A Iniciação (II)
Os ritos de passagem são frequentemente integrados por referências ou representações à vida anterior dos que se submetem ao rito (de onde vens), por uma ou mais provas que devem ser superadas (o que és) e por referências ou representações daquilo a que se acede (para onde vais), designadamente aos deveres ou obrigações inerentes à nova situação que é atingida.
O rito de passagem que é a Cerimónia de Iniciação maçónica não foge a este estereótipo. Tem, porém, a característica de, após uma fase inicial, destinada à preparação psicológica e interior do candidato, tudo isso ocorrer em simultâneo.
Durante praticamente todo o decurso da Cerimónia de Iniciação, processam-se, em simultâneo, simbólicas referências à vida passada do profano em geral (e, portanto, também do candidato), ocorre a prestação de provas pelo candidato, por cuja submissão e consequente superação, também simbolicamente, se processa a transformação da realidade anterior para a realidade futura e apresentam-se ao candidato os princípios morais que devem por este ser seguidos como elementos veramente identificadores e conformadores da sua nova condição, a de maçon.
Durante todo este processo, o candidato é o centro da Loja - e, na medida em que esta simboliza também o Mundo, o candidato é o centro do Mundo. Tudo começa e acaba nele. Tudo a ele se refere. Tudo se destina a ser percepcionado, apreendido, sentido, em suma, vivido, por ele.
O rito de passagem que é a Cerimónia de Iniciação maçónica não foge a este estereótipo. Tem, porém, a característica de, após uma fase inicial, destinada à preparação psicológica e interior do candidato, tudo isso ocorrer em simultâneo.
Durante praticamente todo o decurso da Cerimónia de Iniciação, processam-se, em simultâneo, simbólicas referências à vida passada do profano em geral (e, portanto, também do candidato), ocorre a prestação de provas pelo candidato, por cuja submissão e consequente superação, também simbolicamente, se processa a transformação da realidade anterior para a realidade futura e apresentam-se ao candidato os princípios morais que devem por este ser seguidos como elementos veramente identificadores e conformadores da sua nova condição, a de maçon.
Durante todo este processo, o candidato é o centro da Loja - e, na medida em que esta simboliza também o Mundo, o candidato é o centro do Mundo. Tudo começa e acaba nele. Tudo a ele se refere. Tudo se destina a ser percepcionado, apreendido, sentido, em suma, vivido, por ele.
Porque assim é, tudo é organizado para que o máximo de atenção do candidato esteja concentrado no que se passa. Quando é que a nossa capacidade de atenção está no seu nível máximo? Quando estamos perante o desconhecido. Daí a importância de que o candidato ignore o que se vai passar.
Mas o objectivo principal da Cerimónia de Iniciação é TRANSFORMAR um profano num maçon. Importa, então, que esta efectue essa transformação. Para que tal ocorra, há que causar uma impressão no candidato, que seja o agente dessa transformação. Isso não ocorre com a mera leitura de um texto ou a simples exposição de normas de conduta, ou sequer com a prestação de provas que, na realidade, são tão acessíveis que não há memória de terem sido falhadas. Isso ocorre com a integração de tudo isto num conjunto e numa ambiência que, vividos em directo, sem avisos prévios, sem se saber o que virá a seguir, efectivamente marquem o candidato. O que se procura é que quem se submeter a uma cerimónia de iniciação maçónica nunca a esqueça, em dias de sua vida!
Para tal, o candidato é o centro de interesse de toda a actuação de toda a Loja durante todo o tempo em que decorre a sua iniciação, em toda a sua integralidade. Procura-se atingir, tocar, todos e cada um dos cinco sentidos do candidato. É importante, assim, tudo o que o candidato vê (e o que não vê...), tudo o que ouve e entende (e tudo o que, ouvindo, não entende, no momento...), tudo o que cheira, tudo o que saboreia, tudo o que sente (e tudo o que se passa sem que ele directamente sinta...).
A Cerimónia de Iniciação maçónica é uma cerimónia complexa para quem a executa e para quem a ela é submetido. Para quem a executa, porque, para ser feita de forma a que a mesma atinja os seus objectivos, se impõe concentração, coordenação e cooperação de todos os presentes, pois todos, realmente todos, os membros de uma Loja presentes participam na Cerimónia de Iniciação e contribuem para a criação do clima que permitirá o desabrochar de um maçon no interior de quem a essa cerimónia é submetido. Para este, porque, impreparado, despojado e indefeso, enfrenta um aluvião de sensações que - sabemo-lo! - lhe será impossível devidamente processar no momento. Mas é por isso mesmo que a Cerimónia de Iniciação é marcante!
Uma Cerimónia de Iniciação bem executada, bem vivida, será fonte de ensinamento e reflexão ao longo de toda a vida. Não será imediatamente compreendida na sua integralidade. Mas isso não importa. O que importa é que marque quem a ela se submeteu. Marcará no momento em que é vivida. Marcará de novo quando, pela primeira vez, o então já maçon assistir à iniciação de outrem. Voltará a marcar sempre que assistir a uma iniciação, sempre que executar uma função numa iniciação, sempre que dirigir uma iniciação.
E, se a sua Iniciação for proveitosa, se o maçon souber dela tirar toda sua lição e a aplicar ao longo do resto de sua vida, desejavelmente quando chegar o momento da sua Suprema Iniciação, do Derradeiro Ritual de Passagem, da sua Passagem ao Oriente Eterno, recordar-se-á do dia em que esteve, impreparado, despojado e indefeso, perante o Desconhecido e passou adiante e... não temerá!
Rui Bandeira
7 comentários:
Quando iniciaste esta serie fiquei curioso sobre como irias levar o tema.
Brilhante.
Abraço
BoAS...
Já que o tema é Iniciação, tenho uma duvida.
Quando se fazem Cerimónias de Iniciação, são iniciados profanos um de cada vez, ou faz-se uma Iniciação colectiva. Isto é, pelo que sei, é iniciada uma pessoa de cada vez, mas a duvida reside no facto de no caso de existirem mais que uma candidatura aceite, marca-se um dia para todos os proponentes, ou marca-se a Cerimónia para um de cada vez?
abr...prof...
Já que estamos em maré de dúvidas... quem assiste e participa na Iniciação? Todos, ou apenas os que já são Mestres?
@o profano
Meu caro, por este andar, qualquer dia tem que mudar de "nome de utilizador"... ;)
Um abraço,
Simple Aureole
Meu caro simple, de facto já pensei nisso :)
Mas ainda é cedo e eu tenho muita paciência...
Ainda sou um mero aprendiz na vida e nestas "coisas"... :)
abr...prof...
Com a devida vénia ao Rui e respondendo às duvidas.
De preferencia deve ser iniciado um de cada vez pelo que cada Loja deve calendarizar as suas sessões para que isto aconteça.
Na pratica acontece muitas vezes que se iniciam 2 candidatos em simultaneo.
Mais que isso é um exagero e perde-se muito do conteudo, alem de que para quem faz a cerimonia é muito cansativo.
@simple
Tal como Rui diz, todos participam e assistem, e todos é todos
Muito Agradecido pela explicação.
De facto era um assunto que me causava alguma dúvida.
abr...prof...
Caro Rui Bandeira,
Descobri o seu blog há pouco tempo, e ainda foram poucos os posts que li, mas desde já gostaria de o felicitar pelo conteúdo do mesmo, e pela forma bastante clara (e ao mesmo tempo preocupada em manter a mística em torno dos mesmos) como são abordados os vários temas.
Muitos parabéns!
cumprimentos,
Tiago Afonso
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