“Os Grandes Portugueses” - 2
Após estimulante conversa com o meu Irmão Aprendiz Maçon A. D., também obreiro na minha estimada loja, na qual me deu nota que via no sítio electrónico em tópico, uma estimulante via de aprendizagem, e não dispensava o seu acesso numa base diária.
Tendo já escrito um artigo para o mesmo e sabendo que os escrivães de serviço são poucos (apenas 3), eu solidariamente, proponho-me de quando em vez, dar o meu contributo.
De resto é esta também uma forma de estar ligado, não só espiritualmente, mas pela forma da letra aos meus irmãos.
Terminada a conversa acedi ao sitio e percorri os artigos, por temas, e um, cuja autoria é do Rui Bandeira, que procurou responder a um leitor cuja curiosidade o levou a querer saber quantos, dos grandes portugueses elencados no conhecido programa televisivo, teriam sido Maçons.
Na sua habitual facilidade com que explana os temas, o Rui Bandeira, de forma brilhante teceu os seus considerandos sobre o caso, pese embora, se note que só a custo aceita ter sido o Marquês de Pombal um Maçon, com facilidade vê em Fernando Pessoa um irmão, e com gosto conjectura sobre o preenchimento de requisitos de Aristides Sousa Mendes, para como tal ser reconhecido.
Compreendo isso. Afinal as acções do Marquês de Pombal não se compaginam com os valores maçónicos – perseguiu de forma impiedosa os jesuítas, mandou para a forca a nobreza de quem desconfiava, entre outras atrocidades, de quem o Intendente Geral da Policia – Pina Manique – era o braço direito.
Quanto a Fernando Pessoa, o Rui Bandeira reconhece premissas que sendo válidas para o “fazer” Maçon também o são para o considerar Mágico, pois também estudou esta via esotérica, e não me parece que o tivesse sido, só porque estudou a magia, tendo-se dado até com o conhecido “Mago” Allister Crowlley.
Mas no essencial aquilo que me leva a escrever estas linhas é o facto de o Rui Bandeira ter eliminado, logo á partida, com um bom argumento diga-se, pessoas como D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama, e Camões.
Não resisto a pensar numa linha, ainda que ténue, não perceptível a “olho nu” ligando estas figuras, entre outras não mencionadas ou retratadas, e cujos pontos de contacto à Maçonaria, são bem defensáveis.
Passo a explicar. Para início de conversa Portugal é um País de génese iniciática e esotérica. Isso está patente pelo seu principal mentor – S. Bernardo de Claraval – figura maior do seu tempo no seio da cristandade, primo do Conde D. Henrique, este pai do nosso primeiro Rei.
Foi Bernardo de Claraval quem, enviando um seu tio para a Palestina, fomenta a criação dos templários, ordem de cavalaria iniciática que haveria de ter em D. Afonso Henriques como frater.
Os Templários criados para a demanda do Santo Graal, enclausuraram-se durante 7 anos no antigo templo do Rei de Salomão, e surgem como um braço armado da cristandade temido em todo o oriente.
O que eles lá encontram não se sabe, supõe-se apenas, como se supõe terem-no trazido para um porto seguro, na Europa, o Porto do Graal, ou como assinava o nosso primeiro Rei, o Portugral, hoje Portugal. Mais tarde, aí uns 400 anos, haveria, digo eu, de ser levado para a terra da Verdadeira Cruz, ou vera cruz como lhe chamou Pedro Alvares Cabral.
É sabido que a arte Gótica surge de repente na Europa, trazida pelos templários da palestina. Os construtores dos templos, isto é a maçonaria operativa, trabalhava para e com os Templários. Os pontos de contacto eram pois muito fortes.
Isto para dizer que D. Afonso Henriques pode não ter sido, e creio que não, um maçon, mas com eles teve próximo contacto, até pela sua condição de frater de uma ordem iniciática, como a dos Templários.
Quanto ao infante D. Henrique, recordo que foi Governador da Ordem de Cristo, logo também ele um iniciado nos mistérios templários, de quem a Ordem de Cristo era a fiel depositária.
Lembremo-nos ainda que esta Ordem foi uma criação do Rei D. Dinis que lutou arduamente durante 7 anos, para obter confirmação Papal, após o papado ter extinto a Ordem dos Templários.
E este Rei é importante, porque também ele era um iniciado. Não na Ordem do Templo não na de Cristo (pelo que se julga saber) mas sim numa Ordem iniciática Trovadoresca, conhecida como “Os Fieis do Amor”. Faz sentido ter sido este nosso Rei Poeta tão ilustre no seu tempo pelas suas “cantigas de amor”.
Acontece que se supõe ter o nosso Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa, ambos pertencido a esta Ordem Iniciática tão pouco conhecida entre nós.
O Rei João II um iniciado, tendo sido um dos mais destacados Grão-Mestres da Ordem de Santiago, e vários dos grandes navegadores foram cavaleiros desta Ordem. De referir ainda que D. Dinis não se limitou a criar a Ordem de Cristo, a ele se deve a desanexação da Comenda Portuguesa da Ordem de Santiago, através de Bula Papal de 1290.
Vasco da Gama tendo sido um ilustre Almirante, obrigatoriamente seria um iniciado, pois só assim possível capitanear uma embarcação Portuguesa.
Portanto, admitindo como boa a argumentação para o facto de todos estes não terem sido Maçons, foram pelo menos iniciados, e tiveram pontos de contacto importantes, com a Ordem Maçónica e a Maçonaria, que no entender de Fernando Pessoa não seriam a mesma coisa … para ele a Ordem Maçónica era ancestral (anterior mesmo à lenda que os portadores do avental com 3 rosas conhecem) e a maçonaria a que ele se refere é a especulativa surgida no XVIII. Quando Fernando Pessoa dá a entender, nos seus escritos, ser “Maçon” a qual das duas se referiria? Penso que à primeira …
Uma última nota para chamar à atenção do logótipo estilizado do Município de Odivelas que ostenta um coração e um curso de água.
Sabendo que o Rei D. Dinis é a principal figura deste município, foi ele o criador do lugar de Odivelas, não deixa de ser uma muito feliz coincidência ter sido adoptado o símbolo do Amor – o coração – fazendo juz ao facto de ter sido um iniciado dos “Fieis do Amor”.
Como sei que o criador do logótipo não sabia disto, não tenho dúvidas que foi o G.:A.:D.:U.: quem guiou a sua mão.
Bem Hajam.
Templuum Petrus
2 comentários:
Boa noite Templuum Petrus (TP)!
Como leitora assídua do blog, tenho acompanhado com alguma atenção os post’s dos meus queridos cunhados que aqui escrevem diariamente...e posso dizer que é um dos melhores sítios da blogosfera!!!
Por essa razão, deixe-me dar-lhe os parabéns por tê-lo descoberto e seja bem vindo! :)
No post inicial sobre os “Grandes Portugueses” o Rui explicou muito claramente porque razão achava que este ou aquele “Grande Português” foi ou não maçon!
Posto isto...o meu comentário ao seu post...
Já num dos seus últimos parágrafos, o TP escreve “admitindo como boa argumentação o facto de todos estes (D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama e Camões) não terem sido Maçons, foram pelo menos iniciados” - permita-me que discorde!
Todos os mencionados podem ter sido iniciados...mas não na Maçonaria especulativa que teve início no princípio do século XVIII! (que alías foi a base dos “considerandos” do Rui!)
Que foram iniciados em ordens que estiverem na origem da Maçonaria especulativa, até concordo!
Além disso...se tivessem sido iniciados na Maçonaria...seriam Maçons!
Estou correcta?
Cumprimentos,
PatBR
Meus caros, excelente post. No que concerne a este assunto, permitam-me reproduzir aqui um conto do meu querido I.'.J.M.. Espero que vos agrade como nos agradou a nós.
Abraços
Conto de Um Natal - A Génese de Portugal e o Ideal Maçónico
Bernardo de Fontaine nasceu em 1’090, filho de Dona Dam Aleth (filha do Duque de Montbath) e D. Tescelin, fidalgo e vassalo do Duque da Borgonha. Foi educado pelos frades de Saint–Vorles em Chatillon-sur-Seine. O menino foi crescendo e ficando conhecido como grande devoto da Virgem Negra, e entra para a Ordem de Cluny ou Cister, os chamados monges negros do Abade Estêvão Harding. Com muito gosto pelo estudo das sagradas escrituras, Bernardo foi ganhando fama de grande sapiência inserido no projecto do Abade Estêvão a partir da Igreja de Troyes, trabalho que resultou na famosa “Bíblia de Cister”; houve neste códice grande e estranha preocupação de corrigir erros passados, para que se pediram colaborações de eminentes sábios judeus de que se destacavam Salomon Rachi, o principal intérprete do Talmude dessa época. Esta actividade, surpreendentemente tolerante e desfasada do fundamentalismo cristão da época, transformou a Abadia de Troyes no maior centro de estudos esotéricos e cabalísticos do seu tempo.
Assim em 1’115 foi dado ao Irmão Bernardo com apenas 25 anos fundar a nova Abadia de Claraval, em terrenos do Vale de Absinto doados por Hugues de Champanhe, e passou como Abade a ser conhecido por Bernardo de Claraval, tomando grande importância ao encetar a reforma da Ordem de Cister, dentro de uma extrema devoção ao culto Mariano que haveria de estender à Ordem do Templo e aos Portugueses, da forma que se verá.
O tio de Bernardo de Claraval, André de Montbath, irmão de sua mãe, juntou-se com mais oito companheiros de aventura, a saber Hugues de Payens, Bisol de Saint-Omer, Archambau de Sait-Aignan, Nirvand de Montdidier, o cavaleiro de Gondemar (provavelmente de Gondomar e do Condado Portucalense) e dois irmãos Rossal e Hugues de Champagne; e os nove cavaleiros são os que inexplicavelmente, e apenas 3 anos após a fundação da Abadia de Claraval, se apresentaram em 25 de Dezembro 1’118 ao Rei Balduíno I de Jerusalém (a Cidade Santa capturada pelo irmão deste Rei dezanove anos antes, o conhecido Godofredo Bulhão) e colocaram-se ao seu serviço, alegadamente para defesa dos peregrinos em demanda do Santo Sepulcro; como cavaleiros com voto de pobreza, viveram os nove anos seguintes no que restava dos estábulos do Templo de Salomão, não admitindo estranhamente nenhum novo cavaleiro nesse período, e sem que houvesse qualquer referência à sua estada pelos cronistas do Reino. A jornada destes nove cavaleiros em Jerusalém tem todos os indícios de uma missão secreta. No final deste período, e falecido já o referido monarca, o seu sucessor Balduíno II pede por carta a Bernardo de Claraval para escrever a Regra dos “Pobres Cavaleiros da Milícia de Cristo”, designação que o grupo usava. A Regra foi elaborada em 72 artigos, e curiosamente muito parecida às regras seguidas pelos antigos cavaleiros Essénios, contemporâneos de Cristo, mas de que só viemos a ter notícia no século XX pelos “Manuscritos do Mar Morto”. Decorre deste facto estranho a possibilidade de que os nove cavaleiros utilizaram os nove anos em Jerusalém na recolha de informação e documentação, numa estratégia porventura definida por Bernardo de Claraval. Veremos como a referida documentação lhes terá chegado às mãos.
Bernardo de Claraval recebe enfim os nove cavaleiros no Concílio de Troyes, ocorrido em 17 de Janeiro de 1’128, e oficialmente os reconhece como “Ordem do Templo”, tendo nomeado seu primeiro Grão Mestre Hugues de Payens. Por esta altura no Condado Portucalense, D. Tareja faz doação à Ordem do Templo das terras da Fonte Arcada e do Castelo de Soure. Curiosamente, o selo do Condado Portucalense ostentava já desde 1’096 uma Cruz Pátea oriunda dos Cristãos Coptas primitivos, e depois também adoptada pelos Templários. Assim, a Ordem do Templo instala-se no Condado Portucalense desde a sua fundação com Grão Mestre nomeado: o Cavaleiro Gualdim Pais. Veremos a seguir porquê.
Como é sabido, o Islão invadira a Ibéria em 711, subindo por ela até à Gália e só sendo travados por Carlos Magno na famosa batalha de Poitiers em 732. Trezentos anos passados de ocupação árabe, Bernardo de Claraval, que era a par de grande estudioso um grande estratega político e militar, percebeu que se o Islão não fosse obrigado a recuar, o modelo de vida Ocidental e Cristão poderia ter os dias contados. Se os Árabes atacassem a Europa a Oriente e a Ocidente em simultâneo, não haveria provavelmente forma de os deter. Idealizou portanto um plano de ataque e reconquista em três frentes: com os Cavaleiros Templários, e por via de uma grande cruzada, manter uma frente na Terra Santa; com a Ordem Teutónica também por ele criada em 1’143, erguer uma frente na Europa Oriental; e com a Ordem do Templo erguer na Península Ibérica a Ocidente outra frente, e um estado que protegesse as rotas marítimas que do norte demandavam a Terra Santa pelo Mediterrâneo. Evitava-se assim que as forças Islâmicas se podessem um dia reunir no centro da Europa, de onde seria eventualmente impossível desalojá-las no futuro.
A Ordem do Templo foi reconhecida por bula papal de 1’139 (curiosamente por Inocêncio II, antigo monge de Cister) e finalmente ratificada pela bula “Omne Datum Optimum” de 1’163 que coloca os Cavaleiros Templários na obediência directa do Papa, e portanto imunes à autoridade temporal de quaisquer outros soberanos. A Regra dos Templários sofreu várias evoluções de que se destaca a que ocorreu em 1’140 que permitiu a iniciação de homens excomungados pelo Papa; este facto pressupõe o reconhecimento de que era na época fácil cair em desgraça, mormente os homens valorosos e inteligentes com mais interesse para a Ordem, mas que sendo de bem, eram considerados hereges; ou seja e etimologicamente: homens que “pensam de forma diferente” ou “por outra via”.
A Ordem de Cister desenvolveu-se enormemente a par da Ordem do Templo chegando a 1’153 com cerca de 300 Abadias em toda a Europa, e constituindo-se como o motor do povoamento e desenvolvimento económico do Velho Continente. O poder de Bernardo de Claraval foi ficando enorme, e ele usou-o para implementar a sua estratégia: fazer nascer um país à medida do seu plano no extremo Ocidental da Europa, Portugal, e outro no extremo Oriental, a Prússia; num primeiro passo influenciou Afonso VI de Leão e Castela para que fossem doadas a D. Henrique... por acaso primo de Bernardo de Claraval e bisneto de Roberto II Rei de França e descendente da Casa Ducal da Borgonha, e oriundo precisamente da zona da Abadia de Cluny... dizíamos que fossem doadas a D. Henrique os domínios que constituíam o Condado de Portucale, na altura governado por D. Raimundo que também detinha os Condados da Galiza e Amous. D. Henrique de Borgonha veio assim para a Ibéria, e muito jovem foi iniciado e armado Cavaleiro do Templo, e recebeu o Condado Portucalense e como brinde uma esposa: a princesa D. Tareja, filha bastarda de Afonso VI, seu suserano a quem teria evidentemente de prestar vassalagem e pagar dízimo.
D. Henrique e D. Tareja tiveram um filho, como é sabido: Afonso como o Rei suserano, e Henriques porque filho de Henrique, uma criança descrita como enfezada e fisicamente deficiente. O menino foi dado a criar a D. Egas Moniz de Ribadouro, Senhor de Lamego desde que fora Iniciado e armado Cavaleiro do Templo na Batalha de Arouca em 1’102. É ainda hoje certo para as gentes de Lamego que o rapaz terá morrido tragicamente porque o lume das tochas das repetidas preces à Virgem de Carquere para o tornar escorreito, se lhe pegou às vestes e o queimou e matou. O Conde D. Henrique era já falecido e a D. Tareja amancebara-se com um fidalgo castelhano, um tal Fernão Peres de Trava, e a primeira crise de sucessão se perfilava, pelo que o petiz terá sido trocado por um filho de D. Egas Moniz com a mesma idade. Nesta época já D. Tareja usava nos documentos o título de Rainha, o que com os restantes acontecimentos mostra a premência do projecto de criação de um país segundo o plano original de Bernardo de Claraval posto em prática pela Ordem de Cister.
Mas D. Tareja vacilava com a influência castelhana e não estava completamente pelos ajustes; e de 1’121 a 1’125 começa a expulsar da sua corte os principais fidalgos portucalenses, incluindo D. Egas Moniz de Ribadouro. O jovem Afonso Henriques, com apenas catorze anos, farta-se deste enredo e arma-se a si próprio cavaleiro em Zamora juntando-se aos cavaleiros expulsos da corte e dando força e liderança ao movimento de independência que culminou na famosa batalha de S. Mamede, ocorrida no dia de S. João Baptista de 1’128, curiosamente o mesmo ano da fundação da Ordem do Templo no Concílio de Troyes. Aí Afonso Henriques não combateu apenas contra a sua mãe, mas defendeu os direitos do seu verdadeiro pai, o Senhor de Ribadouro D. Egas Moniz, e o projecto de fundar Portugal: um Reino de cristandade mais pura, não do Cristo crucificado mas do Cristo Majestade e vivo, como era costume da Ordem de Cister, e seria uso da Ordem do Templo, muito pela influência da “purificação” das sagradas escrituras por via judaica e copta, a grande obra iniciada pela “Bíblia de Cister”.
Portugal nasce portanto numa batalha, S. Mamede, ocorrida no Solstício de Verão, pela defesa de uma estratégia gizada pela Ordem de Cister e o Abade Bernardo de Claraval, e mais tarde continuada no terreno pela Ordem do Templo, criada no Concílio de Troyes no mesmo ano. Por seu turno, Afonso Henriques jamais usou título de conde e sim de “Príncipe” ou “Infante” dos Portugueses. O título de Rei começa a usá-lo em 1’139, por ter sido reconhecido e aclamado como tal na Batalha de Ourique em 25 de Julho pelos seus pares cavaleiros, e pelos guerreiros vindos do povo, curiosamente sendo elevado sobre o seu escudo, como é uso dos cavaleiros germânicos, pois lá estavam em bom número cavaleiros do norte das Ordens Templária e Teutónica; e finalmente também pelo acontecimento que ficou registado em lenda, segundo o qual um ancião lhe apareceu primeiro em sonho e depois em carne e osso à entrada da sua tenda, e lhe disse que fosse à luta porque Jesus Cristo velaria pela vitória sobre os mouros e pelo sucesso da sua descendência até à 16ª geração... precisamente até D. Sebastião. Este acordo com o divino foi selado com o aparecimento de dois raios de luz que formavam uma cruz no céu, no centro da qual apareceu o Cristo em glória cercado pelos anjos, que assentou o seu título de Rei e a fundação de um país que teria por missão levar a Palavra às mais remotas partes do mundo (si non é vero... é bem trovato...).
É claro que a auto proclamação de D. Afonso Henriques e do Reino de Portugal não terá caído bem ao Papa, tendo sido censurada dos próprios “Anais de D. Afonso”, de origem clerical. Mas Bernardo de Claraval apoiou o jovem Rei e o jovem país visitando-o várias vezes para o aconselhar e expandir a Ordem de Cister, trazendo consigo monges construtores, ou maçons operativos cujas siglas são ainda reconhecíveis nas paredes dos nossos monumentos; Bernardo de Claraval chegou a escrever ao Papa em favor desse reconhecimento de Portugal como país; mas morreu em 1’153 não podendo assistir à cúria papal de 1’179 que finalmente conferiu personalidade jurídica ao Reino de Portugal. Este foi o início de uma convivência sempre muito difícil entre os Reis de Portugal e o Papa. Os Reis de Portugal foram sempre “hereges” no sentido de não reconhecer ao Papa o direito acima da vontade dos portugueses. Os Reis de Portugal, como iniciados e Cavaleiros Templários, invocavam sempre a sua Regra de independência, criada por Bernardo de Claraval, nomeando bispos e prelados à revelia de Roma, e chegando a dizer aos enviados do Papa (e passo a citar): “Cardeal: que viestes aqui fazer, se de Roma não me veio senão mal? E que ajudas me trazeis para as batalhas com os Mouros? Se trazeis algo espero que mo dês... senão, ide à vossa vida!” (palavras de Afonso Henriques).
Afonso Henrique gizou no terreno o plano de Bernardo Claraval, deixando ao morrer instruções precisas aos seus sucessores, e que foram cumpridas, e que resultaram na delimitação definitiva de fronteiras mais antiga da Europa.
Por outro lado, Afonso Henriques tinha por Bernardo de Claraval uma reverência como a que se tem por um santo; e rezava-lhe para que o ajudasse nas batalhas, sendo por esta via que terá nascido o Mosteiro de Alcobaça: como agradecimento do sucesso na conquista de Lisboa... e no trato foi claro que o património da Abadia de Alcobaça nunca deveria ser tocado ou dividido... quando isso aconteceu, pela expropriação de terras levada a efeito pelo irmão de D. João III, o Cardeal D. Henrique, e apenas dois anos depois em 1’580, dá-se o desastre de Alcácer-Quibir. Tinham passado dezasseis gerações de descendência do primeiro Rei, e expirado o acordo com o Divino em S. Mamede.
A Ordem do Templo tornou-se no maior banco do mundo. Era possível partir de Roma a cavalo com um simples papel no bolso autenticado pela Ordem do Templo, e chegar a Tomar e receber em troca um baú de moedas de ouro. A Ordem do Templo foi o braço armado da Ordem de Cluny ou Cister, e o primeiro banco central europeu... e isto não acontece sem custos.
179 anos após a fundação da Ordem do Templo, e 154 anos depois da morte de Bernardo de Claraval, na funesta Sexta Feira dia 13 de Outubro de 1’307, um Rei de França, Felipe o Belo, falido e devedor de fortunas aos Templários, e um Papa, Clemente V, certamente farto do seu poder imenso, emitem a ordem de prisão do Grão Mestre Jacques-Bernard de Molay, o que ficou registado no imaginário popular como os dias aziagos de Sexta Feira 13. Várias diligências foram feitas para deitar a mão ao tesouro da Ordem do Templo; mas nunca isso foi conseguido... porque nunca o encontraram. É aqui que entra o Porto do Graal, noção que é clara desde a doação da cidade de Tomar à Ordem do Templo através do selo utilizado por Afonso Henriques. Quando chegou a ordem papal de extinção da Ordem do Templo, reinava já D. Diniz, o Lavrador e Poeta, casado como é sabido com a princesa Isabel de Aragão, a Rainha Santa, a fundadora do Culto do Espirito Santo em Alenquer. Todas as doações à Ordem do Templo tinha sido efectuadas pelos Reis de Portugal com um estatuto entre o actual direito de superfície e o contrato de comodato: na condição de devolução em caso de extinção da Ordem usufrutuária. D. Diniz criou prontamente a “Ordem de Cristo” e incorporou bens e Obreiros nessa nova estrutura em 14 de Agosto de 1’318, o que o papa João XXII teve que engolir, mas tendo tido onze anos para preparar a transição e dar guarida a todos quantos aqui se quiseram refugiar, no respeito pela Regra da Hospitalidade Templária que herdámos na Maçonaria. Estavam criados os meios para dar cumprimento à segunda parte do plano de Bernardo de Claraval; o seu executor foi o Infante D. Henrique, o Navegador, filho de D. João I Mestre da Ordem de Avis, e da inglesa Filipa da casa de Lencaster, e que veio a ser o oitavo Grão Mestre da Ordem de Cristo. D. Henrique herdou de Bernardo de Claraval a mesma tolerância em relação ao que é diverso, fosse copta, judeu ou árabe, desde que fosse sábio, e um projecto de demanda do Reino do Preste João. Esse projecto consistia na correcção da tragédia do Concílio de Niceia em 325 onde foi solicitado a todos os prelados Cristãos que comparecessem com os seus textos sagrados, para que fossem estudados e comparados; o que resultou na destruição da maioria dos escritos... os que precisamente não convinham aos planos de hegemonia de Roma. Houve uma fuga de muitos sábios cristãos: uns para Ibéria e Gália (os arianos, não porque fossem loiros e tivessem olhos azuis, mas porque eram seguidores de Arius de Alexandria); outros para a Índia; e outros ainda para África fundando a tradição Copta por bandas da Etiópia. Por centenas de anos os chamados Escritos Apócrifos andaram escondidos em mosteiros e congéneres, mas sabe-se que já desde Alexandre o Grande se concentraram muitos na famosa Biblioteca de Alexandria (os anteriores a Cristo). Após o incêndio que a destruiu em 646, muitos escritos salvos do fogo chegaram à Palestina e poderão ter sido guardados 400 anos e finalmente confiados aos nove cavaleiros ao serviço do primeiro Rei Cristão de Jerusalém, Balduíno I. Não custa acreditar que estes escritos tenham sido a fonte de sapiência da Abadia de Troyes e de Bernardo de Claraval; mas certamente ele sabia que mais Escritos Sagrados existiriam no coração da Etiópia, guardados por um Rei Cristão Copta: Ihoannes Presbyteres (citado por Otão Freising em 1’158 a partir de informações de um bispo Sírio).
Em conclusão, o Infante D. Henrique teria sido o executor da segunda parte do plano de Bernardo de Claraval: encontrar o Reino Cristão do Oriente e as Sagradas Escrituras que permitiriam interpretar a Palavra na sua forma mais pura. E quando o encontro se dá finalmente com o clero Copta, já ao tempo de D. Manuel, o embaixador português foi muito claro: “não venho como mercador mas para unir cristãos”; seguiram-se sessões de trabalho e comparação com o clero copta que culminaram com o envio de uma embaixada, maior que a famosa embaixada que foi enviada a Roma, e onde se incluía providencialmente uma máquina impressora, a segunda réplica da máquina de Gutemberg, para copiar e reproduzir os documentos e escritos sagrados renegados por Roma. Tinha-se completado a missão de Bernardo de Claraval? Estará ela completa? Estará essa missão relacionada com o “Cumprir-se Portugal” de que fala Fernando Pessoa? Terá essa missão uma relação directa com o ideário do Culto Popular do Espirito Santo fundado em Portugal simultaneamente com a Ordem de Cristo?
De salientar que a génese de Portugal não foi apenas uma missão como parte de um plano de defesa da Civilização Cristã Ocidental, mas também uma missão sinárquica de união de povos e de saberes, num contexto de uma organização Iniciática baseada no Amor Fraternal, a Ordem do Templo, onde a universalidade fundada com o Culto do Espirito Santo foi tão grande que abarcou cristão judeus e islâmicos, tanto nas tarefas da Escola de Navegação como no Culto do Espírito Santo e no Culto Mariano (expressão da Trindade Copta em que o Pai consubstancia um conceito andrógino onde cabe a Mãe... é daí que vem o Culto Mariano, dando substrato filosófico Cristão à antiga tradição Celta do culto à Mãe Natureza). A missão do Porto do Graal, é assim a de “canteiro” para a Árvore do Conhecimento. E quando o ideal se desvirtuou pelas ganâncias mercantis, o Padre António Vieira o tornou a anunciar no Brasil... a terra de “Vera Cruz” (a cruz verdadeira?), também assim descrita pelo Agostinho da Silva que disse ser o Brasil, o Portugal que os Portugueses não conseguiram fazer na Europa.
A Maçonaria Portuguesa pode ser no presente a detentora deste legado, e tem a obrigação no futuro de o frutificar pelo estudo e divulgação das ideias rejeitadas pela intolerância do passado histórico; como no plano social, tem obrigação de ajudar a criar as condições de vivência em Fraternidade Universal, que mais não é a anunciada Era do Espírito Santo.
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