O Vigésimo Oitavo Venerável Mestre
O elemento que a Loja unanimemente - como é habitual na Loja Mestre Affonso Domingues - escolheu para assegurar a responsabilidade de a dirigir no ano maçónico de 2016/2017 foi António M..
António M. era um veterano da Loja que a tinha deixado há alguns anos atrás, para colaborar no lançamento de uma nova Loja e que, estabilizada a mesma, regressara a casa, à sua Loja-Mãe, à Mestre Affonso Domingues.
A sua antiguidade, a sua qualidade, mas também a sua disponibilidade para ajudar a dar vida a um novo projeto e, quando esse já estava apto a dele não necessitar, retornar à sua Loja, faziam dele o homem certo no momento certo para dirigir a Loja, no consensual juízo desta. Com efeito, no ano anterior houvera alguma turbulência e desencontro de opiniões, que se esperava que a experiência de António M. ajudasse a ultrapassar. Após um período de debates acesos e persistentes, a Loja ansiava por algum sossego e concórdia. Mas, mais uma vez, a perceção que se tinha da realidade era incompleta e, logo, errada.
O que sucedera no ano anterior não fora conjuntural, antes - só mais tarde se percebeu - fora o afloramento de uma divergência de conceções de que ainda nos não apercebêramos, ao menos na sua completa extensão.Não bastaria tratar, disfarçar ou adiar a eclosão dos sintomas.Viria a ser necessário identificar e encarar de frente o problema - e resolvê-lo.
Ao contrário do que esperávamos, o ano de António M. não iria ser de acalmia. Pelo contrário, foi o ano em que a crise se iria manifestar com toda a força sobre a Loja, qual alterosa onda que se abatia sobre a linha de costa, com fragor e fúria.
Um pequeno incidente, logo no início do mandato de António M., desencadeou uma sucessão de eventos e de reações, que rapidamente se tornou desproporcionada, com diferentes formas, de difícil controlo e - teríamos de o aceitar, ainda durante esse ano - com consequências inevitáveis.
Habitualmente, no início do mandato de um novo Venerável apresentam-se os relatórios da atividade do ano anterior. Um desses relaórios foi elaborado por um dos Oficiais que não se conformara com uma decisão do Venerável anterior - e que expressou isso mesmo no seu relatório. Gerou-se uma imediata reação por parte de vários elementos da Loja, que declararam a sua discordância com tal relatório, não só porque tomada decisão pelo Venerável Mestre fica o assunto encerrado, não cabendo continuar alguém a insistir em pôr em causa a decisão tomada, como porque, no caso concreto, a decião que se persistia em contestar fora ratificada e assumida pela Loja. O relatório em causa foi retirado e não foi sequer submetido a votação.
Mas um antigo e influente elemento da Loja achou que António M. tinha também direta responsabilidade na apresentação do relatório rejeitado, pois certamente dele tivera conhecimento prévio à sua proposta à Loja e, se não instruíra o autor da proposta de relatório para a alterar era porque concordava com a mesma e com a acesa crítica ao seu antecessor. E decidiu que, a partir daí, iria opor-se ativamente ao Venerável. De nada serviu argumentar com ele que, com essa atitude, estava a ter exatamente a mesma postura que recriminara aos que tinham expressado a sua discordância em relação ao Venerável anterior.
Agora em novos moldes, reeditava-se o cenário de dois grupos internos da Loja se oporem quanto ao apoio ou desapoio ao Venerável Mestre em exercício! Mas o que, no ano anterior, pudera, apesar de tudo, ser tratado como um incidente infeliz, mas isolado, agora perfilava-se com uma gravidade maior. Agora verificava-se que um peso pesado da Loja direta e persistentemente afrontava o Venerável Mestre e fazia-o em praticamente todas as reuniões da Loja, a propósito de tudo e de nada. A lógica era que o Venerável Mestre integrava um grupo e outro grupo tinha que se lhe opor, se necessário fosse até que os outros saíssem da Loja... Efetivamente, num primeiro momento, havia quem visse com bons olhos o desafio ao Venerável Mestre e quem optava pelo suporte ao Venerável Mestre que por todos fora eleito. Durante um bom par de meses, o debate foi constante, a argumentação intensa, o cenário de uma luta fraticida apresentava-se. Mas um observador atento poderia verificar que, se era verdade que havia dois pequenos grupos a digladiarem-se, se havia pesos pesados de um e de outro lado, havia também uma maioria da Loja que assistia silenciosa e com um crescente desagrado ao deplorável espetáculo.
Pouco a pouco, o sentimento de desencanto com a situação de confronto na Loja foi aumentando. Mesmo alguns que inicialmente trocavam argumentos se foram apercebendo que o caminho que se trilhava não levava a nada de bom, que se podia ganhar discussões, mas que se perdia a coesão da Loja. Vária alertas foram sendo lançados. Uma Loja maçónica não deveria ser encarada como uma assmbleia onde se usa a oratória para fazer vencer a sua posição. Havia que estancar a obsessão pelo debate pelo debate, pela discussão sem fim, pela cegueira de ganhar discussões. O facto de porventura alguma vez se conseguir convencer uma maioria ou fazer calar uma oposição não dava qualquer garantia de que se estivesse a ter a posição e a atitude corretas. Pouco a pouco, vários dos elementos mais antigos a Loja foram dando conta do seu crescente desconforto, do seu entendimento de que havia, de uma vez por todas, que entender que processo de decisão, a troca de ideias, o confronto delas, numa Loja maçónica se faz em plano diverso - para melhor! - do que o que ocorre numa vulgar assembleia de condomínio. Pouco a pouco, um a um, todos foram evoluindo para uma postura de evitar o conflito , de não fomentar discussão.
Infelizmente, o tal antigo e influente elemento da Loja, por obstinação ou por erradamente ter tomado o crescente silêncio dos demais em relação aos seus ataques ao Venerável Mestre por concordância com eles, só se apercebeu da fadiga da Loja em relação à sua postura de ataque e confronto, quando estava praticamente só prosseguindo uma luta que parecia só ele querer prosseguir. Ao verificar que praticamente todos, mesmo antigos companheiros de muitos anos de Loja, discordavam do seu combate, não se limitou apenas a cessá-lo. Entendeu por bem sair da Loja, transferido-se para outra.
Foi a primeira baixa de peso que a Loja sofreu no meio e em virtude da sua crise. Lamentavelmente. Mas, mais impressivo ainda, o sentimento que a Loja teve com aquela saída foi, na altura, de alívio, de esperança que tal desfecho permitisse finalmente o restabelecimento da paz e da harmonia na Loja.
Muitos anos de amizade e de cumplicidade foram abalados com esta saída e as circunstâncias dela. Felizmente, sem problemas de maior e que não fossem remediados com a simples passagem do tempo, grane nivelador que a todos ajuda a perspetivar o que a certa altura parecia altaneiro penhasco como afinal a minúscula e natural elevação de terreno que apenas era. Hoje, e na tradição da Loja Mestre Affonso Domingues, esse antigo e influente elementos, agora noutro projeto, continua e continuará a ser pela Loja visto como um dos nossos e, quando necessário, já deu, continua a dar e não regateia a sua preciosa colaboração à Loja. Nisso, a Loja não mudou - e espera-se que nunca mude: Um vez um de nós, sempre um dos nossos!
Mas o período de turbulência na Loja, afinal já com mais de um ano de vigència e sucedendo a três ou quatro anos de instabilidades casuisticamente remediadas veio ainda a cobrar à Loja mais um alto preço. Um grupo de obreiros da Loja, desagradados com o que se estava passando, fartos de controvérsias, desiludidos nos seus andeios, decidiu sair em conjunto da Loja e iniciar um outro projeto. De nada valeu o tempo de acalmia que finalmente se lograra atingir. O período de instabilidade fora longo e fizera nascer e amadurecer o seu projeto de formação de nova Loja. Para a Loja Mestre Affonso Domingues, o golpe era rude: tratava-se de um grupo de obreiros que, entrados quase todos ao mesmo tempo, a Loja formara em conjunto, em conjunto fomentara o seu espírito de corpo e, jovens Mestres, neles depositava a esperança de lhes transmitir, a muito curto prazo, as rédeas da administração da Loja. Mas nada havia a fazer, a decisão fora tomada - afinal, a Loja fizera um bom trabalho na criação do espírito de corpo desses elementos...
Tendo tomado conhecimento do propósito de saída de alguns elementos para formarem outro projeto, a Loja Mestre Affonso Domingues, não obstante o golpe que para si isso constituia, teve a lucidez de compreender que a sua melhor atitude era nenhum obstáculo colocar a esse projeto, afinal a livre expressão da livre vontade de vários elementos. Pelo contrário, viabilizou e facilitou institucionalmente o nascimento da nova Loja, afinal, mais uma nascida sob os auspícios da Mestre Affonso Domingues.
A Loja ficou mais pequena e, sobretudo, perdeu alguns elementos valiosos. Mas estes dois acontecimentos consolidaram na mente de todos os que permaneceram que havia que rever processos, que mudar posturas, que redefinir prioridades na Loja. E, rápida e consensualmente, assim se fez. O final do mandato de António M. foi pacífico e, sobretudo, im tempo de produtivo trabalho da Loja. Os princípios e valores da Maçonaria foram relembrados, o trabalho de aperfeiçoamento individual dos obreiros da Loja retomado. A doença aguda foi vencida, o processo de convalescença iniciou-se.
António M. apanhou em cheio com a crise da Loja. Mas teve a lucidez, o sangue-frio e a calma de segurar firmemente o seu leme. Posto forte e repetidamente em causa, não vacilou e manteve-se firme no cumprimento do mandato que lhe foi confado. Fez o que tinha a fazer, quando tinha que o fazer. Não exacerbou conflitos, apelou sempre à fraternidade. Suportou o temporal e, quando ele passou, guiou a barca da Loja com imperturbável serenidade. Navegou à vista e, nos momentos de maior perigo, em que muitos viam escolhos que poderiam conduzir a Loja a infausto naufrágio, soube escolher o rumo certo, apoiar-se na experiência de muitos dos que, como ele, queriam preservar o projeto da Loja Mestre Affonso Domingues e conduzir a Loja para mar calmo, sem rombos irremediáveis, e soube propiciar o início da reparação dos inevitáveis estragos.
António M. recebeu uma Loja alvoroçada e passou ao seu sucessor uma Loja apaziguada Só por isso, merece lugar de destaque na Memória da Loja Mestre Affonso Domingues!
Rui Bandeira
Mas um antigo e influente elemento da Loja achou que António M. tinha também direta responsabilidade na apresentação do relatório rejeitado, pois certamente dele tivera conhecimento prévio à sua proposta à Loja e, se não instruíra o autor da proposta de relatório para a alterar era porque concordava com a mesma e com a acesa crítica ao seu antecessor. E decidiu que, a partir daí, iria opor-se ativamente ao Venerável. De nada serviu argumentar com ele que, com essa atitude, estava a ter exatamente a mesma postura que recriminara aos que tinham expressado a sua discordância em relação ao Venerável anterior.
Agora em novos moldes, reeditava-se o cenário de dois grupos internos da Loja se oporem quanto ao apoio ou desapoio ao Venerável Mestre em exercício! Mas o que, no ano anterior, pudera, apesar de tudo, ser tratado como um incidente infeliz, mas isolado, agora perfilava-se com uma gravidade maior. Agora verificava-se que um peso pesado da Loja direta e persistentemente afrontava o Venerável Mestre e fazia-o em praticamente todas as reuniões da Loja, a propósito de tudo e de nada. A lógica era que o Venerável Mestre integrava um grupo e outro grupo tinha que se lhe opor, se necessário fosse até que os outros saíssem da Loja... Efetivamente, num primeiro momento, havia quem visse com bons olhos o desafio ao Venerável Mestre e quem optava pelo suporte ao Venerável Mestre que por todos fora eleito. Durante um bom par de meses, o debate foi constante, a argumentação intensa, o cenário de uma luta fraticida apresentava-se. Mas um observador atento poderia verificar que, se era verdade que havia dois pequenos grupos a digladiarem-se, se havia pesos pesados de um e de outro lado, havia também uma maioria da Loja que assistia silenciosa e com um crescente desagrado ao deplorável espetáculo.
Pouco a pouco, o sentimento de desencanto com a situação de confronto na Loja foi aumentando. Mesmo alguns que inicialmente trocavam argumentos se foram apercebendo que o caminho que se trilhava não levava a nada de bom, que se podia ganhar discussões, mas que se perdia a coesão da Loja. Vária alertas foram sendo lançados. Uma Loja maçónica não deveria ser encarada como uma assmbleia onde se usa a oratória para fazer vencer a sua posição. Havia que estancar a obsessão pelo debate pelo debate, pela discussão sem fim, pela cegueira de ganhar discussões. O facto de porventura alguma vez se conseguir convencer uma maioria ou fazer calar uma oposição não dava qualquer garantia de que se estivesse a ter a posição e a atitude corretas. Pouco a pouco, vários dos elementos mais antigos a Loja foram dando conta do seu crescente desconforto, do seu entendimento de que havia, de uma vez por todas, que entender que processo de decisão, a troca de ideias, o confronto delas, numa Loja maçónica se faz em plano diverso - para melhor! - do que o que ocorre numa vulgar assembleia de condomínio. Pouco a pouco, um a um, todos foram evoluindo para uma postura de evitar o conflito , de não fomentar discussão.
Infelizmente, o tal antigo e influente elemento da Loja, por obstinação ou por erradamente ter tomado o crescente silêncio dos demais em relação aos seus ataques ao Venerável Mestre por concordância com eles, só se apercebeu da fadiga da Loja em relação à sua postura de ataque e confronto, quando estava praticamente só prosseguindo uma luta que parecia só ele querer prosseguir. Ao verificar que praticamente todos, mesmo antigos companheiros de muitos anos de Loja, discordavam do seu combate, não se limitou apenas a cessá-lo. Entendeu por bem sair da Loja, transferido-se para outra.
Foi a primeira baixa de peso que a Loja sofreu no meio e em virtude da sua crise. Lamentavelmente. Mas, mais impressivo ainda, o sentimento que a Loja teve com aquela saída foi, na altura, de alívio, de esperança que tal desfecho permitisse finalmente o restabelecimento da paz e da harmonia na Loja.
Muitos anos de amizade e de cumplicidade foram abalados com esta saída e as circunstâncias dela. Felizmente, sem problemas de maior e que não fossem remediados com a simples passagem do tempo, grane nivelador que a todos ajuda a perspetivar o que a certa altura parecia altaneiro penhasco como afinal a minúscula e natural elevação de terreno que apenas era. Hoje, e na tradição da Loja Mestre Affonso Domingues, esse antigo e influente elementos, agora noutro projeto, continua e continuará a ser pela Loja visto como um dos nossos e, quando necessário, já deu, continua a dar e não regateia a sua preciosa colaboração à Loja. Nisso, a Loja não mudou - e espera-se que nunca mude: Um vez um de nós, sempre um dos nossos!
Mas o período de turbulência na Loja, afinal já com mais de um ano de vigència e sucedendo a três ou quatro anos de instabilidades casuisticamente remediadas veio ainda a cobrar à Loja mais um alto preço. Um grupo de obreiros da Loja, desagradados com o que se estava passando, fartos de controvérsias, desiludidos nos seus andeios, decidiu sair em conjunto da Loja e iniciar um outro projeto. De nada valeu o tempo de acalmia que finalmente se lograra atingir. O período de instabilidade fora longo e fizera nascer e amadurecer o seu projeto de formação de nova Loja. Para a Loja Mestre Affonso Domingues, o golpe era rude: tratava-se de um grupo de obreiros que, entrados quase todos ao mesmo tempo, a Loja formara em conjunto, em conjunto fomentara o seu espírito de corpo e, jovens Mestres, neles depositava a esperança de lhes transmitir, a muito curto prazo, as rédeas da administração da Loja. Mas nada havia a fazer, a decisão fora tomada - afinal, a Loja fizera um bom trabalho na criação do espírito de corpo desses elementos...
Tendo tomado conhecimento do propósito de saída de alguns elementos para formarem outro projeto, a Loja Mestre Affonso Domingues, não obstante o golpe que para si isso constituia, teve a lucidez de compreender que a sua melhor atitude era nenhum obstáculo colocar a esse projeto, afinal a livre expressão da livre vontade de vários elementos. Pelo contrário, viabilizou e facilitou institucionalmente o nascimento da nova Loja, afinal, mais uma nascida sob os auspícios da Mestre Affonso Domingues.
A Loja ficou mais pequena e, sobretudo, perdeu alguns elementos valiosos. Mas estes dois acontecimentos consolidaram na mente de todos os que permaneceram que havia que rever processos, que mudar posturas, que redefinir prioridades na Loja. E, rápida e consensualmente, assim se fez. O final do mandato de António M. foi pacífico e, sobretudo, im tempo de produtivo trabalho da Loja. Os princípios e valores da Maçonaria foram relembrados, o trabalho de aperfeiçoamento individual dos obreiros da Loja retomado. A doença aguda foi vencida, o processo de convalescença iniciou-se.
António M. apanhou em cheio com a crise da Loja. Mas teve a lucidez, o sangue-frio e a calma de segurar firmemente o seu leme. Posto forte e repetidamente em causa, não vacilou e manteve-se firme no cumprimento do mandato que lhe foi confado. Fez o que tinha a fazer, quando tinha que o fazer. Não exacerbou conflitos, apelou sempre à fraternidade. Suportou o temporal e, quando ele passou, guiou a barca da Loja com imperturbável serenidade. Navegou à vista e, nos momentos de maior perigo, em que muitos viam escolhos que poderiam conduzir a Loja a infausto naufrágio, soube escolher o rumo certo, apoiar-se na experiência de muitos dos que, como ele, queriam preservar o projeto da Loja Mestre Affonso Domingues e conduzir a Loja para mar calmo, sem rombos irremediáveis, e soube propiciar o início da reparação dos inevitáveis estragos.
António M. recebeu uma Loja alvoroçada e passou ao seu sucessor uma Loja apaziguada Só por isso, merece lugar de destaque na Memória da Loja Mestre Affonso Domingues!
Rui Bandeira