31 janeiro 2008

O Lançamento de "As Pedras do Vau"


Ocorreu ontem a sessão de lançamento do livro de poesia As Pedras do Vau, da autoria de Martin Guia, o actual Grão-Mestre da GLLP/GLRP.

A Sala de Ambito Cultural do El Corte Inglés foi demasiado pequena para acomodar as centenas de interessados que compareceram. No decorrer da sessão, vários dos poemas do livro foram ditos por Carmen Filomena, daniel Ribeiro, Ellys Almeida, Eunice Santos, Francisco Queiroz, Hermínia Tojal, José Fanha e Mário Máximo, as vozes que declamam todos os poemas do livro, disponíveis em 2 CD's que acompanham o volume. As Pedras do Vau podem, ser lidas ou ouvidas, ou ainda simultaneamente lidas e ouvidas. A qualidade das declamações muito valoriza os textos.

Como eu previa, Martin Guia deve hoje estar em trabalhos de recuperação dos músculos do braço e mão direitos, tantos foram os autógrafos que teve ontem de conceder.

Os poemas do livro espelham a sensibilidade e afectuosidade do poeta, mas também o seu sentido de humor e a sua ironia e ainda a força da sua indignação. Vale bem a pena ler - e ouvir - este livro!

Solicitei, e obtive, de Martin Guia autorização para aqui publicar um dos poemas. Pedi-lhe que escolhesse qual. Escolheu um forte poema com palavras de amarga e desiludida indignação. Hesitou. Temeu que seja demasiado forte. Deu-me a liberdade de escolher eu. Abuso! Vou publicar aqui, não um, mas dois poemas. Primeiro, um escolhido por mim, ilustrativo da ironia do poeta. Depois, o forte poema que ele escolheu.

Apreciem:

Ajoelham, rezam

Ajoelham, rezam
e dizem que tudo dão
para irem parar ao Céu...

mas se lhes dissermos
que quase já lá estão,

gritam Ai Jesus

e fogem dele

como o Diabo da Cruz!

E agora este:

Atocha

El Pozo, Santa Eugenia, ATOCHA, Téllez
Madrid dois mil e quatro, Março onze,
a las siete y media de la mañana...,

Tantos, tantos mortos!

Paseo de Gracias,
Barcelona, dois mil e quatro, Março doze,
a las siete de la tarde

concentração..., comigo somos
quinhentos mil mais um milhão...

... ouvindo:

silencio por favor...
esta es una manifestación unitaria
por favor, silencio... silencio por favor!

Quanto mais silêncio se rogava
mais o Povo gritava:

asesinos, asesinos, asesinos,
asesinos, asesinos, asesinos...

e porque de assassinos se tratava
nesse estrondoso silêncio
mais o Povo gritava:

hijos de puta, hijos de puta,
hijos de puta, hijos de puta...

porque de filhos de puta se tratava!

Também alguns tímidos (para alguns ex-temidos):

el povo unido jamas sera vencido,
el povo unido jamas sera vencido.

A eterna pretensão do eterno vencido!

No al terrorismo, no al terrorismo,
paz si, guerra no, paz si, guerra no,
No al terrorismo, no al terrorismo,
paz si, guerra no, paz si, guerra no,

como se
no abismo deste mundo de massa divisível
a paz total fosse possível...

Novos, velhos, ricos, pobres,
políticos, padres, freiras,
guardas civis, estadistas,
paralíticos, juristas, rameiras,
licenciados, jubilados,
bem fadados, mal fadados...

... todos...

mãos abertas a acenar, braços levantados,
... tais pombas de paz...

num estertor de revolta
a chorar um isto não se faz,

seus filhos da puta... isto não se faz!

Todos unidos, mas já todos desunidos,

na triste graça
de só na desgraça nos aliarmos...
...enquanto dela nos lembrarmos!

E é por estas e por outras que temos na Terra

a merda da guerra,

a puta da luta

e os filhos da puta dos filhos da puta!

Lido, este poema impressiona. Soberbamente dito por José Fanha, num dos CD's, ressuma de força!

O livro e os dois CD's foram editados pela editora Diário de Bordo. Pode ser adquirido na secção de livraria do El Corte Inglés e nas boas livrarias. Vale a pena! Esta amostra é elucidativa!

Rui Bandeira

30 janeiro 2008

Como se faz em Loja

Na minha opinião, o traço distintivo da Maçonaria, o que lhe confere uma identidade única enquanto fraternidade, é a forma como se processa a interacção entre os seus membros e como decorrem as reuniões de Loja.

Já no texto O que se faz em Loja dei conta que todas as reuniões se iniciam com a execução de um ritual de abertura. Tal marca a fronteira, a passagem do bulício da vida quotidiana para a concentração dos trabalhos em Loja. Todos e cada um dos obreiros, com a sua participação no ritual, interiorizam que se vai passar a estar num ambiente diferente, que, por um lado, impõe o cumprimento de regras específicas e, por outro, permite uma postura menos defensiva por todos.

Concentração, colaboração, tolerância, respeito pelo outro e opiniões alheias, ordem, são posturas tão indispensáveis, tão presentes, que rapidamente por todos são interiorizadas e praticadas. Esta postura não prejudica a afirmação das opiniões de cada um nem a expressão de eventuais discordâncias. Nem sequer anula a possível existência de conflitos. Mas permite que cada um expresse em paz e sossego as suas opiniões, dê o seu contributo, concorde ou discorde. Permite que os conflitos se resolvam ou sejam tratados com elevação. Permite e propicia que se discutam ideias, opiniões, não pessoas e características pessoais. Permite que o que cada um afirma seja analisado, discutido, julgado, pelo seu valor, pela sua pertinência, não por ter sido dito por quem o disse, por se gostar ou não gostar de quem o disse. E permite discordar, veementemente se necessário, do que outrem afirmou, sem que tal discordância, veemente embora, seja tomada como ataque pessoal.

Em Loja, a comunicação entre obreiros segue regras simples, rígidas, claras e precisas. Rapidamente aquele que acabou de chegar ao grupo as identifica. E o estrito cumprimento dessas regras conduz à redução de atritos, à boa ordem dos trabalhos, à eficácia, à colaboração. Permite que das ideias de cada um se aproveite o melhor e que a deliberação global seja, portanto, melhor, mais esclarecida, mais aceite, do que as ideias individualmente expressas. Propicia consensos. E, quando estes não são possíveis, permite que todos entendam porque se optou pela solução escolhida, em função de que argumentos se decide o que se decide.

Essas regras não são muitas, são até talvez intuitivas, mas a sua prossecução facilita em muito o processo de discussão e de tomada de decisão, gera a confiança mútua e, por via desta, cria laços de cumplicidade e solidariedade incomuns. Seguir estas regras não deveria ser exclusivo da Maçonaria, porventura não o será. Mas não as vejo comummente seguidas em mais nenhum lado. E eu gostaria, todos os maçons gostariam, que fossem naturalmente prosseguidas em tantos lados, em tantas organizações, quanto possível. Seguramente que a nossa Sociedade melhoraria um pouco...

A primeira das regras é que, salvo movimentações especificamente determinadas pelo ritual, uma vez que cada um tomou o seu lugar, ninguém se movimenta pela sala sem para tal estar autorizado pelo Venerável Mestre e sem ser acompanhado, melhor dito, conduzido por um Oficial da Loja que assume essa como uma das suas missões específicas - o Mestre de Cerimónias. Assim, não há ajuntamentos, não se criam grupos em função de posições em discussão. Cada um tem o seu lugar e permanece no seu lugar. Por si só, esta simples regra induz uma noção de ordem, de sossego, de calma, que obviamente muito ajuda à eficácia dos trabalhos e à prevenção de conflitos.

A segunda das regras é que cada um só intervém apenas e só quando a palavra lhe é concedida. Não se interrompe ninguém! O único elemento que pode interromper qualquer obreiro que esteja no uso da palavra (até o Venerável Mestre!) é o Orador, oficial da Loja cuja função é zelar pela regularidade dos trabalhos, pela preservação do ritual, pelo cumprimento das regras. Só ele pode interromper, assinalando uma falha, uma falta ou um desvio. E a sua intervenção não tem discussão. É acatada e nada mais! Se o não for, ao faltoso é, pura e simplesmente, retirada a palavra! Quando um obreiro pretende usar da palavra, assinala essa intenção com um específico gesto do braço. O Vigilante da coluna respectiva, quando o obreiro que estiver no uso da palavra tiver terminado, informará que existem na sua coluna obreiros que pretendem usar da palavra e esta ser-lhes-á concedida, por ordem de solicitação, sempre mediante prévia anuência do Venerável Mestre. Com o cumprimento desta regra, não há atropelos, não há interrupções, cada um pode, livre e calmamente, exprimir o seu pensamento. Poderá a outro obreiro parecer que quem usa a palavra está a dizer o maior disparate do Mundo. Mas tal não legitima que ele seja interrompido, que não possa expor até ao fim a sua ideia. Depois, poderá quem discorda manifestar-se e justificar porque considera a ideia exposta o maior disparate do Mundo...

A terceira regra é que cada obreiro se dirige ao Venerável Mestre e, através deste, à assembleia, nunca a um outro obreiro em particular. Não há discussões privadas, não há duelos individuais. Há apenas e tão só a exposição e defesa de ideias perante todos. É impressionante como o cumprimento desta regra agiliza a discussão séria de qualquer assunto!

A quarta regra é que se discutem ideias, não pessoas. O obreiro com que eu mais antipatizo pode ter a mais brilhante das ideias. O obreiro que me é mais próximo pode ter uma ideia péssima. Concordar com a primeira não me obriga, por si só, a passar a simpatizar com o seu autor. E discordar de uma ideia só porque não gosto do seu autor, é pura e simplesmente estúpido! E uma relação de especial amizade com alguém não me obriga a concordar com uma sua ideia que seja errada e não me desobriga de assinalar o erro. Pensar, debater e agir racionalmente, esse o objectivo.

A quinta regra é que, em relação a cada assunto, cada obreiro intervém apenas uma vez. Excepcionalmente, se a complexidade do assunto ou o rumo do debate o aconselhar, o Venerável Mestre pode autorizar uma segunda ronda de intervenções. Mas chega e é só. Consegue-se assim debater um tema e chegar a uma conclusão num tempo razoável. Cada um expõe as suas ideias, estão expostas. Só raramente surgirá a necessidade de quem já falou clarificar, aprofundar, o seu pensamento (ou,em função do debate, expressar a modificação da sua posição). Não é útil o repisar de posições, a insistência no que já se disse. Todos ouviram à primeira...

A sexta regra é conhecida: não se discute em Loja política ou religião. Mesmo com toda a tolerância, com todos os cuidados, é melhor prevenir que remediar... E, afinal, a religião de cada um é com cada qual e cada um tem direito a ter as suas opções políticas sem que ninguém tenha nada com isso...

O simples cumprimento destas intuitivas regras (porque será que é tão raro que assim se veja?) permite chegar, em prazos razoáveis, às melhores soluções ou conclusões possíveis, sem ferir pessoas ou os seus sentimentos, propiciando consensos.

E destas discussões efectivamente nasce a luz! E assim, com os sérios contributos de todos, se reforçam os laços de amizade e de fraternidade. E assim cada vez é mais fácil discutir, sem traumas, sem desconfianças, temas cada vez mais sensíveis ou complexos. E assim obtemos os nossos consensos com alegria e assentamos nas nossas discordâncias sem azedume. Porque, sempre!, cada um de nós, acima de tudo, respeita as opiniões alheias e vê as próprias respeitadas, tolera os erros ou as diferenças alheias, como vê os seus próprios erros e idiossincrasias tolerados.

Como se faz em Loja? Com ordem, com regras, com respeito, com tolerância. Em suma, com Harmonia!

Rui Bandeira

29 janeiro 2008

O que se faz em Loja

Talvez a pergunta que mais vezes não maçons fazem a maçons seja: "afinal o que é que os maçons fazem nas reuniões?". Subjacente a esta pergunta está, muitas vezes, o pressuposto de que os maçons certamente levam a cabo secretas, mirabolantes e tortuosas actividades. Como todos os pressupostos infundamentados, que assim mais não são do que preconceitos, este não se aproxima, sequer minimamente, da realidade, que é muito mais simples e prosaica.

Há duas partes das reuniões de uma Loja Maçónica que são sempre fixas e iguais: a abertura e o encerramento, que se processam executando os respectivos rituais. São sempre as mesmas palavras, gestos e actos, que se repetem, reunião a reunião.

Com o ritual de abertura, efectua-se a transição entre a vida exterior, os afazeres pessoais e profissionais de cada um, e o labor de um grupo restrito, focado e fraternal. Assim se processa a concentração de todos e de cada um no trabalho que se vai realizar. Assim se cria a atmosfera de concentração, confiança e harmonia que deve envolver os trabalhos que se vão efectuar na reunião.

Com o ritual de encerramento, efectua-se a transição entre os trabalhos realizados e o prosseguimento da vida em sociedade. Assim se efectua o processo de retorno à vida do dia a dia. Assim se relembra que se vai sair de um círculo restrito, onde impera a confiança e a harmonia, rumo ao cadinho social onde todos nos inserimos, com todos os seus desafios, conflitos e necessidade de se estar com as defesas em guarda.

Entre os dois rituais, de abertura e encerramento, processa-se a verdadeira reunião, que pode, basicamente, ter como objecto trabalho ritual (iniciação de profano, passagem ou elevação de maçons a graus mais adiantados), trabalho de formação (apresentação e discussão de pranchas), trabalho administrativo (organização interna da Loja, arquivos, quotas, etc.) ou trabalho organizativo (de projectos ou actividades em curso ou a levar a cabo).

O trabalho ritual efectua-se executando, em palavras, gestos e actos, o ritual da cerimónia que se realiza. Cada um dos Oficiais de Loja tem uma função determinada, que executa. Quem não tem intervenção na execução do ritual, seja em que qualidade for, assiste.

O trabalho de formação consiste na apresentação e discussão dos variados trabalhos que os maçons efectuam. Em regra, textos, mas podendo ser trabalhos de outra natureza: música, pintura ou escultura, construção de artefactos, trabalhos fotográficos ou audiovisuais, enfim, tudo o que um maçon se tenha sentido com capacidade para criar e que possa contribuir para o seu aperfeiçoamento e o de seus Irmãos. Com este tipo de trabalho, busca-se atingir o objectivo primeiro dos maçons: melhorar, aperfeiçoar-se, crescer intelectual, moral e espiritualmente.

O trabalho administrativo é o mal necessário, a execução das tarefas que bem gostaríamos de não precisar fazer, mas que têm que ser feitas: determinar e debater todos os aspectos organizativos da Loja; tomar conhecimento da correspondência e providenciar quanto a ela; tomar conhecimento de comunicações de outras Lojas e da Grande Loja e determinar as providências a tomar; providenciar quanto ao arquivo, ao quadro de obreiros, à vida financeira e económica da Loja. Embora haja Oficiais cuja função é assegurar a execução diária das tarefas desta natureza (o Secretário, o Tesoureiro, o Arquivista), vai havendo necessidade de algumas decisões serem tomadas pela Loja ou de a Loja ser informada das decisões tomadas pelos Oficiais e dos procedimentos e escolhas por estes efectuados.

Finalmente, o trabalho organizativo é aquele cujos resultados podem ser apreendidos exteriormente à Loja. Por vezes, apenas nas famílias e amigos dos obreiros da loja, por vezes em círculos mais amplos ou na sociedade em geral. Ao longo do ano, as Lojas organizam diversos eventos, desde reuniões, passeios ou visitas, a organização de colóquios, conferências ou debates, desde efectivação de campanhas de recolha de fundos para solidariedade a campanhas de efectivação directa de actos de solidariedade. No caso da Loja Mestre Affonso Domingues, esta tem efectuado, com regularidade, acções de doação de sangue, por vezes isoladamente, por vezes em colaboração com um grupo de escoteiros, organiza anualmente um leilão para recolha de fundos, procede à entrega de bens, adquiridos com os fundos obtidos, que a associação ou associações de solidariedade em cada momento apoiadas(s) indiquem como sendo os que maior utilidade no momento lhe(s) trazem, efectua contactos e visitas a outras Lojas e organiza a recepção a outras Lojas (particularmente em relação às duas Lojas com que está geminada, a Fraternidade Atlântica, da GLNF, e a Rigor, da GLLP/GLRP, organiza e efectua viagens e visitas a monumentos, museus e outros locais de interesse histórico, monumental, artístico ou cultural (nos últimos anos, e a título de exemplo, o Mosteiro da Batalha, o Convento de Cristo, a Zona Histórica de Santarém, Castelo Rodrigo, a Sinagoga de Lisboa), entre outras actividades e iniciativas, muitas vezes com início no voluntarismo de algum Irmão, que os demais acompanham, auxiliam ou em que colaboram.

Como se vê, o que se faz em Loja é muito mais prosaico do que concebe a imaginação, por vezes demasiado fértil, de quem está de fora. No fundo, em Loja faz-se o que se faz em qualquer outra agremiação: trata-se da organização interna, da prossecução dos objectivos próprios e cuida-se dos eventos que se leva a cabo.

O principal objectivo da Maçonaria é o aperfeiçoamento individual dos seus membros, fazer de homens bons homens melhores e, pelo reflexo desses aperfeiçoamentos individuais, contribuir para a melhoria da Sociedade. Cada reunião é mais um passo nessa caminhada, uma gota de suor nesse esforço, um tijolo nessa construção.

Desapontadoramente simples e normal, talvez. Talvez dessa simplicidade e normalidade decorra a dúvida de que efectivamente seja SÓ assim. Percebo e compreendo o cepticismo que, afinal, radica num tácito elogio à Maçonaria. Esse cepticismo decorre da perplexidade: "Mas afinal se é só isso que se faz nas reuniões de Loja, o que torna a Maçonaria tão especial, qual o cimento que liga os seus membros, o que os faz retirar tempo às suas famílias, aos seus negócios, aos seus afazeres e ócios, para irem fazer só isso?"

A resposta não está tanto no que se faz , mas em COMO se faz e PORQUE se faz. Mas essas são já matérias para os próximos dois textos...

Rui Bandeira

28 janeiro 2008

As pedras do vau


O Muito Respeitável e Respeitado Grão-Mestre da GLLP/GLRP, o nosso querido Irmão Mário Martin Guia, vai publicar mais um livro de poesia.

O seu título, já o leram acima, é As pedras do vau e o seu lançamento vai ocorrer na próxima quarta-feira, dia 30 de Janeiro, pelas 18 horas e 30 minutos, na Sala de Âmbito Cultural, situada no piso 7 do espaço comercial El Corte Inglés, em Lisboa.

O Muito Respeitável Grão-Mestre da GLLP/GLRP é um poeta, um maçon e, em ambas as qualidades, um homem do século XXI. O seu livro, para além dos habituais textos impressos, contém também dois CD's com todos os poemas.

Uma boa decisão: a poesia de Mário Martin Guia pode assim ser apreciada, quer calmamente sentados no sofá e folheando o livro, quer em frente ao monitor do computador, clicando com o "rato". O Mário realmente não quer que nos falte nada!

Se nenhum impedimento de última hora não sobrevier, quarta-feira lá estarei e, como eu, certamente muitos outros. O Mário vai ficar com a mão cansada de tantos autógrafos que vai ter de dar...

Apareçam. Estão todos convidados!

Rui Bandeira

25 janeiro 2008

Arroz e flores


Mais uma história para reflectir. Mais uma pequena história que recebi por correio electrónico. O texto é pequeno. Mas os textos são como os homens: não se medem aos palmos! Não é preciso mais para nos dar que meditar.


Um homem estava a colocar flores na campa de um parente quando, ao seu lado, na campa vizinha, um chinês colocou um prato de arroz.


Voltando-se para ele o homem perguntou:


- Você acredita que o defunto comerá o arroz?


- Sim! – respondeu o chinês…- Quando o seu familiar defunto vier cheirar as suas flores...


Moral da História:


Respeitar as opções do outro, é uma das maiores virtudes que um ser humano pode ter. As pessoas são diferentes, actuam e pensam de modo diverso.


Não julgue! ............ Simplesmente COMPREENDA.


Rui Bandeira

24 janeiro 2008

Eduardo Gonçalves, maçon exemplar


Foi um Mestre discreto. Ocupava sossegadamente o seu lugar numa das colunas. Raramente intervinha. Quando o fazia, as suas palavras eram parcas, as suas ideias ponderadas, o seu tom tranquilo. Que me lembre, nunca foi designado Oficial da Loja. Mas algumas vezes exerceu ofícios, em substituição de titular impedido de comparecer. Sempre com naturalidade e acerto. Sem nunca se procurar evidenciar, mas sem nunca deixar de dar a sua colaboração, de forma correcta e eficiente.

Foi dos Maçons que mais me marcou. Pela dedicação. Pela postura. Pela serenidade.

Eduardo Gonçalves era médico. Em Moura. Aí chegara a exercer as funções de Delegado de Saúde. Raramente deixava de comparecer a uma sessão. De Moura a Lisboa eram e são mais de 200 Km. De Lisboa a Moura a distância não diminuía e não diminui. Mas o Eduardo raramente deixava de fazer esses mais de 400 Km, ida e volta, para vir participar nas reuniões da Loja Mestre Affonso Domingues. Aos sábados ainda era como o outro, a reunião era ao fim da tarde, depois havia e há o ágape e, findo este, lá o Eduardo regressava a Moura, já noite dentro. Às quartas-feiras era certamente pior. A reunião era e é à noite, depois ainda havia e há o ágape e era já madrugada quando o Eduardo iniciava o regresso à sua Moura encantada. Mas raramente faltava! Vinha e estava connosco, arrostando incómodos bem mais duros, efectuando viagens bem mais longas do que muitos outros, que justificavam ausências com bem mais reduzidas distâncias. Incluindo eu próprio...

Muitas vezes passava as reuniões inteiras sem abrir a boca, apenas ouvindo, por vezes sorrindo levemente, sempre concentrado no que se passava. E eu no segredo dos meus pensamentos admirava aquele maçon discreto que tantas vezes fazia mais de 400 Km de viagens só para estar com seus Irmãos, calado, sossegado, discreto, sereno. E, no meu íntimo, perguntava-me o que levava o Eduardo a assim proceder. Passaram-se anos até que eu entendesse. Aliás, já há algum tempo que o Eduardo deixara de estar entre nós quando o consegui entender. Foi um outro Irmão, o José A. R., um Mestre que as circunstâncias da sua vida só raramente permitem que compareça às reuniões da Loja, que um dia, repentinamente, me fez compreender. Disse-me ele, certa vez, em jeito de desabafo, que era capaz, sem qualquer esforço, de passar as reuniões inteiras da Loja sem nada dizer, sem intervir, apenas ouvindo, apenas gozando a Paz que emanava de uma reunião maçónica, apenas fruindo a ligação com o Transcendente que sentia durante as reuniões, apenas desfrutando da calma e serenidade que uma reunião da Loja lhe transmitia. Mais me disse ainda o José A. R. que, por ele, ficaria muito satisfeito com uma reunião em que apenas se executasse os rituais de abertura e de encerramento e que, entre eles, apenas houvesse um período de calmo silêncio ou, quando muito, um período sem palavras ouvindo-se apenas a música proporcionada pelo Mestre Organista. Foi então, anos depois da sua morte, que verdadeiramente compreendi o Eduardo Gonçalves. Era isto mesmo que ele buscava nas reuniões da Loja: a calma, a serenidade, o carregar da bateria emocional, que lhe proporcionavam as reuniões da Loja.

A partir de certa altura, porém, o Eduardo começou a ser menos assíduo. A sua saúde deteriorava-se. O Eduardo fumava. Muito. Apesar de ser médico. Neste aspecto, era o exemplo do dito Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz... Este seu vício minou-lhe a saúde e o cancro do pulmão acabou por o afastar de nós. Pergunto-me durante quanto tempo ele, médico, sabendo a doença que o consumia e que o haveria de vitimar, como vitimou, esteve placidamente sentado entre nós, calado, por vezes sorrindo levemente, apenas gozando a serenidade de uma reunião de Irmãos. Só quando a doença o começou a vergar viemos a saber o mal que o apoquentava. Nunca da sua boca saiu uma queixa, dos seus lábios se ouviu um lamento, da sua garganta saiu um som de revolta. O Eduardo viveu a sua doença com a serenidade que o caracterizou.

Nos ágapes, o Eduardo era sempre boa companhia. Não que falasse muito. Mas sabia ouvir e, quando falava, falava sempre acertado. E mostrava um sentido de humor, pontuado por uma discreta ironia, que sempre me fizeram apreciar muito a sua companhia.

Eduardo Gonçalves foi um médico ao jeito de João Semana, que deixou saudades na sua Moura. Foi um maçon discreto e assíduo, que fez aquilo que um maçon deve fazer: aproveitar o grupo para o seu benefício espiritual e dar o seu contributo, discreto mas sempre valioso, a esse mesmo grupo, em benefício dos demais.

Tenho saudades do Eduardo. Ainda hoje, quando me sento no meu lugar numa das colunas da Loja e relanceio o olhar pela sala, imagino ver, placidamente sentado do outro lado, sereno e com um leve sorriso nos lábios, o Eduardo. E, pensando bem, talvez ele continue a lá estar. Eu é que não o vejo... E, do alto das minhas já ultrapassadas cinco décadas de vida, dou por mim, por vezes, a pensar que quando eu for grande, quero ser como o Eduardo...

E hoje aqui lembrar o Eduardo faz-me sentir muito bem. Os que o conheceram, sentem-se mais ricos por o terem conhecido. Essa é uma das características de quem aproveitou bem o seu tempo de passagem por este mundo. E sem dúvida que esse foi o caso do Eduardo Gonçalves, um maçon exemplar que a Loja Mestre Affonso Domingues teve a fortuna de ter tido no seu seio, que eu tive a felicidade de conhecer e que tenho orgulho em aqui evocar.

Rui Bandeira

23 janeiro 2008

Os meus Irmãos reconhecem-me como tal

- Meu Irmão, de onde vens?

– De uma loja de S. João, Venerável Mestre.

– Que se faz lá?

– Exalta-se a virtude e combate-se o vício.

– Que vens aqui fazer?

– Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e realizar novos progressos na Maçonaria.

– Devo então presumir que és maçon?

- OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!

Logo na cerimónia de Iniciação o nóvel Maçon é instruído sobre a forma de reconhecer e de ser reconhecido Maçon.

Aprende assim um determinado SINAL, um específico TOQUE, que representa o pedido da PALAVRA SAGRADA, como responder a esse pedido e que palavra é essa.

Uma razoável memória permitirá que, a partir daí, saiba como proceder para que os seus Irmãos Maçons o reconheçam como tal.

Mas esta é a mais básica das básicas noções que o nóvel Maçon recebe então quanto a esta matéria. Com efeito, mui fraco Maçon seria aquele que se limitasse a confiar em tais actos externos para que o reconhecessem como tal. Atrevo-me mesmo a dizer que só quem se tivesse limitado a passar pela cerimónia de iniciação, e mesmo assim de forma desatenta, poderia admiti-lo.

Na verdade, todos sabemos que em Maçonaria tudo é simbolicamente transmitido, o que vale por dizer que através de um translúcido véu, para que quem o receba, entrevendo, medite e, meditando, conclua e, concluindo, aprenda.

Todos sabemos que, em bom rigor, em Maçonaria nada se ensina, apenas se coloca os ensinamentos à disposição, para que quem quer saber, observe, pense e aprenda. É por isso que costumo dizer, em iconoclasta simplificação, que a Maçonaria se aprende por osmose...

Assim, aquele que quer ser reconhecido como Maçon pelos Maçons não deve limitar-se ao que explicitamente lhe foi ensinado na instrução incluída na sua iniciação.

Melhor será que não esqueça que, recém-iniciado, ainda está aprendendo a aprender e só por isso lhe deram clara e directamente o que pomposamente quem desconhece a essência da Maçonaria considera “profundos segredos”.

Assim ficará, por breves momentos o nóvel Maçon convencido que ficou sabendo “excelso segredo” mas, aprendendo a aprender, em breve aprenderá que, como já há pouco exclamei, tal “excelso segredo” não passa de uma muito básica de entre as básicas noções que deverá apreender e que irá apreendendo.

Ao invés, o que deve um Maçon fazer para que seja reconhecido como tal pelos seus Irmãos, foi-lhe transmitido, sim, na sua iniciação, mas como tudo o resto que merece ser retido em Maçonaria, de forma encoberta, indirecta, para que, em devido tempo, medite e aprenda por si, bem melhor do que se lhe fosse directamente ensinado, pois dessa forma mais trabalhosa e difícil de aprender sempre resulta que não apenas se sabe ou memoriza, antes se interioriza e compreende e só aquilo que é adequadamente interiorizado e compreendido é digno de ser tido como vero Conhecimento.

Então, que aprendi eu sobre a forma de ser reconhecido Maçon pelos meus Irmãos?

Aprendi que, para me ser dado acesso ao Templo onde meus Irmãos estavam reunidos, necessário foi que alguém em quem todos confiavam, o Irmão Experto, a todos garantisse que eu era “livre e de bons costumes”.

Livre sou e livres somos sem grande mérito nosso, com muito mérito daqueles que nos antecederam , pois de há muito que a escravatura foi abolida em nossas terras.

Mas “de bons costumes” tive de ser para merecer entrada no Templo e consequentemente de bons costumes tenho de continuar sendo, se nele quero permanecer.

Primeira conclusão pude então tirar: para ser reconhecido como Maçon pelos meus Irmãos necessário é que permaneça de bons costumes, isto é, íntegro, honesto e de modo geral cumpridor das minhas obrigações perante Deus, eu próprio, a minha família e a sociedade.

Mas se tal é condição necessária para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos, não é, porém, condição suficiente – mesmo conhecendo eu o SINAL, o TOQUE e a PALAVRA SAGRADA...

Importa assim continuar buscando este pequeno Graal, pomposa forma de referir a busca do Conhecimento que vale a pena conhecer!

E recordo então que, a dado passo, ouvi mesmo alguém dizer-me que o que estava diante de meus olhos era o símbolo da cegueira em que se acha o homem dominado pelas paixões e mergulhado na ignorância.

Meditando, pude então a segunda conclusão chegar. Para além de ser livre e de bons costumes, para ser reconhecido como maçon pelos meus Irmãos haverei que dominar minhas paixões, e não por elas ser dominado, e procurar sair da profana ignorância, isto é, utilizar os instrumentos que a Maçonaria, a Loja, o Venerável Mestre, cada um dos meus Irmãos, me vão proporcionando, para ir aprendendo, conhecendo e, sobretudo, CONHECENDO-ME, nas minhas forças, sempre poucas, e fraquezas, sempre demais.

Mais um passo avancei, mas ainda não tenho a tarefa terminada, mais caminho tenho para caminhar!

Mais adiante, ouvi ser-me dito que o homem justo era corajoso e, tendo-me sido perguntado em quem depositava eu minha confiança me ter sido sussurrada a resposta de que essa era depositada em Deus.

Pensando, conclui então minha terceira conclusão: para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, e crente.

Mas, atenção!, ser justo não é ser justiceiro, ser corajoso não é ser temerário, ser crente não é ser beato. É necessário, como mais adiante ouvi ser-me dito, “o justo equilíbrio de força e sensibilidade que constitui a sabedoria, isto é, a ciência da própria vida”.

Finalmente, já reconhecido como maçon, foi-me chamada a atenção para os deveres de beneficência de um maçon, mais uma vez temperados pelo justo equilíbrio, pois “a caridade deixa de ser uma virtude quando é praticada em prejuízo dos deveres mais sagrados e mais prementes: uma família a sustentar, filhos para educar, pais velhos a manter, compromissos civis a preencher”.

Meditando sobre estas noções de fraternidade e solidariedade, pude assim chegar à quarta conclusão, que tive por final: para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, crente, fraternal e solidário.

E tendo chegado a esta putativamente definitiva conclusão, preparei-me, para, satisfeito, descansar. Porém, ocorreu-me então que, tendo Deus descansado apenas ao sétimo dia, grande prosápia minha seria pretender poder fazê-lo após apenas quatro conclusões!

E então pensei mais, e espero que melhor, e cheguei a mais outra conclusão (que será assim a quinta...), a de que estava cometendo o pecado do orgulho ao pensar que destas meditações alguma pólvora de particular valor descobrira, pois, afinal, mais bem escrito do que eu escrevera, mais simples do que eu arrazoara, tudo está no texto por onde começámos e por onde, completando o círculo e o ciclo da busca, é asado concluir (e esta será portanto a sexta e última conclusão, a que finalmente me habilitará a descansar, sem remorso superior ao que deriva da minha reincidente prosápia de, pela segunda vez em apenas dois parágrafos, ousar comparar-me ao Criador...).

– Devo, então, presumir que é Maçon?

– Os meus Irmãos reconhecem-me como tal.

– O que é um Maçon?

– É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.

– Que significa nascer livre?

– O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.

– Quais são os deveres de um Maçon?

- Evitar o vício e praticar a virtude.

– Como deve um Maçon praticar a virtude?

– Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.

- Como poderei reconhecer que és Maçon?

– Pelos meus sinais, palavras e toques.

– Como interpretas essa resposta?

– Um Maçon é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correcta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta para com todos a que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).

Termino com a esperança de que os meus Irmãos não necessitem de se certificar que eu conheço os sinais, palavras e toques, para que me reconheçam como Maçon. Mas, se algum desejar interrogar-me sobre eles, que a minha memória me permita sempre responder satisfatoriamente. E, se porventura a memória me trair e eu falhar essa prova, que aquele Irmão que me interroga, em face do que conheça de mim ... apesar disso me reconheça como Maçon, pois que espero merecer sempre poder dizer que

OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!

Rui Bandeira

22 janeiro 2008

A prancha de Aprendiz

Para o Aprendiz que se entrosou no grupo e que vem fazendo o seu trabalho, com assiduidade e diligência, chega sempre um momento em que um Mestre – por regra o 2.º Vigilante, mas pode ser qualquer Mestre -, no meio de uma descontraída conversa, a propósito ou aparentemente a despropósito, lança, como quem não quer a coisa, a pergunta: - Então, já escolheste o tema da tua Prancha?

Este é o primeiro sinal que é dado ao Aprendiz que os Mestres da Loja entendem que o seu trabalho está a ser frutífero e que se aproxima a hora de novo avanço. O tempo da integração e da adaptação decorreu e está próximo de terminar, o tempo de progredir está-se a aproximar. Não quer isto dizer que a progressão, o avanço esteja já aí ao virar da esquina. Não é incomum, pelo menos na Loja Mestre Affonso Domingues, que, entre o momento em que o Aprendiz é incentivado a começar a elaboração da sua prancha e aquele em que deixará de ser Aprendiz medeiem uns bons seis meses, ou mesmo mais. É que, entre o primeiro incentivo ao Aprendiz à elaboração por este de uma prancha e a conclusão por este da dita, vai seguramente decorrer algum tempo. E depois há que agendar a sua apresentação em Loja. E, decorrida esta, haverá que aguardar pela ocasião propícia para a Passagem do Aprendiz à fase seguinte do seu percurso maçónico. E já neste espaço deixei consignado (por várias vezes) que pressa e maçonaria não ligam bem...

A elaboração pelo Aprendiz de uma Prancha é essencial para possibilitar o seu avanço de grau. A Prancha do Aprendiz é como que o relatório do seu trabalho, o registo da sua mudança, a exposição da sua evolução, patenteados perante a Loja. Não é um exame – o Aprendiz não tem que provar a sua proficiência em Simbolismo, Aperfeiçoamento e Artes e Ofícios Correlativos... Aliás, tudo o que o Aprendiz tem de provar, tem de o fazer a si próprio, apenas e tão só, e a mais ninguém. Se ele quiser lograr alguém, só ele será enganado, mais ninguém...

A Prancha do Aprendiz é, antes do mais e para além de tudo o mais, apenas mais um trabalho que este deverá executar. Com a diferença que este se destina, não apenas ao interior de si próprio, mas também a ser apresentado, escrutinado, apreciado em Loja.

O essencial interesse da Prancha de Aprendiz é a sua feitura. Mais uma vez, o que interessa é o percurso, não a meta. Também aqui o essencial é o trabalho que o Aprendiz realiza e não propriamente o seu resultado final. Há Pranchas de Aprendiz belas e vulgares. Enciclopédicas e triviais. Extensas e breves. Profundas e superficiais. Enfeitadas e toscas. Literatas e simples. Imaginativas e insossas. Há de tudo. Não importa. O que importa é o investimento pessoal que o Aprendiz fez na sua elaboração e, com ele, o que aprendeu, o que sistematizou, a aresta que limou.

Apresentada que esteja a prancha, ela é sempre, na Loja Mestre Affonso Domingues, objecto de apreciação e comentário dos Mestres presentes. Normalmente, todos os Mestres, ou quase, se pronunciam. E todos os que o fazem, qualquer que seja o nível da prancha, do mais esplendoroso e credor de admiração, ao mais simples, nos seus comentários lobrigam algo de positivo, algo de bom, e algo de negativo, algo susceptível de melhoria. Pode o trabalho ser objecto dos mais entusiásticos encómios – mas não deixará de ver apontado um, insignificante que seja, aspecto em que se declara que podia ser ainda melhor. Pode o trabalho sofrer as mais ferozes críticas – mas não deixará de se realçar, por minúsculo que seja, o aspecto merecedor de uma referência elogiosa. Porque todo o trabalho dedicadamente feito merece encómios e nenhum trabalho humano é perfeito. Porque foi feito e apresentado por um dos nossos. E os nossos têm de nós sempre o elogio misturado com a censura, para que nunca sucumbam à tentação de subir às alturas que causaram a queda de Ícaro; e os nossos merecem de nós sempre a crítica lúcida, verdadeira e leal, mas sempre temperada com o incentivo do nosso reconhecimento do que de bom é feito e da sua capacidade de fazer melhor.

Normalmente, as três últimas intervenções são, respectivamente, do 2.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Aprendizes) – que termina a sua intervenção declarando que entende que o Aprendiz está pronto para avançar para o grau seguinte -, do 1.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Companheiros) – que termina a sua intervenção manifestando a sua disponibilidade para receber o Aprendiz que apresentou a Prancha na sua Coluna – e do Venerável Mestre – que sintetiza tudo o que foi dito, anunciando que oportunamente se procederá ao aumento de salário (isto é, à passagem de grau) do autor da prancha.

Assim se declara o reconhecimento da Loja da evolução que o Aprendiz teve desde que foi iniciado. Assim funciona e trabalha a Loja Mestre Affonso Domingues. E não nos temos dado mal com o sistema...

Rui Bandeira

21 janeiro 2008

MAÇONARIA E AMBIENTE- Conclusão: Fazer diferença

Apelar às boas práticas de poupança e protecção do ambiente há muito quem faça. Ele é o grupo que trata das espécies ameaçadas, ele é a associação que denuncia as duzentas e cinquenta e sete mil e quinhentas maneiras de poluir a água, o ar, o solo e as mentalidades, ele é a organização que pugna pelos parques naturais...

Para chamar a atenção sobre a causa da protecção do ambiente existem muitas e variadas associações, organizações, comissões. Uns mais fundamentalistas, outros mais pragmáticos. Uns pugnando pelas energias renováveis, entre as quais a energia hídrica, outros lutando contra a construção de barragens produtoras de energia hídrica, em nome da preservação da Natureza mais natural, verde mais verde não há...

A conservação do ambiente está na moda! O aquecimento global parece que está aí e agora todos acordaram, despertados pelo toque do despertador da urgência do aqui-del-rei que o efeito de estufa vai estragar isto tudo, somos todos uns inconscientes que estamos a dar cabo dos futuros dos nossos netos e dos netos deles e o pior de tudo é que até mesmo o nosso futuro parece que não é brilhante...

A protecção do ambiente já está, mesmo, a servir de pretexto para grandes novos negócios, que a seu tempo irão substituir o declínio dos velhos negócios poluidores do ambiente. O ambiente, sua protecção e conservação é hoje pretexto para tudo e mais alguma coisa, disto e do seu contrário, daquilo e das perspectivas que aqueloutro abre. Reconhecê-lo não é minimizar o tema, é simplesmente ser realista.

No entanto, o certo é que, com ou sem fundamentalismos, com ou sem exageros, com ou sem negócios, com ou sem modas, é efectivamente necessário proteger o ambiente, propiciar a manutenção da maior diversidade biológica possível, procurando evitar a extinção de espécies, tentar não agravar e, se possível, diminuir o efeito de estufa, trabalhar para não agravar e, de preferência, diminuir a poluição aérea, aquática, dos solos e, sobretudo, das mentes. Não por causa do lince da serra da Malcata ou do tigre siberiano, mas por causa de um bicho muito mais problemático: o Homem! Não por causa da defesa da floresta pela floresta, mas pelo que ela representa para a manutenção possível do nosso modo de vida e da Civilização Humana. Não porque a Natureza é bonita e a Terra é um Planeta Azul, mas porque a Natureza é o nosso meio natural de sobrevivência e a Terra o nosso único porto de abrigo em todo o Universo - pelo menos por enquanto e por muito mais tempo, tanto quanto podemos prever.

A protecção e conservação do ambiente é, pois, mais do que a moda ou o negócio, uma necessidade.

Muitos - cada vez mais - vão disso estando conscientes e, por isso, muitas associações, fundações, comissões, organizações, grupos, comités, enfim, todo este mundo e mais um par de botas, tudo e todos, estão despertos e actuantes (ou, pelo menos, falantes...) sobre o tema.

Estando o tema na ordem do dia, havendo tantos e tão variados contributos sobre ele, que mais-valia neste campo pode afinal trazer a Maçonaria?

O que procurei demonstrar foi que, no meu entender, o contributo que a Maçonaria pode utilmente dar não é engrossar o caudal dos voluntarismos, das actuações avulsas ou organizadas, dos activismos. Esse caudal é já importante e importa, aliás, que não se transforme, por causa dos fundamentalismos militantes que aqui e ali nele flutuam, em torrente destruidora de tudo e de todos, em homenagem a um bacoco bucolismo.

O contributo que a Maçonaria pode dar é procurar identificar os grandes temas enformadores dos principais problemas ambientais, procurar para eles chamar a atenção, propiciar a investigação das soluções possíveis para a sua resolução.

Na minha muitíssimo modesta opinião, os três reais campos em que se impõe que a Humanidade trabalhe e encontre as soluções para a doença de que as alterações ambientais são apenas sintomas são a Demografia, a Energia e a Economia. Sem resolvermos o problema demográfico, sem resolvermos a dificuldade de suprir as necessidades energéticas da nossa civilização sem delapidarmos os recursos naturais, sem cumprirmos o verdadeiro objectivo da economia, que é o de suprir as necessidades de todos, podemos fazer todas as campanhas que quisermos, ter todos os voluntarismos de que formos capazes, mas não resolvemos o problema do Equilíbrio Ambiental.

Em meu entender, o papel da Maçonaria, neste como noutros planos, é o de deixar campo livre e aberto a quem olha, analisa, vê, cuida, protege e acarinha as árvores, dedicando-se antes a olhar para a floresta e a cuidar da sua preservação global.

Que os muitos outros que se preocupam com o ambiente cuidem dos detalhes, das minudências, das urgências, que também se impõe sejam cuidados. A Maçonaria deve congregar à identificação, estudo e resolução dos problemas que estão a montante da questão do ambiente e que, por isso, são a verdadeira causa da existência de um problema de Equilíbrio Ambiental

Assim se ganhará o Futuro. O Futuro que começa já amanhã!

Rui Bandeira

19 janeiro 2008

Millôr01

Neste Sábado que já é Domingo deu-me para pôr uma pitada de loucura no blog.

Já deixei aqui algumas indicações de que sou um fã do Millôr Fernandes e tenho coleccionado alguma documentação onde o "Velho" Millôr bota os seus conceitos e "definições definitivas".
Ora bem, aos fins de semana virei ao blog trazer-Vos um cheirinho deste humor implacável, meio louco (como o humor deve ser), meio filosófico, meio anarca, meio justiceiro, assim mesmo com quatro meios !

Arranjem-se como quiserem com a matemática.
Para os "velhos" que acompanharam as publicações revisteiras nos idos dos 50 e 60 do século passado recordar-se-ão de "O Cruzeiro" (existiu de 1928 a 1975), revista brasileira que teve grande divulgação, e onde durante muitos anos Millôr Fernandes manteve uma colaboração que era a página onde eu ia assim que abria a revista, juntamente com o "Amigo da Onça", criação de outro grande humorista e cartonista brasileiro, Péricles de Maranhão.
Se me der na gana algum dia trarei também o "Amigo da Onça", mas por agora será o Millôr.
Aqui fica o primeiro da série.
.
DEFENDAMOS A ROSCA !
Com razão ficou indignada
quando, na confeitaria,
lhe deram rosca quadrada.
Ah, num mundo de vasta tecnologia
está bem que tirem o peso ao homem
substituam a função da clorofila
e descubram a antimatéria,
- onde ? –
na própria matéria.
.
Mas madame tem razão
de se mostrar indignada
se lhe dão rosca quadrada.
Não se respeita nada ?
Vão endireitar o gancho ?
Rectificar o anzol ?
Fazer âncoras em bola ?
Bolas pentagonais ?
Bananas, tão bacanas,
serão corrigidas em fôrmas especiais
sem atenção à sua específica condição bananoplástica
que é a tortuosidade ?
.
Em que mundo pisamos
que não podemos confiar mais
nem mesmo
na estabilidade emocional da padaria ?
.
Em que mundo estamos
se o padeiro já não acredita mais
que uma rosca é redonda, is round, é rotunda ?
.
Devemos reagir, salvar a rosca a todo o custo.
Se deixamos que a façam quadrada logo a farão estrelada,
hexagonal, triangular,
indefinida, informal, concreta,
até tachista.
Negarão Proust com as suas Madeleines bizantinas.
E a busca
será feita em esquinas.
.
Fixemos definitavamente:
UMA ROSCA É REDONDA.
Abaixo os exegetas dos paralelogramas culinários
e os fãs das tangentes fermentadas com perpendiculares.
Morte aos que apregoam doces sinusoidais,
pastéis secantes, bombons piramidais.
Se não os detivermos nessa paranóia geométrica
Dentro em breve nem lembraremos mais
os limites da rosca:
Forma, côr, tostagem, liquefacção,maciez e doçura.
E, perdida a rosca,logo teremos, na cozinha,
feijões quadrangulares,
porcos octogonais
e galinhas multiplanas
misturadas a ovos... nunca ovais !
.
Mas esse pesadelo dietético
poderá ser detido facilmente
se todas as donas de casa reagirem
trazendo sempre,
na boca e na memória,
esta imagem tosca, mas obrigatória:
“Uma rosca é uma rosca,
é uma rosca,
é uma rosca... !!!”.
.
MILLÔR FERNANDES – Cruzeiro, 24/11/1962
(Repetido do post de 15/06/2006).
.
Definições definitivas do Millôr:
.
E comerás o pão com o suor do teu rosto, condenou o Senhor.
Mas Adão e Eva, assim que puderam, começaram a comer o pão com o suor do padeiro.

Se o reino dos Céus é dos pobres de espírito, então meu Deus, já estamos no Paraíso.

Está bem que Israel é a terra prometida.
Mas por que Deus não prometeu logo os Estados Unidos ?

Nosso nível ético anda tão baixo que qualquer conversa política já vem protegida em envelope plástico de corrupção.

Estava jantando com três amigos jovens, bem sucedidos e simpáticos, os três acompanhados pelas suas belas mulheres, quando subitamente comecei a passar mal.
A princípio pensei que fosse indigestão.
Logo depois percebi que era inveja.

Quando você casa com a amante, bem…, o adultério não valeu a pena.

Se a gente vivesse de trás para a frente, hi!, a juventude ia ser ainda mais sacana!

Erudito é um sujeito que põe os ii nos nossos pingos.

Apesar das aparências os morangos e o chantilly não nascem na mesma árvore.

Sem níquel na algibeira
Vivo minha vida financeira
Só quero que alguma autoridade
Me responda com sinceridade:
Eu sou patriota
Ou sou só idiota ?

A esta altura da vida estou pensando seriamente em pedir ao Grande Editor uma segunda edição de mim mesmo, revista e aumentada.
E, claro, também com uma encadernação melhor, em pele de “Xuxa” marroquim.
(“Xuxa” é uma apresentadora/modelo da TV brasileira)

Vocês aí que sempre economizaram tanto para os dias piores, podem começar a gastar; os dias piores já chegaram.

Os dez mandamentos nunca impediram nada.
Mas deram cada ideia !

Há ânsia em todas as fisionomias, embora os que tentam ajudar procurem fingir tranquilidade diante da violência do acontecimento.
O Pai treme, a Mãe grita de dor, enquanto o garoto, todo sujo de sangue e fezes, chorando desesperadamente, tenta, angustiado, respirar.
O médico lhe dá algumas palmadas fortes.
Agora me digam: isso é lá jeito de começar a vida ?

Os homens são moralmente piores do que as mulheres.
Há homens que nem assistem ao nascimento dos filhos.
Não conheço uma mulher que tivesse esse deplorável comportamento.
.
JPSetúbal

18 janeiro 2008

O saldo


Ontem, as circunstâncias impediram-me de publicar aqui no blogue. Parti de madrugada para o Algarve, para um julgamento, que durou até ao final da tarde, só cheguei a Lisboa noite dentro e tive de ir de imediato para uma reunião com clientes que se prolongou até de madrugada. Enfim, um dia totalmente preenchido. E, a propósito de dia bem preenchido, eis mais um texto inspirado numa mensagem de correio electrónico que recebi, cuja origem desconheço e que eu adaptei.

Imagine que havia um Banco que todas as manhãs adicionava à sua conta 86.400 euros.

Esse estranho Banco, porém, não transfere o saldo de um dia para o outro: todas as noites apaga da conta o saldo que não foi gasto.

Que faria? Calculo que retiraria todos os dias a quantidade de dinheiro que não tinha gasto, não?

Pois bem, esse Banco existe mesmo: é o TEMPO!

Todas as manhãs, esse Banco adiciona à conta pessoal de cada um 86.400 segundos.

Todas as noites, esse Banco retira da conta de cada um, e dá como perdida, qualquer quantidade desse saldo que não foi transformada em algo de proveitoso.

Esse Banco não transfere saldos de um dia para o outro. Não permite acumulações.

Todos os dias abre a cada um uma nova conta. Todas as noites elimina o saldo do dia que findou.

Quem não utilizar o seu saldo diário, fica a perder: não tem uma segunda hipótese de utilizar o que sobra.

Não existe reforço do saldo diário. Cada um deve viver o presente com o saldo de hoje!

Cada um deve utilizar o seu tempo da melhor forma possível. O que não utilizar, ou utilizar mal, está perdido ou gasto para sempre.

Para se entender o valor de um ano, pergunte-se a um estudante que reprovou e tem de repetir o ano escolar...

Para se entender o valor de um mês, pergunte-se a uma mãe que olha para o seu bebé prematuro...

Para se entender o valor de uma semana, pergunte-se ao editor de um semanário...

Para se entender o valor de uma hora, pergunte-se ao enamorado que espera pela sua amada...

Para se entender o valor de um minuto, pergunte-se ao viajante que perdeu o comboio...

Para se entender o valor de um segundo, pergunte-se a uma pessoa que esteve à beira de ter um acidente...

E, para se entender o valor de um milésimo de segundo, pergunte-se ao atleta que recebeu a medalha de prata dos 100 metros planos dos últimos Jogos Olímpicos...!

Devemos dar valor a todos os momentos que vivemos. O tempo não espera por ninguém.

Eu aproveitei algum do meu saldo de hoje a escrever e publicar este texto.

Espero que achem que aproveitei bem o saldo que usei e que dêem por bem empregue o saldo que gastaram a lê-lo!

Rui Bandeira

16 janeiro 2008

Medula Ossea

Este tema tem sido recorrente aqui no Blog.

Li no Expresso desta semana que o Numero de dadores inscritos já é de quase 110 000. Em finais de 2006 estava pelos 60 000.

O mesmo artigo informava que POrtugal "forneceu" medula para varios países, e que recebeu também do Estrangeiro.

O numero de pessoas que receberam transplantes de medula de dador anónimo em POrtugal também aumentou .

Creio que este é um motivo para ficar MUITO SATISFEITO.

A todos os que colaboraram, ao CEDACE que coordenou - Obrigado.


José Ruah

Mais Memoria de Loja

Tem sido designio do actual Veneravel Mestre que se compile o espolio da Loja e que se faça a História da Loja.
Ha dois dias fui finalmente ao sitio onde tinha guardado todo o espolio que tinha na minha posse e tirei-lhe a poeira.
Muita coisa ja entreguei ao arquivista, mas alguns documentos estão ainda na minha posse. São documentos relativos às reuniões de discussao sobre o futuro da Loja aquando da cisão de 1996.
Sobre este assunto já falei, mas depois de reler os documentos comecei a digitalizar alguns. E se uns permitem a utilizaçao de OCR e pude passa-los a ficheiros de textos outros ficarao ficheiros de imagem.
Porque estes textos têm, na minha opinião, valor historico suficiente para serem publicados, mas sobretudo porque mesmo passados 11 anos ainda estao actuais decidi começar a publicaçao aqui mesmo.
Alguns deles, por serem manuscritos terei que os passar para ficheiro e isso levará tempo mas... valerá a pena.
O texto de hoje é a minha alocução inicial proferida em 18 Janeiro de 1997 no Hotel Plaza em Lisboa, perante cerca de 40 membros da Loja Mestre Affonso Domingues, ali reunidos para decidirem sobre o futuro da LOja.


ALocuçao Inicial
Rudes golpes atingiram esta casa, a fraternidade não imperou e o diálogo ou não existiu ou foi transformado em monologo.

Foram ditas e feitas coisas indignas de um Maçon, que queira ser digno desse nome.

Em nome de uma bandeira chamada regularidade esconderam-se seguramente os verdadeiros motivos que levaram os actuantes a fazer o que bem conhecemos.

Regularidade: Conceito esquisito
Regularidade: Aquilo que todos reclamam ter
Regularidade: Bandeira para guerras santas
Regularidade: Simplesmente a crença no GADU , a não discussão de política ou religião entre nós, o respeito pelos Landmarks e pelas constituições de Andersen.

Não sei qual das definições preferem, eu opto pela ultima.

Os protagonistas da crise esqueceram-se destes princípios, pois segundo a minha opinião esqueceram-se do GADU, envolveram-se em questões de ordem política , revelaram identidades seja explicita ou implicitamente, usaram da força

A cobiça dos Homens substituiu a sabedoria da tradição alicerçada nos landmarks . O homem quis ser Deus.

As paixões sobrepuseram-se às virtudes. Perverteu-se a Maçonaria.

Rudes golpes para atordoar, para ferir, para matar.


Quem é o responsável ?

Uns dizem Fernando Teixeira
Outros dizem Luís Nandim de Carvalho
Outros ainda afirmam que foram os dois e seus acólitos
Eu digo-vos NÓS.

Nós II, Nós Lojas, Nós Indivíduos.

Nós porque não fomos capazes de prever, antecipar e consequentemente evitar.

Nós Lojas nunca quisemos o poder por pensarmos que tínhamos coisas mais importantes para fazer.

Virámo-nos para dentro esquecendo o exterior.

Por nossa não actuação pagamos agora a factura. Factura que é elevada demais para as nossas posses.

Podemos argumentar, não não temos culpa, não destituímos ninguém, não fomos para a imprensa, não.

É verdade. Mas isso não impede que a factura nos seja dirigida.

Como Aconteceu?

Uns dizem que o início da crise foi há muito tempo, outros que foi apenas há umas semanas atrás.
Provavelmente têm todos razão ou não tem nenhum.

Como aconteceu também não é importante.


O que aconteceu?

Falar do sucedido sem tecer juízos de valor é difícil.
Sabem todos que o dom da palavra não tenho, o da pena julgarão depois de me ouvirem.

Tentarei citar factos, se porventura incorrer em algum juízo de valor é porque talvez não fosse possível descrever o facto tal qual aconteceu, ou porque também sou humano, embora a tendência seja de considerar o VM extra-humano pois falhas não lhe são normalmente admitidas.

Cingir-me-ei aos factos mais marcantes.

Segunda-feira, 25 Nov. 1996

É posto a circular um documento do tipo abaixo assinado que promove a destituição do Grão Mestre Luís Nandim de Carvalho.
Nunca vi este documento na sua forma original, mas informações recebidas de II em quem deposito a máxima confiança garantem a existência do mesmo nesta data.


Sexta-feira, 29 Nov. 1996

Publicação de um artigo no jornal” A Capital” referenciando esse mesmo movimento e incluindo uma fotografia de LNC e outros II durante o juramento prestado pelo
primeiro em sessão de GL de 28 Setembro de 1996 , aquando da sua instalação enquanto GM


Sábado 7 Dez 1996

Um grupo de IIocupa a sede da GLRP em Cascais, autodenominando-se governo interino.

Foram as suas acções seguintes a destituição do Grão Mestre LNC, do SCO ( nota introduzida – Soberano Colégio de Oficiais órgão deliberativo à época) , nomeação de novo SCO e envio de um comunicado à imprensa.
( permitam-me agora uma interrogação. Teria sido absolutamente necessário recorrer a forças de segurança privadas? )


Domingo 8 Dez 1996

Reunião de informação e debate promovida por LNC nas instalações da Associação Cultural Albert Pike, onde também funciona o Templo dos Altos Graus do REAA. Para este efeito a sala foi despojada de todos os adornos Maçónicos do REAA e as cadeiras dispostas em plateia.
Desta reunião saiu nomeado um secretariado de crise.


Segunda-Feira 9 Dez 1996

Reunião do SCO nomeado no dia 7, em Cascais , com o objectivo de ratificar as decisões tomadas no Sábado anterior.

Ratificação essa que segundo as minhas informações foi unânime entre os presentes.


Dias 7 - 8 - 9 - e seguintes


Profusão de comunicados e artigos na imprensa e na TV.

Todos os actos posteriores são consequência destes referidos e sobre eles não falarei, mas incluíram reuniões de VM, sessões de G.Loja, reuniões de SCO, reuniões várias. Decretos, Decretos anti-Decretos e Decretos anti-Decretos anti- Decretos.

E não falarei pelo seguinte:

Dos factos que relatei apenas um contou com a minha presença, sobre os demais recebi relatos de fontes de confiança como já referi.

Dos posteriores não vos falo, como disse acima, porque tudo o que sei deles foi o que ouvi a terceiros. Não estive presente em qualquer deles com o fito único de não comprometer a Loja que dirijo e que nos pertence.

Fi-lo na esperança que o GADU incutisse bom senso onde faltava e os II apertassem as mãos retomando a Cadeia de União.

Até hoje, isso não aconteceu e tanto quanto sei os caminhos divergem.


Outros acontecimentos dignos de registo

Tentei honestamente promover dialogo. As portas não se abriram.

Tentei conjuntamente com alguns II incutir bom senso nas bases, isto é nas Lojas. Não sei se tive sucesso.

Outras Lojas tentaram promover a conciliação. Não tiveram Sucesso.

Pergunto-vos

O que aconteceu à Tolerância?
O que aconteceu à Fraternidade ?
O que aconteceu ao Amor Maçónico?
O que aconteceu .....

Será que temos que rescrever o catecismo do grau de Aprendiz e à pergunta


DE ONDE VENS MEU IRMÃO ?

a resposta passe a ser

DE UMA LOJA DE TREVAS

Volto a dizer-vos as Paixões sobrepuseram-se à virtude.

Quando fui eleito para este cargo confidenciei àqueles que escolhi para oficiais desta Loja que pretendia apenas continuar o trabalho iniciado anteriormente, e que tentaríamos manter a nossa Loja em posição de relevo Maçónico mas sem sobressaltos exteriores.

Era só o que eu queria, e depois de acabar o mandato passar o malhete ao I que fosse eleito, acompanhá-lo com conselho se fosse pedido, para posteriormente ser GIe finalmente ocupar um lugar nas colunas, em posição cómoda e seguramente menos trabalhosa.

Foi um bom sonho, até porque o se tinha começado a concretizar. Acordei num pesadelo que infelizmente não o é por ser real.

Não gosto de conflitos, são normalmente desgastantes e consomem muito tempo.

Ninguém ganha uma guerra. E quem disser que ganhou é tolo. Com certeza não contabilizou os seus custos, excepto claro se o conceito de ganhar for “ganha o que ficar de pé” e então não é tolo é muito tolo para mais não dizer.

Tenho consciência que entre nós, obreiros desta Loja, existem múltiplas posições, algumas declaradamente assumidas, outras apenas assumidas, outras por assumir.

É minha esperança que nesta casa de tradição a não união não signifique a desunião e que o confronto de opiniões não seja uma guerra.

Respeito, como aliás sempre respeitei as posições de cada um enquanto indivíduo, e logo exercendo a sua prerrogativa de livre arbítrio.

Espero que a minha posição enquanto indivíduo seja respeitada, aquando do seu anuncio formal, ou seja se a concórdia não for possível.

A minha posição enquanto VM obriga-me à total imparcialidade e à luta pela paz e concórdia entre os II .

Durante este período , pareceu-me que a melhor política era a de deixar a poeira assentar. Não tomei, portanto, qualquer posição publica que pudesse comprometer a Loja Affonso Domingues.

Infelizmente até numa Loja em que a tradição tem um peso de respeito, em que entre os Irmãos constam ou constaram gentes vindas de muitos países, de várias confissões religiosas, cores e opiniões políticas, que permitiu chegar até hoje sem mácula, a divisão teima em aparecer.

Estou desgostoso porque esta divisão é causada por razões e motivos intra­Obediência.

Somos Fortes para fora e fracos do lado de dentro.

Foi-nos dado a acreditar que sendo respeitados e reconhecidos pelos países A; B; C; etc. o nosso futuro estava assegurado.

Pobre arquitecto que desenha uma cúpula de Prata e uma fundação de papelão.

Pobre do seu segundo que não o chamou à realidade.

E por fim pobres de nós que apanhamos com o tecto na cabeça.

Disse-vos já que os responsáveis da crise tínhamos sido nós.

Talvez não seja tanto assim.

Não vou assacar responsabilidades a A ou B nem dizer-vos que são todos farinha do mesmo saco.

Mas é obvio que a História um dia atribuirá responsabilidades, nós saberemos então de quem foi a culpa.

Até a Historia nos informar sobre quem foram os responsáveis, teremos que tomar uma posição enquanto indivíduos e enquanto Loja.

Eu pessoalmente preferiria que a Loja decidisse por se manter unida na procura da união entre os II

Não sou no entanto D. Quixote e saberei quando desistir.

Antes de concluir e consequentemente passar a palavra peço-vos encarecidamente que se lembrem dos seguintes conceitos:

- Respeito
- Tolerância
- Educação
- Decoro
- Amor

O debate é aberto a todos os presentes.
Que o GADUilumine os trabalhos que se vão seguir.

Lisboa, 18 de Janeiro de 5997


Após esta alocuçao decorreram quase 8 horas de debate em dois dias.
Ficam para publicaçao breve e para vos aguçar o apetite:
As propostas entradas ; os resultados das votaçoes ; As propostas que estavam preparadas mas que nao entraram; O discurso final.

José Ruah
Afastado mas sempre por perto !

15 janeiro 2008

A Maçonaria X Ambiente

Estive estes últimos dias completamente fora do A-Partir-Pedra (claro, já sei que bem podia continuar, obrigado !) mas como o tema Maçonaria versus Ambiente se mantém resolvi incluir mais um apontamento.
De facto tenho mais algumas coisas que gostaria de preparar para ajudar à discussão, mas as coisas têm estado demasiadamente animadas cá pró meu lado, fazendo com que não tenha tido nem disposição, nem concentração, para acompanhar os nossos queridos colaborantes blogueiros (o Rui, o Bandeira, o R.Bandeira, o RB, … uma data deles!).

Entretanto apanhei alguns vídeos sobre a participação dos Maçons brasileiros na defesa da Amazónia.

A Maçonaria Regular do Brasil, organizada sob o Grande Oriente do Brasil não é de capinar sentada no que se refere à participação política e todos os dias recebo notícias sobre intervenções do GOB e/ou de Lojas estaduais (como eles dizem) em assembleias, comissões de estudo, participação em iniciativas legislativas, sendo que na maioria dos casos a participação é por convite como conselheiros.

As iniciativas de carácter filantrópico são mais que muitas, no ensino, na saúde, no apoio social de toda a ordem sendo responsáveis pela recuperação e manutenção de muitas pequenas povoações onde a vida seria degradante, não fosse a intervenção daqueles nossos Irmãos organizando e mantendo escolas, postos de saúde, pequenas indústrias e pólos de desenvolvimento artesanal.

A intervenção na defesa da Amazónia, que os vídeos retratam, tem uma face de defesa ambiental mas tem, também, uma clara e confessada faceta de defesa da independência territorial.
Para nós e para o tema presente interessa-me a luta declarada pela manutenção da selva amazónica, pulmão de um mundo que está com uma tosse cada vez mais cavernosa e com os pulmões todos infectados.
Vamos a ver se este “antibiótico” ainda vai a tempo.

JPSetúbal

14 janeiro 2008

MAÇONARIA E AMBIENTE: O paradigma do Valor

Para se trocar um bem por outro, há que calcular quanto vale cada um. Para facilitar o processo de troca, criou-se a moeda. A moeda é a referência do valor de todos os bens. A moeda, a troca, o mercado são os pés do tripé que sustenta a economia global.

Mas não é a moeda que estabelece o valor de um bem. É suposto que uma dada quantidade de moeda represente o valor de um bem. O Valor dos bens é intrínseco e logicamente anterior à sua expressão monetária.

O problema é que a nossa Civilização criou um paradigma de Valor que não é perfeito. O paradigma do valor que estabelecemos respeita à QUANTIDADE de algo que nele está inserido: quantidade de matéria, quantidade de trabalho nele introduzida, quantidade de custos necessários para o produzir e comercializar. Exemplificando: o valor de uma jarra corresponde ao valor da quantidade de material de que ela é composta, mais o valor do trabalho necessário para a fabricar, mais os custos de produção e comercialização da mesma (lucro dos diversos intervenientes no processo incluído). Por sua vez, o valor do material que compõe a jarra depende do valor unitário que é atribuído à respectiva substância: o ouro vale mais do que a prata, esta mais do que o cristal e este mais do que o vidro. Mais uma vez, a atribuição deste valor intrínseco depende da QUANTIDADE do material disponível. Há menos ouro do que prata, daí que aquele valha mais do que esta; o cristal incorpora mais substâncias (chumbo, designadamente) que o vidro e, portanto vale mais do que este, mas pode-se fabricar muito mais quantidade de cristal do que é possível obter de prata e muitíssimo mais do que existe de ouro, daí que o cristal valha menos do que a prata e muito menos do que o ouro.

Toda a economia se baseia no conceito de valor e o paradigma deste presta tributo essencialmente à QUANTIDADE, não tanto à QUALIDADE.

Mesmo nos campos em que aparentemente o valor das coisas depende da sua qualidade, se analisarmos bem, assim não é. O quadro dos Girassóis de Van Gogh vale o preço absurdo que vale não propriamente pela sua qualidade intrínseca, mas pela raridade de telas pintadas por Van Gogh e pela enorme desproporção entre a quantidade de pessoas que gostaria de ser proprietária desse quadro (eu incluído!) e o número de exemplares do mesmo: UM! Mas, se fosse apenas uma questão da QUALIDADE da imagem, então não se justificaria a enormíssima diferença de valor entre o original, cópias e reproduções...

Similarmente, assim se entende porque, quando morre um pintor famoso, aumenta exponencialmente o valor dos seus trabalhos. É que, enquanto o artista está vivo, pode continuar a produzir trabalhos e não se sabe quantos mais irá criar; quando morre, fica certo o número exacto de obras que produziu, que será sempre inferior ao número de pessoas que gostaria de possuir uma dessas obras. E, previsivelmente, no futuro, ocorrerá o fenómeno inverso: aumentará o número dos que almejam a possuir uma obra do artista e o número destas só pode variar no sentido da diminuição, na medida em que ocorra a destruição de algum trabalho. A QUANTIDADE de potenciais compradores é superior e aumenta; a QUANTIDADE de obras é inferior e é estável ou diminui; o VALOR das obras aumenta!

Ao basear-se o paradigma do Valor na QUANTIDADE, negligencia-se na incorporação do valor dos bens elementos que vamos colectivamente verificando que deveriam ser considerados. Qual a sustentabilidade, em termos ambientais, da produção desse bem? Quais os custos, em termos de poluição, de gasto energético, de biodiversidade, de..., de..., de..., que a produção e comercialização desse bem acarreta?

Ou, por outra via: QUANTO VALE O AR PURO?

Nem o valor do ar puro, nem o da biodiversidade, nem o da sustentabilidade energética, nem, de forma geral, os componentes, eminentemente QUALITATIVOS, dos valores ambientais incorporam o paradigma do Valor dos bens.

Para bem da saúde ambiental do planeta, convém que o paradigma do Valor mude, de forma a incorporar também estes elementos.

Também aqui a Maçonaria e os maçons podem ajudar. Os maçons interessam-se precisamente por temas e assuntos e matérias que não têm valor económico, mas apenas racional, moral ou espiritual. E prezam muito estes valores. E estão habituados a ponderá-los em todos os actos da sua vida. E devem procurar transmiti-los aos demais membros da Sociedade e, por essa via, contribuir para a melhoria desta. É também tempo de nos habituarmos a considerar também os valores ambientais, a apreciá-los, a ponderá-los em todos os actos da nossa vida, em transmiti-los aos outros membros da Sociedade.

Por essa via, ajudaremos à necessária mudança do paradigma do Valor. E esta mudança será uma das mais profundas que a Humanidade conseguirá. E vale um tesouro incalculável: a sobrevivência das espécies - no limite, a sobrevivência da NOSSA ESPÉCIE - em ambiente saudável e equilibrado.

Claro, um tesouro QUALITATIVAMENTE muito valioso! Mas, em bom rigor, só poderemos determinar exactamente quanto depois da mudança do paradigma do Valor...

Rui Bandeira