12 julho 2006

Interrogações depois da tragédia



Há assuntos em que é melhor deixar passar uns dias antes de emitir opinião, para que a Emoção não obnubile a Razão.

É o caso da morte dos cinco sapadores chilenos e de um bombeiro beirão, ocorrida quando estes procuravam combater um incêndio que, desgraçadamente, os venceu!

Como é habitual nestas circunstâncias, a par da emoção e do luto é sempre anunciado o inquérito que, como habitualmente, é sempre rigoroso... Acho bem, há que procurar descobrir o que correu mal, para procurar evitar que a tragédia se repita. Ponto é que se resista à tentação de apontar culpas e culpados, até porque, quase sempre, o ponteiro dos julgadores de culpas é lesto em apontar quem já não se pode defender (é muito mais fácil fazê-lo...) e isso equivale a somar à perda da Vida a agressão da culpa apontada.

Espero assim que o inquérito sirva para indicar o que devia ter sido feito, e não foi, para que nunca mais deixe ser feito, e o que foi mal feito e deve passar a ser bem feito, para procurar evitar a repetição de tragédias destas.

Por mim, tenho algumas perguntas que gostaria de ver respondidas:

1. Quando, no ano passado, foi anunciada a criação dos grupos de primeira intervenção em fogos florestais, os nossos sapadores aerotransportados, foi divulgado que uma peça essencial do seu equipamento individual, que sempre trariam consigo, era uma peça desdobrável, incombustível ou quase, isolante do calor, que serviria para a eventualidade de um sapador se ver cercado pelo fogo poder deitar-se no solo e cobrir-se com essa capa de protecção, para que o fogo passasse por ele sem o vitimar. Porque não estavam os sapadores chilenos equipados com tal peça, que porventura os poderia ter salvo? Que medidas serão tomadas para que tal omissão não mais ocorra?

2. Se estavam e tal não os salvou, que se tenciona fazer para obter melhor equipamento que proteja os nossos sapadores com eficácia?

3. Sabe-se que a missão dos sapadores aerotransportados - serem largados perto do incêndio, para limparem o terreno e abrirem aceiros, com o objectivo de travar a progressão do incêndio - é arriscada; por isso, esse pessoal é suposto ser treinado e comandado por gente experimentada. Quem decide e quais os critérios de decisão para definir o local onde são largados os sapadores e que melhorias há a fazer nesse processo de decisão (necessariamente rápido, em cada caso concreto) para melhor compatibilizar a eficácia de actuação com a segurança de quem actua?

4. Os sapadores no terreno têm uma visibilidade reduzida, trabalham num ambiente difícil e obviamente em stresse; estão à mercê de caprichosas mudanças de direcção e intensidade do vento. Que meios de auxílio e de prevenção são utilizados para apoiar quem está no terreno e avisar das alterações de circunstâncias que ponham em risco a sua segurança? Porque falharam, no caso concreto? Se não existiram ou foram insuficientes, que há que fazer para que, ao nível do apoio operacional a quem está no terreno, nada falhe quando é preciso que assim seja?

5. O que há a treinar, fora da época de incêndios, para evitar desenlaces destes? O que se aprendeu com esta tragédia para melhorar o treino e a preparação dos demais sapadores?

Estas são, na minha modesta opinião as perguntas a que o rigoroso inquérito deve dar resposta.

Porque o combate ao fogo é uma luta em que o objectivo é vencer o inimigo, sem sofrer quaisquer baixas.

As minhas homenagens aos seis combatentes mortos e o meu desejo que, por muito tempo, se possível para sempre, sejam os últimos a tombar.

Rui Bandeira

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