O nono Venerável Mestre
Luís P. foi um dos maçons que mais tempo se manteve no grau de Aprendiz, não por desinteresse ou falta de assiduidade, mas porque recusou, várias vezes, ser elevado ao Grau de Companheiro, por não se sentir preparado para tal! Já Mestre maçon, sempre revelou um particular interesse pela formação, especialmente pela formação dos Aprendizes, de que foi directamente responsável, salvo erro, dois anos, enquanto 2.º Vigilante da Loja. Foi ele o 2.º Vigilante que, conforme o José Ruah referiu aqui, lhe pediu para continuar mais um ano nessa função, em vez de, como seria normal, avançar para 1.º Vigilante, preferindo ser ultrapassado na informal "linha de sucessão" da Loja por Jean-Pierre G.. Ou seja, Luís P. revelou um particular interesse pela formação maçónica e pelo trabalho com os símbolos, quer como formando, quer como formador.
Tinha, além disso, uma concepção rigidamente esotérica, quase crística, senão mesmo crística da Maçonaria. Para ele, a Maçonaria é essencialmente um método de desencadeamento e evolução de um processo iniciático, tendente à aproximação do Homem ao Divino - um processo paralelo, por exemplo, ao misticismo monástico cristão. isto é, e se bem interpreto o seu pensamento, o método iniciático maçónico é um dos métodos de aproximação do Homem ao Divino, como o são o dito misticismo monástico ou o budismo. Luís P. privilegiava, assim, o estudo, a teoria, a análise simbólica, tendo porém o cuidado de alertar para os perigos do que costuma designar de "devaneios esotérico-birutas" muito presentes em muita "literatura", principalmente do século XIX.
Luís P. procurou aplicar estes seus princípios no governo da Loja, durante o seu mandato. Privilegiou, assim, a formação, o apoio, dos Aprendizes - e, por arrastamento, dos Companheiros. Na minha opinião, já enquanto 2.º Vigilante estabelecera as bases e a forma de proceder à instrução dos Aprendizes que ainda hoje se pratica na Loja Mestre Affonso Domingues - designadamente o hábito, que permanece, de os Aprendizes e Companheiros terem uma sessão de instrução uma hora antes da sessão de Loja que se realiza no segundo sábado de cada mês. Manteve e reforçou essa actuação. E nisso deixou um bom legado à Loja.
Também deixou o legado de a formação dos Companheiros ser muito similar à dos Aprendizes, apenas incidindo no Catecismo de Companheiro e nos símbolos do grau. Na minha opinião, esse legado não será tão positivo, porquanto a minha concepção do grau de Companheiro é de que os objectivos deste são radicalmente diversos dos do grau de Aprendiz e, portanto, não devem ser prosseguidos com os mesmos métodos. Mas isto são contas de outro rosário...
Durante o seu mandato, a Loja esteve virada para dentro, para a formação, para a reflexão, para a união do grupo em prol do aperfeiçoamento dos seus membros.
Luís P. dirigiu a Loja segundo a sua concepção, sem derivas. Quem concordou, aproveitou; quem não concordou, suportou. Foi talvez, até agora, o último Venerável "autoritário" da Loja. Alguns não concordavam lá muito com a orientação de Luís P.. Mas a Loja ainda estava na fase de actuar segundo a batuta do seu Venerável Mestre e, portanto, a concepção de Luís P. foi aplicada sem objecções de maior.
No entanto, esta sua concepção de direcção da Loja não viria a vingar - e a mudança começaria mais cedo do que mais tarde, ironicamente devido a uma decisão pessoal do Luís P... Mas essa será matéria para outro texto...
Rui Bandeira