservadoramente efetuada por Martin Guia deixou a Grande Loja preparada para a evolução futura. 

O quinto Grão-Mestre, Mário Martin Guia, foi um excelente Grão-Mestre, cujo mandato é grato recordar.

Obrigado, tio Mário!

Rui Bandeira   

05 outubro 2015

5 de Outubro, revolução e maçonaria (republicação)

O texto que hoje  republico para Vossa leitura celebra hoje 5 anos e foi escrito pelo Paulo M. e pode ser consultado no seu original aqui;  sendo que  na data da sua publicação teve um agradável debate de ideias na sua "caixa de comentários".

Assim, aqui fica o respetivo texto:

"5 de Outubro, revolução e maçonaria

Não pode deixar-se passar a data de 5 de Outubro - aniversário da implantação da República em Portugal - sem se falar na Maçonaria. É público e conhecido o papel que a maçonaria teve neste evento. De facto, a revolução não só terá sido promovida, arquitetada e executada - pelo menos em parte - por maçons, como a maçonaria terá na mesma participado ativamente de forma institucional.

O que poucos saberão é que tal modo de atuação é daqueles que distingue a Maçonaria Regular da Maçonaria Liberal. Não se questiona o mérito da causa, mas a forma e os meios utilizados. De facto, as razões invocadas para a revolução - o despotismo político-religioso, a ausência de liberdade de culto e da liberdade de consciência que se viviam no regime de então - são válidas e meritórias, e pode mesmo dizer-se que pertencem ao ideário maçónico. Todavia, algumas questões de fundo separam inexoravelmente as duas correntes da Maçonaria - Regular e Liberal - e podem ser apreciadas neste contexto.

Por um lado, tomemos a questão da discussão de política e religião em loja. Pelo que se sabe, esta revolução - como outras - foi preparada durante sessões de loja. Forçosamente se discutiu o mérito desta política sobre aquela e - sabendo-se que havia maçons quer na fação republicana quer na monárquica - certamente houve vozes minoritárias que viram os seus Irmãos, a sua Loja, e mesmo a sua Obediência, agirem como um corpo na prossecução de objetivos e de ideias contrários aos seus. Por fazer prevalecer, na escala dos valores, a harmonia fraterna, é que a maçonaria regular proíbe essas discussões, para que não se estabeleçam partidos opostos dentro das lojas, para que estas não escolham lados, e para que as grandes lojas não manifestem preferências que poriam, em qualquer dos casos, uns "de dentro" e outros "de fora".

Por outro lado, atente-se a que a maçonaria regular exige dos seus membros que sejam cidadãos cumpridores das leis do país. Ora, esta questão tem duas consequências. Por um lado, de forma mais imediata, implica que caso um maçon seja condenado pelo sistema judicial civil por um crime que tenha cometido, sofrerá quase que por certo uma sanção disciplinar no seio da sua Obediência, sanção essa que poderá mesmo constituir a sua expulsão (mas, evidentemente, ninguém é expulso por algo como uma multa de estacionamento). Por outro lado, esta exigência reflete-se nas Obediências, não sendo reconhecidas a nível internacional aquelas que, para existirem, impliquem que os seus membros cometam alguma ilegalidade; por exemplo, se as leis do país passarem a proibir a Maçonaria, e mesmo assim uma Grande Loja continue a existir - cometendo uma ilegalidade - ser-lhe-á retirado o reconhecimento internacional por parte das outras Grandes Lojas regulares. 

Tais condicionantes - a proibição de discussão política e religiosa, e a obrigação de cumprimento da lei do Estado - não se verificam na Maçonaria Liberal. Cada maçon que pertença a uma Obediência da Maçonaria Regular é livre de agir como a sua consciência lhe dite e continuar a ser maçon - desde que não cometa nenhum crime. Participar de  - e, especialmente, promover - uma revolução, atentando contra os órgãos do Estado, é um crime contra o mesmo Estado, e não é considerado pela Maçonaria Regular uma forma aceitável de se agir. Entendimento diametralmente oposto tem a Maçonaria Liberal, que argumenta que uma lei injusta não tem legitimidade, que crime seria observá-la, e que promove o seu derrube.

Dois pontos de vista.
Duas formas de agir.
Duas Maçonarias."

Paulo M.