Uma História da Maçonaria Britânica (1425-1583)
Andrew Prescott é um historiador britânico especializado em História da Maçonaria. Foi director do Center for Research into Masonry (Centro para a Investigação da Maçonaria) da Universidade de Sheffield. Na página do Center for Research in Masonry existe um atalho para o texto da sua lição de despedida desse Centro para a Investigação da Maçonaria, proferida em 20 de Fevereiro de 2006, que se intitula A History of British Freemasonry: 1425-2000 (Uma História da Maçonaria Britânica: 1425-2000). Quem entender inglês, pode seguir esse atalho e ler essa notável lição.
O texto é interessantíssimo. É claramente um trabalho sério e objectivo de um académico competente. Não faz a apologia da Maçonaria Britânica, nem a critica ou ataca. Apresenta factos, interpreta-os e relaciona-os com os eventos, designadamente políticos, da respectiva época. Relata a evolução da Maçonaria tal como a mesma ocorreu, nos bons e nos maus aspectos e apresenta a sua interpretação das razões de ocorrência dos principais eventos. É uma peça imprescindível da cultura geral de um maçon e um texto esclarecedor para quem se interessa pelo fenónemo da Maçonaria.
Quer porque nem todos lêem fluentemente inglês, quer pelo interesse intrínseco das informações constantes desse trabalho, vou sumariá-lo aqui no blogue. Mesmo em sumário, a sua extensão é significativa. Opto assim por dividir o sumário em vários textos, que tenciono publicar alternadamente com textos de outros temas.
O Professor Prescott divide a História da Maçonaria Britânica em dez períodos: 1425-1583; 1583-1717; 1717-1736/7; 1737-1763; 1763-1797-8; 1798-1834; 1834-1855-6; 1856-1874; 1874-1967; e 1967-2000.
O resumo de hoje respeita ao primeiro desses períodos, 1425-1583.
As origens da moderna maçonaria como um movimento social encontram-se nas fraternidades religiosas que floresceram particularmente após a peste negra de 1349. Essas fraternidades existiram primeiramente para encomendar e pagar orações pelas almas dos seus membros, mas começaram a ser utilizadas por determinados grupos dos artesãos para assumirem a responsabilidade pela regulamentação das respectivas actividades. A peste negra tinha causado uma falta de artesãos hábeis e o governo esforçou-se por tentar manter os salários baixos. A tensão inflaccionista era particularmente aguda nas profissões ligadas à construção. Em 1425, foi publicada legislação proibindo os trabalhadores da construção de se organizarem para exigir salários mais elevados. É neste evento que nós podemos encontrar a causa para o início dos mitos da maçonaria. Os grupos de construtores em pedra desenvolveram uma lenda de que lhes tinham sido dadas cartas-patentes antigas, permitindo que se organizassem. Reagiram também contra a estratificação crescente da sua profissão, desenvolvendo lendas que procuraram demonstrar que todos os trabalhadores de construção (maçons) eram irmãos com estatuto igual. Os dois manuscritos que registam estas lendas, preservados na Biblioteca Britânica e conhecidos como os manuscritos de Regius e de Cooke, foram usados aparentemente para ultrapassar a proibição de organização. As lendas constantess dos manuscritos Regius e Cooke, e em especial a reivindicação de que os maçons tinham recebido uma carta-patente do (inexistente) príncipe Edwin, um alegado filho do rei anglo-saxão Athelstan, permanecem de importância fundamental para o entendimento da moderna Maçonaria. Estas lendas obtiveram um novo impulso em meados do século XVI, quando nova inflação conduziu a novas tentativas de restringir os salários dos artesãos. Em 1552, os líderes de uma greve de trabalhadores da construção em York foram presos. Em resposta, ocorreu uma mais substancial elaboração das lendas que constavam em Regius e Cooke, com a concessão por Edwin de uma carta-patente especificamente aos trabalhadores da construção (maçons) de York, um detalhe novo que pretendeu aparentemente reforçar a posição destes. Esta primeira fase da história da Maçonaria poderá ser chamada a fase do sindicalismo.
Rui Bandeira