A recomendação
Quem de nós nunca ficou subitamente sem empregada doméstica e precisou de encontrar outra com rapidez? Nestas circunstâncias o mais comum é pegar-se no telefone e telefonar a amigos e conhecidos, a ver se alguém conhece alguém de confiança que esteja disponível... Só esgotados os contactos pessoais - e os amigos dos amigos - é que se recorre, a contragosto, a anúncios, centros de emprego ou se contrata uma empresa que trate do recrutamento.
O que fazemos na nossa casa faz-se, do mesmo modo, nas empresas. Quando alguém, numa empresa, precisa de reforçar uma equipa ou de recrutar um profissional, é comum perguntar entre os seus conhecidos: "Olha, conheces alguém com este perfil assim-assim, e que me recomendes?" Aqueles a quem se recorre são, sempre, pessoas em cujos critérios se deposita confiança. Assim, ter bons contactos, conhecer pessoas capazes e competentes e saber fazer confluir as necessidades complementares de uns e outros é algo que a todos beneficia.
Começa, por isso, a ser frequente as empresas retribuírem - até pecuniariamente - aos seus funcionários que indiquem pessoas que venham a revelar-se bons quadros. Afinal, se contratassem para o efeito uma empresa de recrutamento, teriam sempre que lhe pagar... Beneficiam os que procuram quem saiba cumprir certa função - pois obterão com maior probabilidade a indicação de um profissional à altura - e estes últimos, evidentemente, pois terão mais facilidade em se moverem de uma posição para outra na sua carreira.
A expetativa de quem contrata é a de que, por reconhecer o mérito e o bom juízo da pessoa que recomenda, haja maior probabilidade de se estar a contratar uma pessoa mais próxima do perfil ideal pretendido, quer porque quem indica este conheça a realidade interna da empresa, quer porque tenha um conhecimento privilegiado da pessoa recomendada que nunca um recrutador profissional conseguiria obter no curto tempo de que dispõe.
Mas há mais formas de recomendação para além da pessoal. Os membros de uma associação profissional, por exemplo, podem ter um placard de anúncios onde refiram a sua disponibilidade - ou onde publicitem o facto de procurarem quem saiba desempenhar certa função. Quem dia uma associação profissional diz uma igreja, uma coletividade, ou qualquer outro conjunto de pessoas cuja opinião, critério e juízo se tenha em melhor conta do que a do cidadão médio anónimo.
Por esta razão é, para voltar às empregadas domésticas, frequente serem estas indicadas por alguém da igreja a que pertençam, um outro pai da escola onde tenham os filhos, ou por outra pessoa do Atelier de Ponto de Cruz que frequentem. Mas alguém acha credível que uma pessoa contrate outra apenas porque faz ponto de cruz com ela?! Claro que não. Será, certamente, porque durante essa atividade se apercebeu das suas qualidades e da sua habilidade.
Claro que há casos de favorecimento abusivo. Quem não ouviu já falar de pessoas que chegam a certas posições por causa da sua cor política, laços de amizade ou parentesco, ou... "afinidade" com o patrão, que gosta especialmente de ruivas? Esses casos são falados por uma razão simples: as pessoas em causa nunca ocupariam esses lugares se não fosse o tal "laço".
Mas não é desses casos que falo. Falo de recomendações como as que se fazem quando se indica uma oficina de confiança a um amigo, um advogado a um colega, ou um fornecedor a um parceiro de negócios - em que se veicula informação sobre o mérito objetivo de certa pessoa ou empresa.
De facto, se um amigo me disser: "Olha, sei que precisas de um contabilista; conheço um fantástico", e depois eu vir os honorários dele e os considerar exagerados, não me sinto na obrigação de o contratar - o que não impedirá que, em igualdade de circunstâncias, se tiver que escolher entre dois e um vier recomendado por um conhecido, eu não hesite. Não é o que fazemos todos?! E ninguém o estranha, nem condena, nem vem nos jornais.
Por que será, então, que se estranha quando vem a lume que entre os maçons suceda precisamente o mesmo?! Mas é claro que, se preciso de um serviço, poderei perguntar aos meus Irmãos se conhecem alguém que o preste com qualidade - pois confio na sua integridade e na qualidade do seu conselho. E se um Irmão está disponível para prestar um trabalho de que eu preciso, e sei que ele é consciencioso, bom profissional e o preço do seu trabalho é justo, é natural que o contrate.
Será isso assim tão estranho?!
7 comentários:
Respeitável Paulo M.;
Como entendo bem o que diz e uma coisa lhe garanto não passo de um simples profano.
Este “Modus Operandi” (leia-se: dar referencias de e ou sobre alguém, por quem temos também nós referencias de relacionamento e ou por alguém muito próximo e de nossa confiança) nada tem a ver com as ligações de parasitismo e ou actos de subserviência mafiosa, quer seja ele promovido pelos “Irmãos” de uma “Respeitável Loja”, quer por um profano que nunca tenha pisado o chão de uma mesma “Respeitável Loja”, desde que ele seja feito com base num processo de transparência e lealdade para com, pelo menos, dois princípios básicos da vida:
1º Faz aos outros aquilo que te façam a ti, ou seja só referencies pessoas de bem, honradas e profissionais, porque, por certo, um dia que possas vir a necessitar, também queres, por certo, que as pessoas que te são referenciadas sejam portadoras das mesmas qualidades.
2º Sê integro e honrado, pois uma pessoa integra, que haja por bem e de bem para com os outros, seja a nível pessoal, ou a nível profissional, e seja sempre uma pessoa honrada, tem garantidamente uma mais-valia que é “consciência tranquila” e “sentido de responsabilidade” com capacidade de assumir tudo o que dai advêm.
Ou seja se para mim, e seguramente para muitas pessoas, garantidamente isto é válido quer para fora da Maçonaria, quer para dentro da Maçonaria.
Porque tem de ser diferente na Maçonaria? Só pelo facto de isto ser feito por Maçons, tem e deve de ser visto como algo pervertido (face a intenções de poder) e ou Mafioso (face a benefícios individuais e do grupo)?
Talvez sim, talvez por todos aqueles que tal como diz o ditado popular, “quem desdenha quer comprar”, esse e perdoem-me a minha prepotência, é por certo o grande mal da Maçonaria, ser tão restritiva e selectiva na escolha dos seus “Irmãos”, mas será que esse é realmente um mal?
Eu garanto que só tenho como “amigos”, não todos aqueles que me são apresentados e ou amigos dos meus “amigos”, mas apenas aqueles que passam na fina “peneira”, dos meus princípios, e leia-se que não tenho qualquer pretensão de ter um rigor extraordinário e ou melhor do que alguém, face aos princípios pelos quais me rejo, são apenas os meus princípios.
Por isso Respeitável Paulo M., bem-haja quem tem a clareza e verdade de assumir um princípio que durante muitos e muitos anos foi visto com um princípio de honradez, um homem honrado e detentor de elevada formação moral, cívica, social e intelectual, era sempre procurado para poder ser referência para quem necessitava, ou por quem, de alguém, queria referências. Pena é que os princípios de honradez, lealdade, respeito pelos outros e dedicação ao conhecimento, pelo conhecimento, sejam princípios cada vez mais postos de lado nesta sociedade onde cada vez mais se vive com base no parasitismo e visibilidade fácil e rápida, em detrimento, do mérito pelo trabalho e evolução mental.
Bem-haja Respeitável Paulo M., pelas suas magnificas pranchas, com as quais nos tem presenteado e tambem por apresentar e defender um principio que eu sempre fui ensinado a fazer: "Partilha o que tens e um dia contigo outros partilharam aquilo que mais necessitares".
Obrigado.
O que dizer?
O texto está muito bom, as situações devidamente explicadas. O problema é que o mundo profano, não percebe que o Maçon "luta" por uma sociedade justa e perfeita. Pode não alcança-la mas incentiva diariamente essa "luta".
Cumprimentos
JPA
Completamente de acordo; "ipsis verbis".
Por se tratar de recomendação e fraternidade, permita que recomende aos leitores deste post que "Elevem" as "Suas Intenções" fraternais para com os Irmãos Japoneses, que serenamente aceitam o que não conseguem deter.
Um Abraço e desculpe esta intromissão.
Excelente prancha Paulo M. Não menos o comentário de M.A.O assunto, como os demais, são tratados com a seriedade devida, entretanto, peço-lhes a oportunidade de enviar uma representação satírica, do ótimo grupo humorístico inglês Monty Python, a cerca de uma situação envolvendo "A Recomendação".
Monty Python and the Freemasons
The Architect Sketch
http://www.youtube.com/watch?v=t1bHBthJN9w
"Sabio é todo aquele que sabe rir de si mesmo"
Abraços Fraternos.
À Glória do Grande Arquiteto!
Boas...
é óbvio que quem procure contratar alguém para uma trabalho ou função na sua empresa ou na qual trabalhe, se dirija aos seus amigos a perguntar-lhes se conhecessm alguém que seja competente e adequado pata a função que pretende contratar.
Isso é feito por "meio mundo".
E estou com o Paulo, porque não podem os Maçons fazer isso mesmo?
Se eu souber ed um amigo que esteja desempregado, mais facilmente lhe darei trabalho a ele, do que a alguém que eu não conheça, seja ele Maçon ou não.
O facto de ser Maçon, apenas me diz algo sobre a sua conduta moral e pessoal.
Se numa entrevista, estiver um profano ou um Maçon, escolherei sempre aquele que tiver melhores qualificações técnicas para o cargo a desempenhar. A isso se chama de Justiça.
Mas se em vez de dois ou mais entrevistados, apenas tiver um, único, obviamente escolherei o mei "Irmão". Porque para alémm de ser Maçon, devo ser solidário para com ele.
Se mais tarde não tiver competencia para o cargo, é normal que que ele tenha de o vagar...
TAF
Cordiais Saudações!
Este texto reflecte aquilo que sempre defendi... o que aliás, penso ser o mais coerente... só um hipócrita não concordará com "este procedimento"...
Há pessoas que gostam de propositadamente criar a confusão na cabeça dos outros com um suposto "puritanismo de pensamento"...
Mas neste caso, desde que a pessoa indicada tenho o perfil, e com o tempo corresponda às expectativas demonstrando as competências para o cargo, onde está o mal?
Cumprimentos,
LzS
E eu a pensar que este texto ia dar lugar a inflamada polémica!... Mas não deixo de ficar satisfeito por ter ficado claro como de facto se processa essa "coisa" de os maçons, supostamente, "arranjarem tachos" uns aos outros...
Um abraço,
PM
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