A indumentária do maçon em Loja
Esse código de vestuário varia de Obediência para Obediência, até de Loja em Loja, pode variar consoante as estações do ano e busca, essencialmente, garantir dois objectivos: o pontuar do decoro e da dignidade da presença do maçon em Loja e a manifestação do princípio, básico da Maçonaria, da Igualdade, pela semelhança da apresentação de todos os seus elementos, qualquer que seja a sua origem, posição social ou fortuna.
A exigência do uso de determinado tipo de vestuário marca, em primeiro lugar, que a presença em Loja deve ser, para o maçon um acto digno, um evento importante, na sua vida. Não se vai à Loja como se vai à praia, ou se está descontraidamente num churrasco com os amigos. Está-se com amigos, entre Irmãos, está-se descontraído, mas não em lazer, antes em trabalho - no mais digno trabalho do Homem, o auto-aperfeiçoamento.
Por outro lado, em Maçonaria todos são Iguais. Iguais perante o Grande Arquitecto do Universo, iguais porque todos imperfeitos, iguais porque buscando o mesmo objectivo, iguais na entreajuda. O uso de vestuário similar ilustra essa igualdade de condição. Em Loja todos se apresentam de forma muito semelhante. Não será pelo que cobre cada maçon em Loja que se distinguirá o pobre do rico, o letrado do trabalhador manual, o bem-nascido do que sobe na vida a pulso.
O código de vestuário varia bastante de Obediência para Obediência, em função da cultura, do meio envolvente, dos hábitos sociais, desde a maior exigência à maior descontracção. Na Loja onde fui iniciado, a minha Loja-mãe, a Loja Miguel de Cervantes y Saavedra, Loja trabalhando (mais ou menos) em língua castelhana, integrada na Grande Loja dos Maçons Antigos Livres e Aceites da Alemanha e reunindo ao Oriente de Bona, o código de vestuário era estrito e exigente: só se podia comparecer em Loja de smoking! Essa era a regra naquela Obediência e é a regra em outras, sobretudo nos países mais ricos (e de climas menos quentes...). Nos Estados Unidos, país grande e diversificado, o código de vestuário varia de Grande Loja para Grande Loja e até de Loja para Loja, muito em função da localização, ambiente e cultura envolventes. Aqui exige-se smoking, ali demanda-se fato escuro, acoli exige-se smoking aos Oficiais da Loja, mas os demais membros podem comparecer apenas trajando fato escuro, acolá basta uma camisa lavada e botas limpas, que o meio é rural e é tudo gente de trabalho no campo, sem tempo nem disposição para grandes aperaltos...
Nas Lojas da GLLP/GLRP, o maçon deve apresentar-se trajando de fato escuro (preto, azul ou cinzento escuro), camisa branca lisa e gravata preta ou laço da mesma cor. É, porém, permitida a utilização de "traje de Verão", constituído por calças escuras (pretas, azuis ou cinzentas escuras), camisa branca e laço preto ou gravata preta. A utilização de traje de Verão ocorre por decisão do Venerável Mestre da Loja e decorre, obviamente, da temperatura ambiente na altura da reunião. Recentemente, foi admitida também a utilização de balandrau negro, cobrindo todo o vestuário, caso em que deixa de existir qualquer especificação quanto ao vestuário coberto. Esta possibilidade foi introduzida em resposta à necessidade de ultrapassar as dificuldades que vários obreiros sentiam quando as reuniões têm lugar em horário imediatamente a seguir ao horário laboral. Efectivamente, muitos Irmãos não tinham tempo para, terminado o seu horário de trabalho, irem a casa mudar de roupa e chegar pontualmente ao local de reunião. Com o uso de balandrau negro, cobrindo a roupa que foi usada no dia de trabalho, qualquer que ela seja, assegura-se as desejadas dignidade e similitude, ultrapassando-se o problema.
Maçonaria é também isto: o respeito pela Tradição com adaptação às exigências do tempo e do lugar.
Rui Bandeira
7 comentários:
Há um ano atrás ( mais ou menos) neste post
http://a-partir-pedra.blogspot.com/2006/12/o-pai-natal-maon.html
O Rui ja falava da indumentaria.
Nele refere a "Exceptio Pelicanum".
Pois se tiver um tempinho tentarei dissertar sobre esta excepçao.
Post scriptum
Tou ausente mas nao tou longe !!!!!
Como desconhecia o aspecto de um balandrau, procurei uma fotografia de um, e encontrei uma aqui . Curiosamente, é muito parecido com as batinas dos sacerdotes católicos, e faz lembrar as togas dos advogados e as becas dos magistrados - de quem se vê, por vezes, a calcita de ganga por debaixo - que cumprem, também, o propósito descrito como sendo o do balandrau. Terão a mesma origem?
Por outro lado, parece haver várias especificações para o comprimento do balandrau, desde "abaixo do joelho" a "até aos calcanhares". Qual é o modelo usado na Loja Mestre Affonso Domingues?
Abraços,
Simple Aureole
@ simple:
Creio que o propósito do uso de balandrau, da toga, da beca e da batina é efectivamente similar: uniformizar um dado conjunto de pessoas, distinguir essas das demais.
Não existe propriamente uma norma quanto ao tamanho do balandrau. De forma geral, deve ser prático de usar e de caminhar com ele. Deverá ficar um pouco acima do tornozelo. Mas note-se que um balandrau pode ser usado, em ocasiões diferentes, por várias pessoas, com diferentes alturas e compleições físicas, o que, naturalmente, fará com que "vista" de maneira diferente. Não exageremos nos detalhes...
bOAS ....
Aproveitando a questão do ºsimple,
Existe uma aderência grande por parte dos maçons no uso do balandrau, ou a maioria prefere usar o "traje típico"?
Pelo que li em espaços brasileiros, nem todos estão de acordo com o uso do mesmo.
Mas compreendo e muito bem a necessidade do uso do balandrau e até concordo com ela.
abr...prof...
@ nuno_r:
O uso de balandrau na GLLP/GLRP é muito recente. Na Loja Mestre Affondo Domingues, até agora, só um Irmão visitante o usa e eu próprio já usei uma ou duas vezes a minha toga, como balandrau mais sofisticado...
Mas, à saída da última reunião, nada mais, nada menos do que cinco Irmãos me manifestaram o seu propósito de adquirir um balandrau, precisamente para evitar que tenham de ir a casa mudar de roupa e possam ir directamente do trabalho para a reunião, aos dias de semana.
Tanto quanto me apercebo, penso que o estado de espírito geral é, de preferência, usar o "traje típico", mas agrada a ideia de se poder utilizar o balandrau, sempre que as circunstâncias impeçam a primeira hipótese.
Boas...
Agradeçoa resposta.
Mas tendo a Maçonaria um carácter conservador no que toca a tradições, percebo que seja sempre preferivel usar o "traje tipico" em detrimento do balandrau, que se use somente em casos que não seja possivel a deslocação a casa e que assim facilite a vida de cada um.
abr...prof...
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