15 maio 2007

Diálogo (VI)

- Ontem foi a votação sobre se serias admitido à Iniciação ou não...


- Já não era sem tempo! Há meses que apresentei a candidatura... Vocês não encaram a hipótese de fazer um curso de produtividade? São piores que os Tribunais...
- Produtividade é analisar bem as situações, ser prudente e reunir todos os elementos para chegar à melhor solução possível. Produtividade é diminuir os erros.

- Mas porque é que demoram taaaannnto tempo?

- Nem sequer demorámos muito tempo. Para tua informação, só dois meses ficou a tua candidatura exposta no quadro de informações...

- Para quê?

- É o tempo mínimo que uma proposta de candidatura tem de ficar exposta para poder ser vista por todos e poder qualquer maçon, mesmo se de Loja diferente da que a vai votar, colocar objecções.

- E se alguém colocar objecções?

- O Venerável Mestre da Loja onde decorre o processo analisa-as e decide se continua com o processo normalmente, se diligencia a recolha de mais informações (por exemplo, ouvir o visado sobre a objecção exposta) ou se pára o processo.

- Com tantas precauções é milagre uma candidatura ser aceite...

- Não. É simplesmente responsabilidade...

- Mas afinal qual foi o resultado da MINHA votação????

- Foste aprovado para Iniciação com uma votação pura e sem mácula!

- Votação pura e sem mácula?

- Por unanimidade! As votações por voto secreto são realizadas pelo método bola branca - bola preta. Quem concorda, coloca uma bola branca na urna; quem discorda, coloca uma bola preta: Uma votação pura e sem mácula é aquela em que, verificada a urna, só se vêem bolas brancas, que não é maculada por nenhuma bola preta...

- YYYYEEESSSS! Arrasei! Maioria super-hiper-mega absoluta...

- Calma com o entusiasmo. Passaste à justa!

- À justa? Se foi por unanimidade!

-
Pois, isso mesmo. É que uma candidatura só é aprovada se não tiver votos contra, isto é, se for aprovada por unanimidade. Percebes agora porque é que eu disse antes que era vantajoso para o candidato designar-se para o inquirir quem tivesse na votação inicial manifestado objecções... É a melhor forma de verificar se as objecções são ultrapassadas, de forma a que não seja colocada uma bola preta na hora da verdade...

- Mas... Unanimidade? Assim qualquer maçon pode bloquear uma admissão.

- Quase... Há válvulas de escape para prevenir injustiças. Por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues, se houver três ou mais bolas pretas, a candidatura é rejeitada. Mas se houver, apenas uma ou duas bolas pretas, a decisão final fica adiada para a sessão seguinte.

- Porquê?

- Porque, nessa eventualidade - e só nessa!-, quem colocou a bola preta tem a obrigação de, em privado, explicar ao Venerável Mestre as razões da sua oposição solitária. O Venerável Mestre tem o poder de, em face da explicação recebida, confirmar a bola preta (o que implica a rejeição da candidatura) ou anulá-la, se entender que essas razões são fúteis ou infundamentadas. Se anular o ou os dois votos contrários, então só contam as bolas brancas e a candidatura é aprovada.

- Então e se quem votar contra não for justificar a sua razão?

- É impensável que um maçon não assuma a responsabilidade de justificar um seu voto ao Venerável Mestre. Portanto, se porventura ocorrer uma votação em que haja uma bola preta que não seja justificada, o Venerável Mestre só pode tirar uma conclusão: a bola preta foi colocada por lapso, inadvertidamente, e portanto anula-a.

- E três votos contra? Também precisam de ser justificados?

- Aí já não. Já há três cabeças a declarar oposição, já não há necessidade de mais qualquer explicação. A candidatura fica rejeitada.

- Mas a minha foi aceite! E agora?

- Agora esperas que eu te diga quando serás iniciado. A paciência é, decididamente, uma virtude indispensável aos maçons...

Rui Bandeira

14 maio 2007

Gomes Freire de Andrade

No texto Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre, menciono os nomes das cinco Lojas com a numeração de 1 a 5 da GLLP/GLRP. Dessas, uma foi dedicada a um maçon patriota e mártir: Gomes Freire de Andrade.

Gomes Freire de Andrade nasceu em Viena de Áustria em 27 de Janeiro de 1757 e passou ao Oriente Eterno executado no Forte de S. Julião da Barra, em 18 de Outubro de 1817.

Era filho de Ambrósio Freire de Andrade, embaixador de Portugal, e de uma senhora, condessa de Schafgoche, vinda de antiga e ilustre família da Boémia.

Teve a educação que na época se costumava dar aos filhos da nobreza. Destinado à carreira militar, assentou praça de cadete no regimento de Peniche, sendo em 1772 promovido a alferes. Passou à Armada Real, embarcando em 1784 na esquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas no bombardeamento de Argel.

Regressou a Lisboa em Setembro, promovido a tenente do mar da Armada Real, e em Abril de 1788 voltou ao antigo regimento no posto de sargento-mor. Tendo alcançado licença para servir no exército de Catarina II, em guerra contra a Turquia, partiu para a Rússia. Em São Petersburgo conquistou as maiores simpatias na corte e da própria imperatriz. Na campanha de 1788-1789, comandada pelo príncipe Potemkin, distinguiu-se nas planícies do Danúbio, na Crimeia e sobretudo no cerco de Oczakow, sendo o primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em 17 de Outubro de 1788, depois de cerco prolongado. Praticou muitos actos de bravura, sendo aos 26 anos recompensado com o posto de Coronel do exército da imperatriz, que em 1790 lhe foi confirmado no exército português, mesmo ausente.

Em 1816 foi eleito Grão-Mestre da Maçonaria portuguesa e tornou-se a «alma» de uma conspiração liberal contra o Marechal Beresford, oficial que administrava Portugal sob mão de ferro, como se tratasse uma colónia inglesa, despertando grande descontentamento junto dos oficiais e intelectuais portugueses. A 25 de Maio de 1817, em estado avançado dos preparativos da insurreição contra Beresford, Gomes Freire foi preso conjuntamente com outros 11 conspiradores, por denúncia de três maçons (três traidores, como na Lenda do 3.º grau...), José Andrade Corvo de Camões, Morais de Sarmento e João de Sequeira Ferreira Soares.

Gomes Freire de Andrade foi enforcado por ordem do Marechal Beresford no cadafalso na Torre de S. Julião da Barra e os demais no Campo de Santana, hoje denominado, em sua memória, Campo dos Mártires da Pátria.

Narra Borges Grainha que um dia antes da execução um coronel inglês, Robert Haddock, visitou o Grão-Mestre na cadeia e ofereceu-lhe como irmão a oportunidade para a fuga. Gomes Freire recusou a oportunidade!

Em 1853 foi erguido um monumento no sítio onde morreu sendo desde então homenageado como um dos heróis da luta pela instituição da monarquia constitucional em Portugal e um dos mártires mais eminentes da Maçonaria portuguesa.

A execução de Gomes Freire de Andrade é tema de uma das obras relevantes do teatro português do século XX, Felizmente há luar, de Luís de Sttau Monteiro.

Tem o seu nome uma Ordem Honorífica da Maçonaria Regular Portuguesa, a Ordem General Gomes Freire de Andrade, destinada a honrar os que prestam relevantes serviços à Maçonaria Regular.

Rui Bandeira

12 maio 2007

João Vilarett fez anos no dia 10 de Maio




Este rosto aparentemente meio gordinho pertence a um personagem que realmente era mesmo um tanto gordinho, personagem quase completamente esquecido dos portugueses com menos de 50 anos.

E no entanto a João Vilarett devemos em grande parte o conhecimento dos mais importantes poetas de língua portuguesa.

Não foi poeta, mas disse poesia como ninguém até hoje (e recordo Manuel Lereno e Mário Viegas que foram grandes, mesmo muito grandes... só que Vilarett nesta matéria foi enorme !).

Quem o ouve dizer José Régio tem que sentir a pele encrespar-se. Quem o ouve contar a história da "Menina Gorda" tem que sorrir e comover-se.

Por mais simples que fosse o texto, João Vilarett transformava-o num hino aos sentidos, aprofundava-o ao ponto que ninguém imaginaria possível, descobria-lhe uma humanidade muitas vezes insuspeita antes dele a pôr a descoberto. E no entanto não tem direito nem a uma mençãozinha, ranhosa que seja, nos livros escolares do nosso ensino, miserável, da língua portuguesa. Mau grado os responsaveis (?) pela matéria falarem, despudoradamente, alto e bom som, na língua de Camões. Como se Camões alguma vez tivesse escrito ou falado esta língua ! Como se João Vilarett alguma tivesse dito "esta língua"!

Chegou ao meu correio um texto ao qual não há que acrescentar nada e que portanto transcrevo em directo, nesta recordação que, em memória de Portugal, entendi dever fazer. A minha opinião é a de que os mais velhos têm a obrigação de não deixar esquecer o que de melhor este País (800 anos de existência e todas culturas) que se chama PORTUGAL teve (tem !) e que a geração de "responsáveis" (?) actual faz o que pode para apagar.









Ele dizia poesia como ninguém. É sobretudo por isso que é recordado. João Villaret foi actor de teatro e de cinema e apresentou programas de televisão. Morreu aos 48 anos mas, neste quase meio século de vida, fez com que uma nação se apaixonasse pelos poetas nacionais. Sobretudo Fernando Pessoa. Mas não só: “Muita gente ouviu falar pela primeira vez de José Régio através de João Villaret”, afirma o historiador Vítor Pavão dos Santos. Quando, no final da década de 50, a televisão se tornou a nova religião, Villaret surgiu como um profeta. Todos os domingos, religiosamente, prendia as pessoas ao pequeno ecrã.

João Henrique Pereira Villaret nasceu em Lisboa em 10 de Maio de 1913. Viviam-se os anos revoltos da I República, quando Portugal ainda buscava o seu rumo. João, por seu lado, não teve de procurar muito. Já trazia no sangue a vontade e a capacidade de encantar o público em cima de um palco. Foi actor, encenador e declamador. Foi uma fera dos palcos. O seu percurso demonstra que obras superlativas têm poder de reverter expectativas e derrubar barreiras consideradas intransponíveis. Depois de frequentar o Conservatório Nacional, começou por integrar o elenco da companhia de teatro lisboeta Rey Colaço-Robles Monteiro. Mais tarde, fez parte da companhia teatral Os Comediantes de Lisboa, fundada em 1944 por António Lopes Ribeiro e o seu irmão Francisco, mais conhecido por Ribeirinho. A mesma dupla de irmãos já fora responsável pelo êxito do filme “O Pai Tirano” (1941), onde Villaret faz uma breve aparição como pedinte mudo. Seguem-se “Frei Luís de Sousa” (1950) e “O Primo Basílio” (1959). No cinema, João Villaret trabalhou ainda com Leitão de Barros em filmes como “Inês de Castro” (1944) e “Camões” (1946). Ficou também na memória de quem viu a peça “Esta Noite Choveu Prata”. E quem não assistiu, vive hoje das descrições apaixonadas dos que lá estiveram. No extinto Teatro Avenida, em Lisboa. Corria o ano de 1954. Se, nos anos 30, o cinema se tornara “pouco a pouco um vício”, segundo afirmava na época a revista “Ilustração”, no final dos anos 50 é a televisão que vem ocupar o seu lugar. É assim que nascem estrelas como João Villaret. A experiência que adquirira no palco e em cinema, assim como em programas radiofónicos, faz do seu programa de televisão um êxito. Aos domingos era impreterível vê-lo declamar, com graça e paixão, poemas dos maiores autores nacionais. “Na televisão, teve um papel muito importante na divulgação dos grandes poetas portugueses, sobretudo Fernando Pessoa e António Botto, que eram amigos dele”, lembra o historiador Vítor Pavão dos Santos. E acrescenta: “Conseguiu pô-los em contacto com o público.” João Villaret soube ir mais longe e, em conjunto com Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, deu origem à canção “Fado Falado”, onde se afirmava: “Se o fado se canta e chora, também se pode falar.” Criava-se um estilo. De mão no peito e olhar fixo na câmara, prendia as famílias ao pequeno ecrã. Era um homem grande, volumoso. Mas maior ainda era a sua arte. “Um grande português é alguém que foi capaz de colocar as suas qualidades intelectuais e morais ao serviço do país onde nasceu”, diz a actriz Maria do Céu Guerra. Não se refere a Villaret, mas a definição adequa-se. João Villaret morreu, aos 48 anos, em 21 de Janeiro de 1961. “Tocam os sinos na torre da igreja”… Ainda era a sua voz que se ouvia, a “cantar” o poema “Procissão” de António Lopes Ribeiro. “Na nossa aldeia, que Deus a proteja, já passou a procissão”, terminava. “Villaret tinha rara capacidade de lidar com o público e fez grande divulgação dos poetas. Isso foi muito importante”, conclui Vítor Pavão dos Santos.

(Texto com origem no programa "Os Grandes Portugueses" da RTP)
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JPSetúbal







11 maio 2007

Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre

Há um tempo certo para tudo!

Há muito que eu e outros dos mais antigos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues ocasionalmente falávamos que se devia preservar a memória da Loja, elaborar registo do que se foi passando ao longo do tempo, para além do que fica registado na linguagem seca das actas, para que, mesmo depois do desaparecimento dos mais antigos, os vindouros pudessem ter acesso às raízes e à evolução da Loja. Mas nunca se passou do "pois é", "boa ideia", "temos de tratar disso".

Foi ao elaborar o texto O nome da Grande Loja, uma elaboração em que tive de rememorar eventos que, na época, foram traumáticos e que, por isso mesmo, evitava relembrar, que, subitamente, a evidência se fez clara no meu espírito: de nada vale dizer que é preciso registar a memória da Loja, se nada se fizer. Tenho os meios: vivi quase todo o tempo da Loja até agora e, do que não vivi, ainda pude falar com quem viveu; a minha memória ainda não está irremediavelmente afectada pelo inevitável decurso do tempo; e este blogue e o seu arquivo é um local tão bom como qualquer outro para guardar o registo do que se foi passando. É a hora de me chegar à frente e começar a fazer o relato do que me lembro que se passou. Talvez outros sigam então o exemplo e completem, corrijam, aperfeiçoem o que eu apenas esboçarei.

Vou, pois iniciar mais uma série de textos aqui no blogue, que agruparei sob o marcador "Memória da Loja". Como as demais séries que aqui vão havendo, serão publicados textos na periodicidade de "quando me apetecer". É, como os demais aqui no blogue, um trabalho para se ir fazendo, sem pressas, sem pressões, com gosto e descontraidamente. Espero que a pedra bruta que aqui irei deixando seja, não obstante, suficientemente talhada para que outros, mais hábeis do que eu, a vão polindo e adornando, para que possa vir a ser não totalmente sem mérito.

Uma nota deixo: os textos que aqui deixar não têm a pretensão de constituírem a História da Loja: a História é feita pelos historiadores, que estão cientificamente preparados e detêm as técnicas e os conhecimentos para a registarem; os meros escrevinhadores, mesmo que escrevinhem sobre o que viveram e viram, mais não podem aspirar do que a deixarem meros rascunhos, esperando que porventura úteis para quem efectivamente saiba e queira escrever História.

Uma única limitação me imponho: mesmo despretensiosamente, só se pode registar de uma forma minimamente objectiva o que não está demasiado perto e que, assim não demasiadamente perturbe a busca de uma razoável objectividade na análise e registo de eventos. Consequentemente, o mais perto da actualidade a que chegarei será até ao Veneralato do Venerável Mestre que precedeu o ex-Venerável em exercício. Mas essa é limitação a que só terei de atender daqui a uma não negligenciável quantidade de textos.

E, para que este texto não seja só um manifesto de intenções, comece-se já com breve menção da fundação da Loja e referência ao seu Venerável Mestre fundador.

A Loja Mestre Affonso Domingues foi fundada, ainda antes da formal constituição da Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, como loja pertencente ao Distrito de Portugal da Grande Loge Nationale Française (GLNF). Foi, na ordem de numeração desse Distrito, ulteriormente mantida na ordem de numeração da GLLP/GLRP, a Loja n.º 5, com a sua criação contemporânea das quatro que a precedem nessa Ordem: Fernando Pessoa, n.º 1, Porto do Graal, n.º2, Europa, n.º 3, e General Gomes Freire de Andrade, n.º 4. Todas agruparam maçons que, oriundos do Grande Oriente Lusitano (GOL), Obediência que se integra na corrente liberal da Maçonaria, desejavam refundar a Maçonaria Regular em Portugal.

A data de constituição oficial da Loja Mestre Affonso Domingues, enquanto Loja nº 5 da GLLP/GLRP é coincidente com a data da fundação da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

O ano da fundação da Loja Mestre Affonso Domingues é o de 1990. O maçon designado para, em primeiro lugar, exercer a função de seu Venerável Mestre foi Eduardo M. . Não o cheguei a conhecer. E creio que nunca chegou efectivamente a presidir a uma sessão da Loja - pelo menos é a ideia que recordo da consulta que, há anos, fiz do primeiro livro de actas da Loja. Eduardo M., segundo me foi dito, adoeceu e não pôde chegar a assumir o exercício dessa função. Mas o seu lugar como Fundador e designado primeiro Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues merece ficar registado.

Rui Bandeira

10 maio 2007

Os doze mandamentos maçónicos

Já no texto Mais Lojas Baden-Powell tive oportunidade de manifestar o meu desejo de aqui publicar informações relativas à actividade maçónica no Brasil, aliás procurando corresponder ao facto de a maioria das visitas a este blogue ser oriunda deste grande país de língua portuguesa. A maior limitação à realização desse desejo resulta da dificuldade de obtenção de informação que seja susceptível de interessar a generalidade dos visitantes do blogue.

Mas vou procurando...

Dei ontem com um texto publicado por Júlio Capilé em O Progresso, no qual o autor, além do mais, transcreve Os doze mandamentos maçónicos, da autoria de Joaquim Gervásio, que penso ser Joaquim Gervásio de Figueiredo, autor de um popular Dicionário da Maçonaria que, apesar da sua vetustez, continua a ser um livro muito útil para quem quer apreender o significado de muitos conceitos e termos utilizados em Maçonaria e escolas de pensamento que, de algum modo, com ela estiveram historicamente relacionadas.

Eis, pois,

Os doze mandamentos maçónicos

- Deus é Todo-Poderoso, Sabedoria Eterna e Imutável e Inteligência Suprema. Honrá-Lo-ás com a prática das virtudes.

- Tua religião será a de fazeres o Bem pelo prazer de fazê-lo. Jamais por obrigação.

- Tua alma é imortal; nada farás, pois que a degrade.

- Sê amigo do sábio e conserva os seus preceitos. Combate o vício sem descanso. Não faças aos outros, aquilo que não queres que te façam. Conforma-te com tua sorte conservando a luz do sábio.

- Ama tua esposa, teus filhos e tua pátria, cujas leis obedecerás.
Honra teus parentes, respeita os velhos, instrui os jovens e protege a infância.

- Considera teu amigo como se fora outra parte de ti mesmo e jamais te afastes dele em seu infortúnio. Por sua morte, porta-te com ele como se ainda vivesse.

- Foge das falsas amizades para resguardar e justificar a tua boa reputação.

- Não te deixes dominar pela Paixão e sê indulgente para com o erro alheio.

- Escuta mais, fala menos e age bem.

- Esquece as injúrias; ao Mal respondas com o Bem e não abuses de tua superioridade.

- Aprende a conhecer melhor os Homens, para te conheceres melhor a ti mesmo.

- Busca a verdade, sê justo e evita a ociosidade.

Não é preciso ser-se maçon para se perceber que são boas regras de vida!

Rui Bandeira

09 maio 2007

Um cartoon português dedicado à imigração ganha o WORLD PRESS CARTOON 2007

"imigração ilegal" foi o vencedor do primeiro prémio na categoria de cartoon editorial do
Cristina Sampaio nasceu em Lisboa.
Em 1985 licenciou-se em pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.
Ilustra livros infantis desde 1987 e trabalha desde 1986 como ilustradora e cartonista para diversas revistas e jornais em Portugal e no estrangeiro.Trabalhou em cenografia, multimédia e animação.
As suas ilustrações foram apresentadas em várias exposições colectivas e individuais,em Portugal, no Brasil, na Alemanha, em França e na República Checa.
Em 2002 e em 2005 foi-lhe atribuído pela Society of News Design (EUA) o Award of Exellence. Em 2006 recebeu o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa para o melhor cartoon da imprensa portuguesa.

Em 2007 recebeu o primeiro prémio do World Press Cartoon, na categoria de cartoon editorial.
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Esta informação foi recolhida no sítio pessoal da Cristina Sampaio, onde se pode dar uma olhada a muito da Sua bela obra, publicada até agora por esse mundo escrito à volta (www.cristinasampaio.com).
Só não consta do sítio que a Cristina é um coração de oiro e que desde muito novinha o desenho era a Sua habilidade.
Saudemos uma portuguesa ilustre !
JPSetúbal

O nome da Grande Loja

O texto de JPSetúbal Noticiário da capoeira foi objecto de um comentário algo ácido de memorias, questionando a legitimidade do uso da sigla GLRP pela Grande Loja onde se integra a Loja Mestre Affonso Domingues, a Loja em que se enquadram os maçons que escrevem este blogue.

memorias é, manifestamente, um elemento ligado à estrutura que se designa de Grande Loja Regular de Portugal e que, segundo se deduz do que escreveu, reivindica o direito ao uso exclusivo da sigla GLRP.

Não vou aqui criticar nem desmerecer daqueles que, honestamente, então tomaram opção diversa da minha. Nem na altura da cisão havida na Maçonaria Regular Portuguesa dei para esse peditório, não o vou fazer agora.

Entendo que cada pessoa tem o direito de exprimir as suas posições, as suas opiniões e, por isso, de forma alguma critico memorias por ter expressado a sua naquele comentário. E distingo a forma do fundo. Aquela não me agradou: achei-a, como em outros comentários que entretanto li de memorias, desnecessariamente azeda e agressiva, nada ilustrativa de como um maçon deve argumentar. Este, merece a explanação do meu ponto de vista sobre o assunto. Esclarecido isto, vamos então ao assunto.

A Maçonaria Regular Portuguesa nasceu do anseio de um grupo de maçons, então integrando a única estrutura do tipo maçónico existente em Portugal, o Grande Oriente Lusitano, de assumirem o estrito cumprimento dos princípios da Maçonaria Regular e de virem a obter o reconhecimento da Comunidade Maçónica Regular Internacional como tal. Foram então esses maçons liderados por aquele que veio a ser o primeiro Grão-Mestre da Maçonaria Regular, Fernando Teixeira.

Sendo princípio inalienável da Regularidade que a constituição de uma potência Maçónica Regular deriva da transmissão dessa qualidade por uma Potência Regular pré-existente, esses maçons constituíram as suas Lojas (entre as quais a Loja Mestre Affonso Domingues) sob os auspícios da Grande Loge Nationale Française (GLNF), única Potência Maçónica Regular existente em França, agrupando essas Lojas num Distrito daquela Grande Loja.

A Maçonaria que se reclama da regularidade tem como um dos seus princípios enformadores o respeito das leis do Estado em que funciona. A legislação em vigor no Estado Português dispõe que, para uma comunidade de interesses ter relevância jurídica, deve estar constituída em associação (ou, eventualmente, fundação).

Em cumprimento da legislação do Estado Português, esses maçons refundadores da Regularidade em Portugal constituíram uma associação civil de direito privado denominada Grande Loja Regular de Portugal.

A seu tempo, a Grande Loge Nationale Française acedeu ao desejo dos maçons regulares portugueses de autonomizar o seu Distrito em Portugal e consagrá-lo como Grande Loja com autoridade exclusiva sobre a Maçonaria Regular em Portugal, com a designação, similar à da associação profana já existente, de Grande Loja Regular de Portugal.

Esta nova Potência Mónica Regular foi reconhecida como tal pela generalidade das suas congéneres de todo o Mundo, designadamente pela UGLE (United Grand Lodge of England) e pelas potências maçónicas americanas (para além, obviamente, da sua Grande Loja Mãe, a GLNF), reunindo assim o consenso do reconhecimento como Potência Maçónica Regular por todas as Potências Maçónicas Regulares chaves do globo (Grã-Bretanha, Estados Unidos e França).

Assim, e sendo Grão-Mestre Fernando Teixeira e Vice-Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho, ficou institucionalizada a Maçonaria Regular em Portugal com uma associação de direito civil e uma Obediência Maçónica internacionalmente reconhecida, ambas utilizando o nome de Grande Loja Regular de Portugal e a sigla GLRP.

Ocorreram então, em finais de 1996, os acontecimentos que vieram a ficar conhecidos pela cisão da Casa do Sino. Para melhor entendimento das suas consequências quanto ao nome da potência Maçónica Regular Portuguesa, importa ter presente alguns detalhes.

Os calendários eleitorais civil e maçónico não são coincidentes. Normalmente, as eleições nas associações civis ocorrem no primeiro trimestre de cada ano. Na Obediência Maçónica Regular, a eleição do Grão-Mestre sucessor ocorreu no final do segundo trimestre de 1996 e a sua posse no trimestre imediato. Por outro lado, a Casa do Sino, em Cascais, então a sede da Maçonaria Regular Portuguesa, fora arrendada em nome pessoal pelo então Grão-Mestre Fernando Teixeira.

No final do ano de 1996, alguns elementos da GLRP, discordando do Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho, e beneficiando do beneplácito do anterior Grão-Mestre, Fernando Teixeira, ocuparam a Casa do Sino e declararam que consideravam destituído o Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho.

A maioria dos maçons e das Lojas, concordantes ou não com o estilo de Luís Nandin de Carvalho, tendo ou não votado nele na eleição para Grão-Mestre, não acompanhou este pronunciamento, considerando-o violador das regras da Maçonaria Regular (eu permito-me acrescentar: das regras da maçonaria, seja ela Regular ou Liberal...), e, concordando ou discordando de Luís Nandin de Carvalho, tendo ou não votado nele, manifestou o reconhecimento pela sua autoridade de Grão-Mestre da Maçonaria Regular Portuguesa, legítima e regularmente eleito e instalado, e submeteu-se à sua autoridade, rejeitando o pronunciamento.

Os ocupantes e quem os apoiou declararam vago o cargo de Grão-Mestre e vieram a eleger, entre si, outrem a quem passaram a declarar ser o seu Grão-Mestre.

Estava consumada a cisão!

Colocou-se, porém, um problema jurídico: apesar de a maioria dos maçons regulares e das Lojas Regulares se ter mantido sob a autoridade do Grão-Mestre eleito e instalado, devido à falta de sincronismo dos calendários eleitorais civil e maçónico, os dirigentes em funções da associação civil denominada Grande Loja Regular de Portugal eram elementos que tinham apoiado a ocupação da Casa do Sino e se tinham pronunciado pela destituição do Grão-Mestre a que a maioria (concordando ou não com o seu estilo, tendo ou não votado nele) de maçons e de Lojas Regulares manteve a sua lealdade.

Para a maioria dos maçons que se mantiveram fiéis ao Grão-Mestre eleito e instalado, havia duas hipóteses: entabular um longo, desgastante e desprestigiante litígio nos tribunais do Estado sobre quem tinha direito de gerir a associação civil denominada Grande Loja Regular de Portugal ou, pura e simplesmente, não entrar em disputas estéreis e constituir uma outra associação civil que desse o enquadramento institucional civil e legal à Obediência Maçónica Regular que fora posto em crise pelo pronunciamento dos que optaram por rejeitar a autoridade maçónica Regular do Grão-Mestre eleito e instalado.

Optaram por não entrar em dolorosos, desgastantes e inúteis confrontos e criaram a associação civil denominada Grande Loja Legal de Portugal. Esta associação civil passou a enquadrar legalmente a Obediência Maçónica internacionalmente reconhecida, até aí, como Grande Loja Regular de Portugal.

Quer em virtude dessa continuidade, quer pelo peso sentimental do nome que também eles tinham ajudado e habituado a respeitar e a reconhecer, decidiram que a sua designação, enquanto Obediência Maçónica e estritamente nesse âmbito, passaria a ser Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, utilizando comummente a sigla GLLP/GLRP.

É esta a Potência Maçónica Regular que manteve o reconhecimento internacional como tal, seja da UGLE, seja da GLNF, seja das Potências Maçónicas Americanas, seja da generalidade das Potências Maçónicas Regulares de todo o Mundo

Resumindo: existe (creio que existe, admito que existe) a associação civil Grande Loja Regular de Portugal, controlada pelos que, em 1996, se subtraíram à autoridade maçónica do Grão-Mestre então eleito e empossado; existe a associação civil Grande Loja Legal de Portugal, que enquadra a Potência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal em Portugal. Esta, para evitar confusões, passou a usar a denominação Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Nunca, em termos civis ou profanos, desde a cisão de 1996, a entidade que enquadra legalmente a Potência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal em Portugal usou ou usa outra denominação que não a de Grande Loja Legal de Portugal. Consequentemente, nunca usurpou ou usurpa o nome de outra associação.

Em termos estritamente maçónicos, por definição subtraídos e independentes dos poderes do Estado, a Obediência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal passou a designar-se Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, abreviadamente GLLP/GLRP, constituindo o último conjunto de quatro letras a homenagem e a ligação à sua designação original, que teve de alterar em virtude de eventos dolorosos protagonizados por elementos que tomaram opções diversas dos que se mantiveram fiéis ao que entenderam ser o espírito e a prática da Regularidade Maçónica.

A Loja Mestre Affonso Domingues e os seus obreiros orgulhosamente enquadram-se na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP e aí seguem o seu caminho na busca do seu aperfeiçoamento.

À Loja Mestre Affonso Domingues e aos seus obreiros nenhuma mossa faz, nenhum incómodo traz, que outros, que fizeram opções diferentes das deles, usem, na organização em que se agrupam, o nome que entenderem. Essa é uma contenda que não temos, que não nos interessa, que não nos motiva e que não nos afecta! O que importa não é a designação que se usa, o que interessa é o trabalho que se faz, o projecto que se segue, o caminho que se trilha!

Desejamos sinceramente que ninguém busque criar conflitos, ou levantar contendas, ou simplesmente expressar azedume a propósito de nomes ou designações. Para esse peditório, repito, não demos, não damos e nunca daremos!

E, se alguém tiver dúvidas, pergunte a quem foi da Loja Mestre Affonso Domingues e teve a opção diferente da maioria da Loja o que, então, todos nós, combinámos! E ficará a saber que, para todos, a maioria que ficou e aqueles que se foram, quem foi da Loja Mestre Affonso Domingues é sempre da Loja Mestre Affonso Domingues, esteja onde esteja, esteja com quem esteja, pense como pensar, opte como optar! Foi, é e será sempre um dos nossos! Que fique esclarecido e que ninguém tenha disso dúvidas!

Portanto, não vale a pena quem quer que seja procurar vir a este blogue relançar pretensas rivalidades. Da nossa parte, não terá quem as sustente. O que nós desejamos é, tão simplesmente, que cada um siga o seu caminho e que seja feliz nele. O que pedimos é, tão só, que não nos venham importunar no nosso caminho. E, se algum dia, os nossos caminhos se voltarem a cruzar e a unir, tanto melhor. A isso eu chamo, também, ser maçon!

Rui Bandeira