29 julho 2018


Projeto de unidade

Teremos em Setembro um novo “VM” tal como teremos um novo “GM”. Posso pensar que é a Maçonaria Regular a renovar-se e será bom que seja. É mesmo muito bom que seja. Não vou adiantar nada agora sobre uma coleção de “arestas” que tenho sentido (se calhar por desajuste da minha sensibilidade) mas que tenho sentido nestes últimos tempos do meu reconhecimento maçónico.
E para o caso de, desta vez, ter razão, resolvi alinhar um desafio interno (RLMAD)… mas que rapidamente e salutarmente se poderá expandir.

I -
Nenhuma organização justifica a sua existência sem objetivos, ou pelo menos, sem um objetivo. Tenho tentado ao longo dos anos, bem acompanhado diga-se, para que a RLMAD defina ano a ano um objetivo para o ano do Veneralato, objetivo que receba a adesão do interesse dos Irmãos, que os ligue mais, que os aproxime, que faça deste conjunto uma família de facto… tanto quanto possível. Mesmo sendo uma utopia alguma coisa fica sempre de bom nessa aproximação. E falo-vos do que já experimentei. Durante anos a  MAD manteve projetos de trabalho que anualmente se renovavam e que fizeram da MAD aquilo que quase deixou de ser há 4 ou 5 anos. Houve um belo ensaio há 3 anos (lembram-se dos óculos para Moçambique ?) que se finou aí. Não sei porque não teve continuidade… mas não teve.
Nada impede que regressemos agora, com sangue novo, ativo e imaginativo, a essa condição.
Vou ler 3 extratos condensados de um livro do Valter Hugo Mãe (“A Máquina de Fazer Espanhois”):
 
 
a laura morreu, pegaram em mim e puseram-me no lar com dois sacos de roupa e um album de fotografias. depois, nessa mesma tarde, levaram o álbum porque achavam que ia servir apenas para que eu cultivasse a dor de perder a minha mulher. depois, ainda nessa mesma tarde, trouxeram uma imagem da nossa senhora de fátima e disseram que, com o tempo, eu haveria de ganhar um credo religioso, aprenderia a rezar e salvaria assim a minha alma. e um médico respondeu, a verdade é que ficam mais calmos. achei que era esperado de mim um desespero motor. digo motor para dizer de acção. algo como partir coisas, revirar os moveis, agredir fisicamente os funcionários, os enfermeiros que me poderiam prender. o quarto pequeno é todo ele uma cela, a janela não abre e, se o vidro se partir, as grades de ferro antigas seguram as pessoas do lado de dentro do edifício. pus-me a olhar para o chão, com ar de entregue. estou entregue, pensei. aos meus pés os dois sacos de roupa e uma enfermeira dizendo coisas simples. convencida de que a idade mental de um idoso é, de facto, igual à de uma criança. o choque de se ser assim tratado é tremendo.
no sétimo dia, o doutor bernardo pediu-me que passasse pelo seu consultório e perguntou-me como me sentia. disse-lhe que estava bem, que o lar correspondia a um grau de qualidade admirável e que eu estava bem. ele informou-me de que a elisa, o meu genro e os meus dois netos viriam visitar-me e quis saber se isso não me seria difícil. achei muito estranho que mo perguntasse, esperaria que nos primeiros tempos de uma experiência assim toda a proximidade de família com o idoso seria benéfica. contudo, encontrava-me ali com a obrigação de lhe dizer que sim ou que não, e pensei o suficiente para trazer ao cima o pior de mim. disse que não. que não estaria disposto a receber a minha família porque precisava de tempo para esquecer a perda da laura e a necessidade de deixar a minha casa, não queria sentir que tudo prosseguia sem mim. ainda não. o doutor bernardo percebeu as tremuras nas minhas mãos, um nervosismo que se começava a descontrolar e respondeu, claro, senhor silva, não se preocupe. é compreensível. está a libertar-se de muita coisa e precisa de tempo, é perfeitamente normal. eu estava a libertar-me de tudo. tinha dois sacos de roupa e uma nossa senhora de fátima miserável e mais nada. estava livre de tudo, como é óbvio. (*)
 
Diz-se, diz a chamada comunicação social, alegadamente reproduzindo conversas, estatísticas, estudos alegadamente oficiais… que Portugal tem a sua população envelhecida. Que há cada vez mais “velhos” e cada vez menos “novos”, seja qual for a definição de velho e de novo.
Eu aproveito estas vésperas de férias para vos deixar este sublinhado.
 
“Os Velhos” deste país ! Haverá alguma coisa a fazer ? Os Maçons podem fazer alguma coisa ?
Não é a Maçonaria, são os Maçons ! Podem fazer alguma coisa ?
II –
Aquilo que aqui sublinho relativamente aos “Velhos” é um 1º ponto de sublinhado.
Quanto às crianças deste país ?  Bébés e crianças com 2, 3, … 7, 8, … anos. Poder-se-á fazer alguma coisa ?
O que acontece a estas crianças ? Ficam onde ? Com quem ? Em que condições ?

Será que os Maçons podem fazer alguma coisa ? Não é a Maçonaria, são os Maçons ! Podem fazer alguma coisa ?
 
III –
Os homens e as mulheres desempregados, mas que querem trabalhar.
Os que dormem no chão de Sta. Apolónia, aqui tão perto… ou no adro de igrejas, ou debaixo das colunas do Terreiro do Paço, ou pura e simplesmente sentados num banco de jardim (um saltinho ali aos “Anjos” a vê-los)…

Será que os Maçons podem fazer alguma coisa ?
Não é a Maçonaria, são os Maçons ! Podem fazer alguma coisa ?

Se  calhar não vale a pena inventar a roda. Mas há muitas organizações no terreno que apenas procuram ajuda para poderem fazer o seu trabalho de apoio, quiçá de reabilitação de muita gente, de muitas situações que existem e não deviam existir. Se a Humanidade é alguma coisa nobre no reino animal, então tentemos que os Homens não existam como bichos.
Há tanto para fazer por esse mundo… e até aqui bem ao pé da porta…
Salvar a Humanidade é trabalho do GADU.
Salvar a esperança a um Homem é trabalho nosso.

 (*) – O texto está transcrito em formato de obediência exata (pelo menos foi essa a intenção) do original de Valter Hugo Mãe.
 Lisboa, 25/julho/6018
J.Paiva Setúbal
(M:.M:.)






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