15 maio 2013

O Mestre Maçom perante si próprio


Todo o maçom, desde o primeiro dia que adquiriu essa condição sabe que o seu maior inimigo é aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho. Mas também sabe que a melhor maneira de acabar com o inimigo não é prendê-lo (pode sempre libertar-se...), ou matá-lo (pode dele fazer um mártir ou herói para outros, e assim afinal multiplicar os seus inimigos...). A melhor maneira de acabar com o seu inimigo é fazer dele seu aliado, seu amigo. A amizade tem mais força que a força...

Todo o maçom sabe, desde o dia em que adquiriu essa condição, que dentro de si convive o que potencialmente o destrói, o desvaloriza, o apouca - os seus vícios, os seus defeitos - e o que o engrandece - as suas virtudes e capacidades. Por isso aprende que é crucial cavar masmorras aos seus vícios e cultivar suas virtudes. Só assim aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho deixará de ser o inimigo que arrasta para as sombras da depravação para passar a ser efetivamente o aliado amigo que acompanha no caminho para a Luz.

O Mestre Maçom, quando se coloca - o que deve fazer com frequência... - perante si próprio, deve sempre recordar-se que o esforço para ser melhor pode não necessitar de ser muito grande, mas inevitavelmente tem que ser contínuo. Tal como aquele que anda de bicicleta precisa de manter o movimento para não cair, assim aquele que cessa o esforço para melhorar verá degradar-se o que atingiu.

Assim, a palavra que, no meu entendimento, se deve utilizar para ilustrar o que se impõe ao Mestre Maçom perante si próprio é "persistência".

Persistência no contínuo esforço de melhoria. Persistência em aprender e ensinar e em aprender ensinando. Persistência no Estar como meio para o Ser. Persistência em fazer, dia após dia, mês após mês, ano após ano, mais do mesmo,  como forma de descobrir, afinal, que o mesmo continuamente se reinventa e, quando damos por ela, já é outro e melhor.   

Persistência no trabalho mais importante que existe, o trabalho em si próprio, o trabalho que lhe permite reconhecer-se e ser reconhecido como aquilo de que se apelida, Maçom. 

Persistência no lapidar da única obra que, apesar de todas as obras que construa ou que crie, afinal realiza durante o tempo que passa neste plano da existência, a sua verdadeira obra-prima, a sua vida e quem a vive.

Persistência na busca da forma de melhorar o que parece bem mas pode sempre ser um pouco melhor - para descobrir que, após a melhoria, o que é melhor, pode ainda ser melhorado mais um pouco, desde que... persista no trabalho.

Persistência na lapidação da sua Pedra Bruta até conseguir dar-lhe a desejada forma de Pedra Cúbica. Persistência para polir essa Pedra Cúbica, face a face, para  bolear bem as arestas, uma a uma, para que essa Pedra Cúbica seja capaz de ser encaixada onde deve, seja sólida para bem assegurar o seu papel, se enquadre harmoniosamente entre as demais, aumentando com o seu brilho o brilho das vizinhas.

Persistência para nunca se sentir satisfeito, para ter a noção de que é sempre possível fazer e ser um pouco melhor e para efetivamente agir para assim fazer e ser - e descobrir que continuar a lapidar uma Pedra Cúbica não a faz mais pequena,  paradoxalmente engrandece-a.

Persistência em ser realmente e completamente aquilo que se reclama ser: Mestre Maçom!

Rui Bandeira

2 comentários:

Nuno Raimundo disse...

Boas...
O problema residirá naqueles que exigem sempre demais aos outros quando o deveriam fazer e começar por eles próprios.
Pois alguns (infelizmente) quando chegam a um patamar tal, que parece que se esquecem que a caminhada não chegou ao fim, mas antes a um lugar apenas, faltando o resto do caminho por fazer...
E depois temos a "medalhite" crónica que parece que apouquenta outros tantos... pois combater os tais vícios e evitar outros tantos erros tem que se lhe diga, e se é dever de qualquer maçom o fazer, parece que para alguns isso será de somenos importância.
Lamento bastante que tal aconteça, talvez não por culpa dos próprios que talovez não utilizem o tal "espelho" que o Rui fala, mas também por culpa dos outros que estarão à sua volta em não o "trazerem" ou encaminharem de e na forma devida e correta.
O exame do "espelho" é relevante em demasiado para que seja relegado. Se cada um (onde eu também me incluo, fizesse um auto-exame à sua consciência, encontraria sempre alguma falha a corrigir, alguma lacuna a preencher...
Não basta ser maçom, há que agir como tal...

Gostei bastante do texto, aliás se fosse numa rede social, botava "like"...

TAF
NR

Nuno Raimundo disse...

Caro Marcos,
ser Mestre não é o "fim do caminho", pois se o fosse, esse "caminho" seria curto demais.
Aliás é para mim, um "estado", estado esse em permanente mutação e em crescente evolução.
Aliás quando se é exaltado a Mestre, adquirem-se outras responsabilidades que quem é Aprendiz ou Companheiro não têm, tanto pelo grau a que pertencem, tanto pela falta de "maturidade maçónica" (chamemos-lhe assim).
Por isso, aqueles que persistem no "bom" caminho, esses sim serão os exemplos a seguir ou pelo menos com os quais se deve aprender...
Aos outros, apenas lhe incutir o que lhes falta... pois se o que interessa de facto é o aprimoramento moral, que assim seja.

Quanto às tuas questões, são de também minhas, pois constantemente me debato com as mesmas; mas a minha experiência ainda não me trouxe as respostas que eu desejava alcançar...

Abraço
NR