O décimo Venerável Mestre
Uma das vantagens do sistema de sucessão no exercício do ofício de Venerável Mestre informalmente instituído na Loja Mestre Affonso Domingues (e também em muitas outras Lojas, das mais diversas Obediências, ritos e latitudes) é que possibilita ao 1.º Vigilante um ano completo para analisar a Loja, verificar os seus pontos fortes e fracos, meditar sobre qual a melhor forma de dar o seu contributo aquando do exercício do seu mandato como Venerável Mestre - em suma, concede ao 1.º Vigilante um ano inteiro para preparar o seu projecto para o ano seguinte.
Dadas as circunstâncias em que eu fui designado/nomeado/empurrado/nomeado voluntário para ser 1.º Vigilante, eu utilizei esse período de reflexão para meditar sobre a melhor forma de evitar que situações semelhantes ocorressem num futuro próximo.
Foi neste estado de espírito que o mandato do décimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, Rui Bandeira, eu próprio, foi iniciado.
Tinha de confiar no instinto. E o instinto acenava-me que as circunstâncias que me tinham tornado Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues um ano antes do normal reflectiam uma debilidade, um ponto fraco da Loja a que havia que começar a dar remédio: a Loja seguia disciplinada e confiantemente, mas também, de alguma forma algo acriticamente, o seu líder, o Venerável Mestre em funções. Toda a evolução que, ao longo de quase uma década a fizera crescer e trabalhar e unir-se também tinha levado a essa consequência, para mim nefasta: a Loja era disciplinada e unida (muito unida!), mas em torno do seu líder, não em torno do grupo. A sucessão de eventos ocorrida, a frequente necessidade de actuar com espírito de corpo e em uníssono, habituara a Loja a reagir à voz de comando do líder em funções e a executar as suas determinações. Isso era bom, na medida em que a Loja era disciplinada, eficaz e unida. Mas não bastava e era, sobretudo, perigoso. A quase pavloniana execução das determinações do líder do momento tornara a Loja uma Loja do Venerável, quando, ao invés, o Venerável é que é da Loja!
Havia que, sem perder o que era vantajoso - disciplina, espírito de corpo, eficácia, união - começar a criar as condições que impedissem que um qualquer Venerável, por erro ou desvario, um dia conduzisse ordenada e disciplinadamente a Loja para o abismo, se fosse esse o resultado das suas escolhas acriticamente seguidas!
A reflexão que pude efectuar, entre a minha eleição, em Julho de 1999, e a minha instalação, em Setembro seguinte, conduziu-me a esta conclusão, muito em resultado de algo que bastante me impressionou: todos sabiam que, normalmente, seria João D.P. que deveria ter sido nomeado 1.º Vigilante e vir a suceder a Luís P., não eu; no entanto, anunciado por Luís P. que o seu 1.º Vigilante afinal seria eu, ninguém questionou, ninguém, pelo menos publicamente, levantou dúvidas ou perguntou a razão da quebra do hábito, todos disciplinadamente aceitaram a indicação do Venerável Mestre e eu fui instalado com a habitual placidez! No entanto, o normal teria sido que, ao menos, tivesse sido questionada a razão da quebra da regra informal que, desde o início, era seguida na Loja! E mesmo que alguns manifestassem o seu desagrado!
Decidi, pois, aproveitar a imensa confiança que a Loja depositava no seu Venerável Mestre para a tornar mais crítica, para a habituar a decidir - e não a apenas seguir a decisão daqueles a quem ia confiando o exercício da função de Venerável Mestre. Para tal, havia que voltar a habituar a Loja a debater, a discutir, a pesar em conjunto razões e argumentos e, finalmente, a decidir, ela própria, o grupo. Só assim seria possível que, a seu tempo, o Venerável Mestre regressasse aos limites da sua função: dirigir a Loja, em consonância com o caminho escolhido por esta - não determinar à Loja o caminho que ela devia seguir.
As ordens de trabalhos de todas as reuniões do meu mandato passaram a incluir sempre, pelo menos, um tema, um assunto, para discutir e decidir. Ao princípio foi difícil! Recordo-me que, nas duas primeiras reuniões, quando eu coloquei o assunto do dia à discussão, ocorreu uma pausa de embaraçado silêncio, ninguém tomando a iniciativa... Nesse início, um pouco penoso, foram o João D. P., o meu ultrapassado 1.º Vigilante, e o José Ruah quem iam salvando a situação. A pouco e pouco, porém, a Loja foi recuperando o hábito de discutir, de pesar prós e contras, em suma, de decidir. No final do meu mandato, as reuniões já eram muito mais participadas e a Loja começava a deixar de ser uma Loja que se limitava a seguir o seu Venerável Mestre e recuperava o seu antigo dinamismo, enquanto grupo.
Recebi uma Loja de Venerável e entreguei ao meu sucessor uma Loja com Venerável. Esse foi o contributo que dei à Loja Mestre Affonso Domingues no ano em que fui seu Venerável Mestre.
Fi-lo com a colaboração de um Quadro de Oficiais que, além do ex-Venerável Luís P., era constituído pelos seguintes elementos, que foram imprescindíveis e essenciais para o normal desenrolar do mandato:
1.º Vigilante - João D. P.
2.º Vigilante - José M.
Secretário - José Ruah
Tesoureiro - Alberto R. S.
Orador - Luís R. D.
Mestre de Cerimónias - Rui D. R.
Experto - Ruy F.
Hospitaleiro - Vítor E. C.
Guarda Interno - Jean- Pierre G.
Organista - Alexis B.
Editor - António P.
A todos um muito obrigado!
Rui Bandeira
2 comentários:
A modestia do Rui, em falar m causa propria, faz com que est texto seja minimalista.
O Veneralato dele foi isto e muito mais.
@José Ruah
Assim sendo, seria interessante que o José Ruah complementasse o artigo, revelando aquilo que o pudor do Rui o impediu de escrever...
Um abraço,
Simple Aureole
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