11 março 2009

O décimo sétimo Venerável Mestre

O décimo sétimo Venerável Mestre da Loja Mestre Afonso Domingues foi PauloFR, que exerceu o seu ofício de direção da Loja entre o segundo sábado de Setembro de 2006 e o segundo sábado de Setembro de 2007.

Conheci PauloFR na ocasião em que este, apadrinhado pelo José Ruah, solicitou a sua admissão entre os maçons. Recordo-me ainda da ocasião em que o Ruah me falou de um tipo "porreiro" e certinho que era seu colega de trabalho e que ele achava que seria uma boa aquisição para a Loja. Não me lembro já, mas possivelmente terei, como segundo proponente, coapadrinhado a sua candidatura.

PauloFR fez o seu percurso na Loja quando esta recuperava da grave crise subsequente à cisão da Casa do Sino e reconstruía e reforçava a sua identidade. Em certa medida, considero que o seu mandato configura o início do período de direção da Loja pela sua segunda geração, aquela que não integrou o grupo daquelas que fundaram ou se integraram no esforço de construção da Loja Mestre Affonso Domingues. PauloFR juntou-se a nós depois desse período de implantação. Viveu o esforço de reconstrução após o escaqueirar resultante da dolorosa cisão. Assumiu os destinos da Loja já com ela estabilizada, entrada na idade adulta, sem problemas de maior.

Não sendo um homem particularmente expansivo, antes manifestando uma prudente reserva, que só abranda após se estabelecer alguma confiança e, sobretudo, saudável companheirismo, mas sendo essencialmente um gestor, um organizador, do trabalho de PauloFR à frente da Loja resultou, a meu ver, um reforço e melhoria das capacidades desta a três níveis: organização administrativa, relacionamento com a Grande Loja e ouras Lojas da GLLP/GLRP, e consolidação da atividade de dação de sangue.

A nível administrativo, deixou a Loja completamente organizada, em especial na sua Tesouraria e obrigações financeiras perante a Grande Loja. A situação não seria problemática quando ele assumiu funções - até porque, não muito tempo antes, ele assumira o ofício de Tesoureiro e implantara os procedimentos que ainda hoje são seguidos - mas, quando ele passou o malhete ao seu sucessor, estava exemplarmente organizada e absolutamente em dia.

A nível do relacionamento com a Grande Loja e com as demais Lojas da Obediência, o mínimo que se pode dizer é que o trabalho foi cuidado, diligente e perseverante. A Loja esteve sempre exemplarmente representada em Grande Loja, com as posições ali assumidas previamente estudadas, trabalhadas e discutidas. Procurou sempre constituir um ponto de referência em relação a qualquer questão em causa, não pelo improviso, mas pelo apresentar de posições ponderadas, estudadas, equilibradas. Também como consequência disso, paulatinamente vários obreiros da Loja vieram a merecer a confiança do Grão-Mestre para o exercício de vários ofícios na Grande Loja. Quanto ao relacionamento com as demais Lojas, foi ele sempre acarinhado, acalentado e estimulado. Multiplicaram-se contactos e visitas de obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues a outras Lojas da Obediência. Recrudesceram visitas de obreiros de outras Lojas à Mestre Affonso Domingues. A Loja foi convidada e esteve representada em diversos eventos organizados por outras Lojas. Com todas as Lojas se manteve a melhor das relações. Com algumas, estreitaram-se profundamente laços.

As ações de dação de sangue foram objeto de especial atenção por parte de PauloFR. Foi no seu mandato que a Loja, até hoje, organizou ou co-organizou maior número dessas ações, três, em 11 de novembro de 2006, 31 de março e 21 de julho de 2007.

A atividade normal de formação e aperfeiçoamento dos obreiros da Loja prosseguiu, nos moldes já implantados e característicos da Loja. PauloFR encontrara já um quadro maduro e transmitiu-o mais apurado ao seu sucessor.

Constituíram marcos do ano maçónico sob a direção de Paulo FR as visitas à Sinagoga de Lisboa e à Loja Rigor, no Oriente de Bragança. Nesta última, ficou acordada a geminação entre a Loja Mestre Affonso Domingues e a Rigor, a qual viria a ser formalizada no decorrer do mandato do sucessor de PauloFR.

Em resumo, o ano em que PauloFR dirigiu a Loja foi um ano produtivo, bonançoso, de aprofundamento e melhoria dos caminhos trilhados pela Loja e seus obreiros.

Correu tudo bem? Não - nunca corre tudo como se deseja! No caso do mandato do PauloFR, verificou-se alguma falha em parte do Quadro de Oficiais. Designadamente, um dos elementos em formação para, a seu tempo, vir a assumir a direção da Loja, começou a fraquejar, a mostrar-se psicologicamente impreparado para o progressivo assumir de responsabilidades na Loja. PauloFR tentou segurá-lo, tentar que ultrapassasse esse seu receio. Veio a verificar-se mais tarde que inutilmente. No mandato seguinte, confirmou-se que esse obreiro não se sentia preparado para as responsabilidades que antevia e veio a pedir escusa das suas funções. Por efeito dessa fraqueza e de menor auxílio de um ou outro Oficial, PauloFR, sempre zeloso de que as coisas se fizessem o melhor possível, assumiu ele próprio a realização de tarefas que deviam ser executadas por outros e que ele apenas devia coordenar. Conseguiu que as coisas se fizessem bem feitas. Mas à custa de um injustamente redobrado esforço pessoal. Disto resulta, a meu ver, uma lição que a Loja e os seus responsáveis futuros devem ter sempre presente: O Venerável Mestre coordena uma equipa, não deve executar os trabalhos em substituição de quem falha. Se algum dos Oficiais, transitória ou prolongadamente, não estiver em condições de exercer capazmente a sua tarefa, a solução não é o Venerável Mestre assumi-la; é providenciar que algum outro obreiro disponível ajude e cubra a insuficiência.

Com o seu sentido de organização, o seu esforço, a sua serena postura, mas também com a lição a tirar do sobre-esforço que realizou, PauloFR deixou uma Loja melhor do que a recebeu. E assim cumpriu devidamente o seu papel e é credor de um lugar de destaque na galeria dos Veneráveis Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues. É um simples ato de justiça frisar que se conta entre os que melhor exerceram a função.

Rui Bandeira

2 comentários:

Jose Ruah disse...

E nao deixou de ser um tipo "porreiro". Foi de facto um mandato muito bem levado e com a Mestria de quem sabe fazer, sabe pedir conselho, sabe decidir e sobretudo sabe ser amigo.

A. Jorge disse...

Confesso que a publicação deste texto me sensibiliza particularmente. Embora entre os maçons exista normalmente um excelente relacionamento, ele não é uniforme, até porque há personalidades que "encaixam" melhor umas nas outras.

O Paulo foi sempre uma pessoa com quem me identifiquei particularmente, sendo que fizemos um percurso maçónico bastante paralelo: fomos Aprendizes e Companheiros em simultâneo e passámos a Mestres no mesmo dia.

Durante o período em que por razões académicas, me afastei da Loja, o Paulo fez um esforço constante para que voltasse, esforço esse ao qual eu nem sempre dei o devido valor.

Bem hajas, Paulo, pela pessoa que és, pelo maçon que és, e pelo excelente Venerável que foste. Foi e será sempre um prazer e uma honra "estar à tua ordem".