19 janeiro 2015

Formalismos na Maçonaria…

(imagem proveniente de Google Images)

Na Maçonaria existe o costume de os seus membros se tratarem por irmãos ou manos, uma vez que a Augusta Ordem Maçónica é uma Irmandade de carácter fraternal.

Mas para além deste hábito, existe outro que costuma fazer alguma confusão aos recém-chegados. É o facto de todos no seu trato habitual se tratarem por “tu”.
Independentemente da idade, do grau ou da qualidade maçónica (cargo que se represente em Loja ou na Obediência), todos, mas mesmo todos, se tratam por “tu”.

Enquanto na vida profana é habitual  as pessoas tratarem-se com alguma deferência, nomeadamente tratarem-se por “você” ou por “senhor” ou até mesmo pelo título académico que detenham, na Maçonaria não existe esse distanciamento pessoal. Quando se aborda um irmão, é por “tu isto…” ou “tu aquilo…” É “tu” e prontos!

Isto por si só, é uma demonstração que aos maçons não interessam os cargos ou as profissões que um irmão desempenhe na sua vida profissional. Em Loja todos sãos iguais entre si. Desde o mais desfavorecido financeiramente ao mais folgado em questões de metais, não existe diferença no trato. Os “metais” devem ficar sempre fora de portas do Templo. 
Esta é outra das virtudes que se podem encontrar na Maçonaria a par da tolerância e do espírito fraternal.

E como entre irmãos não há lugar para deferências ou "salamaleques", é mais salutar e sensato o tratamento por “tu” que por outra coisa qualquer. Desse modo, aos recém-chegados dá-se lhes a confiança necessária para se enturmarem com os mais antigos na casa, e aos mais idosos em idade, consegue-se que mantenham dessa forma, um espírito jovem e reverencial que a todos agrada. Aos mais jovens é que normalmente causa algum desconforto em tratar alguém mais velho em idade por uma forma tão simples de tratamento, mas com o tempo esse pequeno desconforto passa e é normal que depois nem se note a diferença de trato nem a idade do irmão com quem se interage.

Esta forma de tratamento entre pessoas, foi dos hábitos que mais “estranheza” me causaram nos meus tempos de neófito.

É como se costuma dizer: “primeiro estranha-se, depois entranha-se…”

Mas em Maçonaria e em como tudo o que sejam instituições, associações ou grupos onde o Homem se reúna, existe sempre uma hierarquia a respeitar, e como tal, o tratamento com alguém hierarquicamente superior, devido às funções que lhe são acometidas, nunca poderia ser igual à que os outros membros terão entre si. E como afirmei acima, se na Maçonaria os seus obreiros se tratam entre si como irmãos e no trato normal por “tu”, não deixa de ser interessante que quando se trata de alguém com funções diretivas, esse tratamento seja enaltecido.

Apesar de quando um irmão se dirige a um irmão que ocupe um cargo relevante na estrutura maçónica o trate na mesma por “tu”, a diferenciação no tratamento é respeitante ao cargo e função ocupada em si e não à pessoa em concreto. Por isso é que é habitual se ouvir falar em “Venerável Mestre”, “Respeitável Irmão” e “Muito Respeitável Grão-Mestre” entre outros apelidos que se conheçam e que existem, que servem apenas para diferenciar um irmão dos restantes apenas pelas funções que lhe são atribuídas e nada mais.

Em Maçonaria todos os cargos são transitórios, tal como quase tudo na vida, e os maçons têm isso presente, e como tal, não adianta ou não é necessário existir outro tratamento que não seja por “tu”, pois se hoje desempenhamos um cargo, amanhã poderemos estar apenas a ocupar um lugar numa das colunas. E quem hoje se encontra simplesmente numa coluna e sem funções atribuídas, amanhã poderá ser chamado a ocupar alguma função importante na estrutura maçónica. E este tipo de tratamento possibilita uma transição entre colunas ou funções sem qualquer tipo de sobressaltos.

Concluindo, se as designações dos cargos maçónicos ou dos títulos dos graus maçónicos que existem poderem sugerir algumas vezes que o tratamento entre irmãos possa derivar em "pantominices", essa assumpção está bastante errada. O tratamento entre irmãos é sempre feito da forma mais simples que se conhece, utilizando simplesmente o pronome “tu”.
E é assim que se quer que a Maçonaria funcione, de uma forma simples e elementar.


PS: Texto adaptado deste outro, também escrito e publicado por mim.

2 comentários:

Paulo Pita da Silva disse...

Que belo texto. Reconhecer que independentemente do caminho que cada um ja percorreu ou inicia num precurso , somos todos iguais é reconhecer o outro como semelhante e nao qualquer diferenciação pelo Grau que tenha adquirido com a sua caminhada. Belo texto. Parabéns

Unknown disse...

Realmente temos neste momento de tratamento uma forma te tornarmos não iguais, mas semelhantes e fraternos em nossa busca, numa tentativa incessante de lapidar nossos ímpetos primitivos...
Excelente trabalho.