19 outubro 2015

“Valerá a pena ser Maçom no século XXI ?”


Aqui há alguns tempos atrás o Paulo M. elaborou através da sua pena dois textos em formato de “mini-seriado” que me motivaram a reflexão que partilho convosco hoje e cuja questão central figurava na seguinte pergunta “No século XXI fará sentido ser-se Maçom?” e que é uma questão bastante pertinente para todos os Maçons, independentemente do seu Grau ou Qualidade, ou seja, independentemente do grau que detenham na sua caminhada maçónica e do cargo que ocupem nas estruturas maçónicas (Respeitáveis Lojas ou na Obediência Maçónica em si).

Esta pergunta que serve de tema para o texto de hoje é uma reflexão e questionamento que faço a mim próprio diariamente.

Será que valerá a pena nos dias de hoje, que em pleno século XXI, num tempo tão avançado tecnologicamente, mediaticamente etc etc etc… continuar a existir uma instituição como a Maçonaria e mesmo assim existir quem queira fazer parte integrante dela, nomeadamente eu inclusive?!

Será que existe qualquer mais valia para a Sociedade existirem pessoas que integrem Ordens de cariz iniciático e fraternal como a Maçonaria?

Com que interesse essas pessoas, nos tempos que correm, ambicionam entrar numa Obediência Maçónica?

Estas questões com que me deparo no meu dia-a-dia encerram elas próprias as suas respostas, a meu ver.

Poderá aparentar alguma estranheza responder a uma única questão (tema central) com outras três dúvidas/questões. Mas de facto elas fazem todo e qualquer sentido!

À primeira questão que se me apresenta, posso afirmar que sim!

Faz todo o sentido existir uma Ordem como a Maçonaria, uma vez que a Maçonaria é uma Ordem iniciática e ritualística, universal e fraterna, filosófica e progressista, firmada no livre-pensamento e na tolerância entre as pessoas, tendo por objectivo o desenvolvimento espiritual do homem com vista à construção de uma sociedade mais livre, justa e igualitária. Ordem esta que se preocupa em formar os seus membros para além de lhes propiciar as “ferramentas filosóficas e inteletuais” de forma a que possam potenciar as suas melhores qualidades pessoais, polindo o seu comportamento, de maneira a evitar a prática de atitudes desviantes ou  consideradas como erráticas ou indignas pela sociedade vigente.

Com esta última afirmação, posso eu responder também à minha segunda dúvida.

Não obstante o desenvolvimento intelectual e tecnológico da sociedade atual, a Maçonaria terá sempre lugar no tempo e na história, ou não fosse ela também uma instituição secular. As instituições vivem de pessoas e da sua comunhão e contato entre si, partilhando o que se sabe, aprendendo e obtendo conhecimentos que não se detinham, por forma a formar-se uma cadeia de partilha que se funcionando em pleno poderá fomentar o progresso da Sociedade no geral e das pessoas no singular. E existe algo que nem a própria tecnologia nem o mediatismo e consumismo atual poderá fazer.
Esse “algo” apenas poderá ser encontrado na vivência e prática espiritual de cada um de nós. E poderá ser aí que residirá a importância da existência de instituições que se interessem por esse “lado”.

A espiritualidade de cada um depende da sua cultura, educação e da sua experiência de vida. Uma prática espiritual pessoal dependerá sempre do que se ambiciona e se pretende da vida e do que já se obteve até então. E a maioria das vezes o problema será no que já se obteve ou não, e o que se fazer para se obter tal. Alguns sentem que necessitam de muito para viver, outros nem tanto assim… O que poderá levar a comportamentos e práticas incorretas na procura e obtenção daquilo que se poderá considerar como aquilo que fará falta para completar ou complementar a sua vida.

Se na sua vivência mundana, alguém denotar em si mesmo uma atitude ou comportamento errado, se decidir retornar ao “caminho certo”, com certeza tal será benéfico para todos; mas para o próprio será o reconhecimento das suas falhas e um sinal de humildade em querer mudar para “melhor”. Para os restantes, que o acompanham na sua vida, será a demonstração de um altruísmo e nobreza que o ajudarão, por certo, no futuro, a ter uma prática social que será digna de alguém que se considera livre, mas principalmente de bons costumes. E isso será reconhecido por quem o tiver que o fazer!

Saber o que está correto, certo ou errado e escolher sabiamente o caminho a seguir não está ao alcance de todos, e é gente assim que, por norma, interessa à Maçonaria. Gente que não é perfeita no sentido estrito da palavra, mas que procura aperfeiçoar-se a si mesmo, através do trabalho, do estudo, do relacionamento fraternal com os restantes membros, mas fundamentalmente através de um processo de auto-conhecimento, ou seja, do “conhecer-se a si próprio”. Isto tudo (é) feito através de uma via espiritual.

No entanto, a observação da boa conduta e boas práticas de maçons reconhecidos na sociedade poderá também a suscitar a vontade de profanos a entrar na Maçonaria, uma vez que tal poderá despontar o interesse destes em elevarem também a sua conduta e forma de estar na vida pela simples observação da ação da Maçonaria e dos seus membros na sociedade de que fazem parte integral.

Todavia, certamente que quem deseja fazer bem, “praticar o Bem”, não necessita de ser maçom para o fazer. Tal depende exclusivamente da vontade de cada um! Mas sendo maçom, tal não é excepção, mas sim uma das regras que o deverão nortear nas suas práticas e condutas sociais.

A Maçonaria não é um clube social, benemerente ou filantrópico em exclusivo.  - Não é apenas isso e é muito mais!-

Se alguém desejar entrar na Maçonaria para socializar, exercer a sua caridade ou filantropia, aumentar a sua lista de contatos pessoais e/ou fazer amigos, para isso já existem outras instituições para tal. Instituições que cuidam em exclusivo desses assuntos. Quem vier ou desejar entrar para a Maçonaria para isso somente, irá perder o seu tempo e fará perder tempo à Ordem e aos seus membros.

A Maçonaria apesar de ter estas preocupações – que tem!- tem também outras que estão para além do que é mensurável e visível. E tal encontrar-se-à na componente espiritual e iniciática que a Ordem encerra em si e que propicia aos seus filiados. E isto apenas estará ao alcance daqueles que compreenderem a Ordem, percebam os seus fins e desígnios. Ou não fosse por isso também que a formação é gradual e exponencial, para que o conhecimento seja obtido integralmente, mas passo a passo…

Concluindo, ao efetuar o somatório de toda estas reflexões que fiz, chego à conclusão que sim, vale a pena ser Maçom no século XXI e possivelmente também nos séculos vindouros...

5 comentários:

Leo disse...

Vale a pena para os solitários. Para os mal-resolvidos. Para os ingénuos. Para os oportunistas. Para os pobres de espírito e para os pretensiosos. Ainda vale a pena para muita gente.

Paulo M. disse...

Tantos adjetivos - e tão mal aplicados! A maçonaria não é, especialmente, para nenhuns desses que descreve.

Os solitários - os que o são por opção - não têm razão para se agremiar, e a maçonaria é uma egrégora. Nem os mal-resolvidos, os que não estejam em paz consigo mesmos, ou os pobres de espírito, terão disponibilidade para se focarem no desbaste dos seus defeitos. Os oportunistas, como os pretensiosos, verão a porta ser-lhes fechada.

É, antes, para aqueles que chegaram a um patamar na vida em que a luta pela sobrevivência não lhes ocupa todas as energias, e em que podem dedicar, então, algum tempo a tornar-se pessoas melhores - e, nomeadamente, a deixar "à porta" as vaidades, o poder e o preconceito.

Parece-lhe assim tão mal?

Leo disse...

Sr. Paulo M, não me refiria ao solitário por opção, esse sim, verdadeiro Homem Livre e Pleno, como Pessoa tão bem enfatiza no seu poema Liberdade é a possibilidade de isolamento, do qual transcrevo-lhe aqui uma passagem: - "A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade de dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre."

Referi Pessoa porque também ele foi um místico de excelência sem que para tal tivesse sentido a necessidade de agremiação. Mesmo tendo vivido numa altura em que de certa forma ainda se exploravam os diferentes ramos iniciáticos e no seio dos quais se podia dizer livremente o que em sociedade era censurado.

Hoje, não se justifica entrar na maçonaria. Até porque nessas obediências passeiam-se aventais, cumprem-se rituais para depois se "agapar" mais ou menos faustosamente.

Não tenho assim tanta certeza de que o cúpido, o pretensioso e o oportunista veja a porta a ser-lhe fechada, mas não quero teimar.

Já do 33 para cima, nem todos o são, mas muitos entram em esferas públicas, com agendas bem definidas com o objetivo final, posso adiantar-lhe, de instalar a Nova Ordem Mundial, que nos pretende dominar a todos, retirar liberdades, explorar economicamente, maçons ingénuos incluído.

Bem haja.

Paulo M. disse...

Não tenho a pretensão de tudo conhecer, mas não me reconheço - nem aos meus Irmãos da Mestre Affonso Domingues - na sua descrição. De qualquer modo, os mesmos factos podem ser interpretados e descritos de muitas formas diversas. Quem está de fora (mas, pela forma como escreve, atrever-me-ia a adivinhar que já esteve dentro) poderá descrevê-lo assim. Quem está dentro verá as coisas de outra forma. O que para uns são meras caricas serão, para outros, a memória das vitórias sobre as próprias fraquezas, o símbolo de reconhecimento dos pares, ou o alerta para uma responsabilidade corrente.

Quanto ao "acima do 33", que fique bem claro que este blogue é de uma Loja Azul, ou seja, de uma loja onde há Aprendizes, Companheiros e Mestres - 3 graus apenas. Os outros, até ao 33, são para outras estruturas que não as Lojas. De qualquer modo, "acima de 33" não existe, pura e simplesmente, em Maçonaria Regular. Não sei, por isso, do que fala.

Leo disse...

Sr. Paulo M, desde já, mui grato pela sua resposta, a qual respeito evidentemente. Aproveito para explicar que tropecei neste blog e neste texto em particular (que na altura era o mais recente) por mero acaso no seguimento de uma pesquisa que andava a fazer e não percebi nessa ocasião de que se tratava do Blog da V. respeitável Loja, caso contrário não teria feito os comentários que fiz. Podem apagá-los. Entrei à leão mas saio de fininho.
Já agora, bem sei que não há "acima do 33", há é alguns maçons de grau 33 pertencentes a obediências inglesas, americanas e francesas que, de acordo com as suas características, são chamados a participar na prossecução dos objetivos constantes nos protocolos dos Sábios De Sião que atualmente não dá pelo nome mas dá pela forma.
Felicidades para a Obediência e para a sua Loja em particular.