08 fevereiro 2008

O cão e o coelho

O texto que hoje aqui vos deixo é uma adaptação minha de um texto, de origem desconhecida, que circula por aí. Já o recebi várias vezes. Provavelmente alguns de vós também já o receberam mais de uma vez. Mas talvez agora, sem imagens, apenas com o texto, propicie a reflexão que merece. Enquanto procurava uma imagem para ilustrar o tema, verifiquei que já vários blogues publicaram variantes deste texto. É bom sinal: é sinal que vem tocando a muita gente. Também tem lugar aqui!

Era uma vez dois vizinhos. O primeiro vizinho comprou um coelhinho para os seus filhos cuidarem e com ele brincarem. Os filhos do outro vizinho pediram então ao pai que também ele lhes arranjasse um animal para eles cuidarem e com que pudessem brincar. O pai comprou-lhes um cão, um pastor alemão.

O primeiro vizinho mostrou-se preocupado que o cão pudesse vir a comer o coelho. O segundo vizinho sossegou-o, dizendo que certamente não iria haver qualquer problema, pois adquirira o cão ainda cachorro e este iria crescer habituado com o coelho e seriam bons amigos e companheiros de brincadeira, como os filhos de ambos os vizinhos eram.

E aparentemente o dono do cão tinha razão: ambos os animais cresceram juntos e tornaram-se amigos e companheiros de brincadeira. Era normal encontrar o coelho no quintal do cão e este no daquele.

Um dia, a família que tinha o coelho foi passar o fim de semana fora e deixou ficar o coelho sozinho.

Na tarde de domingo, a família que tinha o pastor alemão viu-o, horrorizada, entrar na cozinha segurando entre os dentes o cadáver imundo, sujo de terra, do coelho. Desgostados, deram uma tareia monumental ao cão.

Diziam uns para os outros que afinal o vizinho tinha razão nos seus receios e certamente iria culpá-los e responsabilizá-los pela morte do coelho. Decidiram procurar ocultar o acto do seu cão. Lavaram o cadáver do coelho, secaram-lhe o pêlo com o secador, deixaram-no limpinho e bem parecido e assim o puseram na sua casota, no quintal do vizinho. Parecia vivo e apenas dormindo uma soneca. Talvez os vizinhos pensassem que morrera durante o sono...

Entretanto, o cão, abandonado a um canto, desprezado, lambia tristemente as feridas e as pisaduras que sofrera com a grande sova que levara.

Pouco depois, sentiram chegar, regressada da viagem de fim de semana, a família dona do coelho. E alguns minutos após, ouviram as crianças a gritar. Já viram o coelho! - pensaram.

Cinco minutos depois, o vizinho batia-lhes à porta. Estava assustado. Parecia que tinha visto um fantasma. Estava branco como a cal da parede...

- O que foi? Que cara é essa?

- O coelho, o coelho...!

- Que tem o coelho?

- Morreu...!

- Morreu? Ainda hoje de manhã parecia tão bem...

- Morreu na sexta-feira!

- Na sexta???

- As crianças enterraram-no ao fundo do quintal, antes de partirmos de fim de semana. E agora reapareceu na casota, lavado e limpinho...!

A história termina aqui. O que aconteceu depois não importa! Mas a grande personagem da história é o pastor alemão. Imaginem-no, procurando ansiosamente desde sexta-feira o seu amiguinho coelho. Finalmente, na tarde de domingo, graças ao seu faro, encontrou o local onde estava enterrado. Escava-o, retira de lá o corpo do coelho e leva-o aos donos, talvez confiante e esperançado em que estes o conseguissem reanimar e fazer reviver...

Mas estes, que fizeram? Julgaram pelas aparências. Ignoraram todo o tempo de concórdia entre os dois animais. Julgaram! E julgaram mal! Porque não julgaram com todos os factos, antes com os seus preconceitos! Mas não se coibiram de julgar, de condenar e de castigar...

Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações, julgando-nos donos da verdade! E quantas vezes esse nosso injusto julgamento prejudica, fere alguém, assim vítima da nossa injustiça?

Que esta pequena história venha à mente de quem a ler sempre que estiver à beira de fazer um juízo precipitado e, talvez, injusto. E o faça respirar fundo, pensar melhor, informar-se mais, ponderar toda a informação. E continuará a poder então decidir! Porventura um pouco de calma e ponderação evitarão injustiças causadas por precipitação. E, afinal de contas, se houver culpados a punir, não serão mais uns momentos de ponderação, mais umas diligências de confirmação ou obtenção de dados, que impedirão a punição, agora com maior certeza de que não será injusta!

Rui Bandeira

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