02 outubro 2018

Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP por ocasião da sua Instalação, no equinócio de outono de 2018


Meus queridos Irmãos,

Agradeço a vossa presença e a todos saúdo com um tríplice fraternal abraço.

Começo por saudar tão vasta representação de Representantes das delegações de potências maçónicas estrangeiras, que muito nos honram e sensibilizam com a sua presença.

Permitam-me que saúde de forma muito especial os Antigos Grão-Mestres, aqui presentes: o M. R. I. José Manuel Anes, o M. R. I. José Moreno e o M. R. I. Júlio Meirinhos que acabou de me instalar na cadeira de Salomão, o que muito me honrou.

Recebo das suas mãos uma Ordem mais forte. A Grande Loja teve um enorme incremento nos últimos 4 anos, fortaleceu-se internamente e aumentou significativamente a sua influência internacional. E isso resultou do esforço e empenho no exercício do cargo. Agradeço-te, pois, M. R. I. Júlio Meirinhos o teu empenho e dedicação à nossa Grande Loja.

Mas todos tiveram um papel notável na edificação da nossa Augusta Ordem. Foram o garante da nossa unidade e regularidade. Com o seu entusiasmo e dedicação, foram protagonistas relevantes da nossa história, e muito contribuiram para o crescimento da nossa Fraternidade. A todos eles devemos o que somos hoje. Agradeço em meu nome, em nosso nome, a todos os que me antecederam.  

Permitam-me ainda lembrar, com muita saudade, dois grandes e notáveis Maçons que marcaram, de forma indelével, o meu percurso e maturidade maçónica: Mário Martin Guia e Rui Clemente Lelé. A eles devo, ainda que de forma distinta, grande parte do que sou hoje como maçom.

Ao longo dos últimos anos, tive o privilégio de conhecer muitos Irmãos que enobreceram e enobrecem a nossa Augusta Ordem. Percorri um amplo número de Lojas e ajudei a fundar algumas. Fiz um trajeto que muitos outros Irmãos também fizeram e que muitos mais podem e, com certeza, virão a fazer.

No tempo que considerei certo, apresentei-me como candidato a Grão-Mestre da GLLP/GLRP, apresentei-me com a simplicidade e a normalidade de um qualquer Irmão que assim o desejasse e estivesse conforme à regularidade e aos regulamentos.

As últimas eleições para o cargo de Grão-Mestre reafirmaram a pluralidade e diversidade de opiniões e a enorme vitalidade da nosa Augusta Ordem. Cumprimento por isso todos os RR. II. que comigo as disputaram.

Em democracia as eleições são a pedra angular da liberdade e é sempre salutar que elas ocorram conforme os cânones que se lhe aplicam, com serenidade, igualdade, cordialidade e correção.

Na nossa Augusta Ordem, as eleições, no estrito cumprimento dos Regulamentos e do verdadeiro espírito maçónico assumem, ainda que assentes em princípios democráticos, contornos particulares. No nosso caso, exige-se que tal suceda em fraternidade. Ou seja: porque somos uma obediência fraternal, impõe-se que a disputa seja leal e em irmandade, pois ninguém está, enquanto pessoa e Irmão, acima de quem quer que seja e o "pleito eleitoral", sendo necessário e importante na vida da nossa Augusta Ordem, é apenas um momento de escolha, onde os Irmãos elegem um seu par para assumir a cadeira de Salomão.

Na cadeira de Salomão, o ocupante senta-se para governar o que lhe foi confiado, tentar resolver o insolúvel, preparar-se para o imprevisível, antever o possível, dirimir os conflitos, eliminar o que for injusto e negativo e procurar a harmonia, a paz e a concórdia.

É certo que crescemos muito. Foi meu compromisso "eleitoral" defender a máxima exigência na seleção daqueles que devemos aceitar na nossa Augusta Ordem e a quem possamos verdadeiramente reconhecer como Irmãos. A nossa dificuldade tem de estar em selecionar, não em recrutar. Selecionar, sempre com o intuito de ter connosco os melhores e mais bem preparados, pois só assim poderemos agir com maior significado junto da vida profana onde nos inserimos e só assim manteremos a união e a fraternidade que nos carateriza.

Vivemos um tempo de dificuldades no país, na Europa e no mundo, em que proliferam muitas desavenças políticas, conflitos bélicos, incertezas geoestratégicas e incapacidade para resolver os problemas sociais, como os das minorias e dos refugiados. Internamente, o país regista ambivalências, com esperança numa definitiva mudança, entre certezas e muitas dúvidas.

E reflito nisto aqui porque a Maçonaria náo vive fora do mundo e das realidades que a cercam e, por isso mesmo, não poderemos nunca ser um corpo amorfo e indiferente em tão vasto horizonte de eventos com que nos confrontamos.

Num mundo em permanente evolução, a mudança deve estar ancorada num quadro de valores que, em momento nenhum, esqueça as pessoas e a liberdade individual como principal motor dessa dinâmica e, em última instância, da garantia da própria felicidade humana.

A sociedade em que hoje vivemos encerra, em acelerada mudança, um conjunto de desafios de proporções ainda desconhecidas e de consequências imprevisíveis. Os riscos da incerteza exigirão firme e determinada intervenção das lideranças das principais instituições que compõem a sociedade.

A nossa Augusta Ordem, ontem como hoje, pela força da sua génese e pela sua responsabilidade histórica, será inevitavelmente chamada a, mais uma vez, constituir-se como farol da evolução, saber de experiência feita sobre o essencial da libertação do Homem, luz sobre os valores que mudança alguma pode colocar em causa.

Consciente destes desafios, ciente da responsabilidade secular que o cargo impõe, proponho-me, se soberba, ativamente contribuir para resgatar para a maçonaria o papel central sobre este processo de evolução, recolocando-a como referência maior e escola de vida para os Homens Bons que pretendem apurar-se na relação com os outros, tornando-se Homens Melhores.

Honrando a herança recebida desde o exemplo maior de Jacques de Molay, 704 anos após a sua morte às mãos da tirania de Filipe IV, curiosamente de cognome "O Belo", propomo-nos continuar a combater por uma sociedade mais livre e mais solidária, onde o génio individual liberte todo o seu poder criativo à luz da razão, conquistando a verdadeira beleza que resulta da perfeição.

Quando atendemos à dimensão de todos aqueles que se sacrificaram em nome dos nossos ideais, só podemos ter orgulho na condição de maçons que transportamos em nós.

Por todas estas razões, escolhi como lema do meu Grão-Mestrado "O Orgulho em Ser Maçom".

Quanto maior a alma, maior o desafio. E por tudo isto, liderar o grupo de Homens Bons que integram a nossa Augusta Ordem é, não só um privilégio, uma honra, mas uma enorme responsabilidade. É orgulho, felicidade e ambição, que só a profunda admiração que nutro por cada um me fazem imaginar sequer poder estar à altura.

Num momento, também, em que a maçonaria enferma de uma injusta perceção pública, numa época em que tudo vale, muitas vezes entre nós próprios, para fazer vingar um qualquer fim, mais do que nunca teremos que travar a queda por este declive obscuro e recolocar a Maçonaria no caminho e no patamar que sempre a distinguiu ao longo da História.

A Maçonaria em Portugal esculpiu pela sua ação alguns dos momentos maos épicos dos feitos nacionais. Da democracia à consagração das diferentes liberdades, muitas são as medalhas que podemos exibir com brio e dignidade.

É pois tempo de voltarmos a contribuir ativamente para o apuramento do Homem e da sociedade, é tempo de voltarmos a fazer História.

Para este desígnio, tenho plena consciência que o caminho a que me proponho não será nem fácil nem pacífico. Tenho total certeza das inúmeras tormentas que nos esperam e dos múltiplos ataques que nos aguardam.

A Maçonaria sempre existiu, e existirá, para melhorar o mundo. Mas para isso é preciso, primeiro, melhorar o homem. É essa a função primordial da Maçonaria.

Chegado aqui, cumpre-me, obviamente, refletir sobre o nosso momento, a realidade da nossa fraternidade. O certo é que, sendo uma Fraternidade, somos também uma Ordem onde impera a lealdade e a irmandade. Mas não nos esqueçamos que somos ainda uma Obediência e esta obriga-nos, a todos, a uma sã relação de respeito para com o Grão-Mestre e deste para com os todos os Irmãos.

Ninguém é obrigado a ser Maçom, mas, em o sendo, tem de se conformar com as constituições e as regras da Maçonaria Universal.

E é por isso que, quando prestamos os juramentos, comprometemo-nos a cumpri-los. Podemos não concordar com o que quer que seja, mas temos de cumprir e, sobretudo, em fraternidade, cumprir e agir irmãmente. Nunca por objeções, maledicências, deslealdades ou críticas que atingem a dignidade  de qualquer Irmão.

Não poderemos, nunca, como em qualquer outra instituição, obter a total aceitação ou unanimidade sobre tantos e tão delicados assuntos em que nos envolvemos. Mas podemos e devemos, sempre, aproximar ideias, objetivos e obter consensos alargados que traduzam a vontade generalizada dos Irmãos.

É iso que farei nos próximos 2 anos, com total empenho e dedicação, aprimorando o talhe da pedra, cuja beleza não cessará de ser trabalhada, visando a solidificação da Ordem e o crescimento da Fraternidade.

A condição de Maçom exige que o eleito se convença da sua humildade, pois ela será a sua grandeza, mas humildade em excesso ou pouco sentida não são mais que vícios e vaidades escondidas. Contudo, Humildade não é inação ou falta de determinação, uma vez que não se pode renunciar a governar em plenitude, mas tal apenas o determina no sentido do "Bem da Ordem".

"O Bem da Ordem" não é uma arbitrariedade ou uma aritmética administrativa. É essencialmente agir, garantindo a continuidade provinda de antanho e prossegir adiante, robustecendo a Fraternidade, constituída por Maçons livres que se congregaram para o aperfeiçoamento do homem e a melhoria do mundo. 

São estes os objetivos e os limites da governação. Tudo o mais não interessa, mas sem deixar de agir, liderar e trabalhar, fazendo o que tem de ser feito, antecipando o bom porvir e evitando o que é desajustado.

Afinal, tudo só pode ser feito com o empenho de todos os Irmãos, pois se é verdade que a Grande Loja tem de ser o vértice da Fraternidade, esse vértice tem que assentar numa base que são as Lojas, com proximidade e interação.

Reafirmo, pois, o compromisso assumido de intensificar a aproximação da Grande Loja com as Lojas e destas entre si, fortalecendo dessa forma as nossas relações e estimulando o fortalecimento da nossa Instituição.

Por isso, também, todos os Irmãos devem esforçar-se por trabalhar comigo, ajudando-me na obra comum. Quem, inconformado, passa para uma inorgânica "oposição", se afasta ou evita compromissos e serviços, "nunca será um bom Maçom". Será tão só um "membro da Loja", alguém que assinou uma proposta para ingresso na Maçonaria, como quem subscreve ou participa, anódino, numa associação social, recreativa, desportiva ou cultural.

Não sou dos que defende que haja nas Respeitáveis Lojas e também na Grande Loja portadores de cargos e colares e que apenas deambulam pelas Sessões e festividades, sem conhecimento e dedicação às funções.

Somos todos necessários e assim é inaceitável que, no meio dos "ELEITOS DA LUZ", não haja maçons disponíveis para o trabalho: só pelo trabalho o Maçom elimina as trevas.

A propósito da Luz, recorro-me da poesia do nosso Muito Querido e saudoso Mário Martin Guia e do poema Hino à Harmonia:

"Sendo o homem a sombra do Divino
e sendo também verdade
que a necessidade equilibra a Liberdade
o Espírito a Matéria, a Fé a Razão
e a sabedoria o Poder
para haver Harmonia
e alcançar a Felicidade
é também ponto assente
que a Luz deve vir do Oriente".

Desde o primeiro dia em que entrei para a nossa Augusta Ordem que sei fazer parte de um grupo que veio para ficar, com uma ideia de futuro e um plano para cumprir. É neste quadro que sustentamos a razão da nossa existência. É neste quadro que queremos crescer, ajudando os homens a serem bons e os bons a serem melhores. Ajudando as sociedades a rimarem liberdade com responsabilidade, alma com solidariedade. É este o legado que queremos deixar.

Darei por isso continuidade a tudo o que de bom foi feito, melhorando aquilo que tiver que ser, com o objetivo de cumprir o meu programa, mas respeitando o princípio da pluralidade e diversidade, ouvindo as vossas opiniões e propostas.

Importa criar e semear aqui e agora, olhando para o futuro e para a Augusta Ordem que queremos ter.

A equipa que me acompanhará é aquela que eu entendo ser o resultado da reflexão sobre a renovação das tradições que nos fazem maçons, conjugadas com a realidade, prioridades e objetivos que uma sociedade iniciática requer, num tempo imediatista e desinformado.

Disse sempre que não me candidatava contra ninguém, nem a favor de ninguém. Agora que sou o vosso GM fiquem certos de que não estarei contra ninguém, exceto aqueles cujos comportamentos e ações não respeitem os princípios e juramentos que nos unem.

O GM será o garante que nenum Irmão fica esquecido, que todas as palavras são escutadas, mas igualmente que nenhum outro se arroga de importâncias que não tem, ou de egos que deve, em primeira linha, combater. Este é o espaço da liberdade, da igualdade e da tolerância. 

Comprometi-me e vou demonstrar que somos uma organização virada para a sociedade, aceite e contributiva e onde os maçons são reconhecidos como homens de confiança, livres e de bons costumes.

É tempo de trabalhar muito, com dedicação, ética e entrega a esta causa que é de todos.

Assim, o futuro da GLLP/GLRP será risonho, não tenham dúvidas, porque a quantidade e qualidade dos Irmãos que a constituem assim querem, desejam e tudo farão para que tal suceda.

Para isso preciso de todos. Convosco, sei que chegarei lá. Convosco sei que, em paz e harmonia, todos faremos mais e melhor para a nossa Augusta Ordem.

À Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Armindo Azevedo
Grão-Mestre

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