22 janeiro 2007

Do Fim da Vida Humana - Uma achega

No Post sobre o Inicio da vida Humana o Rui Bandeira, e numa posição com a qual sou concordante - reparem que não estamos em desacordo em tudo -, vai buscar o fim da vida humana para sustentar a sua posição de defesa da despenalização do Aborto nas condições determinadas por este referendo.
Por desconhecimento seguramente tem algumas imprecisões no que diz respeito à noção do momento de Morte.
Não sendo eu um entendido, transcrevo para este Blog o que aprendi com um estudioso da matéria e a cujas conferencias assisto sempre com interesse - o senhor meu Pai que é sem falsas modéstias um eminente médico.
A noção de fim de vida estava associada a 3 factores, ausência de batimentos cardíacos, ausência de movimentos respiratórios e o livor mortis. Durante séculos, diria milénios, estes foram os critérios usando-se os mais variados métodos desde a pena no nariz e boca ou um espelho, para detectar o mais ínfimo movimento respiratório ou exalação de vapor de agua, à auscultação primeiro com métodos primitivos depois com estetoscópio e mais tarde com electrocardiograma.
Com o advento das tecnologias medicas que permitiram os transplantes, e com a condicionante que os órgãos do dador devem ser colhidos com o corpo a funcionar, ou seja com o coração a bater e com os pulmões a respirar, mesmo que assistidos por aparelhos externos, aparece um problema grave.
Tirar o coração a um dador com ele ainda a bater, pela noção de constatação de óbito clássica era Homicídio.
A Medicina evolui rapidamente para o conceito de morte cerebral. Esta morte passa pela constatação por mais que um médico que a actividade cerebral do paciente - dador é inexistente e que há uma linha isoelectrica no electroencefalograma durante mais que um numero determinado de minutos. Esta constatação tem requisitos legais perfeitamente definidos.
A Teologia no entanto anda mais devagar que a medicina. Hoje em dia das religiões do Livro , Judaísmo, Cristianismo e Islamismo , apenas o Judaísmo com 100% de certeza já evoluiu do conceito de morte clássico para o conceito de morte Cerebral., conforme pode ouvir aqui
O Islamismo penso que está em analise avançada e vão evoluir ( poderá ja ter acontecido formalmente mas desconheço ).
O Cristianismo , na vertente Católica , não legislou sobre o assunto. No que aos transplantes diz respeito, a Igreja Católica toma uma posição de não condenação, aceitando tacitamente a morte cerebral, conforme se pode ler nesta declaração do Papa João Paulo II aqui .

O Judaísmo legislou, com responsas de Rabinos baseadas em pareceres médicos e sobretudo na observação feita por Maimonides - Medico e Filosofo Judeu que viveu no Secs XII e XIII - aquando das execuções por decapitação. Depois de decapitado era ainda possível observar no condenado movimentos cardíacos e respiratórios, mas era também evidente que estava morto. Maimonides não terá percebido tudo mas percebeu que a cabeça era essencial para a vida, mais que o coração ou os pulmões. Da cabeça ao cérebro o caminho é evidente.

Com esta achega espero contribuir para a melhor percepção do texto do Rui.
JoseSR

2 comentários:

Rui Bandeira disse...

Isto é que foi uma achega!É caso para dizer que, ao contrário do ditado, foi MELHOR a emenda que o soneto...
Só duas dúvidas:
1. LIVOR mortis, o que é? De rigor mortis já sei de que se trata, mas com livor mortis nunca tinha deparado (e presumo que não seja gralha...).
2. "O Judaísmo legislou com responsas...". Aqui é gralha para respostas ou a palavra tem um significado preciso em termos da Religião Judaica?

Jose Ruah disse...

Livor Mortis é um dos sinais de morte - Lividez -
http://en.wikipedia.org/wiki/Livor_mortis

No Judaismo os Rabinos produzem Responsa ( plural de responsum) perdao pelo duplo plural ao escrever responsas.

http://en.wikipedia.org/wiki/Responsa

Abraço