18 setembro 2008

Sobre o Grande Arquiteto do Universo - 2


Há tempos, num seu comentário ao texto Maçons e controvérsia sobre religião, o simple lucidamente fazia notar que, embora aparentemente o José Ruah e eu muitas vezes pareçamos discordar, o que na realidade acontece é que normalmente estamos de acordo, simplesmente analisamos os temas de forma diferente, no fundo cada um olhando para uma das faces da mesma moeda. Tem razão o simple: o nosso pensamento é, no essencial, muito semelhante, a forma como lá chegamos ou como o expressamos é que, muitas vezes, é diferente. Hoje, o simple vai ter mais uma demonstração do acerto da sua apreciação.

No mês passado, o José Ruah escreveu um texto sobre o Grande Arquiteto do Universo, no qual, em síntese e simplificando, esclarece que esta designação constitui uma abstração em que cabe qualquer conceito de Divindade ou Criador. Daí que tenha prosseguido, esclarecendo que a Maçonaria Regular pergunta a quem a ela pretende juntar-se uma pergunta muito simples (Acredita no Grande Arquiteto do Universo?), que pede a mais simples das respostas, a escolha entre a afirmativa e a negativa.

O simple, que está sempre à procura de ir mais fundo, insistiu na concretização do conceito, lembrou que no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues se afirma que a Maçonaria Regular é deísta, trouxe à colação um texto sobre Deísmo na edição em língua inglesa da Wikipédia e uma pretensa "teologia" básica da Maçonaria (infeliz escolha de termos...), em jeito de argumento pelo absurdo inquiriu se integraria o conceito de crente no GADU quem acreditasse que a espécie humana tinha sido criada por uma avançada espécie extra-terrestre, entretanto extinta; em resumo, procurou levar o José Ruah a aprofundar a noção de GADU que ele dera. O José Ruah, que não se deixa arrastar para discussões que considera estéreis, cartesiano e direto como sempre, limitou-se a reafirmar que nada mais entendia que se devesse acrescentar à noção que dera e deu o tema por encerrado.

Pelo contrário, eu decidi dar resposta ao "repto" do simple. Mas a introdução a este texto já permite intuir que, se formalmente faço diferente do Ruah, materialmente a resposta é exatamente a mesma: o texto original do Ruah coloca acertadamente a questão e não há, utilmente, maior definição a dar ao conceito, em termos de Maçonaria Regular.

O simple insiste em saber se não é desejável, acertado, concretizar mais o conceito de GADU, em termos de Maçonaria Regular. Mais do que responder-lhe com uma simples negativa, convido o simple a simplificar e, mais do que procurar ensinamentos através do Google, buscar entender por si próprio a razão de ser da amplitude do conceito de GADU que a Maçonaria Regular utiliza.

Deixe o simple de lado a questão do deísmo, até porque, como terá a oportunidade de verificar noutro texto, que oportunamente escreverei sobre o tema, antes de se falar sobre deísmo é necessário verificar que definição do conceito se está a utilizar. Não considere a pretensa "teologia" maçónica, até porque mais tarde espero ter a possibilidade de lhe demonstrar que, não só não há nenhuma "teologia" maçónica, como os princípios apontados no texto correspondem a um particular entendimento cultural, porventura até mais teísta do que deísta, da concepção da maçonaria. Esqueça o seu argumento pelo absurdo, até porque o mesmo nem sequer é relevante: a criação de uma espécie animal num pequeno planeta orbitando à roda de uma insignificante estrela situada na ponta de uma das miríades de galáxias existentes nem sequer merece comparação com a criação do Universo! Tomar aquela por esta seria o mesmo que confundir a primeira frase escrita por uma criança que está aprendendo a escrever com Os Lusíadas...

Quer então o simple, ou qualquer outro que este texto leia, entender a noção de GADU acolhida pela Maçonaria Regular? Não precisa de ler, não precisa de pesquisar. Basta que, numa qualquer noite sem nuvens se desloque a um local pouco iluminado - quanto menos luz, melhor! Aí chegado, ponha-se em posição que lhe seja confortável e... olhe para o alto! Só isso! Olhe, veja, repare nos incontáveis pontos luminosos que verá. Lembre-se que cada um deles é uma estrela - alguns já foram, porque, de tão distantes, a sua luz demora tanto, mas mesmo tanto, a chegar até nós, que já só é o testemunho de algo que, tendo existido, já se extinguiu. Procure abarcar o conceito de milhões de estrelas existentes numa inimaginável imensidão de Espaço e Tempo. E junte-lhes os planetas que à roda delas girarão. E mais os cometas. E... E...

Agora, sempre olhando para o Firmamento, reflita na perfeição do seu funcionamento, na profusão de leis a que chamamos naturais, muitas que dizemos da física, outras de que ainda nem sequer fazemos ideia que existem, na impensável quantidade de forças que se repelem e atraem, se cruzam, entrecruzam, mutuamente se influenciam e que não só mantêm o Universo imenso, ordenado, belo, de que está a ver uma pequena parte, como assim o mantiveram desde há milhões e milhões e milhões (e acrescente ainda milhões...) de anos e que se, como o chefe da aldeia de Astérix acima de tudo teme, o céu não nos cair em cima da cabeça, porventura o manterão assim por incontáveis milhões e milhões e milhões (e acrescente ainda milhões...) de anos. Sinta a Harmonia do Universo, que não é de agora, mas que sempre foi conhecida como assim sendo. Feche os olhos e foque a sua atenção do infinitamente grande para o infinitamente pequeno e procure imaginar a inimaginável quantidade de átomos que se agregam no impensável número de moléculas que formam o estrondosamente grande número de células do seu corpo. Considere ainda a imensidão de átomos que em outros corpos, animados e inanimados, existem... não, não pense no planeta (o número de algarismos que seria necessário para indicar a potência a que teria que ser elevado o número que matematicamente o descrevesse seria superior a todos os algarismos que todos os que viveram desde que a escrita foi criada escreveram...), pense apenas na sua rua - que digo eu? Na sua casa... Do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, em todas as dimensões de medida físicas e ainda acrescidas da dimensão temporal. E tudo isto, tudo isto que a pobre mente humana tem dificuldade em conseguir imaginar que seja possível chegar a imaginar, desde há milhões e milhões e milhões (e acrescente ainda milhões...) de anos que existe, que está, que funciona, que é Belo e Imenso e Harmónico e suporta Vida (no nosso pontinho insignificante do Universo e não sabemos se mais onde...). Sempre em posição confortável, olhe, aprecie, medite, relaxe e... sinta a profunda sensação de paz e de felicidade que o leve vislumbre da Perfeição que conseguirá entrever lhe provocam!

E então... só então... coloque a si mesmo uma única pergunta: tudo isto, tudo o que vejo e não vejo, vislumbro e me está escondido, imagino e é para mim inimaginável, este Universo, do infinitamente grande ao infinitamente pequeno, de imensa harmonia existente desde muito antes de haver bicho que conseguisse ter a noção de Tempo... foi criado como?

Se então responder que uma maravilha destas, cuja dimensão e perfeição nos é impossível de imaginar, só pode existir porque foi criada por uma Entidade Suprema, que criou as complexíssimas regras das complexidades que regem o Complexo Universal com tão Perfeita Harmonia, então aí tem a sua resposta: eis o Grande Arquiteto do Universo da Maçonaria Regular. Não importa que forma, que caraterísticas, que singularidades, cada um lhe atribua. É esta noção do Perfeito que Perfeitamente cria a Perfeição que conta... O resto são complicações, próprias da nossa natureza, escusados cinzentos que só servem para esmaecer o brilho intenso da Luz da Perfeição.

Foi isso o que o José Ruah, no seu estilo direto, escreveu...

Rui Bandeira

3 comentários:

Nuno Raimundo disse...

Boas...

o Rui tem uma "visão" do G.A.D.U. como eu tenho do Ser Supremo que considero que nos criou.
Não o conheço, mas sei que ele esteve ( e estará ) na origem daquilo a que conhecemos como Vida, seja ela animal, vegetal ou de oura forma qualquer...
Pois também eu olho para o céu, para o mar e para as paisagens verdejantes que abundam no nosso país ( e por aí fora) e me deixo a comtemplá-las e somente posso acreditar que algo ou alguém está por detrás de tamanha beleza.

Gostei de saber que estamos também muito próximos no que consideramos como "Entidade Suprema" :)

abr...prof...

Paulo M. disse...

Por haver várias conceções (é assim que se escreve agora?!) é que a questão é interessante. A minha é mais na linha da de Einstein: "Gott ist raffiniert, aber boshaft ist er nicht." (Deus é subtil, mas não é malicioso). Racionalista que sou, entendo que dar origem a seres inteligentes e racionais e confrontá-los depois com um Universo que não fosse racionalmente inteligível seria uma partida de muito mau gosto.

Ficam-me algumas questões por responder, mas para isso cá espero os prometidos textos do Rui!

Um abraço,
Simple

Jose Ruah disse...

Caro Rui

Nao seria eu capaz de escrever melhor.

Nestas coisas relacionadas com o GADU e com o Inicio dos Tempos há que saber diferenciar entre o Creacionismo e o Evolucionismo.

O Creacionismo está directamente ligado com a Existencia de uma Ser Supremo Criador e é portanto uma questão de fé.

O Evolucionismo está associado ao fenomeno fisico do Big Bang e da consequente evoluçao do Universo até hoje e é portanto uma questão racional.

Mas sobre Creacionismo e Evolucionismo há muito a dizer e até pode dar uma linha de discussão futura quem sabe.