20 julho 2006

Até que enfim uma polémica!


Desde o princípio do blogue que aguardava por um desacordo claro e inequívoco entre autores. Juro!

E aguardava, porque, como eu esperava, o desacordo de opiniões entre o JoséSR e o Erato é uma boa oportunidade de desmontar, ao vivo e a cores, um dos mitos sobre os maçons e de mostrar como funciona o debate entre maçons.

Relembro palavras que já foram escritas, no texto de apresentação do blogue: "este espaço não é, não quer ser e não vai ser, um "blogue maçónico". É, quer ser e vai ser, simplesmente, um blogue feito por maçons." E também: "Este espaço não se destina a ser lido por maçons (...) Este espaço destina-se a ser lido por quem quiser fazê-lo" - maçon ou não maçon.

Neste espaço cabe a apresentação e discussão de quaisquer temas que qualquer colaborador do blogue entenda útil apresentar ou discutir, sem tabus, sem censuras, sem limitações que não as inerentes ao correcto comportamento social que todos nós, maçons, procuramos ter: o respeito pelas ideias dos outros, mesmo - e sobretudo! - quando diferentes e opostas das nossas; a discussão aberta, leal, dura, mesma, sobre as ideias, sobre os argumentos, não sobre as pessoas ou aqueles de quem pontualmente discordamos.

Visto isto, vamos à desmontagem do mito: os maçons não têm um pensamento único, não estão sempre de acordo; pelo contrário, só pode ser maçon quem, por acreditar na Liberdade, por praticar a Tolerância, por exercer a Responsabilidade, tiver as suas próprias ideias e as defenda, não importa se em concordância ou discordância de outro maçon!

Esta mini-polémica permite ainda mostrar como os maçons, pela sua vivência comum, pela sua prática, sabem discutir, sabem polemizar, sabem discordar, sabem, enfim, debater ideias sem utilizar a ofensa ou argumentos ad hominem e, pelo contrário, procuram defender as suas ideias assumindo as discordâncias com as ideias expressas pelo seu parceiro, mas não as diabolizando, antes procurando ressalvar os pontos positivos delas e as convergências que é possível encontrar.

Não quero proclamar que nós, maçons, somos perfeitos e sempre impolutos no debate. Longe disso! Só se pode proclamar maçon quem assume a sua imperfeição e, humildemente, procura aperfeiçoar-se, com o auxílio dos seus Irmãos! Portanto, as regras de boa convivência, de boa discussão, de são debate, são, por vezes quebradas. Claro que sim! Mas a diferença é que tal quebra sucede muito menos que no comum da Sociedade e, sobretudo, que a quebra destes princípios, quantas vezes no calor do debate, é assinalada e não raro assumida pelo próprio que os quebrou.

Aproveitemos então a mini-polémica para verificar o cumprimento dos princípios enunciados. O resumo e a interpretação das posições de cada um é, obviamente, pessoal meu e, embora procurando espelhar o pensamento de cada um dos polemistas, trata-se de um resumo muito no "osso", apenas tocando o necessário para demonstrar o cumprimento dos princípios atrás enunciados.

O JoséSR expressou a sua posição sobre os actuais desenvolvimentos no Médio Oriente, deixando bem clara a sua posição favorável aos israelitas e verberando o duplo padrão que, no seu entender, os governos ocidentais praticam em relação ao terrorismo que atinge o Ocidente e aquele que "apenas" vitimiza Israel. Nesse sentido, deixou bem clara a sua concordância com a recente e actual actuação de Israel e a sua óbvia discordância relativamente à actuação dos militantes e dirigentes do Hezbolah, do Hamas, etc..

O Erato manifestou o entendimento de que o pensamento do JoséSR é parcial e não objectivo - mas afirmou o seu respeito pelo texto que critica e expôs os seus argumentos, que considera dever serem também atendidos: a declaração europeia que considera o Hezbolah uma organização terrorista, a sua preocupação com as vítimas civis e com o sacrifício que é sucessivamente imposto ao Líbano com as permanentes acções militares no seu território e termina proclamando que tudo isto se passa "porque, talvez, façam falta os homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos".

A resposta do JoséSr lamenta que Erato não tenha entendido que a sua posição não é a favor da guerra, antes a de condenação da "hipocrisia dos Media e de alguns Governantes e Senhores importantes deste mundo".

Repare-se: cada um expõe os seus argumentos, critica, porventura acerbamente, o que discorda nos argumentos do outro, mas nenhum põe em causa a boa fé do outro; pelo contrário, facilmente se pode verificar que, partindo de posições divergentes, ambos buscam os pontos de convergência nos seus entendimentos: Erato, embora manifestando preocupação pelas consequências da actuação de Israel, ressalva: "Claro que o Estado de Israel tem o direito, e o dever legítimo, de preservar a sua integridade nacional"; JoséSR assume ser a sua posição "facciosa", assim também considerando a do seu opositor, mas respeitando-a e concedendo-lhe o óbvio direito de a ter; manifesta a sua pena de que o Líbano seja de há muito instrumentalizado por muitos e esclarece não defender a guerra.

Conclusões? Que Homens livres e de Bons Costumes não têm medo de assumir divergências; que respeitam as posições contrárias e procuram contra-argumentar racionalmente; que buscam as convergências.

E, no caso concreto, ninguém fica, creio, com dúvidas que ambos entendem que Israel tem direito à existência, à segurança e à integridade territorial, que o Líbano também, que a guerra é sempre a pior maneira de resolver os conflitos e que é preocupante e de censurar que vidas de civis inocentes sejam ceifadas por qualquer conflito. E que, afinal, ambos concordam que, realmente, fazem falta mais homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos...

É assim uma boa e saudável discussão entre maçons!

Que todos discutam tão firme, mas tão serenamente assim...

Rui Bandeira


Sem comentários: