17 março 2009

O último grau

Quando entrei na sala da Loja, privado de visão, ouvi a mais bela música que alguma vez ouvi. Não era uma música com que eu estivesse familiarizado, nem com o que a produzia, nenhum instrumento que eu pudesse identificar. Mas era, oh, tão pacífica, trespassava a minha alma e criava uma noção de harmonia e de acordo total.

Eu era energia arrastada ou conduzida em pensamento em torno da Loja por esta música, seguindo o que parecia um rumo ao acaso, mas, após oito repetições, fui capaz de discernir que havia quatro repetições de duas manobras, uma sendo um círculo e outra um triângulo . A repetição de manobras foi necessária, como mais tarde me foi explicado, para criar a imagem de um símbolo tridimensional para este grau. E este símbolo era um dos existentes na Câmara do Meio onde recebi este grau. O Esquadro e o Compasso continuavam a adornar o exterior do edifício da Loja, mas dentro deste edifício existia uma Câmara do Meio, onde Pirâmide e Globos eram os símbolos utilizados.

Pude mais tarde ver com o que se parecia este símbolo. Era uma pirâmide na qual estavam três Globos alinhados verticalmente, desde a ponta até a base. No Globo superior, havia uma pequena pirâmide apontando para baixo. O Globo do fundo tinha uma pirâmide apontando para cima e o Globo do meio tinha uma estrela de seis pontas tridimensional. O significado deste símbolo era que o espírito do Criador, Redentor e Protetor estava infundido no círculo da vida, o infindável ciclo de nascimento, morte, renascimento, a morte de novo, e novamente e de novo, até à eternidade. Também transportava o sentido da unidade, já que estamos todos juntos como um, unidos como seres que possuem todos uma partícula do Criador. O símbolo não estava preso a nada, antes surgia perante os olhos de quem estivesse em qualquer ponto da Câmara do Meio, sob a forma de um holograma.

Não houve nem apresentação de qualquer ferramenta, nem um juramento neste grau. Foi-me explicado que, na minha condição presente de ausente de tempo e de lugar, mas em todo o tempo e todo o lugar, as sanções, juramentos e promessas eram supérfluos.

Fui conduzido para o Sul, para o Oeste e, em seguida, para o Norte da Loja, onde, ainda com a minha energia diminuída e apenas capaz de ouvir, eu teria, no entanto, a visão necessária para ver um filme em holograma totalmente privado, visível apenas para mim. No Sul, recebi uma revisão de toda a minha vida. Foi-me mostrada num holograma retratando pessoas, lugares, eventos, acontecimentos e ocorrências, numa rápida e contínua sequência, terminando no momento da minha morte física.

No Ocidente, vi, como anteriormente num filme em holograma, todas as vezes que eu tinha inspirado outros e quando eu tinha sido gentil, compassivo, amoroso e humilde. Muitas vezes fiquei dominado pela emoção, pois o que me foi apresentado era tão vívido como o que eu sentira quando tinha ocorrido no passado e estava acontecendo novamente bem à minha frente. Existe um real significado para a palavra reviver.

Depois, no Norte revivi o lado negro de mim próprio, todas as vezes que eu tinha agido com um arrogante ego inchado, para afastar e ferir os outros, todas as minhas fraquezas, os meus pecados e as vezes que eu tinha desiludido os outros. Mais uma vez, foi invadido pelas lágrimas, ao pensar que eu tinha agido de tal forma. E é por isso que estes hologramas eram totalmente privados e só passíveis de serem vistos por mim, pois aqueles reunidos em torno de mim, não estavam ali para julgar, mas para apoiar. E eu sentia o calor do seu amor e carinho fraternais.

Tal como ocorrera nos meus graus terrenos, fui conduzido, sempre através do pensamento, para fora da Câmara do Meio, para a antecâmara, onde fui preparado para voltar a entrar, para a segunda parte do grau, a palestra.

O meu condutor, Hiram Abiff, restaurou-me a plena energia e, em seguida, falou-me. "Os teus graus terrenos ensinaram-te os méritos da tolerância e da ausência de preconceito", disse ele. "Mostraram-te a forma de desfrutar da paz, harmonia e convivência entre as pessoas de diferentes raças, religiões, culturas, orientações políticas e condições económicas. Agora vamos levar-te ainda mais longe nesse conceito, na palestra do último Grau. "

Fui readmitido na Câmara do Meio e conduzido para junto do Oriente. A imagem da Pirâmide e Globos estava sempre presente diante de mim, num holograma. Acolhendo-me no Oriente, estava uma mulher negra, de meia idade, talvez. O seu sentimento de amor fraterno e afeto era como um calor brilhante, que penetrava o meu espírito. Procedeu à palestra, lentamente e com significado.

"A lição do último grau é que a separação que flagela muitos na sua peregrinação terrena, aquela divisão pela qual cada um vê os outros como diferentes, menos dignos ou sem valor, e que o separa dos demais, é realmente uma separação de Deus. Sim, na realidade, existem diferenças reais na Terra. Cada homem e cada mulher na Terra é realmente feito de forma um pouco diferente e respondem de maneiras diferentes. Existem diferentes raças, culturas, credos e conceitos do Criador. Mas atribuir um valor sinistro a essas diferenças é usá-las para dividir, em vez de reunir e, em seguida, para ostracizar, assim criando uma separação. Levada ao extremo, esta separação progride da desconfiança para a suspeita, conduzindo ao desprezo e ao ódio, e, em última análise, ao extermínio ou limpeza étnica. Esta desunião é fruto do livre arbítrio da humanidade e não reflecte as intenções do Criador. Esta divisão, desunião e separação constituem a verdadeira historia de Adão e Eva e da queda do Homem. Porque é na desunião e separação humanas que reside a separação do Todo-Poderoso."

"Reviste na tua Iniciação na Loja Celestial tudo que fizeste na tua vida humana na Terra. Reviveste as alturas em que permitiste que os teus medos dos outros e das suas diferenças te separaram deles. E reviveste as alturas em que não teres ligado a essas diferenças te pôs em harmonia com os demais."

"Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra, se experimente a si próprio. Viver a "vida piedosa" é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos."

"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio."

"A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre "na unidade do Espírito Santo." SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento."

Texto da autoria do Irmão Frederic L. Miliken, originalmente publicado no excelente sítio maçónico Freemason Information, colocado em BEE HIVE, e, com a devida autorização do seu autor, traduzido e aqui publicado por

Rui Bandeira

15 comentários:

José Carlos Soares disse...

Acho que a teoria do grão de bico alicerçado na fundamentação cubista da unidade, exorcizada pelo demoníacos itens da batata doce em consonância com as luzes do além.
Alguém pode contrariar esta minha teses fundamentada nos escritos de Adolfo que consideram os maçons almas do demónio e os judeus os seus enviados?
se alguém me responder estará mais tonto que eu...

Paulo M. disse...

@ José Carlos Soares: (...) ;)

@ Rui: De Protágoras conhecemos a posição: πάντων μέτρον ἄνθρωπος. Não sei se os Troianos têm alguma quanto a este assunto. Agora é evidente que esta história dá piruetas e mortais para tentar agradar a uns e a outros - dos teístas aos humanistas.

Plagiando o José Ruah:
9.0 pela imaginação
4.5 pela verosimilhança

Não me identifico com esta curiosa e sincrética (para não dizer herética) efabulação, que mais do que panteísta é antropoteísta. Não imagino que seja assim. Mas mesmo assim - ou talvez por isso mesmo - gostei.

Um abraço,
Simple

Diogo disse...

Concordo com o Soares e com o Simple: o texto do artigo é intragável.

Nuno Raimundo disse...

Boas...


é pá!

Não vi nada de errado no texto com foi mencionado, mas como sou profano pode ser que não tenha conseguido ler o texto nas entrelinhas.
Achei o texto uma metáfora a um ritual qualquer.
Se estiver errado, que me corrijam.

abr...prof...

Jose Ruah disse...

Este texto que aparece em seguimento ao de ontem, deve ser lido com ideia de que se trata de um conto / fabula escrito por F. Milliken.

Reflecte as ideias dele e conta uma história do imaginario dele.

Enquanto ontem se esgrimiam argumentos sobre a primeira parte, hoje vejo uma consonancia de atitude.

O valor simbolico desta historieta, é aquele que cada um lhe quiser dar.

A fabula de F. Milliken vale o que vale e nada mais, e se ontem tivessem percebido que aquela era apenas a 1º parte teriam seguramente contido a verborreia e esperado pelo final para depois poderem falar abalizadamente sobre o conteudo da fabula que afinal era outro(s) do que aquele que parecia.

A paciencia, nao sendo infinita, é boa conselheira.

Rui Bandeira disse...

@ jos+e carlos soares, simple e Diogo:

Há textos que viram o Mundo ao contrário! O rei da ironia fez um comentário sem ponta da dita e os príncipes ga análise séia e fundamentada converteram.se ao flic-flac e triplo salto mortal da ironia!!!

Acho que o meu próximo texto (que já está escrito) vos escandalizará de vez!

@ NuNo_R:

Bem observado! Não no próximo texto, mas no seguinte que aindanão está escrito, mas já está pensado), verá até que ponto!

@ Jose Ruah:

Tens razão. a paciência é boa conselheira. Mas há que reconhecer que isto de ser macaco de rabo pelafo dá alguma vantagem...
Mei caro, não somos os dois Velhos Marretas em vão!

Boa noite a todos. Amanhá há mais! Tome-oo por promessa quem assim o queira entenser e por ameaça os outros...

Jose Ruah disse...

@Rui

Pois isto de ser Velho Marreta tem as suas vantagens.

Cá aguardo o teu texto

Diogo disse...

Sobre as leituras que tenho feito sobre a maçonaria, encontrei isto:

General Albert Pike wrote those words in a work called Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, 1871. At the time his title was The Sovereign Grand Commander of the Supreme Council of the Scottish Rite in Washington D.C.:

“Masonry, like all the Religions, all the Mysteries, Hermeticism and Alchemy, conceals its secrets from all except the Adepts and Sages, or the Elect, and uses false explanations and misinterpretations of its symbols to mislead those who deserve only to be misled ...”

“The Blue Degrees are but the outer court or portico of the Temple. Part of the symbols are displayed there to the Initiate, but he is intentionally misled by false interpretations. It is not intended that he shall understand them; but it is intended that he shall imagine he understands them. Their true explication is reserved for the Adepts, the Princes of Masonry.” (pp. 104, 105 & 819)

Jose Ruah disse...

E encontrou muito bem.
E se procurar mais encontra mais.

Paulo M. disse...

"Concordo com o Soares e com o Simple: o texto do artigo é intragável."

O Diogo tem-se revelado um mestre na arte de dar ao que se diz sentido diverso daquele com que foi dito. Estranhamente, até o Ruah vê consonâncias onde elas não existem. Para que fique claro: traguei o texto muito bem, e não me arranhou a garganta. Até disse que gostei... Só disse que não me identificava com ele, mas mal seria se tivesse que me identificar com tudo aquilo de que gosto: não poderia gostar da minha mulher que tão diferente é de mim...

Enquanto o Rui não nos dá mais com que nos entretermos, convido-vos a ler dois pequenos contos de Asimov. Podem encontrá-los ambos aqui. O primeiro é "A última pergunta" (pág. 159), escolhido pelo próprio Asimov como o preferido de quantos escreveu. O segundo é "A última resposta" (pág. 230). Ambos podem ser lidos no original aqui: "The last question" e "The last answer"). Note-se que Asimov era ateu convicto (e militante!), e um homem da ciência. Em ambos os contos trata, de formas totalmente distintas, o tema da eternidade. Considero ambos fantásticos.

Arrisco que o Diogo apreciará muito mais a leitura destes do que a de textos esotéricos escritos e defendidos por pessoas com cujas ideias e princípios não se identifica...

Simple

Paulo M. disse...

@Rui: Esse arrazoado de gralhas é do teclado ou é dos dedos? Tenho muito gosto em oferecer-lhe um teclado novo se for caso disso; agora uns dedos novos é que é mais difícil... :)

Abraço,
Simple

Rui Bandeira disse...

@ simple:

Nem teclado, nem dedos. Sono!!!

Rui Bandeira disse...

@ Diogo:

Tenha paciência. Para esse peditório já dei!

Diogo disse...

Rui: «Tenha paciência. Para esse peditório já dei!»


É uma forma simpática de não responder.

José Carlos Soares disse...

Mas querem lá ver que agora temos aqui um poderoso "Mind Reader"?
Onde é que no meu brilhante comentário eu digo que o texto "é intragável"?
O Rui no dia em escrever um texto intragável algo de muito grave terá acontecido. Intragáveis são o tradicionais "bota-abaixo" que vêm para aqui comentar.
P.S. Soares é o meu pai, eu sou José Carlos Soares. Zé para os amigos, Zé Carlos para os conhecidos e Dr. José Carlos Soares para os outros. A família trata-me por Zé Gordo e alguns amigos também.
Fui matar uma galinha preta e fazer uma cabidela.
Rui: adorei a do rei da ironia...eheheheheh