09 abril 2008

Tronco da Viúva

No texto Pela Inês!, mencionei que várias Lojas maçónicas da GLLP/GLRP vão recorrer aos seus Troncos da Viúva para auxiliar nas despesas com a viagem e transplante da menina.

Pelo menos na Europa Continental, todas as Lojas maçónicas têm um Tronco da Viúva. O Tronco da Viúva não é mais do que um fundo de reserva de meios monetários destinado a acorrer a situações de necessidade de maçons, de viúvas e filhos menores de maçons já falecidos e, de forma geral, a acções de beneficência.

Os fundos do Tronco da Viúva são exclusivamente obtidos mediante donativos dos obreiros da Loja e seus visitantes ou mediante acções de angariação de fundos a ele destinados - leilões, iniciativas sociais, etc..

Os fundos do Tronco da Viúva, tal como os demais valores da Loja, ficam à guarda do Tesoureiro desta. Mas são separadamente contabilizados dos demais recursos da Loja e só podem ser usados para os referidos fins de auxílio ou beneficência. Os fundos do Tronco da Viúva só podem ser utilizados por decisão do Venerável Mestre ou do Hospitaleiro, Oficiais da Loja em que esta delega o encargo de bem analisar as situações que justifiquem a mobilização desses fundos. Pelo menos anualmente, o Hospitaleiro deve apresentar um sucinto relatório sobre a situação do Tronco da Viúva e a aplicação dos seus fundos.

Em algumas Lojas, pode também existir uma Comissão de Beneficência, encarregada de estudar as acções da Loja neste campo. No Regulamento Interno da Loja Mestre Affonso Domingues está prevista a existência de uma Comissão de Beneficência, constituída pelo Venerável Mestre, pelo 2.º Vigilante e pelo Hospitaleiro. Na prática, porém, a sua activação não tem sido necessária, pois a tradição da Loja de discutir abertamente em sessão de Loja todos os assuntos que a esta dizem respeito possibilita que todas as decisões importantes, neste como noutros campos, seja colectivamente apreciada perante o Venerável Mestre, em ordem a permitir-lhe a mais consensual decisão (ver o texto Decidir em Loja). No entanto, se entre sessões, o Venerável Mestre necessitar de tomar uma decisão urgente sobre assuntos de solidariedade, sabe quem deve, em primeira instância, consultar: o 2.º Vigilante e o Hospitaleiro, que consigo formam a Comissão de Beneficência. A estrutura existe, está prevista, só é accionada se e quando necessário. Felizmente não tem havido situações de urgência que impusessem uma decisão antes de debate em Loja, mas, se e quando houver, já se sabe como proceder.

A designação de Tronco da Viúva tem a ver com a lenda da construção do Templo de Salomão, que foi dirigida por um arquitecto, de nome Hiram Abiff, que, na Bíblia, é referenciado como filho de uma viúva de Tiro. Hiram Abiff é, desde tempos imemoriais, o protagonista de uma alegoria que constitui o cerne da moralidade maçónica, a tal ponto que os maçons, nele se revendo, designam-se a si próprios por Filhos da Viúva. Alegoricamente, nos tempos modernos, a Viúva será a Maçonaria, em especial na sua vertente de solidariedade e beneficência. O Tronco da Viúva é, pois, um dos alicerces da Maçonaria, o reservatório dos bens que lhe possibilitam despender fundos em acções de solidariedade e beneficência. É alimentado pelos seus filhos, os Filhos da Viúva, os maçons.

Externamente, e em cumprimento do comando da moral maçónica de que as acções de beneficência devem ser praticadas discretamente, um maçon ou uma Loja Maçónica nunca revelam ou comentam ou divulgam quanto foi dado para esta ou aquela acção, com quanto se contribuiu para aliviar a necessidade desta ou daquela pessoa. Isso é matéria que só interessa a quem disponibiliza a ajuda e a quem a recebe. A regra é simples e não tem de ser mais específica: em cada momento, deve dar-se o que se pode e seja preciso. Nem menos, nem mais.

A Loja Mestre Affonso Domingues procura manter, se possível, uma reserva mínima para poder acorrer a uma urgente necessidade de um Irmão, de uma viúva ou de um filho menor de um maçon falecido. Mas também nunca tem grande entesouramento no seu Tronco da Viúva. Não faz sentido guardar de mais, deixando necessidades que se podem aliviar sem alívio... Enfim, o Tronco da Viúva da Loja Mestre Affonso Domingues está sempre em equilíbrio instável... Nem demasiado leve (excepto quando tal for necessário), nem demasiado pesado. E é assim que o queremos!

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1. Já chegaram os primeiros donativos para a Inês! Amigo leitor, não se esqueça, colabore também no auxílio à Inês. Contribua com o que puder e quiser. No texto Pela Inês pode ver como o fazer.

2. E é favor anotar na agenda, a letras BEM GRANDES: SÁBADO DE MANHÃ: IR DAR SANGUE NA ESCOLA MELLO FALCÃO DA PONTINHA (quem está longe, pode ir dar sangue ao centro de recolha do Instituto do Sangue mais próximo; lá também aceitam...)

Rui Bandeira

6 comentários:

Paulo M. disse...

A tradução de "Widow's Trunk" por "Tronco da Viúva" parece-me, assim de repente, algo estranha - a não ser que tenha mais algum significado não evidente.

A palavra "trunk" quer, de facto, dizer "tronco" - o de uma árvore, ou a parte central do corpo. Porém, tem outro significado: "arca" ou "baú". Ora, designar por "A Arca da Viúva" o que se guarda para um momento menos bom já me parece fazer todo o sentido...

Há alguma razão para ser Tronco em vez de Arca, ou foi mero lapso de tradução entretanto de tal modo instituído que já não tem volta possível?

Um abraço,
Simple Aureole

Rui Bandeira disse...

Foi mesmo erro de tradução. Não é inédito que expressões maçónicas inglesas ou francesas sejam adoptadas em português, não com a palavra correspondente ao seu significado na nossa língua, mas através de vocábulo com semelhança fonética.

Outro exemplo é a designação de um dos Ofícios de Loja, o Experto, que é a "versão" em português do Expert, que significa, tanto me francês, como em inglês, "especialista". No caso, o neologismo é, na realidade, um galicismo, pois a "importação" do Experto fez-se através do francês.

Jose Ruah disse...

Caro Simple

Aqui lhe deixo uma explicação. Não é a Oficial mas pode ser interpretado como " Si non é vero é benne trovatto!"

Imagine uma arvore. Multiplos ramos ( troncos mais pequenos).

Imagine uma Loja. Multiplos Irmaos.

Faça a Analogia.

Veja agora a diferença:

Uma Arvore pode ter troncos mortos.

Uma loja é responsavel mesmo após a morte do seu Irmao.

Quanto à sua duvida. Trunk é de facto baú. Mas a palavra mais utilizada em Ingles de Inglaterra é Chest ( arca) ou Ark.

Se Calhar Trunk é mesmo para ser tronco.

Abraço

Jose Ruah disse...

E como pode ver o Rui e eu escrevemos os nossos comentarios ao mesmo tempo nao estavamos combinado e

Discordamos

Rui Bandeira disse...

Não se trata propriamente de discordância, antes dos caminhos diferentes que a Especulação possibilita.

Não é em vão que a Moderna maçonaria se designa por Especulativa...

Quanto ao resultado da especulação do José Ruah (que nunca mais deixa de estar em pousio e me "obriga" a fazer horas extraordinárias...), realmente , na minha opinião, não é "vero", mas não deixa de ser "bene trovato"...

Paulo M. disse...

Obrigado a ambos pelas respostas. É sempre bom vê-los de acordo! De facto, na ausência de matéria de facto, resta especular - cada um de sua maneira. Procurei mais matéria de facto mas não encontrei; descobri, pelo contrário, que não há assim tantas referências a "widow's trunk" no Google. A expressão "masonic relief" é umas 50 vezes mais frequente...

Como em quase tudo o que diz respeito à Maçonaria, quanto mais vago melhor, que a multiplicidade de entendimentos é uma virtude... e em última análise serve para confundir os profanos!!!

Um grande abraço,
Simple Aureole