Limpeza da Loja
Em todas as casas periodicamente há necessidade de se fazer uma grande limpeza. É certo que no dia a dia se procura manter a casa apresentável, que a rotina semanal nos habitua a dedicar algum tempo a limpeza mais metódica. Mas, em regra anualmente ou bianualmente, há necessidade de se fazer uma limpeza geral e completa, tudo arejar, verificar o estado das coisas, limpar os cantos mais escondidos e inacessíveis, enfim fazer uma limpeza a fundo que reponha o espaço nas melhores condições de higiene e de condições de nele se viver.
Finalmente, pode suceder que a ausência derive apenas de desinteresse do obreiro. É o que familiarmente designamos por "erro de casting"... Nessa situação, e porque a integração numa Loja maçónica é um ato estritamente voluntário, se se conclui que a Loja ou a Maçonaria não corresponde às expectativas do obreiro, razão geradora do seu desinteresse, só há uma forma de resolver a questão: a saída do obreiro de algo de que se desinteressou. Essa saída pode ser feita de duas maneiras: com honra e consideração mútuas, através do pedido de atestado de quite; ou, não havendo a consideração de pedir formalmente a desvinculação, mediante uma decisão de exclusão por parte da Loja.
Pode, por outro lado, suceder a verificação de falta de cumprimento das obrigações pecuniárias, designadamente falta ou atraso sensível no pagamento de quotas, por parte de obreiro que até cumpre os critérios de assiduidade. É uma situação que assume alguma gravidade para a Loja. Por um lado, porque esta tem de pagar à Grande Loja uma (importante) percentagem da quota mensal dos seus obreiros, independentemente da regularização desses pagamentos por eles - o que implica que os pagamentos das percentagens das quotas em atraso tem de ser satisfeito mediante o recurso aos fundos próprios da Loja, que são obviamente finitos. A não resolução atempada do problema cedo ou tarde conduziria a Loja à bancarrota. Por outro, porque, pura e simplesmente não é justo para os que pagam que se permita, sem medidas, que, podendo fazê-lo, outros assim não procedam.
A falta de cumprimento das obrigações pecuniárias normalmente resulta de uma de duas situações: dificuldades económica do obreiro ou desinteresse.
No caso de dificuldade económica do obreiro, dependendo da situação concreta, do grau de gravidade, da duração previsível da situação, opta-se por várias e diferentes medidas: estabelecimento de plano de pagamentos do atrasado, durante um período mais ou menos prolongado, até recuperação da situação, sendo que, estabelecido um plano de pagamentos, durante e mediante o seu cumprimento o obreiro é considerado em dia perante a Loja; assunção pela Loja da responsabilidade pecuniária do obreiro, mediante empréstimo sem prazo e sem juros, pelo Tronco da Viúva, do montante que for preciso, pelo tempo necessário, até que a sua situação económica melhore - quando estiver em condições para tal, o obreiro diligenciará o reembolso do Tronco da Viúva, como é apanágio dos homens livres e de bons costumes; nos casos mais graves e previsivelmente de indisponibilidade prolongada, pode o obreiro pretender pedir o seu atestado de quite (o que pressupõe que esteja quite) - nesses casos, o Tronco da Viúva assume, a título de empréstimo sem prazo e sem juros, o pagamento do que está em atraso, para que o obreiro possa receber o seu quite, e, se e quando puder pagar, pagará, se e quando puder e quiser regressar, regressará.
Só nos casos em que o incumprimento das obrigações pecuniárias ocorra por desinteresse ou falta de vontade de o fazer é que a Loja decide a exclusão do obreiro, de forma a deixar de ser responsável pelo pagamento à Grande Loja da capitação a ele referente.
Por muito bem que funcionem o Secretário o Tesoureiro, o Orador e o Hospitaleiro, é conveniente que, desejavelmente uma vez por ano, no mínimo de dois em dois anos, esta tarefa de verificação geral e resolução proativa dos problemas detetados seja feita. Só assim se tratam situações que deveriam já ter sido tratadas e que, por erro, negligência ou simples inércia estão por tratar, com risco de agravamento. Só assim, por iniciativa organizada da Loja, se obtém, por vezes, a noção de que um Irmão atravessa dificuldades e não revela tal facto aos seus Irmãos, seja por que razão seja. Só assim a Loja logra obter uma imagem global do que se passa com os seus obreiros, do que está a Loja a fazer para auxiliar os que necessitam de auxílio e do que tem de modificar ou diligenciar para bem cumprir o dever de Solidariedade que une todos os maçons.
Tal como nas nossas casas, a limpeza semestral ou anual não implica só deitar coisas fora, mas também detetar o que precisa de ser reparado e providenciar pela reparação e efetuar as mudanças que sejam convenientes, também a limpeza da Loja não se limita à exclusão daqueles que é necessário excluir. Muito mais há a fazer, para além disso: reparar o que houver a reparar, providenciar o que houver a providenciar, auxiliar o que se houver de auxiliar pela forma que se puder fazê-lo.
Tal como nas nossas casas, efetuar periodicamente a limpeza da Loja é imprescindível para o bom funcionamento desta e fortalece os laços entre todos.
Rui Bandeira