Relacionamento entre Corpos Maçónicos
Por contacto maçónico deve entender-se exclusivamente o respeitante à actividade maçónica stricto sensu, isto é, a participação, integração ou recepção em sessões RITUAIS, exclusivamente destinadas à participação de maçons e, assim, realizadas, como os maçons referem, a coberto dos profanos.
Tudo o resto não está coberto pela interdição. Não estão nela incluídos os ágapes brancos (isto é, em que é admitida a participação de profanos) ou mesmo as sessões cerimoniais brancas, pela simples razão de que, se tais eventos são abertos a profanos, por maioria de razão não são interditos a maçons de diversa tendência; não estão incluídos pela dita interdição quaisquer eventos organizados ou dinamizados ou participados por Corpos Maçónicos, Regulares ou Liberais, destinados ou abertos a profanos; não estão cobertos pela mencionada interdição os actos, organizações, projectos, etc., organizados pelas associações cívicas profanas que constituem o suporte legal ou que são participadas pelos Corpos Maçónicos, Regulares ou Liberais, porque, por definição, são eventos profanos.
Concordo com esta orientação. Conforme escrevi no texto A Regularidade Maçónica, reconhecer as diferenças, assumir a diferente natureza destas duas grandes tendências, admitir que não há UMA Maçonaria, antes DOIS tipos de Maçonaria - e que não há mal nenhum nisso! - é, no meu entendimento, essencial para que os elementos de cada uma das tendências viva proveitosamente aquela em que está inserido e se relacione fraternalmente com a outra. Admitido isto, sem complexos, facilmente entendemos que cada uma das tendências tem algo de único, de próprio, de íntimo. Esse algo deve ser reservado a ela própria e aos seus membros. Tal como cada um de nós preserva a sua vida íntima para si próprio e para com quem a compartilha. Em Maçonaria esse nível de intimidade corresponde às sessões rituais e respectivos ágapes. Faz-me, assim, sentido que essas sejam reservadas a quem compartilha comigo exactamente os mesmos princípios. Com maçons de outras orientações, o nível de relacionamento é diverso, mas seguramente diferente e mais próximo do que em relação ao Mundo Profano. Logo, excluído o ambiente exclusivamente destinado a meus Irmãos compartilhando comigo os mesmos princípios, é gratificante, é valioso, será porventura útil, ter um relacionamento especial também com maçons de outras orientações, mas respeitando o seu espaço próprio e preservando o meu. Assim, terei oportunidade de conviver e beneficiar dos ensinamentos de meu Irmão maçon de outra tendência em ágapes brancos, em sessões cerimoniais brancas (na sua casa, ou na minha), em organizações ou eventos de carácter profano, quiçá conjuntamente organizados (porque não?).
Em termos de imagem: com os conhecimentos normais, convivo fora de minha casa; aos meus familiares e amigos, recebo-os em minha casa e com eles compartilho a minha sala; o meu quarto, esse, reservo-o para quem é meu íntimo! E os meus amigos e familiares não se ofendem por eu reservar esse Santo dos Santos para mim e com quem partilho a minha intimidade. Igualmente não é razão de tristeza para meus Irmãos maçons de tendência diferente da minha que idêntica reserva eu faça na minha Vida Maçónica e que, similarmente, respeite tal reserva em relação a eles!
Tal reserva - que apenas distingue entre íntimos e próximos, mas que a ambos privilegia em relação a todos os demais - traduz apenas a aceitação da Realidade, das Similitudes e Diferenças que existem, de forma alguma um menor respeito ou consideração para com o Maçon de tendência diversa da minha.
Do meu ponto de vista, não há que nos lamentarmos por existir um pequeno espaço reservado unicamente aos maçons da mesma Obediência; há que aproveitar o enorme espaço de convivência, de cooperação, de afirmação dos princípios comuns, de que a Maçonaria e os maçons, independentemente das suas orientações, dispõem.
Rui Bandeira