02 março 2011

Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - Conclusão


Dedicar sete textos (com este, oito) à origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite para quê?

Em primeiro lugar, para se saber. Conhecer o passado, visitar a História, habilita-nos a compreender o presente, a enquadrar o que vemos, o que vivemos, o que fazemos. Saber como base para refletir, para perceber, para analisar, para inferir. Não podemos planear o futuro, não conseguimos atuar eficazmente no presente, se o nosso planeamento, a nossa atuação forem deixadas ao mero acaso e sabor da inspiração, do desejo, da impressão. Conhecer o passado, saber a origem das coisas, é um lastro indispensável para nos equilibrar nas nossas ações e um auxiliar precioso para a nossa preparação do futuro. O passado é o chão onde nos equilibramos hoje e que nos proporciona a base para o impulso para o amanhã.

Em segundo lugar, para compreender. Compreender que o Rito Escocês Antigo e Aceite não resulta de nenhuma revelação divina, que foi criado, que, mais do que isso, foi fabricado, trabalhado, aperfeiçoado, fixado, por homens. Homens como nós, de carne e osso e sangue e pele e cérebro e emoções. Compreender que o Rito Escocês Antigo e Aceite, tal como hoje o conhecemos resulta de uma evolução. Compreender que essa evolução inclui uma mescla de acasos, momentos-chave, resultados inesperados, muito trabalho e idealismo, também algumas querelas. Compreender que resulta, afinal, daquilo que existe de mais precioso: a Vida! A Vida, com as suas voltas, reviravoltas, momentos fortuitos, trabalhos preparados, acertos e desacertos. Compreender que o Rito Escocês Antigo e Aceite que hoje praticamos, sendo uma obra humana e o resultado de uma longa e por vezes tumultuosa evolução, não é nada de sagrado nem de intocável, mas é algo cuja essência e forma e lição devemos respeitar. Que é o produto de muito trabalho, de muitos saberes, de muita motivação. Que, não sendo intocável nem imutável, não é para ser mudado de ânimo leve, ao sabor de uma qualquer inspiração (por muito brilhante que ela pareça), pelo acaso do acumular de más execuções, pela prosápia e negligência primas da ignorância e parentes do desleixo. Compreender que o rito que hoje e aqui praticamos é o resultado de intenso trabalho, de longa, lenta e sólida evolução, de subtil acomodação às idiossincracias de cada povo, de cada região. Compreender que há diferenças entre o que fazemos hoje e o que se fazia há cem anos, que há dissemelhanças entre o que se faz aqui e o que se pratica acolá, mas que essencialmente se faz hoje a mesma coisa que se fazia ontem e que se pratica nesta banda o mesmo que na banda de lá se faz. Compreender que as próprias pequenas diferenças fazem parte do todo. Compreender que o rito é um instrumento, uma das ferramentas que os maçons usam para o seu aperfeiçoamento e como tal deve ser entendido e usado e praticado e que as evoluções havidas, as diferenças geográficas notadas, derivam desse mesmo uso como ferramenta.

Finalmente, apreciar. Apreciar como uma obra humana resultado de mil acasos pode ser tão eficazmente bela, tão diretamente impressiva. Apreciar como muitos ontem trabalharam para nos proporcionar hoje um conjunto de mensagens que apelam ao mais fundo do que de bom há em nós e ajudam a fortalecer o nosso lado positivo e a dominar o negativo. Apreciar a execução hoje essencialmente do mesmo que se executa há mais de duzentos anos, aqui e um pouco por todo o mundo, o mesmo apesar das pequenas diferenças, o mesmo porque existem pequenas diferenças.

O Rito Escocês Antigo e Aceite é apenas um dos ritos da Maçonaria. Como os outros, é, repito, essencialmente uma ferramenta que os maçons usam no seu aperfeiçoamento. Vale a pena, acho eu, saber, compreender e apreciar o processo como nasceu e se implantou e se desenvolveu até ao que encontramos aqui e agora.

Rui Bandeira

2 comentários:

Candido disse...

Meu caro Rui Bandeira.
Antes de mais quero agradecer-lhe a oportunidade que me deu de aprender algo mais sobre o Rito E.A.A. com esta serie de textos sobre o tema.
Gostava, entretanto, de por á sua consideração um ponto que me gera alguma duvida e que é o de saber qual o Rito que melhor se enquadra com a cultura e sensibilidade do nosso povo, sabendo que até já houve a tentativa de criação de um rito Lusitano, e, sabendo que é também através da cultura que os grupos sociais e iniciáticos expressam as suas concepções da sociedade e do mundo, criando e preservando Ritos e Rituais genuínos.
Sabemos também que o REAA é maioritário no nosso País. Mas será que é o que mais “toca” / ajusta para trabalhar a sensibilidade e cultura Lusitana?
Claro que só quem vivencia saberá, mas se não vivenciou os outros…
È por isso que a questão que lhe ponho é meramente académica!
Abraço

Rui Bandeira disse...

@ candido.

Antecipou já que não lhe posso dar resposta objetiva. Porque só trabalhei no REAA e portanto não tenho termo de comparação e ainda porque, se tivesse, era suspeito e parcial...

Um abraço!