24 julho 2013

Justiça: Realidade ou Utopia?


É recorrente a pergunta de quem está de fora da Maçonaria: o que fazem os maçons quando se reúnem? É também percetível algum ceticismo quando respondemos que talvez a parte mais importante do nosso labor é apresentar ou ver apresentar e discutir trabalhos sobre diversos temas, sem nenhum objetivo específico, a não ser a ilustração, a aprendizagem, a melhoria de cada um de nós e de todos.

Não há nada melhor do que o exemplo. Há algumas semanas, um Irmão contactou-me pedindo-me algumas ideias que o ajudassem a elaborar um trabalho que ele preparava para apresentar em sessão de Altos Graus. O tema era o que constitui o título deste texto, já que o grau em que se destina a apresentação da prancha trabalha e investiga com particular interesse a noção de Justiça.

Decidi que a melhor maneira de  contribuir com algumas ideias seria eu elaborar algo que tivesse o nível de uma prancha apta a ser lida em Loja no grau de Aprendiz, pois isso certamente lhe abriria pistas e horizontes para ele desenvolver no seu mais exigente plano de trabalhos.

E decidi também que era uma boa oportunidade de mostrar um exemplo de um trabalho apto para ser apresentado em Loja, designadamente no grau de aprendizagem. Fica assim exemplificado que tipo de temas, fora do simbolismo, pode ser apresentado e trabalhado e discutido em Loja.

Justiça: realidade ou Utopia?

A primeira dificuldade é definir Justiça. Justiça não resulta do mero cumprimento da Lei. É algo anterior à Lei, que a Lei procura atingir. Justiça é composição de interesses segundo os méritos de cada um. Mas também atendendo às necessidades de cada um, em certa medida. Justiça é a concretização da Ética, a conciliação de interesses divergentes, a paga do erro e o prémio do mérito. 

Justiça é um ideal - e, sendo-o, é necessariamente uma utopia.

Justiça é um valor bem real, que deve nortear os homens e as instituições - e, assim sendo, não pode deixar de ser uma realidade.

Como é então possível que a Justiça seja, ao mesmo tempo, realidade e utopia? Pela mesma razão que a Felicidade é utopia, mas ser feliz é uma possibilidade bem real.

Há que distinguir entre o arquétipo de Justiça - que pertence necessariamente ao domínio da Utopia, como todos os arquétipos - e a concretizável e concretizada Justiça humana e das instituições aplicada dia a dia, o melhor possível. 

Os  maçons devem sentir-se bem com esta dualidade. Afinal de contas, perseguem, dia a dia, um objetivo por definição impossível, a Perfeição. O que não os impede de procurarem, dia a dia, aproximar-se um pouco mais dessa impossibilidade. Portanto, os maçons sabem, ou devem saber, muito bem como distinguir e compatibilizar a Utopia e a Realidade...

A Justiça ideal é, por definição, perfeita. E, portanto necessariamente, do domínio da Utopia.

Mas a Justiça aplicada, aquela que laboriosamente as Sociedades procuram garantir e os homens obter, essa é bem real, essa é a que, em cada momento, é possível obter, se consegue fazer. Essa é a Justiça real.

É obviamente errado deixar de prosseguir a realização da Justiça, no dia a dia, mesmo sabendo-se que essa prossecução ou realização não poderá deixar de ser imperfeita, só porque se tem a noção de que a Justiça ideal é inatingível em pleno, é necessariamente utópica. Fazê-lo seria condenarmo-nos a deixar medrar a injustiça, a violência, o arbítrio. A Justiça real é sempre  e inapelavelmente um menos em relação à Justiça ideal, utópica. Mas esse menos é o que temos, o que conseguimos construir e que é indispensável que possamos desfrutar - sob pena de sofrermos a anarquia do arbítrário. 

Quanto mais desanimarmos de prosseguir a busca da Justiça, só porque verificamos que nunca é realmente possível atingir a utopia do arquétipo da Justiça, menos Justiça na realidade temos e construímos e desfrutamos. Quanto mais perseverarmos no esforço de ser mais justos, de fazer vingar a Justiça que nos for possível obter e acarinhar e fazer medrar, mais perto estamos do ideal. E melhor estaremos, quer como Sociedade, quer individualmente. 

Porque a Justiça é condição de Ordem. É indispensável ao Progresso. É imanente à fruição da vida em Sociedade. Em tudo está a Justiça. Em tudo ela pode faltar. A nossa tarefa é que, onde ela falte, passe a haver; onde haja, buscar melhorá-la. Todos os dias. Dia a dia. Todos nós. Cada um de nós.

Justiça: realidade ou utopia?

A pergunta está mal feita!

Porque a resposta é - Justiça: Realidade E Utopia!

Rui Bandeira

1 comentário:

Unknown disse...

Vejo Justiça assim como vejo a felicidade. Busco estar feliz o máximo possível de forma a aproximar-me a "ser feliz". Busco praticar a justiça da forma mais ajustada possível para que me sinta justo. Natureza e Comportamento. Ser e Estar.